terça-feira, 17 de outubro de 2006

Tempo...

Com 43 anos, dos quais metade de um como correspondente comercial numa empresa (feito de imenso e diário tédio e consequente sensação de estupidificação crescente) e 18 no ensino, sempre com prazer, até ao ano lectivo de 2004/2005, chego hoje à conclusão que realmente escolhi mal. Entre o tédio e o facto de nem tempo ter para respirar, para poisar e reflectir sobre as coisas, não há dúvida: viva o tédio!
Isto a propósito das reduções: agora no novo ECD surgem apenas aos 50, até ao máximo de 6; no ainda em vigor, a partir dos 40 até ao máximo de 8; surgiam, quando entrei na carreira, ao fim de cada 5 anos de serviço. Estariam loucos? Ou estão agora?
Há uns poucos anos atrás, eu não sentia as limitações que hoje sinto. Nunca precisei de apontar nada e nunca me esquecia de nada. As caras dos alunos eram únicas no final de duas semanas, os seus nomes claros e sabia exactamente o que tinha dito a uma turma e faltado dizer na outra. Numa noite corrigia uma turma de testes sem nunca me faltar a concentração. Agora, as caras e respectivos nomes só são únicos ao fim de muiiiiito tempo. Agora, se não aponto o que tenho de fazer no dia seguinte, pareço andar com um detector de metais à procura de uma moeda no deserto. Agora, corrigir uma turma de testes é escalar o Everest.
Como eu entendo e sinto a necessidade das reduções! Duvido que aguente até aos 55 neste ritmo. Mas tenho de aguentar. Afinal, tudo se aguenta. Em que condições? Não interessa. Tenho de me convencer que sou um militar e apenas tenho de obedecer a generais! Tenho de me convencer que isto de dar aulas é uma brincadeira e que não é necessário fazer o melhor possível - basta fazer o que o tempo deixa. Como disse uma encarregada de educação numa reunião a que também fui no mesmo papel - os professores substitutos podem inventar qualquer coisita para dar nessas aulas. Embora tenha comentado que «aulas não se inventam», se calhar é o que tenho de começar a fazer para ter tempo de viver.

Nenhum comentário: