quarta-feira, 26 de outubro de 2005

Indisciplina

Hoje uma amiga ligou-me porque precisava de desabafar. Cansada, procurava apoio e suporte, pois tivera mais uma daquelas fantásticas experiências com um grupo de alunos de 7º ano, insurrectos, malcriados, desobedientes, sem regras, completamente desenquadrados do que é, ou deve ser, o ambiente escolar.

Passo a relatar a «historinha»:

Por estar a acabar uma acta duma reunião de Conselho de Turma numa sala destinada aos professores num piso superior da escola, não se apercebeu do toque de entrada e só se dirigiu para o pavilhão onde ia ter aulas um minuto depois desse toque (porque uma colega lhe perguntou se não tinha aula). Quando lá chega, depara-se com os seus alunos, de entre os quais, um grupo «exige» um professor de «substituição» - veja-se o cúmulo.
Dirige-se para a sala de aula, avisando que os que não a acompanhassem teriam falta. Todos a seguem. Uma vez lá, alguns começam a queixar-se de cheiro a queimado. Efectivamente alguns deles tinha pegado fogo a qualquer coisa que não se conseguiu perceber o que era. De entre as caras de todos eles, nota as sorridentes e as espantadas. Já irritada com o comportamento, resolve dirigir-se ao Conselho Executivo. Aí lhe sugerem que dê ordem de saída da sala de aula ao ou aos responsáveis. Assim faz, mas não sem antes se fazer acompanhar pelo chefe dos funcionários da escola, homem corpulento e ginasticado (a que ponto chegámos). Já na sala de aula, com a funcionária do pavilhão, o chefe de funcionários e ela própria, ao dar ordem de saída a esse grupo de «meninos» assiste ao comportamento agressivo de um deles que empurra violentamente a cadeira e se comporta como um petit sauvage. É o chefe de funcionários que o admoesta, dizendo-lhe que conhece bem o pai e que aquele comportamento será sancionado.

Devo acrescentar que esta minha amiga, nunca teve problemas de «segurar» os alunos. Todos sabemos que há, no sistema, colegas que não têm mão neles. Não é este o caso.
Tem mais duas turmas em que tudo decorre na mais completa normalidade (estas duas bem mais pequenas) e uma outra também bem recheada e também essa com problemas de comportamento. Mas quanto maiores as turmas, mais dinheiro se poupa. E há que pensar no deficit. É a primeira prioridade.


Pois é.
Como ela referiu, naquela turma há um grupo que quer aprender, que faz os trabalhos, que se interessa e que olha para esses colegas como se estivesse num zoo a admirar animais estranhos. Outros há, que se não tivessem aqueles «exemplares» seriam também facilmente «puxados» para o prazer de aprender, de trabalhar. Mas, naquele ambiente turbulento de 28 com alguns «índios», como é possível?
São estes alunos a quem se vai dar aulas de recuperação? Disparates. Estão no sistema porque ainda lhes falta um ano para a idade de trabalhar. E, entretanto, desestabilizam os mais novos, impedem o regular funcionamento das aulas e, pior, ensinam a alguns dos mais novos «o gozo» do mau comportamento, do desafio da autoridade. Como chegaram a este estado? Não sei. O que sei é que se os pais não os «seguram» em casa, na escola só os «corpulentos» é que o conseguem.

Um comentário:

Amélia disse...

O governo inglês tem vindo a tentar «resolver», recuperando o conceito e prática de autoridade dos professores e penalizando, não só alunos, como responsabilizando os pais.E não é necessário recorrer à tradicional veragastada que associamos ao ensino inglês... É que na Inglaterra tem havido inúmeros professores que se suicidam e ou abandonam o ofício.Os nossos alunos deixaram de sentir que os professores têm o direito de tentar ensiná-los o melhor que podem e sabem - e que, porque mais velhos,devem ser respeitados e dispõem de autoridade (que, normalmente, o laxismo e a pedolatria governamental, que vem de longe, e a educação ou falta dela dos pais põem constantemente em causa).Por enquanto, entre nós, só faltam tenativas de homicídio contra professores e fundionários, por paerte das rousseaunianas inocentes criaturinhas que somos obrigados a «aguentar»...
Mas - está visto -os professores não sabem como defender-se.E nubca vi nenhuka associação de professores ou sindicato abordar questões «comezinhas» do dia a dia sofrido por tantos professores...
Dos governos é nem é bom falar...até porque sofrem igualmente de pedolatria e têm ambições de caçar votos entre as juventudes partidárias...