sexta-feira, 28 de outubro de 2005

Nova Terminologia II

Bom: não sei se chore, não sei se ria.

Já veio nova resposta sobre os Exames agora da Direcção Geral da Inovação e Desenvolvimento Curricular.
E, de novo, afirmam que estes alunos de 12º ano têm de saber tudo o que supostamente foi dado no 10º e 11ºs anos. Veja-se aqui a listagem de itens que me dei ao trabalho de fazer para se perceber a extensão da mesma, pois no programa ela aparece «espalhada». Aqui também se pode consultar um índice completo do que o cd contém, assinalado a cinzento o que os alunos têm supostamente de saber.

Como já referi neste bloque (em Nova Terminologia), esta interminável lista não foi dada, porque os professores não o podiam fazer por não terem sequer informação sobre o assunto. Embora os conteúdos do funcionamento da língua já estivessem no programa homologado em 2002, a respectiva listagem, a TLEBS, apenas foi publicada já estes alunos estavam no 11º ano e o cd chegou à minha escola para ser distribuído pelos docentes a 2 meses do final das aulas.
Nas acções de formação que frequentámos, sobre os Novos Programas, apenas foi abordado o item da Pragmática Linguística e alguns pormenores da Semântica Frásica. E o resto? Seria nossa obrigação adivinharmos de que se tratava tudo isto? Acredito que os linguistas nos chamem ignorantes, mas, que eu saiba, ninguém nasce ensinado.
Pelo menos já fizeram uma correcção ao cd: errata. Falta ainda dar os exemplos que faltam, e listar as designações que omitiram.
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Já para não falar que no 11º ano estes alunos apenas tiveram 3 horas semanais, quando ESTE famoso programa PREVIA 4. Se algum professor de Português neste país deu o programa integralmente nestas condições, das duas uma: ou os alunos eram todos génios e, portanto, tudo correu sempre sobre rodas ou ficou sumariado no papel, mas não gravado no cérebro deles.
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A quem me vou dirigir agora?
Já contactei a Associação de Pais por mail, mas não obtive resposta.
Já pedi esclarecimento à DGIDC, mas só me repetiram o que já tinham dito.
Não sei se desista desta luta inglória e me limite a dar aos alunos o que tenho: uma listagem de termos, com as respectivas definições.
(Pedir-lhes-ei que desistam das outras disciplinas? Só o Português já lhes preenche bem o ano.)
Peço que o Ministério me dê mais uma hora lectiva com eles por semana para poder trabalhar isto?
Enfim. Logo se vê. Como sempre. Bem à portuguesa: «a gente que se amanhe».

Má Fortuna

Uma música cujo «eu» é um Camões de mochila, de Rui Veloso e Carlos Tê do Auto da Pimenta
Fiz isto para os meus alunos (o «Karaoke»), mas não lhes mostrei porque não tenho na sala o equipamento necessário. Talvez se a vissem lhes despertasse a sensibilidade e não reagissem tão mal à linguagem d'Os Lusíadas.

Talvez o vissem como um homem, em vez de só lhe verem os hipérbatos.
Guardafui.wmv

quarta-feira, 26 de outubro de 2005

Indisciplina

Hoje uma amiga ligou-me porque precisava de desabafar. Cansada, procurava apoio e suporte, pois tivera mais uma daquelas fantásticas experiências com um grupo de alunos de 7º ano, insurrectos, malcriados, desobedientes, sem regras, completamente desenquadrados do que é, ou deve ser, o ambiente escolar.

Passo a relatar a «historinha»:

Por estar a acabar uma acta duma reunião de Conselho de Turma numa sala destinada aos professores num piso superior da escola, não se apercebeu do toque de entrada e só se dirigiu para o pavilhão onde ia ter aulas um minuto depois desse toque (porque uma colega lhe perguntou se não tinha aula). Quando lá chega, depara-se com os seus alunos, de entre os quais, um grupo «exige» um professor de «substituição» - veja-se o cúmulo.
Dirige-se para a sala de aula, avisando que os que não a acompanhassem teriam falta. Todos a seguem. Uma vez lá, alguns começam a queixar-se de cheiro a queimado. Efectivamente alguns deles tinha pegado fogo a qualquer coisa que não se conseguiu perceber o que era. De entre as caras de todos eles, nota as sorridentes e as espantadas. Já irritada com o comportamento, resolve dirigir-se ao Conselho Executivo. Aí lhe sugerem que dê ordem de saída da sala de aula ao ou aos responsáveis. Assim faz, mas não sem antes se fazer acompanhar pelo chefe dos funcionários da escola, homem corpulento e ginasticado (a que ponto chegámos). Já na sala de aula, com a funcionária do pavilhão, o chefe de funcionários e ela própria, ao dar ordem de saída a esse grupo de «meninos» assiste ao comportamento agressivo de um deles que empurra violentamente a cadeira e se comporta como um petit sauvage. É o chefe de funcionários que o admoesta, dizendo-lhe que conhece bem o pai e que aquele comportamento será sancionado.

Devo acrescentar que esta minha amiga, nunca teve problemas de «segurar» os alunos. Todos sabemos que há, no sistema, colegas que não têm mão neles. Não é este o caso.
Tem mais duas turmas em que tudo decorre na mais completa normalidade (estas duas bem mais pequenas) e uma outra também bem recheada e também essa com problemas de comportamento. Mas quanto maiores as turmas, mais dinheiro se poupa. E há que pensar no deficit. É a primeira prioridade.


Pois é.
Como ela referiu, naquela turma há um grupo que quer aprender, que faz os trabalhos, que se interessa e que olha para esses colegas como se estivesse num zoo a admirar animais estranhos. Outros há, que se não tivessem aqueles «exemplares» seriam também facilmente «puxados» para o prazer de aprender, de trabalhar. Mas, naquele ambiente turbulento de 28 com alguns «índios», como é possível?
São estes alunos a quem se vai dar aulas de recuperação? Disparates. Estão no sistema porque ainda lhes falta um ano para a idade de trabalhar. E, entretanto, desestabilizam os mais novos, impedem o regular funcionamento das aulas e, pior, ensinam a alguns dos mais novos «o gozo» do mau comportamento, do desafio da autoridade. Como chegaram a este estado? Não sei. O que sei é que se os pais não os «seguram» em casa, na escola só os «corpulentos» é que o conseguem.

Pessoa

Fernando Pessoa dito por uma aluna:
Liberdade.wmv

terça-feira, 25 de outubro de 2005

NOVA TERMINOLOGIA



Pedido de esclarecimento feito pelos professores da minha escola:
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Exmª Sr. Directora Geral da Inovação
e de Desenvolvimento Curricular
De acordo com a Portaria nº 1488 de 24 de Dezembro de 2004 que aprova a adopção da Nova Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário, no artigo nº 1 lê-se:

É adoptada, a título de experiência pedagógica, a Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário (TLEBS), constante do anexo da presente portaria e que desta faz parte integrante.
No seu artigo nº 4 lê-se:
É fixado em três anos lectivos, com início no presente ano lectivo, o prazo de duração da experiência pedagógica referida no n.o 1.o

Ou seja, em Dezembro de 2004, quando os actuais alunos do 12º ano, estavam no final do 1º período do 11º ano, os docentes tiveram conhecimento da nova TLEBS, sendo que só em Abril de 2005 receberam a informação em suporte cd sobre a mesma. Tendo em conta o tempo remanescente para o final do ano lectivo, o professor disporia apenas de 18 tempos lectivos para leccionar todos os conteúdos do funcionamento da língua relativos a todo o ano lectivo. Acresce o facto do programa da disciplina não estar ajustado à carga horária, porquanto o mesmo programa apontava para dois blocos, contra um bloco e meio em vigor.
Face ao exposto parece-nos completamente insustentável cumprir cabalmente com o estipulado no actual esclarecimento acerca da Portaria supracitada, presente no endereço do DES, onde se lê:
No que se refere ao Ensino Secundário, esclarece-se que:
- A terminologia adoptada pelo novo Programa de Português (homologado em 2002) é a constante da TLEBS, pelo que a implementação da TLEBS decorre da implementação do Programa;
- No que se refere aos exames nacionais de 12.º ano, a terminologia utilizada será a constante do Programa, e, como tal, a definida pela TLEBS;
- A Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular levará a cabo, a iniciar neste ano lectivo, formação de Docentes para a TLEBS. Do mesmo modo, serão publicados materiais de apoio, de carácter científico e pedagógico.

Acreditamos pois tratar-se de um equívoco para o qual pedimos esclarecimento/reformulação urgente, a fim de implementarmos as nossas planificações, uma vez que se revela factualmente impossível dar cumprimento, a um programa definido para três anos lectivos, apenas em um.
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Telefonicamente a resposta foi de que o esclarecimento à portaria é para cumprir (?????) Esperemos que a resposta escrita seja diferente (!).

De mencionar que não é alterada apenas a «terminologia», mas toda uma gama de conceitos novos surge, que substituem e/ou alteram os que estavam em vigor (e que os alunos foram assimilando, mal ou bem, desde o 1º ano do ensino básico......)
Não é num ano lectivo que se alteram com eficácia saberes instituídos.

EXEMPLOS:
O campo da Morfologia, onde se incluíam a análise das Classes de Palavras, surge agora apenas com a formação e a análise da forma das palavras, excluindo-se pois as Classes de Palavras que surgem num novo campo de estudo (com diversas alterações, aparecendo uma nova classe: os «quantificadores»). Mas mesmo dentro da tradicional nomenclatura surgem novos conceitos:
Os «nomes» que conhecíamos apenas por comuns ou próprios, concretos ou abstractos e colectivos, passam a ter novas designações que implicam uma conceptualização completamente nova:
Nome contável vs. nome não contável;
Nome animado vs. nome não animado;
Nome humano vs. nome não humano;
ou, quanto ao género, surge-nos:
Nome epiceno;
Nome sobrecomum;
Nome comum de dois... (trocados) Errata

Mais caricato e estranho é o exemplo seguinte relativo à Sintaxe:

Vejamos a seguinte frase:

Eu quero um penteado difícil de imitar.

Ao fazer-se a análise sintáctica desta frase na VELHA (?) terminologia, teríamos apenas uma oração, cujo verbo principal é quero. «imitar» é neste contexto um verbo substantivado e, portanto, não um verbo «principal», ou seja, não temos aqui qualquer oração.
De sublinhar que esta frase pode ser reduzida a:

Eu quero um penteado inimitável ou Eu quero um penteado de difícil imitação.

Vamos agora ver na NOVA:
Eu quero um penteado difícil- 1ª «frase»
de imitar - 2ª «frase» (??????????????????????)

Classificação:
1ª - Subordinante
2ª - Subordinada substantiva completiva (???) adjectival - de um adjectivo ?????
Ou seja, para além da incongruência desta divisão, pois torna principal um verbo substantivado, a designação é ainda mais caricata, porquanto faz de uma «frase» - de imitar - , uma subordinada não de uma subordinante, mas de um adjectivo (???) (que está na Classe de Palavras e não na Sintaxe.) Quando muito seria subordinada de um atributo ou modificador (difícil)... Enfim....
A este respeito pedi esclarecimento ao «ciberdúvidas» que muito gentilmente me esclareceu remetendo para diversos exemplos de diversos gramáticos e concluindo no final «Uma frase subordinada continua a ser, de uma forma simplista, aquela que se encontra hierarquicamente dependente de uma outra. Mas, integrando uma frase, não tem, necessariamente, que depender do verbo. E se um nome ou um adje(c)tivo não constituem, canonicamente, uma frase, nada impede que integrem uma e sejam completados por uma outra. Quanto aos seus alunos, dê as completivas como as daria se não houvesse nova terminologia. O nome até nem muda! Cabe a si, como cabe, dramaticamente, a todos nós, diante de uma turma, decidir a que nível de aprofundamento se pode chegar. Oxalá possa chegar bem longe.»

Um último exemplo:
Na área da Semântica Frásica surge um termo que os alunos conhecem há muito como fazendo parte da Estilística - anáfora - como figura de retórica. Ainda hoje, na análise de um texto perguntei que figura de estilo ali estava presente e várias vozes a reconheceram e nomearam. Tive de me interromper, porque me lembrei que vi o termo num outro qualquer contexto: agora anáfora (só depois de chegar a casa, ligar o meu computador e consultar a Terminologia pude verfificar que) é:
Fala-se de anáfora quando a interpretação de uma expressão (habitualmente designada por termo anafórico) depende da interpretação de uma outra expressão presente no contexto verbal (o termo antecedente). Mais concretamente, a expressão referencialmente não autónoma (o termo anafórico) retoma, total ou parcialmente, o valor referencial do antecedente. Há casos de anáfora em que o termo anafórico e o antecedente são co-referentes (isto é, designam a mesma entidade, como os exemplos 1 e 2 ilustram), mas há também casos de anáfora sem co-referência (ex.3).
(1) O João está doente. Vi-o na semana passada.
(2) A Ana comprou um cão. O animal já conhece todos os cantos da casa.
(3) A sala de aulas está degradada. As carteiras estão todas riscadas.
(4) O João faz 18 anos no dia 2 de Julho de 2001. [No dia seguinte] parte para uma grande viagem pela Europa.
No exemplo 1, o pronome pessoal o é o termo anafórico, referencialmente dependente, que retoma o valor referencial do grupo nominal o João.
No exemplo 2, o termo anafórico é o grupo nominal o animal, que retoma o valor referencial do antecedente o cão. É a relação de hiponímia/hiperonímia entre cão e animal que suporta a co-referência.
No exemplo 3, a interpretação referencial do grupo nominal as carteiras depende da sua relação anafórica com o grupo nominal a sala de aulas. Entre os lexemas em causa, há uma relação parte-todo (ver meronímia e holonímia) que sustenta a relação anafórica.
O enunciado (4) exemplifica um caso de anáfora temporal. O valor referencial da locução adverbial no dia seguinte constrói-se a partir da interpretação do termo antecedente, a expressão temporal no dia 2 de Julho de 2001. Assim, o dia seguinte designa o dia 3 de Julho de 2001.

Só posso dizer: meu Deus! Será que alguém responsável, que saiba do que se está a falar, prestará atenção e revogará a imposição em vigor? Só peço que alguém que saiba gramática, dê uma olhada na TLEBS e veja que NÃO HÁ nenhuma gramática devidamente adaptada (todas elas alteram os campos de análise), nenhum material de apoio e HÁ um sem número de novas coisas que é impossível pedir aos alunos para apreenderem num ano.
Tal como os meus alunos terei de assimilar todos estes novos conceitos e não me parece correcto que estes alunos sirvam de minhas cobaias e eu de cobaia da tutela. A implementar algo de novo, como o é claramente esta nova «gramática», «pragmática» ou o que quer que seja (pois não se trata apenas de terminologia) deve começar-se pelos alunos que estão agora no 1º ano do Ensino Básico (sem se esquecer a formação dos respectivos professores)...
Antes de se implementar o que quer que seja com os alunos HÁ QUE FORMAR OS PROFESSORES.... e não é admissível como prevê o esclarecimento da portaria INICIAR-SE AGORA essa formação.

Mais problemático ainda é o facto de algumas questões apresentadas na informação de exame não terem resposta na nova TLEBS, como sejam a alínea a do ponto 4.3.4. - questiona-se sobre a colocação dos pronomes que não surge em lado nenhum na TLEBS; ou quando falam em referência mais lata e mais restrita - também não surge.
Então será que para além da infindável lista da nova terminologia, os alunos tenham que saber as respostas a questões que apenas encontrei numa gramática de 2001, anterior e diferente da Nova TLEBS?
A própria TLEBS apresenta gralhas que detectei numa primeira abordagem: remete para exemplos que depois não existem; apresenta designações que depois não surgem na listagem de termos.


Pergunto-me pois como será possível, para além de todos os conteúdos literários e não literários que estão no programa, leccionar a infindável lista da nova terminologia.... É impossível.

Não esquecer que os alunos NÃO aprenderam nada no 10º ano da nova TLEBS porque:
. o manual não a tinha;
. os professores não a conheciam (nem publicada estava).
No 11º ano:
. o manual também não estava a ela adaptado;
. o novo programa previa por semana 180 minutos de aula, mas decorreu com os 135 do antigo programa;
. O cd, suporte que os professores receberam, chegou em Abril do ano passado (a dois meses do final das aulas). Os professores supostamente estudá-la-iam e davam-na aos alunos neste período. (?)
Não há qualquer gramática que esteja adaptada à nova TLEBS. Já comprei três. E já as pus de lado (dinheiro gasto ingloriamente). Uma aproxima-se apenas, mas faz a sua própria interpretação juntando três áreas diferentes e apresentando-se extremamente incompleta.

Que se escolha uma das novas áreas (a da pragmática - específica de 12º ano no programa - por exemplo, e se retire o que diz respeito ao 10º e 11º ano), que se adequem as questões do exame ao que efectivamente surge na TLEBS. Que haja bom senso. Só isso.


Leia-se a este respeito o parecer da Associação de Professores de Português:


Divulgação e implementação da nova terminologia linguística

A primeira padronização da nomenclatura gramatical de descrição da língua portuguesa foi publicada em Diário da República, em 1967. No entanto, apenas volvida uma década, esta nomenclatura começou a conviver com outros termos e conceitos propostos pela investigação entretanto desenvolvida, deixando o documento em apreço de constituir uma referência produtiva na resolução de problemas científicos de carácter linguístico e pedagógico.
Por isso, em 1991, foi apresentada uma proposta de nova nomenclatura gramatical que, apesar da sua pertinência, não foi assumida pelo sistema educativo. Depois de quase três décadas de incertezas, o Ministério da Educação concordou com a elaboração de um novo documento regulador que viria a constituir a Terminologia Linguística dos Ensinos Básico e Secundário (TLEBS). Foi com muita satisfação que a APP contribuiu para a produção do referido documento que ficou concluído em 2002 e que, com grande surpresa nossa, foi homologado pela Portaria nº 1488/2004, de 24 de Dezembro. Surpresa por várias razões.
Em primeiro lugar, porque a APP esteve implicada na coordenação dos trabalhos de elaboração da TLEBS e, desde a sua apresentação pública em Novembro de 2003, não mais tinha sido contactada sobre a matéria, apesar de sobre ela ter interpelado o ME - sabemos que o mesmo tratamento foi dado aos responsáveis científicos da TLEBS.
Em segundo lugar, a surpresa adveio do facto de o diploma ter efeitos retroactivos a 1 de Setembro de 2004 - como alterar as aprendizagens e respectiva avaliação feitas entre Setembro e Dezembro?
Por fim, o que nos causou maior perplexidade e muita apreensão foi o facto de no diploma legal não ser apresentada a TLEBS, mas apenas a sua nomenclatura, ou seja, a lista dos termos sem as devidas definições, exemplos e equivalentes em línguas estrangeiras.
Como é que a tutela prevê cumprir o estipulado pela portaria no que diz respeito à formação de professores da competência do Ministério da Educação? Como se concretizará a primeira avaliação prevista já para o próximo ano lectivo, quando as escolas estarão a receber a TLEBS no final deste ano? Como se processará a introdução de alterações? Como será integrada a TLEBS no programa e/ou currículo do Ensino Básico? Enfim, como serão regulados os três anos de experimentação pedagógica que terminam em Agosto de 2007?



Agora, ajuizadamente, o GAVE informou a APP que os exames de 9º e 12º não serão afectados pela nova TLEBS. Falta ainda que a DGIDC, corrija o acima referido «esclarecimento acerca da portaria 1488». Que haja coordenação.

Cansaço















(9-10-1934)

O que há em mim é sobretudo cansaço -
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço asssim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas -
Essas e o que falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.














(...)
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo,
cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos

segunda-feira, 24 de outubro de 2005

Indignação

Ler a
indignação generalizada.
http://www.educare.pt/artigo_novo.asp?fich=ESP_20051012_523

Mudar o que está errado.
Petição Online

Pedagogias

Sistema de «Ensino»



Tanta pedagogia, tanta burocracia... e o que realmente interessa? Fica sempre pelo caminho.
Que desilusão.




Sou professora há 17 anos e mãe há 14. Se não funcionasse em casa como mãe (a exigir a execução dos trabalhos de casa, a controlar cadernos, horas de estudo, a controlar horas à frente da tv, etc, etc, etc..... o que dá, sem dúvida, MUITO trabalho) as minhas filhas estariam com certeza no rol dos «sem sucesso» de colegas meus. NINGUÉM na escola pode motivar os alunos..... porque estudar É UMA CHATICE. Só em casa se pode «trabalhar» a motivação. É aí que se ensinam e impõem regras. Desengane-se quem quiser fazer da escola a família. Não há plano de recuperação que valha a quem não quer aproveitá-lo.

Leia-se o seguinte comentário de um leitor do Público a propósito dos novos Planos de Recuperação:

Mas... Por Anónimo, Oeiras
Mas então não devia estar na base da função dos próprios professores, cujos sindicatos tanto protestam, ajudarem os alunos na recuperação? Ou mesmo evitar que tal recuperação seja necessária? Mas se se preocupassem mais com os alunos, que são a prioridade do Ministério da Educação (e não os professores), e trabalhassem como toda a gente, não haveria uma educação mais eficaz? É que realmente há qualquer coisa que me está a escapar.

A este leitor escapa realmente muita coisa.

Como se recupera um aluno que não quer saber nada da escola, cujo único interesse nela é aproveitar para estar com os amigos, tendo que apanhar umas valentes secas, com os professores a pedirem-lhe, suplicarem-lhe, ordenarem-lhe (e finalmente desistirem) para participar nas actividades da aula? Passa-se então a batata quente para o psicólogo. Resulta? Nunca vi. É em casa que isso se exige. Se aí não há alguém a perguntar-lhe como vai a escola, a controlar-lhe os cadernos a, no fundo, apoiá-lo, não há escola que o consiga.
Estes novos Planos vão resultar sim, assim como resulta no Ensino Básico a passagem automática de todos os alunos do 1º para o 2º ano. Para não se «traumatizarem» as crianças, passam sem sequer as letras conhecer. E, no segundo ano, o professor que se amanhe: tem de se dividir entre as que acompanharam o ano anterior e as que ficaram para trás. Alguém aí sofre, inevitavelmente. E quem será? Exactamente esses que deviam ter ficado no primeiro ano. Isto aconteceu com a turma da minha filha mais velha: uma cigana que apenas foi a algumas aulas no primeiro ano e um rapaz que esteve doente. No segundo ano, obviamente sentiram-se desenquadrados e não foi possível à professora acompanhá-los devidamente, pois tinha mais 24 que também não podiam ficar «desacompanhados».
Exigem-se, para se poder «reter» um aluno (não se pode dizer «reprovar» porque é anti-pedagógico e «traumatiza as crianças»), papéis e mais papéis, páginas e páginas escritas em que se perde tempo útil, inutilmente. Mais vale realmente passá-los a todos administrativamente. Assim temos menos trabalho (inglório, inútil, disparatado) que podemos usar para apoiar quem realmente precisa e quer.
Teremos assim um verdadeiro sucesso contabilístico e cada vez mais ignorantes, iletrados e sem noção do que é realmente trabalhar. E são estes que vão engrossar as hostes dos «sem produtividade». Se sempre se «safaram» bem sem nada fazer, continuam vida fora com a mesma postura.