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sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

A Devida Comédia

de Miguel Carvalho, na Visão

Criancinhas
A criancinha quer Playstation. A gente dá.
A criancinha quer estrangular o gato. A gente deixa.
A criancinha berra porque não quer comer a sopa. A gente elimina-a da ementa e acaba tudo em festim de chocolate.
A criancinha quer bife e batatas fritas. Hambúrgueres muitos. Pizzas, umas tantas. Coca-Colas, às litradas. A gente olha para o lado e ela incha.
A criancinha quer camisola adidas e ténis nike. A gente dá porque a criancinha tem tanto direito como os colegas da escola e é perigoso ser diferente.
A criancinha quer ficar a ver televisão até tarde. A gente senta-a ao nosso lado no sofá e passa-lhe o comando.
A criancinha desata num berreiro no restaurante. A gente faz de conta e o berreiro continua.
Entretanto, a criancinha cresce. Faz-se projecto de homem ou mulher.
Desperta.
É então que a criancinha, já mais crescida, começa a pedir mesada, semanada, diária. E gasta metade do orçamento familiar em saídas, roupa da moda, jantares e bares.
A criancinha já estuda. Às vezes passa de ano, outras nem por isso. Mas não se pode pressioná-la porque ela já tem uma vida stressante, de convívio em convívio e de noitada em noitada.
A criancinha cresce a ver Morangos com Açúcar, cheia de pinta e tal, e torna-se mais exigente com os papás. Agora, já não lhe basta que eles estejam por perto. Convém que se comecem a chegar à frente na mota, no popó e numas férias à maneira.

A criancinha, entregue aos seus desejos e sem referências, inicia o processo de independência meramente informal. A rebeldia é de trazer por casa. Responde torto aos papás, põe a avó em sentido, suja e não lava, come e não limpa, desarruma e não arruma, as tarefas domésticas são «uma seca».
Um dia, na escola, o professor dá-lhe um berro, tenta em cinco minutos pôr nos eixos a criancinha que os papás abandonaram à sua sorte, mimo e umbiguismo. A criancinha, já crescidinha, fica traumatizada. Sente-se vítima de violência verbal e etc e tal.
Em casa, faz queixinhas, lamenta-se, chora. Os papás, arrepiados com a violência sobre as criancinhas de que a televisão fala e na dúvida entre a conta de um eventual psiquiatra e o derreter do ordenado em folias de hipermercado, correm para a escola e espetam duas bofetadas bem dadas no professor «que não tem nada que se armar em paizinho, pois quem sabe do meu filho sou eu».
A criancinha cresce. Cresce e cresce. Aos 30 anos, ainda será criancinha, continuará a viver na casa dos papás, a levar a gorda fatia do salário deles. Provavelmente, não terá um emprego. «Mas ao menos não anda para aí a fazer porcarias».
Não é este um fiel retrato da realidade dos bairros sociais, das escolas em zonas problemáticas, das famílias no fio da navalha?
Pois não, bem sei. Estou apenas a antecipar-me. Um dia destes, vão ser os paizinhos a ir parar ao hospital com um pontapé e um murro das criancinhas no olho esquerdo. E então teremos muitos congressos e debates para nos entretermos.

Hoje fiquei a saber que uma menina de 5º ano que por acaso bateu numa funcionária (estará isto relacionado com a informação seguinte ou não terá nada a ver?) recebeu do pai 600€ para comprar um telemóvel de presente de Natal e dar presentes às amigas. Isto é normal?!!!!!!!!!
Prefiro o que os meus me davam: o seu exemplo, uma lamparina aqui e ali... e alguns «nãos». Não sei, mas não me parece que seja frustrada, complexada, sem auto-estima. Os meus maus pais fizeram-me bem -e tive/tenho dois pares- Por isso repito o padrão para a descendência. Lembrei-me deste texto que recebi por mail há já uns bons tempos atrás.

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

Autoridade

Crise de autoridade familiar na origem do aumento da violência escolar
in «Público» 10/11/2006


Especialistas em educação defenderam hoje que o aumento da violência escolar se deve, em parte, a uma crise de autoridade familiar, onde os pais renunciam a impor disciplina aos filhos, remetendo-a para os professores.
Vários especialistas internacionais estão reunidos na cidade espanhola de Valência a analisar até amanhã o assunto "Família e Escola: um espaço de convivência".
Os participantes no encontro, dedicado a analisar a importância da família como agente educativo, consideram que é necessário evitar que todo o peso da autoridade sobre os menores recaia nas escolas, o que obriga a "um esforço conjunto da sociedade".
"As crianças não encontram em casa a figura de autoridade", um elemento fundamental para o seu crescimento, disse na conferência inaugural do congresso o filósofo Fernando Savater." As famílias não são o que eram antes, um núcleo muito amplo e hoje o único que muitas crianças contactam é a televisão, que está sempre em casa", sublinhou.
Para Savater os pais continuam a "não querer assumir qualquer autoridade", preferindo que o pouco tempo que passam com os filhos "seja alegre" e sem conflitos e empurrando o papel de disciplinador quase exclusivamente para os professores.
No entanto, e quando os professores tentam exercer esse papel disciplinador, "são os próprios pais e mães que não exerceram essa autoridade sobre os filhos que intentam exercê-la sobre os professores, confrontando-os".
"O abandono da sua responsabilidade retira aos pais a possibilidade de protestar e exigir depois. Quem não começa por tentar defender a harmonia no seu ambiente, não tem razão para depois se ir queixar", sublinha.
Savater acusa igualmente as famílias de pensarem que "ao pagar uma escola " deixa de ser necessário impor responsabilidade, alertando para a situação de muitos professores que estão "psicologicamente esgotados" pela situação e se convertem "em autênticas vítimas nas mãos dos alunos".
Os professores, afirma, não podem ser deixados sós, e a liberdade "exige uma componente de disciplina" que obriga a que os docentes não estejam desamparados e sem apoio, nomeadamente das famílias e da sociedade."
A boa educação é cara, mas a má educação é muito mais cara", afirma, recomendando aos pais que transmitam aos seus filhos a importância da escola e a importância que é receber uma educação, "uma oportunidade e um privilégio".
"Em algum momento das suas vidas, as crianças vão encontrar disciplina" , disse. Em conversa com jornalistas, Savater explicou que é essencial perceber que as crianças hoje não são mais violentas ou mais indisciplinadas que antes, mas que hoje "têm menos respeito pela autoridade dos mais velhos". "Deixaram de ver os adultos como fontes de experiência e de ensinamento para os passarem a ver como uma fonte de incómodo. Isso leva-os à rebeldia", afirmou. Daí que mais do que reformas aos códigos legislativos ou às normas em vigor, é essencial envolver toda a sociedade, admitindo que "mais vale dar uma palmada, no momento certo" do que permitir as situações que depois se criam. Como alternativa à palmada, oferece outras, como suprimir privilégios, alargar os deveres ou trabalhos de casa.

quinta-feira, 19 de outubro de 2006

Maus pais

Um pdf que recebi por mail sobre os maus pais.

quinta-feira, 2 de março de 2006

É triste...

Leia-se aqui , não para onde vai, mas onde já está a educação...
A 'minha' escola é pacata, numa vila do interior e o que aqui é relatado também na minha já acontece.
A educação começa em casa. Enquanto se desculpabilizarem as 'criancinhas' e os 'paizinhos' (porque estão muito cansados do trabalho e/ou não têm tempo/disponibilidade para os educar (aturar?)), enquanto se entregar à escola toda a responsabilidade de os 'educar' para além de os 'instruir' sem lhe dar os meios para o fazer...... NADA FEITO. (ponto final, parágrafo)

domingo, 19 de fevereiro de 2006

Papás Multibanco

Transcrição de um texto que me foi enviado por Amélia Pais:

Partia vidros, fabricava bombas artesanais, falsificava as notas. Bernardo procurava sempre situações limite. Possuía tudo o que podia ser comprado com dinheiro. Não tinha a atenção dos pais, empresários que estavam ocupados a ganhar dinheiro. O filho cresceu no meio de criadas. Aos 15 anos, a escola deixou de ter paciência para o aturar.
"É um tipo de miúdo que, se não for agarrado a tempo pode entrar na marginalidade, no consumo de drogas. Porque isso representa entrar num caminho onde não há limites", explica a psicóloga Andreia Moniz.
O Bernardo foi um dos seus doentes mais difíceis. Motivo de uma educação centrada no bem-estar físico. A atenção, o carinho e a partilha de experiências em família foi substituída por bens de consumo. É o pior exemplo dos efeitos dos "papás multibanco", uma definição de Victor Cerqueira, formado em Ciências de Educação. É professor e o que vê?
"Vejo alunos com telefones de última geração. Roupas de marca. Os pais demitem-se da sua função, que é definir regras, impor limites, exercer a autoridade. É mais difícil dizer 'não' do que 'sim'". Tende-se a substituir isso pelo multibanco, muitas vezes com sacrifício", explica. O termo surgiu depois de dizer que solução para os problemas de um jovem seria abrirem uma conta e darem-lhe um cartão multibanco. Um aluno não percebeu a ironia e disse: "Isso mesmo!"
"Os pais de hoje têm tão pouco tempo para os filhos que estes deixam de ser uma prioridade. Têm sentimentos de culpa e acabam por compensar com as coisas materiais. Como se assim pudessem substituir os afectos", acrescenta Andreia Moniz, responsável pelo gabinete de psicologia Psicodam e onde Victor Cerqueira prepara outros profissionais para lidarem com estas situações.
Mudanças
Hoje, as pessoas têm menos tempo, sobretudo os que vivem em Portugal, diz a socióloga da família Maria das Dores Guerreiro. "Somos o país em que se consome mais tempo fora de casa, tanto no trabalho como nos transportes. Temos a semana de 40 horas, o que já não acontece em muitos países da UE, e há sectores com cargas horárias muito díspares. Temos a maior taxa de actividade das mulheres a tempo inteiro. Ambos os membros do casal trabalham e investem no bem-estar da família. Para dar aos filhos o que não tiveram."
A sociedade evoluiu muito, "mas passou-se do 8 para 80, a todos o níveis. Passou-se de uma disciplina rígida para a ausência de disciplina", acrescenta Victor Cerqueira. O bem material surge para compensar a ausência, o abandono. Há também quem superproteja a criança, resolvendo-lhe os obstáculos e comprando-lhe tudo. Mas, alertam os técnicos, quando a situação se torna um problema é porque existem outros pontos críticos. A terapia começa com o filho e acaba na família.
E até a ida ao psicólogo começa por ser uma forma de "comprar" a resolução de um problema. "Os pais do Bernardo pagaram para alguém lidar com o filho. Disse-lhes que eles é que tinham de tomar uma decisão", conta Andreia Moniz. O rapaz chumbou e os pais mandaram-no para um colégio interno em Espanha nas férias. Foi castigado. Ouviu muitos nãos. Demorou três anos para perceber que viver em sociedade implica regras e que nem tudo pode ser comprado. Aprendeu a lidar com limites e a frustração de não ter tudo.
A partir da adolescência, a terapia tem que ser feita quase exclusivamente com o doente. «Chamamos a atenção dos pais para o que não devem fazer, mas trabalha-se a maturidade do jovem. Explica-se que tudo o que faça tem implicações na sua vida. No final, já era o Bernardo que dizia aos pais o que estavam a fazer de errado com a irmã mais nova." Isto para que o jovem não chegue à idade adulta com um comportamento de criança. E, como a birra já não consegue um emprego, uma promoção, acaba por sentir-se frustrado.
Pedro, sete anos, desafiava tudo e todos. Só obedecia com tareia. "Parece que gosta de apanhar", dizia a mãe, com quem vivia desde os dois anos. Os pais eram divorciados. A irmã, mais velha era bem diferente. Ao Pedro faltou a autoridade paternal, uma característica comum a crianças com este tipo de comportamento. O que também acontece quando o progenitor passa pouco tempo em casa. Os pais tinham dificuldades financeiras para lhe darem tudo o que queria. Foi uma professor que aconselhou a ida ao psicólogo. O Pedro entrou no consultório sem cumprimentar, embirrou que não ficava com a psicóloga, depois que não brincava com os objectos próprios da terapia. Andreia Moniz explicou-lhe que a consulta tinha 30 minutos e ou aproveitava para brincar ou continuava aos gritos. Houve também um trabalho com a família. São os pais que têm de arranjar alternativas de comportamento. Estar com eles. Dizer "não" quando é preciso, explicando-lhes porquê. O Pedro era outro ao fim de ano e meio.
O pediatra Mário Cordeiro diz que estes exemplos não fazem a regra. "A parentalidade é vivida hoje de uma maneira como nunca foi em gerações anteriores. Talvez por isso, os pais se sentem angustiados quando sentem que não são tão bons como desejariam", defende.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

Perdidos

Um dia, aqui num desabafo sobre a indisciplina, referi o facto de desconhecer como os alunos se ‘perdem’. Basta olhar um bocadinho à volta e encontram-se exemplos:


Há uns dias atrás, ao chegar à noite à escola para iniciar as aulas, deparo-me com uma conversa entre uma colega de História, com 30 anos de serviço, que conversava acaloradamente com um dos meus (bons) alunos do secundário recorrente, homem feito de trinta e tal anos. Assunto: a colega queixava-se de um aluno de 7º, que no teste se tinha limitado a escrever frases sem nexo, depois de ela ter dado uma ficha formativa idêntica ao mesmo e, supostamente, os alunos a terem estudado à sua frente. O aluno em causa era filho da companheira deste meu aluno. Daí o seu desabafo. Se inicialmente o tom era de apenas inquirição, para ver se alguma coisa se passava com o miúdo, a seguir passou a ser já de zanga, por lhe parecer que todo o teste dele e do colega do lado eram puro e simples ‘gozo’. Ora, o que imediatamente argumentou o ‘padrasto’ (o meu aluno da noite) era que o garoto tinha tudo o que queria da mãe e do pai ausente. Disse que o rapazito no 1º período teve 7 negativas e o pai deu-lhe, no Natal, o computador que ambicionava. Devido ao divórcio dos pais, desde sempre havia a ‘compensação’ sistemática do menino, que conseguia tudo o que queria, apesar de nada fazer para o ganhar. Queixava-se ainda de não ter voto na matéria, dizendo também ele ter uma filha que nunca teve quaisquer problemas. O que ali via de completamente errado era uma criança a crescer com tudo, sem responsabilização e, pior, sempre desculpabilizado.


Não há ‘afecto’ de professor que funcione num caso destes. Não há medidas de recuperação, planos, papéis, nada que funcione. A escola, os professores, as matérias, para este tipo de alunos não têm qualquer significado. Porque tudo é fácil. E as próprias aulas são uma brincadeira. A noção de ‘trabalho’ e ‘esforço’ são conceitos totalmente desconhecidos. E o garoto está numa fase crucial de aprendizagem e consolidação da personalidade. Mas, neste caso específico, ou a mãe começa a ter noção de que o seu filho é uma criança perfeitamente normal e que há comportamentos que são social e moralmente incorrectos e, por isso, reprováveis, a quem tem de ‘exigir’ para poder ‘dar’, ou ele fará parte daqueles que se perdem completamente e ‘vagueiam’ pelas escolas sem delas tirarem qualquer proveito.

Já tive alunos assim. E em dois casos que ‘abandonaram’ a escola, para voltarem depois... e parecerem outras pessoas, completamente transformadas. Porque passaram pela experiência de ‘trabalhar’. Aprenderam a noção de ‘esforço’, à sua custa. No regresso, um, completamente indisciplinado antes, era um exemplo de bom comportamento para os demais. O outro, de quem eu dizia (e quanto me arrependo) que devia ter algum atraso, passou a ser um aluno de 4. Nem num caso, nem noutro, houve interferência dos professores, psicólogos ou pais. Foi um processo individual de crescimento, de contacto com a realidade, que não é efectivamente um ‘mar de rosas’.
Também ‘estudar’ não é um mar de rosas. Nada é na vida. Só passa a ser quando adquirimos noção do valor que tem ultrapassar o que ‘custa’ para termos a merecida ‘recompensa’ depois. (Parece-me que cada vez se ‘cresce’ mais devagar e mais tarde.)

Será que no caso apresentado acima, há alguma coisa que um professor possa fazer se não houver a consciencialização da mãe? E se a mãe não perceber nunca que o que está a fazer é errado?

Por isso digo, repito e volto a dizer: para além dos professores primários que dão as bases em termos de conhecimentos e as regras que ensinam o que é ‘estar’ numa sala de aula, há uma grande, enorme e decisiva responsabilidade dos pais. O professor, nestes casos, nada pode fazer, porque o aluno não ‘ouve’ nada do que se lhe diga, nem ‘vê’ nada do que se lhe apresente. Está ‘a leste do paraíso’.
Cada vez mais e por experiência pessoal de vida, por um lado, e profissional, por outro, me convenço disso.

Mas também há os ‘casos’ em que ninguém consegue fazer nada...
Relato outro episódio: conversas intermináveis com um aluno (de 11º ano) e respectivo pai, porque se descobriu que andava a fumar 'erva’. Cheguei-lhe bem ao coração, porque lhe falei ‘do coração’. E convenci-me que era capaz de o orientar... Só que, no momento em que me ouvia e se abria, tudo o que ‘prometia’ era efectivamente verdade. Mas.... a ‘vontade’ era tão pouca, que dez minutos depois, se calhar já nem se lembrava do que tinha conversado (efeitos nos consumidores habituais). Acabou por abandonar a escola (miúdo espertíssimo, com pais presentes e conscientes) e foi por muito maus caminhos. Nada sei dele, hoje.

segunda-feira, 24 de outubro de 2005

Pedagogias

Sistema de «Ensino»



Tanta pedagogia, tanta burocracia... e o que realmente interessa? Fica sempre pelo caminho.
Que desilusão.




Sou professora há 17 anos e mãe há 14. Se não funcionasse em casa como mãe (a exigir a execução dos trabalhos de casa, a controlar cadernos, horas de estudo, a controlar horas à frente da tv, etc, etc, etc..... o que dá, sem dúvida, MUITO trabalho) as minhas filhas estariam com certeza no rol dos «sem sucesso» de colegas meus. NINGUÉM na escola pode motivar os alunos..... porque estudar É UMA CHATICE. Só em casa se pode «trabalhar» a motivação. É aí que se ensinam e impõem regras. Desengane-se quem quiser fazer da escola a família. Não há plano de recuperação que valha a quem não quer aproveitá-lo.

Leia-se o seguinte comentário de um leitor do Público a propósito dos novos Planos de Recuperação:

Mas... Por Anónimo, Oeiras
Mas então não devia estar na base da função dos próprios professores, cujos sindicatos tanto protestam, ajudarem os alunos na recuperação? Ou mesmo evitar que tal recuperação seja necessária? Mas se se preocupassem mais com os alunos, que são a prioridade do Ministério da Educação (e não os professores), e trabalhassem como toda a gente, não haveria uma educação mais eficaz? É que realmente há qualquer coisa que me está a escapar.

A este leitor escapa realmente muita coisa.

Como se recupera um aluno que não quer saber nada da escola, cujo único interesse nela é aproveitar para estar com os amigos, tendo que apanhar umas valentes secas, com os professores a pedirem-lhe, suplicarem-lhe, ordenarem-lhe (e finalmente desistirem) para participar nas actividades da aula? Passa-se então a batata quente para o psicólogo. Resulta? Nunca vi. É em casa que isso se exige. Se aí não há alguém a perguntar-lhe como vai a escola, a controlar-lhe os cadernos a, no fundo, apoiá-lo, não há escola que o consiga.
Estes novos Planos vão resultar sim, assim como resulta no Ensino Básico a passagem automática de todos os alunos do 1º para o 2º ano. Para não se «traumatizarem» as crianças, passam sem sequer as letras conhecer. E, no segundo ano, o professor que se amanhe: tem de se dividir entre as que acompanharam o ano anterior e as que ficaram para trás. Alguém aí sofre, inevitavelmente. E quem será? Exactamente esses que deviam ter ficado no primeiro ano. Isto aconteceu com a turma da minha filha mais velha: uma cigana que apenas foi a algumas aulas no primeiro ano e um rapaz que esteve doente. No segundo ano, obviamente sentiram-se desenquadrados e não foi possível à professora acompanhá-los devidamente, pois tinha mais 24 que também não podiam ficar «desacompanhados».
Exigem-se, para se poder «reter» um aluno (não se pode dizer «reprovar» porque é anti-pedagógico e «traumatiza as crianças»), papéis e mais papéis, páginas e páginas escritas em que se perde tempo útil, inutilmente. Mais vale realmente passá-los a todos administrativamente. Assim temos menos trabalho (inglório, inútil, disparatado) que podemos usar para apoiar quem realmente precisa e quer.
Teremos assim um verdadeiro sucesso contabilístico e cada vez mais ignorantes, iletrados e sem noção do que é realmente trabalhar. E são estes que vão engrossar as hostes dos «sem produtividade». Se sempre se «safaram» bem sem nada fazer, continuam vida fora com a mesma postura.