sábado, 5 de maio de 2007

Demolidor

Artigo de João Peres

(...)O segundo reparo respeita à não aplicação da suspensão da TLEBS ao Ensino Secundário, já referida na comunicação social.

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O primeiro caso reporta-se à autoria dos programas do Básico em vigor, aprovados em 1991. Não faço a mínima ideia de quem foram os “especialistas de reconhecido mérito” que produziram um trabalho tão caótico relativamente à gramática, mas, como pelos frutos se vê a árvore, estiveram decerto longe de constituir a melhor selecção possível. O segundo caso respeita aos já referidos programas do Secundário, em vigor desde 2003, os quais têm seis autores, três que julgo serem docentes do Secundário e três universitários, dos quais apenas um doutorado (em 2000); a presença dos primeiros é inquestionável (assim tenham sido os mais indicados para a função); quanto aos três universitários, fica-se atónito, não só perante a modéstia dos currículos, mas também pelo facto de dois deles trabalharem na área do ensino de português como língua não materna (sobre o terceiro, nem consigo obter informação, para além da aparente ligação a uma universidade privada)

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Parece-me, pois, indiscutível que há casos em que o Ministério não se preocupa com a transparência das suas escolhas de colaboradores junto das universidades e outros em que ou não procura o tal “reconhecido mérito” ou, se procura, pouco acerta.

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Acredito que as dificuldades específicas do trabalho linguístico a que acabo de aludir podem ser ultrapassadas pelo trabalho colectivo, pela discussão e confrontação de perspectivas e teorias, ou seja, entregando, efectivamente o trabalho à “comunidade científica”.
Curiosamente, a Senhora Ministra parece estar convencida de que isso já aconteceu, pois afirmou que “a revisão da gramática (...) foi devolvida à comunidade científica, que tem de se entender sobre o assunto” (cf. ib.). Tem de ser devolvida, claro, mas ainda não dei por que o tivesse sido (e já consultei alguns muito bons linguistas, insuspeitos de serem meus apoiantes incondicionais nesta luta) e acho que a Senhora Ministra ou está mal informada ou está iludida. Se se pensa que tal devolução consiste em entregar a revisão a um linguista e a um especialista de Estudos Literários, nos termos conhecidos, ou se está a tornear a questão ou existem planos secretos de alargamento da discussão que a mesma comunidade científica ainda desconhece. Se, por outro lado, se imagina que a referida devolução passa por uma Conferência generalista, em que em simultâneo se tratam questões de gramática e de cânone literário, de multilinguismo e de identidade do professor de português, então quando acabarem tais interessantes trocas de ideias, cujo relato certamente não deixará de ser de grande proveito para quem se interessa pelo ensino do Português genericamente entendido, avisem a comunidade científica que tem a gramática por seu objecto para que o trabalho que está em causa com a TLEBS tenha finalmente início.

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Generalizando para além do problema que motiva este escrito, entendo que o ME deveria ter com o Ensino Superior uma relação transparente sobre prestação de serviços, em particular os respeitantes a programas e questões afins.

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Se tiver vida e saúde, tenho planos de produção bibliográfica para os próximos dez anos (não, não incluem rendosas gramáticas didácticas), com uma equipa de qualidade que não procura nem as luzes da ribalta, nem poder nem quaisquer benesses.

Um comentário:

Sítio do sol nascente disse...

"Faço um pedido a todos os blogueiros, em homenagem a menina Madeleine e a todos os desaparecidos mas não esquecidos façam um post com a fotografia da menina e deixem ficar ".
Não podemos fazer mais nada, infelizmente, mas quem sabe a divulgação não pode ajudar.

CAso estejam interessados, podem copiar do meu blog.

Um abraço
Laumalai