terça-feira, 6 de junho de 2006

Na imprensa

A ministra está atenta
Instada na Maia acerca da assustadora realidade da violência nas escolas, que há muito faz parte do quotidiano de professores, funcionários e alunos, mas que só agora, em virtude de uma reportagem da RTP, chegou à agenda mediática, a ministra da Educação limitou-se a dizer que "está atenta". Podemos, pois, ficar tranquilos. Só até Abril deste ano, a PSP já detectou, em escolas de todo o país, 50 armas na posse de alunos, facas, navalhas, mas também sete armas de fogo, mas a ministra está atenta. Os furtos e roubos multiplicam-se, mas a ministra está atenta. Em mês e meio, a PSP instaurou 22 processos por venda de álcool a menores nas proximidades de escolas, apreendeu 40 doses de cocaína, 52 de heroína, 1498 de haxixe e recebeu 49 queixas de atentado ao pudor, mas a ministra está atenta. No ano lectivo 2004/2005, o próprio Ministério registou mais de 1200 agressões no interior das escolas (às vezes dentro da sala de aula) e 191 alunos, professores e funcionários tiveram que receber tratamento hospitalar, mas não temos que nos preocupar porque a ministra está atenta. E, provavelmente, virá um dia destes a público dizer que a culpa é dos professores e que a coisa se resolve pondo os pais dos delinquentes a avaliar a sua competência.

PROFESSORES LINCHADOS

Paulo Fafe
in Diário do Minho de 2006/05/06


A Sra. Ministra da Educação veio a público decla rar que o insucesso escolar se deve aos professores. Este terrorismo contra os docentes insere-se, quanto a nós, numa clara intenção de fazer os seus remendos (reforma educativa não é), com o beneplácito da popula ção. Para isso, achou a Sra.. Ministra que a melhor táctica seria desmoralizar primeiro a classe dos professores, atá-los no pelourinho público para serem linchados. Depois que o terreno estivesse arado ficaria pronto para a sementeira. E teremos que louvar a Sra. Ministra porque a táctica está a resultar. O fermento mau também leveda.
(...)
Mas nada disto é por acaso. Não foi ao acaso, ou levianamente como se poderia pensar ou como os mais ingénuos pensam, que a Sra. Ministra procedeu ao descrédito dos professores. Depois de os achincalhar na praça pública, depois de os comprometer seriamente perante o País, depois de os denegrir como profissionais, parece que está aberta a via para impor os seus remendos. A classe dos professores nem no regime deposto em 25 de Abril de 1974 foi tão atacada como o está a ser agora pelo governo socialista. Nem o governo socialista teve tão boa e fiel intérprete como a actual responsável pelo Ministério da Educação.
Para impor as suas doutrinas económicas, encontrou na pessoa da Sra. Doutora Maria de Lurdes Rodrigues o que Salazar encontrou em António Carneiro Pacheco. Durante dois anos e meio, Salazar teve três Ministros da Instrução Pública, sem nenhum deles ser a medida dos seus desígnios. Conseguiu Salazar (1936) encontrar, em António Carneiro Pacheco, um executor implacável da doutrina política do governo. Neste nosso tempo, tempo de democracia, a doutrina política do governo de Sócrates é acabar com direitos adquiridos pelos professores.
Car­neiro Pacheco fez uma profunda remodelação em todo o sistema. educativo. Na remodelação do Ministério da Educação Nacional, pode ler-se quesitos como: «selec­ção do professorado de qualquer grau de ensino (...), exigências da sua essencial cooperação na fun­ção educativa», avaliação por per­centagens de aprovação, etc., etc. Transposto para os dias de hoje e dados os retoques finais que o sistema democrático exige, o espírito da Sra. Ministra da Educação não vai beber a outra fonte. Sócrates conseguiu em Maria de Lurdes o seu Carneiro Pacheco? Tudo indica que sim. O que se recomenda aos professores é que não tenham medo. Que se unam. Que pensem que as perseguições não duram mais que uma próximas eleições. Não há bem que sempre dure nem mal que não acabe. Que se apoiem decisiva mente nas suas organizações de classe. Que pensem sempre que se não há ensino sem alunos tam­bém não há ensino sem professores. Que os ministros passam e os professores ficam. Que para cer­tos traumas ministeriais não há catarse. Paciência. Estamos plena­mente convencidos que o ensino em Portugal só melhorará quando houver menos ministério e mais escola. Os professores têm tam­bém direito à indignação. Sentem-se ofendidos pela Ministra da Educação e como quem se não sente não é filho de boa gente, há que reagir contra a ofensa na mesma intensidade com que fo­ram esbofeteados.

Um comentário:

IC disse...

Como indicou o Miguel Pinto em adenda, puseste aqui um verdadeiro "serviço público" :)
Pela minha parte, obrigada. Um beijinho.