sábado, 24 de dezembro de 2005

quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

A TLEBS no sapatinho



Por Vasco Graça Moura


Tenho sido contactado por alguns professores a propósito da TLEBS.
A TLEBS é a Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário, adoptada pela Portaria n.º 1488/2004, de 24 de Dezembro, que só deveria entrar em vigor após três anos de duração da experiência pedagógica. Mas, em Março deste ano, o Ministério da Educação enviou às escolas uma circular determinando que a TLEBS constitua uma referência no tocante às práticas lectivas, à concepção de manuais e aos documentos produzidos em matéria de ensino e divulgação da Língua Portuguesa.
A TLEBS baseia-se numa linguagem técnica de acesso difícil e em conceitos que não fazem parte da gramática tradicional e são desconhecidos da maioria dos professores. Assenta em critérios sintácticos que se sobrepõem aos critérios semânticos em termos radicalmente novos.
Três exemplos:
Deixa de se falar em "orações" para se falar em "frases". Basta lembrarmo-nos de que toda a gente tem interiorizado que a frase pode ser formada por uma ou mais orações para se ver a confusão que tal inovação pode causar.
Os complementos circunstanciais passam a chamar-se "modificadores" (preposicionais, adverbiais, frásicos), o que afasta logo a compreensibilidade imediata que tinham designações tradicionais como as ligadas ao tempo, modo e lugar.
A conjunção é definida como "palavra invariável, pertencente a uma classe fechada de palavras que não desempenha função sintáctica na frase a que pertence e que, no caso de introduzir um grupo nominal, obriga a que esse grupo nominal apresente caso nominativo". Compare-se com a definição de Celso Cunha e Lindley-Cintra "Conjunções são os vocábulos gramaticais que servem para relacionar duas orações ou dois termos semelhantes da mesma oração."
Não há nenhuma gramática portuguesa que assente na TLEBS. Não há nenhum professor do básico ou do secundário que a conheça bem. Haverá pouquíssimos materiais didácticos que a utilizem. Numa altura em que se pretende evitar o acréscimo de despesas das famílias com os livros escolares, está-se a ver onde é que isto pode levar!
Segundo a portaria, a divulgação da TLEBS devia "ser complementada com a concretização de medidas e acções adequadas, de apoio e reforço da sua utilização, nomeadamente ao nível da formação de professores e da publicação de documentos, teóricos e práticos, que a informem, científica e pedagogicamente".
Mas dizem-me que nenhuma estratégia de informação e de apoio documental foi concretizada, excepto a disponibilização de uma base de dados em CD- ROM com informação indiferenciada para ser aplicada no básico e no secundário.
Chegam-me também comentários deste género:
1. O facto de, praticamente, todas as definições terem na base o critério sintáctico em detrimento do critério semântico usado na corrente tradicional, bem como o de a reclassificação de diversas classes de palavras ter sido feita com base nos mesmos critérios, tem pesadas consequências, a nível pedagógico, dificultando a compreensão, a interiorização e o reconhecimento dessas mesmas classes.
2. A base de dados enviada às escolas é um mero instrumento teórico, distante dos fenómenos concretos do funcionamento da linguagem e das realidades vividas no dia-a-dia do ensino, dificilmente estruturável em comportamentos didácticos e em materiais pedagógicos renovados e concretos.
3. A TLEBS introduz uma mudança radical nos conceitos utilizados no ensino, está a ser de difícil aceitação e utilização pelos professores e é de prever que a confusão gerada seja enorme e os resultados no ensino do português ainda mais negativos. Até certa altura, os alunos aprenderam de acordo com o modelo gramatical; depois, serão confrontados com outro modelo.
4. Segundo a circular do Ministério, "a TLEBS assume a abertura como um dos seus princípios de constituição, o que significa que deixa em aberto a possibilidade de futuras alterações consistentes, cabendo à DGIDC promover a sua revisão e a necessária actualização periódica". Não só se desactualiza assim tudo o que existe já disponível para o ensino da língua, como a revisão e actualização periódica acarretam mais uma perigosa garantia de instabilidade…
Não sou professor, mas os professores que me contactaram merecem-me toda a credibilidade. Se as coisas são assim, ter-se-á a ministra da Educação apercebido da catástrofe? Terá visto bem a prenda que o Pai Natal pôs no sapatinho da língua portuguesa?

domingo, 18 de dezembro de 2005

O atestado médico

Recebi por mail:
por José Ricardo Costa

Imagine o meu caro que é professor, que é dia de exame do 12º ano e vai ter de fazer uma vigilância. Continue a imaginar. O despertador avariou durante a noite. Ou fica preso no elevador. Ou o seu filho, já à porta do infantário, vomitou o quente, pastoso, húmido e fétido pequeno-almoço em cima da sua imaculada camisa. Teve, portanto, de faltar à vigilância. Tem falta. Ora esta coisa de um professor ficar com faltas injustificadas é complicada, por isso convém justificá-la. A questão agora é: como justificá-la? Passemos então à parte divertida. A única justificação para o facto de ficar preso no elevador, do despertador avariar ou de não poder ir para uma sala do exame com a camisa vomitada, ababalhada e malcheirosa, é um atestado médico. Qualquer pessoa com um pouco de bom senso percebe que quem precisa aqui do atestado médico será o despertador ou o elevador. Mas não. Só uma doença poderá justificar sua ausência na sala do exame. Vai ao médico. E, a partir deste momento, a situação deixa de ser divertida para passar a ser hilariante. Chega-se ao médico com o ar mais saudável deste mundo. Enfim, com o sorriso de Jorge Gabriel misturado com o ar rosado do Gabriel Alves e a felicidade do padre Melícias. A partir deste momento mágico, gera-se um fenómeno que só pode ser explicado através de noções básicas da psicopatologia da vida quotidiana. Os mesmos que explicam uma hipnose colectiva em Felgueiras, o holocausto nazi ou o sucesso da TVI. O professor sabe que não está doente. O médico sabe que ele não está doente. O presidente do executivo sabe que ele não está doente. O director regional sabe que ele não está doente. O Ministério da Educação sabe que ele não está doente. O próprio legislador, que manda a um professor que fica preso no elevador apresentar um atestado médico, também sabe que o professor não está doente. Ora, num país em que isto acontece, para além do despertador que não toca, do elevador parado e da camisa vomitada, é o próprio país que está doente. Um país assim, onde a mentira é legislada, só pode mesmo ser um país doente. Vamos lá ver, a mentira em si não é patológica. Até pode ser racional, útil e eficaz em certas ocasiões. O que já será patológico é o desejo que temos de sermos enganados ou a capacidade para fingirmos que a mentira é verdade. Lá nesse aspecto somos um bom exemplo do que dizia Goebbels: uma mentira várias vezes repetida transforma-se numa verdade. Já Aristóteles percebia uma coisa muito engraçada: quando vamos ao teatro, vamos com o desejo e uma predisposição para sermos enganados. Mas isso é normal. Sabemos bem, depois de termos chorado baba e ranho a ver o "ET", que este é um boneco e que temos de poupar a baba e o ranho para outras ocasiões. O problema é que em Portugal a ficção se confunde com a realidade. Portugal é ele próprio uma produção fictícia, provavelmente mesmo desde D.Afonso Henriques, que Deus me perdoe. A começar pela política. Os nossos políticos são descaradamente mentirosos. Só que ninguém leva a mal porque já estamos habituados. Aliás, em Portugal é-se penalizado por falar verdade, mesmo que seja por boas razões, o que significa que em Portugal não há boas razões para falar verdade. Se eu, num ambiente formal, disser a uma pessoa que tem uma nódoa na camisa, ela irá levar a mal. Fica ofendida se eu digo isso é para a ajudar, para que possa disfarçar a nódoa e não fazer má figura. Mas ela fica zangada comigo só porque eu vi a nódoa, sabe que eu sei que tem a nódoa e porque assumi perante ela que sei que tem a nódoa e que sei que ela sabe que eu sei. Nós, portugueses, adoramos viver enganados, iludidos e achamos normal que assim seja. Por exemplo, lemos revistas sociais e ficamos derretidos (não falo do cérebro, mas de um plano emocional) ao vermos casais felicíssimos e com vidas de sonho. Pronto, sabemos que aquilo é tudo mentira, que muitos deles divorciam-se ao fim de três meses e que outros vivem um alcoolismo disfarçado. Mas adoramos fingir que aquilo é tudo verdade. Somos pobres, mas vivemos como os alemães e os franceses. Somos ignorantes e culturalmente miseráveis, mas somos doutores e engenheiros. Fazemos malabarismos e contorcionismos financeiros, mas vamos passar férias a Fortaleza. Fazemos estádios caríssimos para dois ou três jogos em 15 dias, temos auto-estradas modernas e europeias, mas para ver passar, a seu lado, entulho, lixo, mato por limpar, eucaliptos, floresta queimada, barracões com chapas de zinco, casas horríveis e fábricas desactivadas. Portugal mente compulsivamente. Mente perante si próprio e mente perante o mundo.Claro que não é um professor que falta à vigilância de um exame por ficar preso no elevador que precisa de um atestado médico. É Portugal que precisa, antes que comece a vomitar sobre si próprio.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

APP - Exames

??????
... mas eu não estou perplexa com o Governo...

quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

terça-feira, 13 de dezembro de 2005

Exames :)

Oral da cadeira de Anatomia do curso de medicina
Prof: Descreva o fígado.
Aluno: Os fígados...
Prof: Os fígados??!! Quantos são?
Aluno: Dois. Direito e esquerdo!

Oral da cadeira de psicologia do curso de medicina
- Onde se localiza o centro de inteligência...? (área do córtex cerebral)
- Nos Estados Unidos da América.


Curso de Segurança Social, numa universidade privada lisboeta.
- Diga-me lá porque é que a taxa de natalidade é menor nos países desenvolvidos.
- Porque se trabalha mais do que nos países subdesenvolvidos.
- Ai sim?
- E tem-se menos tempo.
- Menos tempo para quê?
- (o aluno, hesitante e já embaraçado) Menos tempo para fazer amor.

Oral na Faculdade de Medicina de Coimbra
- Minha senhora, diga-me, por favor, qual é o órgão do corpo humano que dilata até sete vezes o seu tamanho normal.
A aluna retorce-se, transpira, cora indecentemente. Decide mesmo recusar-se a responder à pergunta.

Na oral imediatamente seguinte, o professor resolve insistir na pergunta.
- Minha senhora, qual é o órgão do corpo humano que dilata até sete vezes o seu tamanho normal?
- (a aluna, respondendo prontamente) É a íris, senhor professor.
- (O examinador, com um sorriso largo) Por favor, diga à sua colega que vai ter muitas desilusões ao longo da vida.


Exame numa universidade privada, em Lisboa
- Dê-me um exemplo de um mito religioso.
- Um mito religioso? Sancho Pança.
(estupefacto, o professor pede ao aluno para este escrever o que acabou de dizer. O aluno escreve no papel: "S. Xupanssa").



Prova oral da cadeira de Direito Constitucional, numa Universidade privada de Lisboa.
- O que aconteceu no 25 de Abril foi o início do regime autoritário salazarista. Mas quem subiu ao poder foi o presidente do então PSD, Álvaro Cunhal, que viria a falecer em circunstâncias misteriosas no acidente de Camarate.
- Quais são as batalhas mais importantes da história portuguesa?
- Antes de mais, senhor doutor, a batalha de Alves Barrota.


Num instituto superior da capital, 1º ano de Relações Internacionais.A cadeira é Ciência Política. O professor é um distinto deputado à Assembleia da República. A aluna, com rara convicção, explica ao examinador tudo o que se passou no 25 de Abril de 1974:
"A revolução de 74 significou a queda de um regime militar dominado pelo almirante Américo Tomás e pelo marechal Marcelo Caetano, que governava o país depois de deposto o último rei de Portugal, Oliveira Salazar. O 25 de Abril foi uma guerra entre dois marechais: o marechal Spínola e o marechal Caetano".
Outra versão, ainda mais criativa, desta vez numa Universidade privada de Lisboa, no 3ºano de Relações Internacionais.
- Descreva-me brevemente o que foi o 25 de Abril de 1974.
- Foi um golpe levado a cabo pelos militares, liderados por Salazar, contra Marcelino Caetano.
- (o professor, já disposto a divertir-se) E como enquadra o processo de descolonização nesse contexto?
- Bem, a guerra em África acabou quando Sá Carneiro, que, entretanto subiu ao poder, assinou a paz com os líderes negros moderados. Foi por causa disso que ele e esses líderes morreram todos em Camarate.
- Já agora, pode dizer-me quem era o presidente da República Portuguesa antes de 1974?
- Samora Machel.
Uma professora de Direito Constitucional numa universidade privada do Porto questiona o aluno sobre a Constituição de 1933. Esta consagra a impossibilidade de os descendentes da casa de Bragança se candidatarem à presidência da República.
- "Diga-me lá porque é que D. Duarte, segundo a Constituição portuguesa de 1933, não poderia candidatar-se à presidência da república?".
- "Porque ele é actualmente o presidente português".
Noutra resposta à mesma pergunta, que esta professora recebeu:
- "Porque vivemos num sistema monárquico".
Numa outra prova oral de Direito Constitucional:
- Quem substitui o presidente Jorge Sampaio em caso de impossibilidade temporária deste?
- A mulher dele, a Maria José Ritta.
Uma universidade privada em Lisboa, 1997.
A correcção manda que se diga que "as leis são emanadas pela Assembleia da República".
Discorrendo sobre o processo legislativo, um aluno responde que "as leis vêm em manadas da Assembleia da República".
1º e 2º ano do curso de Relações Internacionais, numa universidade privada de Lisboa. 1988/1996.
Algumas preciosidades.
- Quem é o actual presidente dos Estados Unidos?
- O Perez Troika.-
Paris é a capital de que país?
- Bruxelas.
- Quando foi a Revolução Liberal em Portugal?
- Em 1640.
- Diga-me, por favor, o que é a Nato.
- É a Organização do Tratado do Atlântico Norte.
- E a OTAN?
- (o examinado, depois de pensar demoradamente) Bem, aí a doutrina divide-se.
- Então diga-me lá qual era o nome próprio de Hitler?
- Heil.
- Minha senhora, em que época histórica situa Adolfo Hitler?
- No século XVIII, senhor professor.
- Tem a certeza?
- Não! Desculpe. No século XVII.
- Quem foi o grande impulsionador do nazismo?
- (o aluno, rápido e incisivo) O Fura João Hitler.
- O "Fura".
- Sim. É a designação hierárquica de Hitler.
Numa outra oral. Cadeira de História das Ideias Políticas e Sociais.
- Qual é a obra de fundo de Adolfo Hitler?
- É a Bíblia alemã.
- Pode dizer-me o que é um genocídio?
- É a morte dos genes.
- Como?
- É a morte dos genes e dos fetos.
Cadeira de Direito Internacional Público, uma universidade privada do Porto.
O professor, desesperado com a vacuidade das respostas de certo aluno em orais da especialidade, resolve tentar ajudar, recorrendo à geografia. Questionado sobre a localização da Escandinávia, o aluno responde que fica algures na Ásia. O examinador, rendido, brinca agora.
- Podemos então passar a chamar-lhe Escandinásia.
- Se calhar, senhor doutor.
- Não sabe que a Escandinávia fica na Europa?
- Pois é, tem razão!
- E fica a Norte ou a Sul?
- A sul.
- E sabe apontar-me alguma característica dos escandinavos?
- (o aluno, depois de longa pausa) Bem, eu acho que eles não são pretos.

domingo, 11 de dezembro de 2005

TLEBS - Que confusão!

Veja-se a enorme confusão que grassa da nova terminologia:


a explicação feita no ciberdúvidas sobre a nova terminologia para a sintaxe em,
http://ciberduvidas.sapo.pt/php/resposta.php?id=15859, explica desta forma os modificadores e complementos de nome (de grupos nominais) dizendo:


1.Complementos do nome:
1.1 Complemento preposicional do nome – (Composto por uma preposição e por um nome) há nomes que regem preposição (alguns sempre, outros em determinados contextos). Sempre que o contexto o exige, a sua presença é obrigatória, sendo, a meu ver, esta obrigatoriedade que justifica a designação de complemento.
Ex.: A necessidade de reflexão impõe uma pausa nos trabalhos.
1.2 Complemento frásico do nome – Composto por uma preposição seguida de um verbo. Ex.: A necessidade de refle(c)tir impõe uma pausa nos trabalhos.




2. Modificadores do nome:
2.1 Restritivos – podem ser adje(c)tivos ou nomes, ou ainda grupos preposicionais.
(6) O rapaz, decidido, avançou sem hesitar.
(7) A viagem de Lisboa ao Porto é cansativa (creio que se assemelha ao complemento determinativo)
2.2 Adje(c)tivais – (Creio que aqui se insere o atributo) – As flores vermelhas ficam bem nesse vaso.
2.3 Apositivos (como no aposto) – O João, rapaz corajoso, avançou sem hesitar.

Da análise que fiz, do que integra o famoso cd, temos algo bem diferente:


1· complementos do nome:
Todos os complementos do nome são opcionais, embora a informação veiculada por determinados nomes obrigue a ir ao contexto se não forem «completados».
1.1 . complemento preposicional frásico:
A necessidade de estudar é imperiosa (preposição + frase)
1.2 . complemento preposicional:
A irmã da Teresa desenvolveu um projecto (preposição + grupo nominal/nome)
1.3 . complemento adjectival: A proposta interessante enriqueceu a aula (grupo adjectival/adjectivo)

2. modificadores do nome:

2.1 modificadores restritivos (restringem o nome)
2.1.1 adjectivais:

· Os professores competentes são rigorosos ( grupo adjectival/adjectivo)
2.1.2 preposicionais:
· Os alunos com todo o material estudam melhor (grupo preposicional)
2.1.3 frásicos:

· Os alunos que estudam diariamente obtém bons resultados ( frase relativa restritiva)

2.2 modificadores apositivos (não restringem o nome)
2.2.1 adjectivais:

· Os professores, competentes, são rigorosos (grupo adjectival/adjectivo)
2.2.2 preposicionais:

· Os alunos, com todo o material, estudam melhor (grupo preposicional)
2.2.3 frásicos:
· Os alunos, que estudam diariamente, obtêm bons resultados ( frase relativa explicativa)

2.2.4 nominais:
· A escola, espaço de aprendizagem, deve ser preservada (grupo nominal/nome)
Obs: Os modificadores apositivos surgem obrigatoriamente entre vírgulas.


Temos então que alguns de nós continuam a falar de aposto, atributo, complemento determinativo e de orações relativas; outros falarão do que viram na explicação do ciberdúvidas; outros falarão do que efectivamente está na nova TLEBS (modificadores e complementos dos mais variados tipos)...... ENFIM.
Talvez seja melhor mesmo acabar com o Exame, para não se detectar a confusão que vai nesta área...

sábado, 10 de dezembro de 2005

Vem aí o Natal...


Aquilo que de verdadeiramente significativo podemos dar a alguém é o que nunca demos a outra pessoa, porque nasceu e se inventou por obra do afecto.
Fernando Namora

quinta-feira, 8 de dezembro de 2005

Ainda a TLEBS

Diz a nova circular:
1.2. Ensino Secundário:
- em 2005/2006, será levada a efeito a avaliação da situação no terreno. Uma vez os termos relativos ao funcionamento da língua constantes do novo programa de Português, homologado em 2002, são os constantes da TLEBS, apenas faz sentido falar em experiência pedagógica enquanto parte do processo de monitorização e de acompanhamento da implementação do novo programa de Português. Desta avaliação e da formação de professores, prevista também para este nível de ensino, surgirão documentos de reflexão, a publicar, para apoiar as práticas dos docentes;
- em 2006/2007 será publicado o relatório final com as conclusões do acompanhamento no terreno. Serão tidas em conta as contribuições dos docentes para a clarificação e enriquecimento da base de dados, distribuída às escolas sob a forma de CD-ROM.

Posso já adiantar que o meu grupo de trabalho, constituído por 8 professores de Português, concluiu o seguinte, na acção de formação sobre o novo programa para o 12º ano, quanto à avaliação da implementação do mesmo, no 10º e 11º:


(...)
Quanto à preparação científica, ao nível dos conteúdos literários não houve problemas, embora se tenha verificado redução e falta de sequência temática. Porém, o mesmo não aconteceu ao nível dos conteúdos de funcionamento da língua devido ao aparecimento da nova terminologia linguística.
(...)
III - RECURSOS UTILIZADOS
Quanto aos manuais, constatou-se que, na sua grande maioria, não contemplam os conteúdos linguísticos de acordo com o programa. Quando os apresentam, nem sempre o fazem em consonância com a nova terminologia. Este aspecto leva a uma certa confusão na leccionação desses conteúdos.
(...)

Fico à espera das conclusões do «relatório final».

quarta-feira, 7 de dezembro de 2005

Terminologia III

Na extraordinariamente esclarecedora Circular nº. 14/2005 lê-se:
__
2. Perante as questões recorrentemente (somos todos pouco dotados de massa cinzenta) levantadas pelas escolas, esclarece-se que:
2.1. A Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário (TLEBS) não se sobrepõe aos textos programáticos em vigor, mas actualiza-os. Tal significa que os professores deverão considerar, da TLEBS, apenas os termos correspondentes aos ciclos de ensino leccionados, definidos pelos programas em vigor e pelo Currículo Nacional;
2.2. O peso dado ao trabalho do Funcionamento da Língua (ou Conhecimento Explícito da Língua) é o definido pelos programas em vigor para os vários ciclos de ensino, não pretendendo a TLEBS, nem os documentos legais que a adoptam, alterar as orientações programáticas neste sentido;
2.3. A base de dados distribuída pelas escolas e disponível para consulta e instalação a partir da página de Internet da DGIDC é um documento de apoio aos docentes, sem carácter explicativo, que deverá ser objecto de reflexão e de estudo antes de integrar as práticas lectivas. Como tal, não se destina a alunos;
2.4. No que se refere aos exames nacionais no Ensino Básico, e de acordo com informação do GAVE, no final do corrente ano lectivo não estarão reunidas as condições de aplicação da TLEBS nos exames nacionais de Língua Portuguesa do 9.º ano, uma vez que a sua experimentação apenas se concretizará numa amostra de escolas seleccionadas;
2.5. No caso do exame do 12.º ano, o documento de referência para a realização do respectivo exame nacional é o programa da disciplina de Português, homologado em 2002. Assim, será tida em consideração a terminologia dele constante, considerando, portanto, os aspectos comuns à TLEBS publicada na Portaria n.º 1488/2004.
__
Vamos lá a ver se entendi! Embora a TLEBS deva ser objecto de reflexão e estudo antes de integrar as práticas lectivas, os alunos de 12º já têm de a saber para o exame.... (??????????)
Ficamos todos esclarecidos.
Ou não?

Quinto Império «é morto»

Vibra, clarim, cuja voz diz
Que outrora ergueste o grito real
Por D. João, Mestre de Aviz,
E Portugal!

Vibra, grita aquele hausto fundo
Com que impeliste, como um remo,
Em El-Rei D. João Segundo
O Império extremo!

Vibra, sem lei ou com lei,
Como aclamaste outrora em vão
O morto que hoje é vivo —
El-Rei D. Sebastião!

Vibra chamando, e aqui convoca
O inteiro exército fadado
Cuja extensão os pólos toca
Do mundo dado!

Aquele exército que é feito
Do quanto em Portugal é o mundo
E enche este mundo vasto e estreito
De ser profundo.

Para a obra que há que prometer
Ao nosso esforço alado em si,
Convoco todos sem saber
(É a Hora!) aqui!

Os que, soldados da alta glória,
Deram batalhas com um nome,
E de cuja alma a voz da história
Tem sede e fome.

E os que, pequenos e mesquinhos,
No ver e crer da externa sorte,
Convoco todos sem saber
Com vida e morte.

Sim, estes, os plebeus do Império;
Heróis sem ter para quem o ser,
Chama-os aqui, ó som etéreo
Que vibra a arder!

E, se o futuro é já presente
Na visão de quem sabe ver,
Convoca aqui eternamente
Os que hão de ser!

Todos, todos! A hora passa,
O génio colhe-a quando vai.
Vibra! Forma outra e a mesma raça
Da que se esvai.

A todos, todos, feitos num
Que é Portugal, sem lei nem fim,
Convoca, e, erguendo-os um a um,
Vibra, clarim!
(...)

Fernando Pessoa

terça-feira, 6 de dezembro de 2005

APP

http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1241159

Não é problemático? Claro que não. Todos vivemos bem sem exames. Não teremos o trabalho de os corrigir e não sofreremos a pressão de preparar os alunos.


«Os resultados não indicam isso (que as provas promovem a qualidade das aprendizagens). Evidenciam os problemas, mas não contribuem para os resolver e as médias até baixaram entre 1999 e 2004», disse Feytor Pinto .
Terei lido bem??? É melhor esconder os problemas???
As médias baixaram? ........... Por que será?
Desisto.

Exames

Sou suspeita para falar da abolição do Exame de Português de 12º ano, exactamente por ser professora da disciplina.
Sempre concordei com a existência de exames. Funcionam como niveladores do sistema, permitindo uma avaliação do mesmo através de um enunciado e critérios nacionais.
O argumento do «coitadinhos» dos alunos não serve ninguém. Quanto menos se exige, menos se faz. É a universalíssima lei do menor esforço. É natural e humano. Quanto mais se pede a alguém, seja do que for, mais essa pessoa dá. Quanto menos se pede, menos se dá. Funciona na mesma medida para professores. Se não há um exame pela frente, não há necessidade de cumprir o programa. Nem há necessidade de ser exigente e rigoroso na avaliação. E pode voltar livremente a inflação de notas, para «ajudar» os alunos a subir médias.

Abolir qualquer disciplina dos exames Nacionais é fazer crer aos alunos da sua pouca importância. E realmente o que interessa a nossa língua? Nadinha. Mais vale começarem com a língua inglesa no 1º ano e institui-la como língua oficial de Portugal.
Enquanto estes senhores estiverem a governar, desisto.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2005

Imperdível

Ver o cartoon: resume brilhantemente o amor dos profs relativamente às pseudo-aulas de substituição, ou seja, às novas dignificantes funções docentes de guarda e custódia.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2005

Carta aberta


Mais uma transcrição: «Carta Aberta à Exm.ª Sr.ª Ministra da Educação Professora Doutora Maria de Lurdes Rodrigues» de Ana Cristina Marques da Costa.
Sou professora de Educação Física do Ensino Básico (2.º ciclo) há 25 anos. Tive conhecimento, este ano lectivo, que ainda o vou ser mais 19, se a saúde e a motivação mo permitirem. Sou docente do quadro de nomeação definitiva da Escola EB 2,3 José Cardoso Pires, na Amadora. Pelo décimo quarto ano acumulo esta função com tarefas docentes no Ensino Superior Universitário - Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (ULHT).Os meus 25 anos já foram interrompidos por: dois anos de equiparação a bolseira para a realização de um mestrado em Ciências da Educação; dois anos de destacamento no Ministério da Educação a acompanhar a reforma, constituindo, em colaboração com um colega, a Direcção de Serviços de Formação de Professores do departamento a que pertencia; dois anos de destacamento na ULHT como regente de uma disciplina, a orientar estágio e a coordenar um ano da licenciatura que lecciono.Sr.ª Ministra, nenhuma destas três tarefas que acima referi se pode comparar em termos de desgaste intelectual e psicológico à tarefa que desempenho como professora do Ensino Básico. A exigência é semelhante, o desgaste e a energia dispendida não se podem comparar.Sr.ª Ministra, é mais difícil ser professora na escola do que na Universidade, em especial nos tempos que correm, em que, felizmente, estão no Ensino Básico (mas infelizmente não o concluem) quase todos os nossos cidadãos que legalmente o devem frequentar. Os números da frequência de alunos no nosso Ensino Secundário (12.º ano) no contexto mundial são vergonhosos - estamos na cauda (in Correio da Educação, ASA, n.º 63 de 17 Outubro 2005).Sr.ª Ministra, resolvi escrever-lhe esta carta porque, sendo uma das professoras que gosta de ensinar, pela primeira vez na minha vida profissional (na sequência das medidas vertiginosas que tem vindo a enviar para as Escolas) me questionei se terei escolhido a via certa: ser professora.É isto, Sr.ª Ministra: é apenas porque gosto das crianças, gosto da escola e me esforço por acreditar que ela pode melhorar que lhe resolvi escrever.A Escola estava doente, é verdade. Agora sinto-a moribunda.As medidas que tem enviado para os estabelecimentos de ensino são exclusivamente economicistas. Reforçam a ideia de espelho unidireccional do sistema, em que as instâncias superiores do ME espreitam cá para baixo, mas cá de baixo nada se vê para cima. Os professores merecem respeito, muito em especial aqueles que verdadeiramente o são, e a comunicação estabelecida entre os diferentes níveis do Ministério da Educação não tem sido, nem de longe nem de perto, a mais eficaz. A este propósito aconselho a leitura da crónica "A Dignidade e o Respeito"” do Professor Joaquim de Azevedo no Correio da Educação da ASA de 17 de Outubro de 2005. Sim, acredito que havia muitas situações que deveriam ser repostas pelo abuso que se fez, entre outros aspectos, na leitura e análise do Estatuto da Carreira Docente, concretamente no que às reduções da componente lectiva dizia respeito. Sou a primeira a admitir que muito na nossa Escola tem de mudar.Mas e o resto, Sr.ª Ministra?Aponte-me medidas inovadoras, tomadas no seu mandato, que contribuam para a melhoria da eficácia do ensino, para a redução dos níveis de iliteracia da língua portuguesa e da iliteracia científica que apresentamos a nível mundial… Onde estão?Onde estão estratégias de controlo e de verificação da nova concepção pedagógica inerente à reforma do Sistema Educativo: projectos curriculares de turma, desenvolvimento de competências (e não exclusivamente uma escola da memória e da avaliação quase exclusiva de conhecimentos), diferenciação de ensino, transversalidade da Língua Portuguesa…?Onde estão medidas de garantia de uma escola inclusiva? Será que o exemplo da situação actual francesa não nos fazem reflectir no que à Escola diz respeito?Onde estão os mecanismos para avaliar estas importantes inovações fantasma?Sr.ª Ministra, sobre estes assuntos por cumprir há testemunhos valiosissímos que interessa estudar de pessoas que, para nosso azar, já não estão connosco (Professores Paulo Abrantes, Rui Grácio e outros), mas que certamente não estariam contentes com o que se vive.Mais, Sr.ª Ministra, as medidas que têm sido tomadas estão, na minha opinião, a atrasar este processo que teria obrigatoriamente de avançar recorrendo a outras medidas.Mas falemos de outros aspectos. Saiba o que está a acontecer, Sr.ª Ministra: apesar do aumento de carga de permanência na escola, há projectos importantíssimos a cair, professores que faziam sistematicamente experiências no âmbito de disciplinas de Ciências Físico-Naturais que estão a deixar de o fazer (por falta de tempo para as preparar) e os poucos docentes que na escola se envolviam em projectos que ultrapassavam a sua docência e contribuíam para o crescimento e melhoria da escola estão a perder energia e começam a excusar-se de os fazer.A escola parece cada vez mais um jogo da apanhada onde ninguém sabe onde é o coito. (Luís Bom).Saiba, Sr.ª Ministra, que as famosas substituições não têm, na minha opinião, qualquer validade pedagógica. Justifico esta afirmação com os seguintes argumentos:- os alunos estão cada vez mais sobrecarregados em termos de carga horária;- os problemas de insegurança são grandes (em especial nas zonas urbanas e nos subúrbios) pelo que, à grande parte das crianças e jovens, não é dada a liberdade de poder caminhar em paz para as suas casas;- os fins-de-semana são, infelizmente para muitos, solitários e na companhia da televisão e de computadores;- a escola é quase toda sentada e as aulas de substituição também são sentadas;- assim sendo, os tempos de encontro e troca são escassos, restando a poucos alunos essa oportunidade. Ter um período de tempo desocupado permite o encontro entre os jovens, experiências importantíssimas de sociabilização, de jogo, de actividade física e de tratamento de temas que não são tratados junto da família, de professores ou da maioria dos adultos.Saiba a Escola ter uma oferta consistente e válida de actividades de complemento curricular (clubes diversos e um bom projecto de Desporto Escolar…), apoios pedagógicos, Bibliotecas abertas com a presença obrigatória e permanente de um Auxiliar de Acção Educativa e de um docente, Serviços de Psicologia e Orientação Profissional, Tutorias, Animadores e tudo o resto que ajude a escola a ser escola.Sr.ª Ministra, acredite que as aulas de substituição servem pouco a escola e os alunos. Servem apenas para grande desgaste da maioria dos professores que se confronta, desnecessariamente em muitas situações, com grupos desmotivados de cerca de 25 alunos que poderá nunca voltar a encontrar. Este encontro é certamente bem diferente daqueles que o Professor Daniel Sampaio realiza pontual e informalmente há cerca de trinta anos com milhares de jovens desconhecidos em aulas, garagens, pátios de escola, anfiteatros municipais e até igrejas in crónica da revista Xis, Jornal Público).Tenha o Ministério da Educação vontade e disponibilidade política para garantir estas medidas. Para as fiscalizar, a par da avaliação e controlo que já há muito deveria ter sido feito através de um enquadramento legal, da qualidade miserável dos bares das escolas que estão a contribuir para a destruição da saúde das nossa crianças e jovens e para um acréscimo impressionante dos gastos em saúde resultantes das doenças associadas à obesidade (não tão longínquo como à partida pode parecer).As comparações que têm vindo a público na comunicação social são enganadoras, no mínimo viciadas. A Educação Comparada é uma das Ciências da Educação importantes, é verdade. Deve no entanto ser utilizada de forma criteriosa, não recorrendo apenas a variáveis úteis em determinados momentos. Não basta apenas pensar em percentagens de gasto da educação relativamente ao nosso pobre produto interno bruto ou a qualquer outro aspecto descontextualizado. Vamos comparar todas as variáveis.Outro assunto que seriamente me preocupa é um resultante da entrevista que a Sr.ª Ministra deu ao Jornal Público, a 20 de Outubro deste ano. Reportando-se às verbas do PIDDAC e a propósito da melhoria da rede escolar, a Sr.ª Ministra refere Encontrei um PIDDAC que, se não lhe mexesse, tinha todo o dinheiro comprometido nos próximos cinco ou seis anos só para pagar pavilhões gimnodesportivos, mesmo estando a rede escolar num estado que exige intervenção urgente. A minha intervenção foi inverter as prioridades, passá-las dos pavilhões para o espaço da escola.Que estranhas estas prioridades. Fala como se a a saúde das crianças portuguesas não fosse uma prioridade! Esquece-se de que a Organização Mundial de Saúde classifica a obesidade como o flagelo do século XXI e de que é na disciplina de Educação Física que se desenvolve a saúde e se promove um estilo de vida activo. Fala do espaço das escolas como se as instalações cobertas e dignas para a disciplina de Educação Física e para as práticas de Desporto Escolar dele não fizessem parte.Mas e os estádios? Especialmente os esquecidos por cuja construção governos tanto lutaram. Será que daí não estão a resultar individamentos para o nosso Portugal dos Pequenitos? Terá sido isso uma prioridade, Sr.ª Ministra?Esta preocupação agrava-se quando leio o artigo "Professores temem mais privatizações” (in Correio da Manhã, 9 de Novembro de 2005) no qual um adjunto da Sr.ª Ministra refere, a propósito do 1.º ciclo, que: a modalidade de instrução física e motora não assegura um bom desenvolvimento desportivo da criança e desvenda medidas que irá anunciar, que podem incluir a saída da Educação Física do currículo do 1.º ciclo do Ensino Básico. Será necessário esclarecer queo que está em causa não é a instrução física, mas sim a área curricular de “Expressão e Educação Físico-Motora” incluída legalmente no currículo deste ciclo de escolaridade.Tal como a finalidade da Língua Portuguesa, que no actual currículo acompanha a EF do 1.º ao 12.º ano (resultante da reforma iniciada em 1986 e generalizada em 1996), não é formar poetas ou advogados, mas sim desempenhar com correcção as funções da Língua Portuguesa, isto é comunicar, a Educação Física, Sr.ª Ministra, no 1.º ciclo (ou em qualquer outro ciclo de escolaridade) nunca servirá para formar desportistas. Serve para educar as crianças no domínio das actividades físicas, para as tornar mais aptas e saudáveis, para lhes incutir o gosto pela actividade física e para contribuir para a promoção de estilos de vida activos.Parece-me moral e pedagogicamente correcto dar cumprimento à iniciativa do governo da Sr.ª Ministra de iniciar o Inglês no arranque da escolaridade obrigatória.Privatizá-la parece-me moralmente incorrecto. O correcto seria recorrer-se à lista ordenada de professores de Inglês, actualmente não colocados, com formação para iniciar esta língua estrangeira junto das crianças.Privatizar a Educação Física, Sr.ª Ministra? Os nossos colegas do 1.º ciclo têm, no seu currículo de formação inicial, formação para leccionar esta área. As carências que possam sentir devem ser supridas com apoio de especialistas, tal como está contemplado no ponto 1 a) da lei 46/86, Lei de Bases do Sistema Educativo no 1.º ciclo, o ensino é globalizante, da responsabilidade de um professor único, que pode ser coadjuvaado em áreas especializadas.Considero-me uma pessoa com formação nas questões que à Educação e à Escola dizem respeito. Ensino-as na Universidade e é, também, por esta razão que me sinto na obrigação de viver a escola com a regularidade com que o tenho feito.É que vários ensinam o que não conhecem, muitos opinam sem ter vivido e outros legislam sobre o que lhes é exterior.Na minha opinião qualquer Ministra/o da Educação deveria ter ensinado numa escola do Ensino Básico ou Secundário pelo menos dois anos consecutivos, nos últimos cinco anos antes do seu mandato, (especialmente em escolas de zonas de risco), caso contrário têm da escola uma visão ténue, desfocada, pouco nítida. Também cada Ministro deveria rodear-se, isto é, constituir a sua equipa com professores que gostem de o ser e que queiram uma escola tratada e não uma escola doente e em lista de espera.Muito mais haveria que dizer.O que está a acontecer compromete o futuro das crianças e dos jovens. De Portugal.Sr.ª Ministra, veja lá isto porque a minha vida é a escola.A nossa vida é a escola.

Descontentamento

Transcrevo aqui o texto:«Porquê o descontentamento dos Professores?» de Isabel Cruz.
Atravessamos sem dúvida um dos momentos de maior contestação por parte dos profissionais da Educação. A opinião pública está conquistada! É voz corrente que os professores não querem trabalhar. Esta é sem dúvida uma falsa questão. Não há sociedade que se desenvolva de costas viradas para os principais interlocutores da formação dos seus jovens - os professores. Já lá vai o tempo em que os professores eram valorizados pela sociedade. Assistimos hoje a um forte movimento de contestação que mais não é que um conflito de papéis. Há uma crise de imagem do professor. É assim fundamental que se defina qual o papel do professor no contexto social dos dias de hoje. No passado recente o professor era alguém que detinha o saber e o saber fazer e esta mais valia permitia-lhe, dentro da sua especialidade do saber, desenvolver competências nos alunos, ajudando-os a aprender a aprender. Não estamos a falar de professores generalistas, mas especialistas num determinado ramo do saber. E assim temos os professores das várias disciplinas curriculares, tal como está previsto no concurso de professores - cada um só pode candidatar-se a leccionar a disciplina para a qual possui uma formação académica específica. Foi assim no passado e é no presente. O que mudou afinal? Qual a razão de tanta contestação por parte dos docentes? É importante que se saiba que ao professor, além de se lhe pedir que seja um especialista da disciplina que lecciona e ensine essa disciplina hoje pede-se-lhe que seja um "entertainer", um animador social. Pede-se ao professor que, tal como acontece nos jardins de infância, se ocupe e guarde os jovens quando estes não têm uma aula. Não importa o que ele faz, como faz, se resulta ou não resulta! O importante é que passe para a opinião pública que os jovens não têm furos nas escolas. Estão sempre ocupados. Bem ou mal, mas estão ocupados. Não importa que essa ocupação resulte num boicote sucessivo às aulas curriculares, pois os alunos ficam revoltados por estarem a ser "guardados" por um professor que não é o seu professor e como não são "estúpidos" também sabem que o objectivo é a ocupação pela ocupação sem qualquer resultado no seu sucesso educativo. Antes pelo contrário, tira-se a possibilidade de os alunos livremente aproveitarem os tempos que estão sem aulas para, de forma autónoma, se dirigirem à biblioteca, fazerem as suas pesquisas, irem à sala de informática passar um texto a computador, etc. É um atentado à inteligência de professores e alunos. Mas, enfim, o importante é conquistar votos! Manter uma imagem positiva nas sondagens de opinião pública. Mas efectivamente o que temos vindo a assistir é a uma sobreposição da lógica política à lógica pedagógica. Basta ver um novo despacho normativo do Ministério da Educação sobre a avaliação dos alunos, que vem permitir que as escolas decidam passar de ano qualquer repetente com maus resultados. Podem fazê-lo se considerarem que se esgotaram todos os mecanismos de recuperação. É o sucesso pelo sucesso, uma verdadeira forma de escamotear o insucesso. Promover as estatísticas do sucesso. Não é de estranhar. Efectivamente, a Srª Ministra da Educação deve ser excelente em matéria de Gestão mas quanto à Educação, peço-lhe desculpa Senhora Ministra, seria fundamental a Sr.ª passar pelos bancos das escolas e conhecer a realidade! Gostaria de a ver entreter alunos indisciplinados a quem a escola nada diz, que frequentemente boicotam o trabalho dos seus professores, para ficarem serenos durante 90 minutos a praticarem actividades lúdicas com um professor que não é o seu, que não conhecem e que não sabem se o voltarão a ver na sua sala de aula! É que a lei da reguada felizmente já não existe nas escolas. Resta apenas a palavra pedagogia, que é uma arma que nem sempre resulta! Como pode resultar, quando os próprios pais dos alunos indisciplinados chegam à escola e pedem ao professor que os ajude pois não sabem mais o que fazer, pois os filhos não lhes obedecem? Se não obedecem aos pais, como vão obedecer aos professores? Estamos perante uma grave crise de valores e certamente o caminho não é prolongar a estadia dos alunos na escola. Há que preparar a casa, que construir respostas para as verdadeiras apetências e motivações dos alunos de hoje e depois, sim, venham os alunos que certamente será um prazer partilhar com eles algo que lhes diga alguma coisa. Como já é costume no nosso país, começa-se a construção da casa pelo telhado, mas quanto aos alicerces…Seria de facto fantástico termos os nossos alunos todo o dia na escola, não "presos", mas voluntariamente. Com actividades motivadoras que lhes permitissem de forma aprazível desenvolver as suas competências ao mesmo tempo que criassem uma vontade acrescida de permanecer na escola, para além das aulas curriculares, desenvolverem projectos partilhados com os seus professores. Mas não se fazem omoletas sem ovos! Efectivamente o investimento financeiro na educação nunca foi tão escasso. Não fora a agilidade dos conselhos executivos, muitas escolas estariam na ruptura. Não vivemos mais a geração do caderno e do livro escolar. Os nossos jovens pertencem a uma geração diferente. A escola tem muitos concorrentes. É fundamental que ela evolua e se aproxime dos interesses dos alunos. Qualquer pai sabe que o seu filho em casa passa horas em frente ao computador, à televisão. A Playstation é uma verdadeira apetência. Como tornar a escola competitiva? Certamente não é servir mais doses de "sopa amarga" que os alunos odeiam ingerir. É preciso munir as escolas de recursos e equipamentos que permitam atrair os alunos. Onde está o tão anunciado choque tecnológico? Sim, porque é nas escolas que se começa a caminhar para a investigação, para a experimentação. Onde estão os laboratórios equipados que permitam o aprender ciência através da experimentação? Todos sabemos que não estão! Não existem. Palavras, leva-as o vento, mas quem está no terreno tem de sobreviver com todas as lacunas do passado e do presente. Só que os nossos jovens não vivem no passado, vivem numa geração nova em que a teoria só tem sentido se for experienciada. De um modo geral, as escolas não evoluíram. Tirando uma ou duas salas de informática que apenas podem servir num determinado momento um grupo turma, nada mais de novo temos. Não vale a pena escamotear a verdade. A escola não se adequou à nova realidade. Os docentes não têm condições para o exercício de um serviço de qualidade. E agora digam-me: são os professores que não querem trabalhar? Não. Os professores não se negam a trabalhar. Trabalharam no passado e fazem-no no presente. Nunca foi preciso uma ministra determinar nada para muitos professores darem aulas extras aos seus alunos para os prepararem para os exames, nunca foi preciso legislarem para os professores prestarem atenção e darem apoio aos alunos com mais dificuldades de aprendizagem, nunca foi preciso uma ministra ordenar para que na escola se desenvolvessem projectos válidos! Nós profissionais da educação sempre soubemos dar respostas aos grandes desafios, nunca precisámos de alguém que pusesse em causa o nosso profissionalismo. Penso que nós, professores, devemos dar as mãos e tentar colmatar tanta incongruência, dando mais uma vez uma resposta positiva, mostrando que, apesar do grave erro da Ministra ao legislar as actividades lúdicas de substituição, terminar com a "palhaçada" que vamos vendo nas escolas e dar uma lição, apesar das contingências, de reinventar uma forma de estarmos com os nossos alunos, criando projectos subsidiados, porque não, através do mecenato local, e com as nossas práticas mostrarmos à ministra que mais importante que legislar é escutar, auscultar opiniões, partilhar, palavra que não consta no dicionário do actual governo. Certamente se fossemos ouvidos teríamos prestado uma vez mais um sério contributo para a resolução de muitos destes problemas. Nós temos consciência de que nem tudo está bem. É fundamental a mudança. Há que pensar como resolver o problema do insucesso e do abandono precoce da escola. Estamos todos de acordo. Aliás nós próprios fomos os primeiros a diagnosticar estas lacunas. Fizemos o diagnóstico mas não participámos na procura da “cura”. Não se entende porquê. Tanto mais que muitos dos projectos já estão em prática mas faltam apoios, subsídios e principalmente estruturas físicas. Temos que tomar consciência que nós, os professores, somos parte da solução e não o problema. O problema já todos conhecemos. É assim fundamental defendermos a nossa auto-imagem, num momento em que estamos a ser usados como "bodes expiatórios" de políticas educativas de insucesso.