terça-feira, 1 de maio de 2007

Eu, me, mim, migo

A propósito da notícia no DN e dos respectivos comentários em vários blogues, reparei que nunca aqui reflecti sobre os «meus» alunos. E nem é por isso que por aqui ando. O que aqui me trouxe inicialmente foi a TLEBS e a estupidez da sua estouvada implementação. Depois fui ficando e postando ao sabor das raivas que vou sentindo por quem nos desgoverna.

Que me apetece dizer das turmas deste ano? Dois 12ºs e um CEF equivalente a um 10º com estágio no final do ano. Da noite nem falo de tão pacífico que é lidar com adultos – embora os haja que algum trabalho dão, há pois há, os poucos que tentam salvar-se a copiar para terem menos trabalho que os outros.

Uma das turmas de 12º (a minha DT) é recheada de alunos interessados, aplicados, participativos. Esperam-nos já à porta da sala (...não têm inveja?). Não me lembro de uma turma assim. Disse-o hoje aos pais na reunião. E disse-lhes também (e sorri ao ver os sorrisos) que provavelmente a culpa era dos pais. Se nos rimos um bocado de alguma coisa e é necessário voltar ao trabalho, que o tempo é curto, imediatamente põem os pés no chão e voltam à labuta. Já a outra turma é mais descontraída com uma aluna excelente e vários bons alunos, mas com conversas cruzadas nas aulas que com elas nada têm a ver e a quem se tem de chamar a atenção várias vezes antes de se conseguir «obrigá-los» a voltar à terra. Mas são todos simpáticos, bem-educados, tranquilos e cooperantes. Em suma, não dão qualquer tipo de problemas. Vão ser provavelmente bons trabalhadores para onde quer que se virem.

Depois.....(ai jesus!)....... vem o CEF. Há duas semanas que os não vejo devido aos feriados. E que bem me sabe não ter aulas com eles! Não têm o mínimo sentido de esforço. Trabalho!? Qué isso? Pa que serve? Nicles batatóides. Não são má gente, mas eu não sei lidar com eles. Um fala sempre como se o interlocutor estivesse a 100 metros de distância. Quando o advirto dos modos como se comporta pede desculpa e 2 segundos depois vira-se para um qualquer colega e faz uma qualquer pergunta disparatada. No início do ano tratei-os como trato os de 12º - como adultos. Só que estes não o são, nem lá perto chegam, embora tenham a mesma idade, fora duas ou três excepções. Depois de duas aulas a tentar a bem controlá-los, explodi e fiz renascer o Hitler (salvo seja!) que há em mim – ditadura e da dura.
–Quem der um pio vai imediatamente para a rua!
–Quem não fizer o trabalho que indiquei vai para a rua!
É que as faltas podem impedi-los de ir para estágio. Remédio santo! Mas já não me lembrava de «funcionar» assim. E como me custa! Com regime militar começaram a melhorar. Mas eu sorria ou dizia uma qualquer piada para espairecer e aligeirar o ambiente e a agitação imediatamente rebentava qual vulcão adormecido. E depois era impossível voltar a puxá-los à terra sem ser à bruta. Só entendem a lei do machado. Não vão lá com conversa. Ainda tive uns discursozitos ao coração daqueles que usava para os mais miúdos, mas o ar deles é «que quela tá práli a dizere!?» Desisti de os tratar como trato os outros. Entro séria e ali estou feita generala a guardar os prisioneiros. Acabam por fazer os exercícios todos, mas sem o cérebro. Acho piada a um, enorme, daquelas vozes que quando se ouvem ecoam, que não sabe sussurrar. É um miúdo esperto (como outros que lá estão) e depois de eu lhes explicar o funcionamento das relativas numa aula, e de terem feito exercícios, ele diz-me que não entendeu ainda muito bem. Volto a explicar e o ar dele iluminou-se (tem uma cara castiça) e de braços enormes esticados no ar, como é seu costume, exclamou com o formato de felicidade à americana: Yes! Já percebi! (-Precisas de pôr os braçps no ar- pergunto. Oh stôra, tou contente, pá! Pá, não! Desculpe, stôra!) A seguir fez, radiante, os exercícios todos bem à primeira. Na aula seguinte, ficha igual à dada na aula anterior. Resultado? 5,2 (de 0 a 20). Ou seja, entrou-lhe naquele dia, mas uma semana depois faz parte do passado. Quando, sorrindo, lhe perguntei se se lembrava da exclamação da aula anterior, respondeu: -Tem razão,stôra. Devia ter olhado pra isto. Tem razão! Pois tenho. E adianta-me de alguma coisa? Oh, stôra, desculpe lá!
Pois é. Irão para estágio agora, no final do ano. Raramente escrevem mais de uma linha sem erros. Não são burros, mas não têm qualquer noção do que é trabalhar. É a minha primeira experiência (desagradável, sem dúvida) com estes cursos. Pode ser que as próximas sejam melhores. E os meus colegas não se queixam deles. Há outros muito piores, dizem. Piores!? Eu sei,... eu sei que estou destreinada dos mais novos, quer seja em idade física ou mental. Já tinha deposto as armas há muito tempo.


Daí que aplauda PELA PRIMEIRA VEZ uma medida da senhora ministra – as alterações efectuadas ao Estatuto do Aluno que permitem PELO MENOS ter o poder de os ameaçar com a falta por estar a perturbar uma aula e as implicações que daí poderão advir - o tal exame no final do ano. Porque é impossível dar aulas a quem as não quer ter sem ter algum tipo de chantagem que possa ser feita, que não existia. Porque se com alguns a conversa ao coração chega, há os a quem só outro alguém, que não eu, poderá orientar. Eu não tenho paciência nem vocação para entreter quem não quer aprender. O que gosto é de ensinar. Educar, educo as minhas filhas. O que eu gosto é que eles aprendam. Entretê-los? Nã!

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