quarta-feira, 24 de outubro de 2007

O Ensino da Matemática

Vasco Graça Moura, no DN de hoje

O meu último contacto escolar com a matemática, hélas!, ocorreu nos idos de 1957, altura em que concluí o então denominado 5.º ano do liceu. Não tenho pois qualquer autoridade para me pronunciar sobre a matéria dos programas de Matemática em vigor nas nossas escolas.Mas acabo de ler o parecer da Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM) sobre o documento colocado à discussão pública para reajustamento do Programa de Matemática do Ensino Básico de 1 de Julho de 2007 (http/www.spm.pt /files/Microsoft%20Word%20-%20ParecerSPM %20ReajustBasicoOut2007_Imprensa%5b1%5 d.pdf). E dele extraio alguns pontos que parecem altamente preocupantes, com o único objectivo de chamar a atenção para esse conjunto de problemas.
A SPM começa por estranhar o facto de não existir nenhum matemático entre os três principais responsáveis e autores do documento em discussão que são pessoas de Educação Matemática. E também observa que entre esses três autores nenhum foi crítico das orientações seguidas nos últimos anos.Aponta a fonte potencial de confusões que consistirá na existência de três documentos legais orientadores do Ensino Básico da Matemática: o Programa de 1991, o Currículo Nacional de 2001 e este Reajustamento, se vier a ser aprovado, com tudo o que esta sobreposição acarretará de confusões. Põe também em relevo que o documento proposto não clarifica confusões e não corrige os erros dos textos anteriores.
Critica a ausência de coordenação com outras disciplinas: "Há problemas, por exemplo, com a Física, onde as equações literais são trabalhadas antes de serem abordadas com a Matemática."
Afirma que o documento em discussão não corrige os erros que consistem: na subalternização dos conteúdos curriculares; no desprezo pela memorização e aquisição de rotinas; na consideração dessas rotinas e automatismos como obstáculos ao desenvolvimento do raciocínio e à compreensão dos conceitos; na consideração dogmática do ensino em contexto como processo único de aprendizagem, esquecendo a necessidade de treinos específicos, nomeadamente de algoritmos e regras algébricas. Estes erros são, até, prolongados, segundo a SPM.
Mas há mais. Não se verifica uma reorientação do ensino para conteúdos explícitos e para capacidades verificáveis. Continua a sobrevalorizar-se a máquina de calcular, em termos que vêm desde 1991, sendo certo que a SPM entende "que a calculadora pode e deve desempenhar algum papel no ensino, embora apenas muito ocasionalmente nos primeiros anos do Ensino Básico", não devendo ser indiscriminadamente usada pelo aluno.
A própria bibliografia indicada inclui "um número inusitado de referências orientadas por uma corrente dogmática de educação que é, em grande parte, responsável por muitos erros pedagógicos praticados em Portugal e noutros países". Para a SPM, "as finalidades, os objectivos centrais, as capacidades transversais e as orientações metodológicas que o documento apresenta não são claros, não estão claramente hierarquizados nem ajudam os professores a orientar-se na prática lectiva".
Parecem ser equívocas as recomendações referentes a algoritmos e à prática do cálculo mental. Um exemplo dado, fala por si: recomenda-se que os alunos pratiquem a soma "3+4" em etapas: "3+4=3+3+1=7", quando seria mais fácil ensinar aos alunos que "3+4=7"..., tendo como resultado que, com esta insistência se prolongam as deficiências de cálculo e se prejudicam os automatismos.
Insiste-se demasiado na chamada pedagogia não directiva. Fala-se em discutir com os alunos, ou em propor-lhes, noções como as de "variável", "constante", coeficiente", "raiz quadrada", em vez de se falar em indicar, mostrar ou ensinar.
O programa não inclui objectivos exigentes e o documento do projecto de reajustamento em discussão é "pouco útil e eivado de erros de orientação pedagógica", não constituindo um progresso nem a melhoria necessária.
Repito que não me assiste qualquer competência para entrar nestas matérias. Utilizo este meu espaço semanal no DN para chamar a atenção de um público mais alargado quanto a um conjunto de problemas muito sérios e de cuja solução satisfatória depende o êxito do ensino de uma disciplina em que o aproveitamento escolar tem andado pelas ruas da amargura.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Comunistas (2)!!!

VISITA DE SÓCRATES À COVILHÃ PREPARADA DA PIOR FORMA:

POLÍCIA LEVA MATERIAL DE INFORMAÇÃO DA SEDE DO SPRC NA COVILHÃ

Hoje, 8 de Outubro, dois polícias “à civil”, entraram na sede do SPRC na Covilhã e, na ausência de qualquer dirigente, por se encontrarem em actividade sindical, levaram consigo dois documentos de informação. Apesar de nunca vista, em 25 anos do SPRC e 33 de democracia, esta acção de características pidescas, a que um agente designou de rotina, assume contornos repugnantes e deploráveis, e constitui uma clara violação dos direitos, liberdades e garantias e das instituições democráticas.

O Sindicato dos Professores da Região Centro apela a todos os cidadãos para que não se deixem intimidar e aos professores para que participem em todas as acções de contestação a esta política e a este rumo de ataque ao regime democrático que o governo e o primeiro ministro entenderam tomar, a começar pelo Cordão Humano que se realiza amanhã na Covilhã, junto à Escola Secundária Frei Heitor Pinto, a partir das 14H30, organizado por diversos Sindicatos.

Para o SPRC é evidente que esta iniciativa da polícia não está desligada das declarações recentes do primeiro-ministro, cujo discurso, de teor absolutamente antidemocrático, faria corar os governantes mais à direita que passaram pelo poder no pós-25 de Abril.

Sabendo-se que as forças de segurança não agem sem comando e muito menos sem a direcção do poder político, o SPRC responsabiliza o governo por esta atitude intimidatória, autoritária e violadora dos mais elementares direitos democráticos e da liberdade do Povo Português.

A Direcção do SPRC decidiu apresentar queixa sobre esta violação dos direitos democráticos ao senhor Presidente da República, à Assembleia da República, à Provedoria de Justiça, à Procuradoria-Geral da República e entregar a análise deste acto de autoritarismo e totalitarismo aos seus advogados para que preparem a apresentação de uma queixa contra o governo português no Tribunal Europeu.

Entretanto, na sequência da situação a que foram sujeitos dirigentes sindicais de diversas organizações do distrito, designadamente o coordenador do SPRC, ontem, em Montemor-o-Velho, a Direcção do SPRC decidiu apresentar queixa-crime no Ministério Público daquela localidade contra o responsável local da GNR, o que será concretizado na próxima sexta-feira.

08.10.2007

A Direcção

sábado, 6 de outubro de 2007

Irrelevância? Só se for para eles...

Denunciante quer Sócrates arguido
Nuno Miguel Maia
O advogado José Maria Martins, que deu origem ao processo sobre a hipotética falsificação de documento na licenciatura em Engenharia Civil de José Sócrates, solicitou agora a intervenção do Supremo Tribunal de Justiça, no sentido de declarar nulo o despacho de arquivamento do caso. De acordo com o requerimento, consultado pelo JN, em causa está o facto de o actual primeiro-ministro não ter sido constituído arguido e interrogado - como os indícios impunham - por alegadas irregularidades na forma de obtenção da licenciatura, nem por suspeita de ter utilizado indevidamente o título de engenheiro civil - uma vez que o curso da Universidade Independente (UI) confere o grau de licenciado, mas não está acreditado pela Ordem dos Engenheiros. A argumentação para o arquivamento, decidido por Cândida Almeida, procuradora-geral adjunta e directora do Departamento Central de Investigação e Acção Penal, centrou-se na constatação de que Sócrates não foi alvo de "qualquer tratamento de favor" em detrimento dos restantes alunos. Todos, afinal, acabaram por beneficiar da "anarquia", do "ambiente de facilitismo", do "fraco grau de exigência e falta de rigor pedagógico" da UI. Neste contexto, para o Ministério Público, as incoerências e contradições constantes nos diplomas - entre os quais a data de uma segunda via de diploma entregue em 2000 na Câmara Municipal da Covilhã, com a data inscrita de Agosto de 1996, apesar de o documento possuir números de telefone iniciados pelo prefixo "21", não existente nessa data - são erros e incorrecções atribuíveis à universidade, aos quais serão alheios o político e demais estudantes.
A par de Sócrates, o advogado que apresentou a denúncia entende que também o ex-reitor daquela universidade privada, Luís Arouca, e o professor de Sócrates, António Morais, deveriam ter sido formalmente interrogados como suspeitos. Para José Maria Martins - advogado que ficou conhecido como defensor de Bibi no processo Casa Pia - além de suspeitas de falsificação de documentos, sob a forma intelectual, haverá ainda indícios de tráfico de influências . O advogado refere-se ao facto de Luís Arouca só ter sido nomeado formalmente reitor da Universidade em 1996, quando o PS foi para o Governo. Antes dessa data, desde 1993, Arouca desempenhava, efectivamente, a função de reitor. Só que, face à recusa do Governo PSD e do ministro Couto dos Santos em reconhecê-lo como tal - devido a anteriores problemas na Universidade Autónoma de Lisboa -, formalmente o cargo foi atribuído a Pamplona Corte-Real e, depois, a Ernesto Costa.
Datas não condizem
Para o denunciante, os indícios de crime de falsificação por parte de José Sócrates e do alegado tratamento de favor começam no pedido de equivalências apresentado em 1995. Nessa carta, enviada em data não especificada, Sócrates declara pretender terminar a licenciatura na UI e, por isso, pede equivalências a cadeiras já efectuadas no Instituto Superior de Engenharia de Coimbra. Solicita ainda equivalências a disciplinas feitas no Instituto Superior de Engenharia de Lisboa (ISEL), mas diz que só poderá indicar as mesmas em Setembro, "pelo facto de algumas notas ainda não estarem lançadas".
Acontece que Sócrates só viria a obter aprovação em quatro das referidas cadeiras no ISEL durante Setembro e Outubro (dia 31 foi a última). Mas, apesar disso, a 12 de Setembro (de 1995) anterior, já tinha nas mãos, enviado pela UI, o plano das disciplinas que teria de fazer para obter o grau de licenciado. O documento estava assinado pelo presidente do Conselho Científico, que só passou a existir legalmente a partir de 24 de Julho de 1997.
Apesar destas discrepâncias, o Ministério Público concluiu pela sua "irrelevância criminal", uma vez que à data da obtenção da licenciatura na UI, Sócrates já tinha efectuado todas as disciplinas do ISEL das quais teve equivalências. Martins não se conforma com o argumento. "Nem sequer tinha feito exames das disciplinas no ISEL quando pediu a equivalência. Logo quando entregou o pedido de equivalências [Sócrates] mentiu, porque disse que as notas ainda não tinham sido lançadas e que só em Setembro (de 1995) teria o certificado".
Para defender a anulação do arquivamento, o advogado critica o raciocínio do despacho final "(...)A posição não é mais do que a alegação de tantos condutores multados que dizem que se o polícia não multou o carro ali ao lado não pode multar o dele! Assentando tudo em ilegalidade!".