sexta-feira, 10 de novembro de 2006

Autoridade

Crise de autoridade familiar na origem do aumento da violência escolar
in «Público» 10/11/2006


Especialistas em educação defenderam hoje que o aumento da violência escolar se deve, em parte, a uma crise de autoridade familiar, onde os pais renunciam a impor disciplina aos filhos, remetendo-a para os professores.
Vários especialistas internacionais estão reunidos na cidade espanhola de Valência a analisar até amanhã o assunto "Família e Escola: um espaço de convivência".
Os participantes no encontro, dedicado a analisar a importância da família como agente educativo, consideram que é necessário evitar que todo o peso da autoridade sobre os menores recaia nas escolas, o que obriga a "um esforço conjunto da sociedade".
"As crianças não encontram em casa a figura de autoridade", um elemento fundamental para o seu crescimento, disse na conferência inaugural do congresso o filósofo Fernando Savater." As famílias não são o que eram antes, um núcleo muito amplo e hoje o único que muitas crianças contactam é a televisão, que está sempre em casa", sublinhou.
Para Savater os pais continuam a "não querer assumir qualquer autoridade", preferindo que o pouco tempo que passam com os filhos "seja alegre" e sem conflitos e empurrando o papel de disciplinador quase exclusivamente para os professores.
No entanto, e quando os professores tentam exercer esse papel disciplinador, "são os próprios pais e mães que não exerceram essa autoridade sobre os filhos que intentam exercê-la sobre os professores, confrontando-os".
"O abandono da sua responsabilidade retira aos pais a possibilidade de protestar e exigir depois. Quem não começa por tentar defender a harmonia no seu ambiente, não tem razão para depois se ir queixar", sublinha.
Savater acusa igualmente as famílias de pensarem que "ao pagar uma escola " deixa de ser necessário impor responsabilidade, alertando para a situação de muitos professores que estão "psicologicamente esgotados" pela situação e se convertem "em autênticas vítimas nas mãos dos alunos".
Os professores, afirma, não podem ser deixados sós, e a liberdade "exige uma componente de disciplina" que obriga a que os docentes não estejam desamparados e sem apoio, nomeadamente das famílias e da sociedade."
A boa educação é cara, mas a má educação é muito mais cara", afirma, recomendando aos pais que transmitam aos seus filhos a importância da escola e a importância que é receber uma educação, "uma oportunidade e um privilégio".
"Em algum momento das suas vidas, as crianças vão encontrar disciplina" , disse. Em conversa com jornalistas, Savater explicou que é essencial perceber que as crianças hoje não são mais violentas ou mais indisciplinadas que antes, mas que hoje "têm menos respeito pela autoridade dos mais velhos". "Deixaram de ver os adultos como fontes de experiência e de ensinamento para os passarem a ver como uma fonte de incómodo. Isso leva-os à rebeldia", afirmou. Daí que mais do que reformas aos códigos legislativos ou às normas em vigor, é essencial envolver toda a sociedade, admitindo que "mais vale dar uma palmada, no momento certo" do que permitir as situações que depois se criam. Como alternativa à palmada, oferece outras, como suprimir privilégios, alargar os deveres ou trabalhos de casa.

2 comentários:

IC disse...

Pois, foi preciso o país vizinho tomar a iniciativa para os jornais de cá acordarem. (Acordarem? Ou abrirem um olho e depois voltarem a dormir?)

Amélia disse...

quod erat demonstrandum...

Só que: uma palmada dos pais vai ser crime no novo Código Penal...

Isto faz-me lembrar uma host+oria acontecida nos States onde um filho fez queixa do pai que lhe dera umas palmadas; em tribunal o pai foi condenado e teve de pagar icdemnização.Aguardou o momento de se vingar. Em férias nos Açores(de onde eram naturais ou originários) aproveitou a deixa e o rapaz levou tareia a sério...
[atenção; não gosto de violência física- ainda menos da psicológica - sobre indefesos - mas palmada no momento certo não faz mal nenhum e resolve de pronto uma questão...]