segunda-feira, 24 de outubro de 2005

Pedagogias

Sistema de «Ensino»



Tanta pedagogia, tanta burocracia... e o que realmente interessa? Fica sempre pelo caminho.
Que desilusão.




Sou professora há 17 anos e mãe há 14. Se não funcionasse em casa como mãe (a exigir a execução dos trabalhos de casa, a controlar cadernos, horas de estudo, a controlar horas à frente da tv, etc, etc, etc..... o que dá, sem dúvida, MUITO trabalho) as minhas filhas estariam com certeza no rol dos «sem sucesso» de colegas meus. NINGUÉM na escola pode motivar os alunos..... porque estudar É UMA CHATICE. Só em casa se pode «trabalhar» a motivação. É aí que se ensinam e impõem regras. Desengane-se quem quiser fazer da escola a família. Não há plano de recuperação que valha a quem não quer aproveitá-lo.

Leia-se o seguinte comentário de um leitor do Público a propósito dos novos Planos de Recuperação:

Mas... Por Anónimo, Oeiras
Mas então não devia estar na base da função dos próprios professores, cujos sindicatos tanto protestam, ajudarem os alunos na recuperação? Ou mesmo evitar que tal recuperação seja necessária? Mas se se preocupassem mais com os alunos, que são a prioridade do Ministério da Educação (e não os professores), e trabalhassem como toda a gente, não haveria uma educação mais eficaz? É que realmente há qualquer coisa que me está a escapar.

A este leitor escapa realmente muita coisa.

Como se recupera um aluno que não quer saber nada da escola, cujo único interesse nela é aproveitar para estar com os amigos, tendo que apanhar umas valentes secas, com os professores a pedirem-lhe, suplicarem-lhe, ordenarem-lhe (e finalmente desistirem) para participar nas actividades da aula? Passa-se então a batata quente para o psicólogo. Resulta? Nunca vi. É em casa que isso se exige. Se aí não há alguém a perguntar-lhe como vai a escola, a controlar-lhe os cadernos a, no fundo, apoiá-lo, não há escola que o consiga.
Estes novos Planos vão resultar sim, assim como resulta no Ensino Básico a passagem automática de todos os alunos do 1º para o 2º ano. Para não se «traumatizarem» as crianças, passam sem sequer as letras conhecer. E, no segundo ano, o professor que se amanhe: tem de se dividir entre as que acompanharam o ano anterior e as que ficaram para trás. Alguém aí sofre, inevitavelmente. E quem será? Exactamente esses que deviam ter ficado no primeiro ano. Isto aconteceu com a turma da minha filha mais velha: uma cigana que apenas foi a algumas aulas no primeiro ano e um rapaz que esteve doente. No segundo ano, obviamente sentiram-se desenquadrados e não foi possível à professora acompanhá-los devidamente, pois tinha mais 24 que também não podiam ficar «desacompanhados».
Exigem-se, para se poder «reter» um aluno (não se pode dizer «reprovar» porque é anti-pedagógico e «traumatiza as crianças»), papéis e mais papéis, páginas e páginas escritas em que se perde tempo útil, inutilmente. Mais vale realmente passá-los a todos administrativamente. Assim temos menos trabalho (inglório, inútil, disparatado) que podemos usar para apoiar quem realmente precisa e quer.
Teremos assim um verdadeiro sucesso contabilístico e cada vez mais ignorantes, iletrados e sem noção do que é realmente trabalhar. E são estes que vão engrossar as hostes dos «sem produtividade». Se sempre se «safaram» bem sem nada fazer, continuam vida fora com a mesma postura.

Nenhum comentário: