terça-feira, 4 de julho de 2006

Exame de Português

Editorial da Revista Pontos nos iii
O logro

por Santana Castilho

O exame de Português do 12.º ano é o paradigma de uma política e de uma estratégia marcadas por um facilitismo intolerável e uma falta de rigor e de responsabilidade socialmente criminosas. Não surpreende quem esteja atento ao desastre em que se consubstanciam as medidas da ministra da Educação. Mas revolta por ser uma ode à preguiça e ao ridículo e por se constituir em afronta aos professores sérios e aos estudantes aplicados. A polémica a propósito da existência ou não de exames é recorrente. Mas, na senda do estatuto editorial que definimos, onde defendemos o pluralismo de opiniões sem que tal signifique o abandono ou a dissimulação da nossa própria opinião, afirmamos peremptoriamente que os exames, como elo de validação, perante a sociedade, do trabalho feito na sala de aula, como instrumento de certificação externa desse trabalho e como meio de relativização de critérios díspares entre escolas integrantes de um sistema massificado e não suficientemente supervisionado, são incontornáveis e essenciais. Desde que sérios, exigentes, produzidos com competência, técnica e científica. Certamente que não houve instruções explícitas aos sábios que conceberam os exames nacionais que tivemos ocasião de analisar (Português B, Sociologia, Biologia e História do 12.º ano e Português do 9.º ano) no sentido de os pré-ordenarem para a melhoria dos resultados estatísticos. Mas que servem esse desígnio, servem. Que obedecem ao lugar comum da linguagem e da doutrina pedagógica imposta como oficial por um ministério incapaz e por uma ministra dela prisioneira, obedecem. Não precisamos de um profeta para imaginar que, num futuro próximo, ouviremos laudas de vitória às medidas deste governo. Mas… o combate sério ao insucesso escolar só pode ser ganho com a coragem de gerar insucesso estatístico, repudiando a desvalorização do que é fundamental em benefício de teorias e práticas vazias de sentido, que vêm a fossilizar a generosidade e a dedicação dos professores; com o reconhecimento de que o trabalho e a exigência são indispensáveis à aquisição do conhecimento, que precede a posse das decantadas competências; com a noção de que um sistema de ensino que se oriente para a satisfação prioritária de necessidades logísticas de pais ocupados e alunos preguiçosos e relapsos é um logro.

2 comentários:

Amélia disse...

Um pequeno erro que assumo: o autor não é antónio rosado, mas Santana Castilho, que assina sempre o editorial da revista que dirige.
Pode alterar?

emn disse...

Já está, Amélia :)