quinta-feira, 27 de novembro de 2008

A SIMPLIFICAÇÃO ou A FARSA?

Texto de Pedro Nuno Teixeira Santos:
Afinal o que se pretende não é avaliar os professores mas, muito mais importante, passar para a opinião pública a imagem que se “está a avaliar os professores”. Parece a mesma coisa, mas apenas à superfície…A sobreposição das aparências ao conteúdo, do marketing ao rigor!
Deste modo, tal como com os exames nacionais e tantas outras políticas educativas, optou-se pelo facilitismo: optou-se por um modelo de concurso para titular, cheio de contradições e injustiças, baseado sobretudo em factores, não de mérito científico/pedagógico, mas na ocupação de cargos administrativos.E que opinião é que Maria do Céu Roldão, uma das criadoras deste processo de avaliação docente, tem da forma como esses cargos eram ocupados: “rotação por lotaria“!
De facto, se este concurso para titulares permitiu seleccionar os melhores professores deste país foi por mero acaso…ou lotaria!
Mas Maria do Céu Roldão vai mais longe no seu lirismo, ao tentar explicar que o importante era mesmo fazer um primeiro concurso, ou seja, dividir a classe entre avaliadores e em avaliados. E que, consumada esta divisão e iniciado este processo de avaliação, seria possível identificar os melhores que, se supõe, chegariam um dia, eles próprios, a titulares e avaliadores.
Concluindo, e em bom português, o processo de avaliação começou da pior maneira possível, através de uma pré-selecção de professores avaliadores por mera sorte mas, este sistema “perfeito”, uma vez em funcionamento seria capaz de se auto-regular-se e promover a excelência e a identificação dos melhores professores.
Para enredo de filme de ficção científica até seria interessante mas, tendo em conta que falamos de políticas educativas que se exigem rigorosas, este processo ultrapassa os limites da falta de dignidade.
É isto, e só isto, esta farsa burlesca e hipócrita, que o senhor Secretário de Estado Adjunto da Educação, Jorge Pedreira, e toda a restante equipa ministerial, quer vender ao país como uma avaliação “rigorosa, credível e que permita a diferenciação entre professores…”.
É preciso explicar este problema de base ao país e porque não podemos anuir à coacção e à chantagem para aceitarmos a simplificação de um modelo que não podemos aceitar, não pela burocracia que encerra, mas pela hipocrisia política sobre o qual foi construído. O problema real tem a ver com o facto de todo este processo assentar os alicerces numa farsa: o concurso para professores titulares.
Mas, a propósito deste “simplex” com que o governo esvazia e ridiculariza a avaliação que ele próprio criou, convém reter o ponto cinco, em que se torna voluntária a avaliação da componente científico-pedagógica.
Resumindo: uma pessoa pode ser uma “nódoa” como professor mas, se preencher a papelada toda e se prescindir da avaliação pelo coordenador, arrisca-se a ser avaliado com…Bom!!!!Isto é, num golpe de teatro palaciano, o ministério deixa cair a obrigatoriedade daquela que, na minha modesta opinião, era a única coisa que fazia sentido no seu modelo de avaliação, ou seja, a avaliação de um professor em contexto de aula.
Mais uma vez, o ministério sublinha que o importante é passar, para a opinião pública, a mensagem que se está a avaliar os professores e não criar um efectivo processo de avaliação que pudesse ser rigoroso, credível e que permitisse a diferenciação, pela qualidade, entre professores.
Chegados a este ponto, é bem claro que o governo vai estar disposto a tudo apenas “para não perder a face” através de um recuo na praça pública.
Estou convencido que continuarão a tentar “comprar” a nossa dignidade, simplificando ainda mais este modelo até nada dele restar.
Poderá haver ainda algum professor, algum colega nosso, que acredite que será este sistema de avaliação que permitirá premiar os melhores?
Poderá haver ainda algum português que acredite que o governo está de boa-fé neste processo, ou seja, que está genuinamente interessado em melhorar o sistema de ensino e não apenas em montar uma farsa? Não será de perguntar porque é que, se este sistema de avaliação é tão rigoroso, existe a necessidade de tantos reajustamentos e simplificações?
Resta a resposta à colega Inês de Castro que, no mesmo “Prós e Contras”, apelou a um recuo dos sindicatos. Eu não sei se os sindicatos irão recuar, nem me interessa.
Interessa-me antes saber que, após o próprio ministério ter confessado a sua farsa em directo, não restarão aos professores dignos, sérios, honestos e corajosos, qualquer dúvida de que não são eles que têm que recuar. Do seu lado está a razão de quem se fartou de “engolir sapos” e quer salvar o que resta por salvar no ensino público português.
Anseia-se agora, de forma patética, que, após mil e uma simplificações, se endireite algo que nasceu torto?! Estaremos dispostos a vender a nossa dignidade a troco de um “simplex”?
Eu não! (...)A cada reunião com a Direcção-Regional ou com os Secretários de Estado; a cada nova simplificação; a cada novo e-mail da DGRHE, cresce a certeza da nossa razão.
Todo este processo em que se tenta manter vivo algo que há muito é um “cadáver” começa a cheirar mal…Como disse alguém no “Prós e Contras”, alguém que não é professor mas sim o representante da confederação de associações de pais, “não se pode suspender algo que está parado“!
Pode ser lido na íntegra aqui.

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