domingo, 29 de janeiro de 2006

Nova terminologia MXVI

Mais uma descoberta caricata, nestes sábados de estudo e preparação da nova terminologia:

Nos exemplos de exercícios apresentados pelo Ministério, surge a questão:
O antecedente do pronome relativo «cuja» (l. 12) é «primeiro centro cultural radicado na província».
Mas....
...na nova terminologia, 'cujo (a,s)' deixou de ser pronome relativo e passou a ser quantificador.

Será que quem prepara os exames está ainda tão mal preparado quanto eu?

E prova modelo? Será que surge ainda este ano?

terça-feira, 17 de janeiro de 2006

Exemplos a seguir...

Graças à IC, descobri isto. Em Ontário, no 1º ciclo, as turmas têm agora tamanhos ainda mais reduzidos...


"The government’s class size reduction plan is definitely working. My class size was reduced last year and as a result I was able to spend more time helping students who were struggling or had special needs. They would not have been able to make the progress they did in a larger class," said Maria Fatigati...

MAS...
That means more than 381,000 primary students are in smaller classes this year compared to about 137,000 two years ago. This is the result of $126 million in additional funding this year, on top of $90 million last year, which helped school boards hire 1,100 teachers to reduce class sizes in 1,300 elementary schools.
Pois é... Quem quer melhor educação, tem de gastar mais dinheiro...

sexta-feira, 13 de janeiro de 2006

Contradições?

AR chumba proposta para reduzir número de alunos por turma

O Parlamento chumbou esta quinta-feira o projecto-lei apresentado pelo Bloco de Esquerda (BE) que propunha a redução do número de alunos por turma no ensino básico e secundário.


O diploma, reprovado com os votos contra do PS, PSD e CDS/PP, previa o estabelecimento de um número máximo de 18 alunos no primeiro ciclo do ensino básico, em vez dos 25 actualmente previstos.
No caso do 2º e 3º ciclos do básico e no ensino secundário, o projecto defendia que as turmas tivessem no máximo 20 alunos e não 28 como acontece agora.

Para o BE, a medida era «do mais elementar bom-senso» para melhorar a qualidade da educação em Portugal, contribuindo para uma maior proximidade do professor e uma abordagem mais adaptada à realidade sociocultural de cada aluno, mas só contou com os votos favoráveis dos proponentes e do PCP.

«Turmas muito grandes impedem que o ensino seja individualizado e dificultam o desenvolvimento de projectos pedagógicos inovadores, além de transformar em o quotidiano num inferno por potenciarem problemas de indisciplina», sustentou quarta-feira à agência Lusa João Teixeira Lopes, deputado do BE.

O partido estava convicto de que o projecto-lei, discutido quarta-feira em reunião plenária, seria aprovado hoje, uma vez que o PS já o tinha votado favoravelmente quando o Bloco o apresentou à Assembleia da República no Governo de Durão Barroso.

Na altura, toda a oposição votou a favor, mas o diploma foi reprovado com os votos contra do PSD e do CDS/PP, que alegaram que o Executivo estava a preparar legislação sobre a matéria, o que não chegou a acontecer.
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É engraçado como os partidos políticos mudam as suas posições... mas só não muda quem é burro. Pelo menos, ...................... burros não são.
Afinal, como diz Ludwig Borne, nada é tão duradouro como a mudança.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2006

O «nosso» Manual

Este «livrinho» tem a nova legislação toda compilada.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2006

Número de alunos por turma

Fosse o PP, o PS, o PSD, a CDU ou quem quer que fosse... É das mais básicas iniciativas para melhorar o desempenho dos alunos e facilitar o trabalho individualizado dos professores com eles.
Um tio meu, numa conversa que tivemos há uns tempos, dizia-me que «no tempo dele» eram trinta e muitos na sala.... pois... «naquele tempo» havia a noção do que é a «disciplina» e as «regras de comportamento»...
Já não estamos «naquele tempo».

segunda-feira, 9 de janeiro de 2006

Lutar contra o TEMPO

Em desespero de causa, finalmente desisto. Não posso cumprir o que não é possível ser cumprido. Primeiro estou eu, depois a escola. Sem um «eu» equilibrado também não havia um «eu na escola». A IC abriu-me os olhos...
Exmª Srª Presidente do Conselho Executivo
Com conhecimento ao Delegado de Grupo


Assunto: Impossibilidade de cumprir as orientações de gestão do programa de Português de 12º ano e o que diz respeito à Circular nº. 14/2005 da DGIDC.


Eu, professora do quadro de nomeação definitiva do oitavo grupo A, actualmente a leccionar o novo programa de Português de décimo segundo ano, venho por este meio informar, que, dadas as alterações definidas para o trabalho a nível de estabelecimento determinarem que apenas tenho 9 horas de trabalho individual nas semanas em que não tenho reuniões, e 7 nas semanas em que as tenho, terei de alterar a planificação e a avaliação instituída no início do ano lectivo.
Assim informo:
1. Uma vez que é absolutamente indispensável a devida preparação de aulas e materiais, sem a qual não seria possível acompanhar os alunos na apreensão dos conteúdos da disciplina e considerando que só a nova Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário me tem ocupado cerca de dez horas de trabalho não remunerado todos os fins de semana, usando a semana para preparar o desenrolar das aulas, decidi o seguinte:
a) o item «portefólio», que prevê a correcção de trabalhos escritos, produzidos pelos alunos, com o objectivo de treinar a produção escrita, embora crucial para um melhor desempenho a este nível, terá de ser excluído, uma vez que este trabalho comporta uma média de 200 minutos de trabalho por semana, ou seja, mais de 3 horas semanais (dependendo da especificidade de cada tipo de texto entre 5 a 15 minutos de correcção - 1 trabalho de 15 em 15 dias x 40 alunos). Daí que a avaliação, que previa uma percentagem de 15% para este item, venha também a ser alterada.
b) a nova terminologia, à semelhança do que se passa noutras escolas, não será toda trabalhada. Os alunos farão os exercícios como surgem no manual, ou seja, de acordo com uma mistura entre a «velha» e a nova e, sempre que o tempo mo permitir, actualizarei o que está errado (porque não consentâneo com a nova terminologia) no manual. De fora ficará o que este não contém.
2. Devo acrescentar que nunca me escusei a qualquer tipo de trabalho e que tenho dedicado muito mais do que as 35 horas instituídas ao estudo e à preparação de materiais que melhor se adeqúem aos alunos e à correcção de trabalhos seus, para que possam analisar os erros e assim melhor os corrigirem. Também o desenvolvimento do projecto, Português na Net, que ocorre há vários anos, surge agora materializado no horário em forma de projecto, embora a escola não me tenha ainda facultado os instrumentos para aí o trabalhar. Daí que o continue a fazer em casa e use essas horas para preparação de aulas e materiais. Por me sentir avassalada por trabalho e por considerar que acima da profissão e do brio profissional, que sempre me norteou, está a minha saúde mental, sem a qual nem o mínimo poderei render, decidi o que aqui informo, mau grado o constrangimento do dever não cumprido.

domingo, 8 de janeiro de 2006

A educação que não temos...

...e a investigação que não usamos


por Ana Maria Morais


Muito se tem falado do estado actual da educação, aos vários níveis. Concentremo-nos na actual reforma para o ensino básico, que deixa à escola a selecção e a sequência dos conhecimentos, partindo do pressuposto de que, estabelecidas determinadas capacidades e determinados aspectos gerais de conhecimento, os professores terão a liberdade e a competência para estruturar todo o processo de aprendizagem.
Esta liberdade concedida a nível central, pelo Ministério da Educação, pode conduzir a aprendizagens de diferentes níveis, dependendo do contexto social da escola. A investigação, já realizada em Portugal, tem mostrado como o professor é, em geral, influenciado pelo contexto social da escola onde ensina, baixando o nível de exigência conceptual nas escolas cujos alunos provêm de meios desfavorecidos. Temos, assim, dois tipos de educação, uma educação de primeira e uma educação de segunda, que divide crianças e adolescentes em alunos de primeira e alunos de segunda.
Esta não é uma situação nova, mas é agora firmemente legitimada pelo Ministério da Educação, através da gestão flexível do currículo. Defendida por muitos professores de Educação (as Ciências da Educação), em nome da adaptação do ensino a contextos e alunos diferenciados, e tendo subjacente perspectivas multiculturalistas e pós-modernistas, a educação que existe presentemente nas nossas escolas apresenta um nível desesperadamente baixo. Tão baixo que não serve ninguém, nem os alunos desfavorecidos nem os alunos favorecidos, nem os que deixam a escola no final da escolaridade obrigatória nem os que seguem para níveis superiores de educação.
Têm sido muitos os que vêm culpabilizando as Ciências da Educação pelo actual estado de coisas. Não seria justo deixar para as Ciências da Educação todo o ónus da colossal falha da educação actual. Muito deve ser imputável a factores de decisão política. Mas também são muitos os professores e investigadores que têm vindo a ser responsáveis pela educação que temos. Uns por intervenção directa, como construtores de novas reformas e formadores de professores. Outros por omissão, porque se limitam ao papel de preparar os seus próprios alunos, futuros professores, e de desenvolver investigação que não ultrapassa o nível académico, não se envolvendo num processo de intervenção ao macro nível.
É necessário dizer aos decisores de política educativa e aos cidadãos em geral que há outras formas de organizar a educação. Que há investigação que suporta essas outras formas. Que é urgente aumentar o nível de exigência conceptual. Que não é uma inevitabilidade que o nível de educação baixe perante a inacção colectiva.
Em oposição à habitual dicotomia entre uma pedagogia progressista e uma pedagogia tradicional, há outras pedagogias, as pedagogias mistas, caracterizadas por relações de poder e de controlo entre o professor e o aluno e entre o Ministério da Educação e o professor, que variam consoante os múltiplos aspectos dos processos de ensino e de aprendizagem. Essas pedagogias mistas têm mostrado, através de investigação já desenvolvida, terem o potencial para alterar o actual estado da educação. Não é verdade que a origem sócio-económica e cultural baixa de muitos alunos seja uma causa inevitável de insucesso. Uma prática pedagógica eficiente pode promover a literacia de todos os alunos. Mas ela não é nem uma prática tradicional nem uma prática progressista. Contudo, nas condições actuais, não há práticas pedagógicas que possam produzir resultados positivos, e não, de certo, as práticas pedagógicas mistas de que falamos. São tempos e espaços que só podem conduzir a um nível baixo (agora cada vez mais baixo) de literacia.
Irão estes resultados ser ignorados? Será que é mesmo inevitável que se mantenha uma fronteira aparentemente intransponível entre investigação em educação e prática de educação? Será que os meios financeiros despendidos em investigação são necessariamente meios perdidos?
Não é possível melhorar a aprendizagem dos alunos sem a existência de um mecanismo regulador consistente e eficiente. Este mecanismo regulador vai muito para além das tão defendidas (embora meritórias) auto-avaliações das escolas e da avaliação dos alunos feita directamente pelos professores. É urgente uma avaliação externa, e os exames são uma necessidade absoluta (poderemos inventar outro tipo de mecanismo regulador?). Mas, e este é um aspecto da máxima importância, exames que não se limitem à tradicional avaliação centrada em níveis baixos de literacia mas que avaliem conhecimentos e capacidades de elevado nível cognitivo. Tais exames iriam levar os professores e as escolas a modificar o nível de aprendizagem que promovem. Os exames têm um papel regulador da prática dos professores pois que afinal... é preciso preparar os alunos para os exames. Também aqui podemos encontrar investigação que suporta esta afirmação.
Temos a clara consciência dos múltiplos problemas que os exames podem acarretar, problemas que, contudo, têm vindo a ser sobrevalorizados em duas vertentes, a emocional e a contingente da situação de exame. Numa cultura de sobreprotecção de crianças e adolescentes, todo o esforço, exigência e rigor têm sido desprezados, desprezando-se assim uma preparação necessária à vida activa dos futuros cidadãos.
Evidentemente que há muitas capacidades, como a cooperação e a capacidade de argumentação, que nunca poderão ser avaliadas através de exames. Estas são importantes capacidades que os alunos devem e podem desenvolver, através das pedagogias mistas, de que falámos. Para elas é necessário inventar outros tipos de avaliação. Importante é notar que embora sejam, por si só, capacidades cruciais para a formação integral dos alunos, elas contribuem também para a aprendizagem de conhecimentos e para o desenvolvimento de outras capacidades, essas sim passíveis de serem avaliadas através de exames.
Esta educação que temos, não é educação. Falemos antes da educação que não temos... e da investigação que não usamos.



Ana Maria Morais, Professora catedrática de Educação, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

sábado, 7 de janeiro de 2006

Lero Lero

Não é preciso saber português... Basta actualizar o brasileiro do Lero Lero.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2006

Mim ser bom pessoa

Agora limito-me a transcrições...

por Vasco Graça Moura

As línguas, tal como as nacionalidades, as identidades, os seres humanos, as artes e muitas coisas mais, nunca foram entidades comandadas por uma racionalidade estrita ou por uma lógica sem falhas. Entre nós, já Camilo Castelo Branco ironizava, há bem mais de um século, a propósito, salvo erro, do jovem Joaquim de Vasconcelos, que, regressado da Alemanha, propunha que se dissesse "estejai", em vez de "estai".
Vem isto a propósito do livro A Língua Portuguesa em Mudança, organizado por Maria Helena Mira Mateus e Fernanda Bacelar do Nascimento (Caminho, 2005). É uma útil investigação sobre a maneira como a língua falada e escrita na comunicação social pode condicionar certas tendências do português que falamos.
Maria Helena Mira Mateus (MHMM), por quem tenho grande consideração e estima pessoais, assina uma densa introdução, A mudança da língua no tempo e no espaço, cujas últimas páginas, todavia, me deixam muito apreensivo. Aí, depois de postular a necessidade de uma norma-padrão, «como referência da produção linguística e como garante da aceitabilidade de um certo comportamento no contexto sociocultural em que estamos inseridos», da qual «a escola é especial depositária» e que tem «justificações sociopolíticas e culturais, de carácter pedagógico e comunicativo», MHMM não encontra solução para as dificuldades de definição dessa norma-padrão, de modo a ser possível circunscrever o que é "correcto" e o que é "incorrecto".
E passa a imputar a «uma alta percentagem de subjectividade» a condenação de certas construções ou formas lexicais. É esse o primeiro passo de neutralização da própria norma-padrão cuja necessidade e cuja defesa julguei entrever algumas linhas antes. Imputar à subjectividade o que decorre de um conjunto de factores independentes da lógica, tem como efeito desvalorizar, precisamente, a norma-padrão.
Mas o meu alarme vai mais longe quando MHMM considera como «alternâncias possíveis», por ocorrerem «com frequência» e se justificarem «linguisticamente» formulações como «a maioria dos estudantes passaram no exame», ou «o prédio que o Paulo vive é moderno», ou ainda «o autor que eu mais gosto é Aquilino».
Na mesma linha, são em seguida formuladas algumas interrogações, para as quais a rejeição de uma auctoritas que possa decidir sobre a correcção à luz da norma-padrão acaba, em última análise, por abrir a porta às mais bizarras permissividades. Por exemplo, "hádem", quanto a "hão-de", "pensar de que" por "pensar que", "houveram muitos acidentes", por "houve muitos acidentes"...
E a autora pergunta-se «como saber o que se pode aceitar e o que se deve reprovar?». Compreende-se a angústia da linguista ante uma questão a que a sua ciência não dá resposta. Mas isso não deveria levá-la, nem a admitir aberrações da nossa língua, como as exemplificadas, nem a invocar mutações socioculturais lá, onde a única explicação é o falhanço calamitoso da escola.
Sem ser linguista, penso que o grande problema está em haver um sector da Linguística que parece preocupar-se apenas com aspectos de eficácia comunicacional e mais nenhuns. Será a língua, como instrumento de conhecimento e apreensão do mundo, irisado de uma multiplicidade de valores afectivos, estéticos, sedimentados pela memória e pela história, pelo uso transgeracional, pelos autores, algo de que se considera poder fazer tábua rasa?

Aplicando justificações muito próximas das que leio em MHMM, eu posso afirmar que está bem (salvo seja!) uma frase como "mim ser bom pessoa".
Em primeiro lugar, porque o destinatário da mensagem perceberá perfeitamente o que eu quero dizer, logo o nível estritamente comunicacional está alcançado.
Em segundo lugar, porque posso considerar que a formulação se limita a ser elíptica quanto a um enunciado de correcção indiscutível (no que a) mim (respeita, considero) ser bom (enquanto) pessoa.
Como não será de admirar que a comunicação social um dia destes desate a brindar-nos com pérolas destas, é evidente que não se pode aceitar, ao contrário de MHMM, que «a norma portuguesa dotada de maior vitalidade e capacidade de fazer adeptos é a que transmitem os jornais, a rádio e a televisão». Norma???
Bem sei que MHMM diz que não podemos aceitar este conceito sem critério, mas a verdade é que tal critério se dilui na nebulosidade com que é tratada a norma e assim entramos num círculo terrivelmente vicioso e, o que é pior, num ciclo grotescamente viciado...

quarta-feira, 4 de janeiro de 2006

Um ano negro para a Educação

De regresso (vírgula) graças ao iluminado colega João que me deu novo alento (vírgula) aqui transcrevo mais um texto:

de Santana Castilho

Remexo na memória recente e não me recordo de um ano tão negro para a Educação como o que agora findou. O que é mau, porque os restantes com que comparo este tão-pouco são famosos.
O que seria relevante está parado, melhor dizendo, nunca mexeu. Nada vai além de uma medíocre gestão corrente e de uma overdose bruta de alterações, bem diferentes dos desejáveis desenvolvimento e progresso. Esse é, aliás, o elo identificador de uma sucessão de ministros da Educação que não têm estado à altura das circunstâncias mas que, julgando-se divinamente iluminados, decretam mudanças em catadupa, para que tudo fique... pior.
Esta minha visão de conjunto pode ser fundamentada pelo somatório dos erros que a informa e que patenteiam a ausência de estratégia, as frequentes incoerências, a falta de clarividência política e até de simples senso comum. Aqui ficam alguns exemplos, em jeito de balanço, relativos à equipa actualmente em funções:

1. A colocação dos professores a tempo e horas granjeou os primeiros elogios imerecidos à actual ministra. Imerecidos por duas razões: porque foi, como é evidente, resultado da acção correctiva de quem a antecedeu e porque é um processo administrativo trivial que só uma visão terceiro-mundista pode alcandorar a feito relevante. O tema foi retomado com uma proposta de substituição dos concursos anuais por plurianuais, imposta sem tempo de discussão nem ponderação de consequências. A adequação dos quadros às necessidades e a consequente estabilização dos corpos docentes continuará por fazer. Persistiu-se na centralização administrativa e no primado da burocracia. O primeiro factor da falta de qualidade do sistema continuará intocável, no essencial, com o cortejo de injustiças e de dramas a que estamos habituados.

2. Seguiu-se o prolongamento do tempo de abertura das escolas do ensino básico e medidas de enquadramento de alunos em situação de falta de professores às aulas previstas. Embora desgarradas e avulsas, eram iniciativas, em espírito, inatacáveis. Mas a forma foi desastrada e materializou o primeiro erro político de grande dimensão. Esta equipa não entendeu que nada se institui de moca em riste. As mudanças só valem a pena quando forem mais que mudanças normativas, quando gerarem melhorias e quando conquistarem quem tem que as executar. A ideia de que os despachos mudam os comportamentos é uma ideia arrogante de quem não sabe como se gerem pessoas. Acusaram-se professores competentes e esforçados, porque alguns o não são. Atropelaram-se disposições legais. Generalizou-se o que não era generalizável. Semeou-se revolta e desmotivação. Desmembraram-se organizações e estruturas que funcionavam. E agora voltou-se ao que se quis alterar levianamente, com custos para o Estado, que antes não existiam.

3. Não chegava o que sobrou para os professores do vilipêndio colado aos funcionários públicos e já a ministra reforçava a dose com a pouco ética manipulação das estatísticas relativas às faltas dos docentes. Divulgadas maliciosamente no dia da greve nacional, para ajudar à exploração demagógica do desconforto que qualquer greve provoca nos utentes habituais dos serviços. Para o mesmo alforge foram as faltas dadas ao abrigo do Estatuto do Trabalhador-Estudante, as motivadas por doença e as relativas à maternidade, numa população onde cerca de 80 por cento são mulheres. Tudo em nome do fomento da raiva de um país contra os seus professores. Será sensato que assim se proceda?

4. A intervenção no livro escolar prenuncia o escaqueirar do sector. A confirmar-se a censura prévia anunciada, a menorização dos professores que deixarão de ser considerados no processo de adopção, a imposição administrativa dos preços e o prolongamento para seis anos do período de vigência, teremos regredido várias décadas.

5. Reabriu-se a guerra dos exames. Aboliram-se hoje, readmitiram-se amanhã. Português porque sim, Filosofia porque não. Qual o critério? Com que ponderação se anunciam as políticas? Com que coerência as engolem?

6. Será pedir demasiado aos responsáveis do Ministério da Educação que não confundam o carácter laico do Estado português com jacobinismo primário? Valeu a pena ferir sensibilidades que merecem respeito com a imprudência de mandar retirar os crucifixos por burocrática circular?

7. Para quê tanta gente bem intencionada andou há tanto a trabalhar no domínio da educação sexual dos jovens e adolescentes? Podemos deixar passar sem protesto que de repente tudo se ignore e se anuncie a salvação como se nada existisse? Daniel Sampaio é respeitável e competente? E os outros ? São transparentes? Que ministério é este que assim despreza recursos e ignora os pais e as famílias?

É impossível ter esperança com esta gente. Feito o diagnóstico está feito o prognóstico. 2006 será como 2005. Resta resistir.

Professor do ensino superior