domingo, 9 de novembro de 2008

Manipulação e Rábula da família avaliada

Ao ver-se esta reportagem, a manipulação é evidente.

O senhor que aparece inicialmente não está a desfilar. Apenas assiste de lado.
O primeiro colega, ao referir-se que o que está contra é a .............. avaliação, pecou por defeito. Porque assim deu azo a parecer não querer ser avaliado.
As palavras da segunda colega são claramente manipuladas pelo editor que a põe a dar razão à ministra (com minúscula).
Os outros, decididamente escolhidos a dedo, dizem que melhor pensada e tratada «esta» avaliação poderia ser aplicada.




Primeiro irritei-me com a reportagem. Fechei o computador e rangi os dentes para a tv.
Depois pus-me a pensar como se explica a alguém porque é que esta avaliação é profundamente desestabilizadora e inaplicável.


Um dos «conselhos» dos discursos que ouvi, foi que explicássemos aos pais o que está mal. Mas como fazê-lo? Eu recuso-me, por princípio a falar de problemas profissionais quer com alunos quer com pais. Falo abundantemente, sim, com família e amigos.

Um dos meus irmãos, da área de informática, disse-me há pouco tempo que o «Magalhães» era MUITO BOM e MAIS IMPORTANTE que era um projecto português.
Rapidamente lhe fiz chegar este mail:
É um projecto português?

Na Indonésia o «Magalhães» é conhecido pelo nome de «Anoa», na Índia é o Mileap-X series, na Itália é o Jumpc e o no Brasil é conhecido por Mobo Kids. O Governo do Vietname percebeu o sucesso da oferta e já o colocou nas escolas a preço reduzido. Uma ideia agora adoptada por José Sócrates.

Tá bem tá. Vê aqui: http://diario.iol.pt/tecnologia/intel-magalhaes-tecnologia-socrates/977084-4069.html
Ou aqui: http://www.youtube.com/user/olidatajumpc


Penso que ficou claro que não é OBVIAMENTE um projecto português.



Voltando atrás, como então «explicar» aos pais?


As escolas acabam por ser famílias. Muito do corpo docente está a trabalhar em conjunto há anos. Mas mesmo os recém-chegados rapidamente são adoptados.
Então que tal imaginar uma família - avós, seus filhos, filhas e respectivos cônjuges e os filhos destes.
Início dos trabalhos
Reunião geral familiar:
Passo 1 . agora estabeleçam metas a atingir enquanto família (valor x mínimo dos presentes de Natal, telefonar x vezes aos pais/avós); ................................................
Passo 2.estabeleçam indicadores de medida: decidam entre vocês, como queiram, o que vai ser importante
  • pode ser quem dá melhores presentes de Natal. Pergunta alguém: melhores como? Como se avalia o que é um presente melhor? É o mais caro? Não, isso não - diz outro. É o que quem o recebe gosta mais. E como se «mede» o «que se gosta mais»? Como se poderá ser objectivo? Entre o carro último modelo que o pai deu ou o livro fantástico que a mãe deu que me inspirou a... e que me apetece agora reler, como se mede? Decidam.
  • pode ser quem telefona mais vezes a dar notícias, quem faz mais festinhas, enfim - escolham, decidam-se);
Passo 3. Quem vai avaliar? Pode ser o que no ano passado gastou mais dinheiro em presentes de Natal (é um critério qualquer - isso não interessa nada! Ah, mas eu gostava de ser o avaliador e não sabia que era esse o critério. Se soubesse tinha dado melhores presentes! Mas não deste. Tá lá agora mas é caladinho!) e.... o avô. O avô avalia a participação na vida familiar. O outro a interacção.
Passo 4. A seguir toca a definir objectivos:
Os meus presentes de Natal a crianças com menos de 5 anos serão de valor x;... Mais de cinco anos de valor y;
Empenhar-me-ei em telefonar 2 vezes por dia aos meus pais, para dar conta das actividades em que me integrei.....
Todos querem ter boa avaliação, ou seja, começam as primeiras rivalidades: Mostra lá o que escreveste aí! O que te propões fazer? Não tens nada a ver com isso. Fazes os teus que eu faço os meus!
Passo 5. O avô recebe os objectivos individuais, lê e verifica se estão conforme o que lhe parece bem, embora não saiba muito bem o que quer que cada um faça.
Passo 6. O avaliador (o tal que no Natal passado deu os presentes mais caros) visita três vezes pré-acordadas a casa de cada um dos avaliados e verifica como eles se portam. Leva uma fichinha e aponta com cruzinhas se todos se tratam com respeito, se a casa está arrumadinha com as camas feitas, verifica o pó nas estantes... enfim, vê tudo o que está lá e aponta nas fichinhas. É claro, que nesse dia está tudo um «brinquinho»!
Nesses dias, inevitavelmente, terá de faltar ao trabalho, mas que se há-de fazer?! Tem de avaliar a família....
Passo 7. No final do ano acontece o preenchimento de ficha de auto-avaliação, onde cada um colocará as «evidências» do seu contributo familiar (não esquecer de apontar sistematicamente todos os passos dados, diariamente, no sentido de cumprir os objectivos apresentados e poder «prová-los». Poder-se-à, inclusivamente pedir factura detalhada da conta do telefone, para provar os telefonemas.)
Passo 8. O avô recebe e lê a ficha de auto-avaliação de cada um e compara com os objectivos fixados no início do ano. E depois avalia:
Ora, a filha só lhe fez 3 festas na cabeça. Mas propôs-se dar 2. Excedeu as expectativas. Muito Bom ou Excelente?
O neto do meio do seu mais velho propôs-se fazer 365 festas. No dia em que foi internado de urgência, não fez a respectiva festa. Insuficiente.
Mas o netinho é tão querido e a filha é tão fria.... Bem. Se tem de avaliar, tem de avaliar. (O pequenito com 3 anos é que está tramado. Não fixou objectivos.) A nora.... O filho.... o neto mais novo da filha do meio.... a sobrinha... a namorada do filho... o neto... São 26 a contar com o mais novito... Quem é que falta?...
O avaliador vê as suas fichinhas e têm todos mais ou menos a mesma avaliação. Bem, na casa da prima, é verdade que encontrou algum pó na maçaneta do armário da despensa... Enfim, terá de a penalizar, até porque se não penalizar alguém será ele o penalizado. Tem de diferenciar os elementos da família!
Passo 9. Reúnem avô e o que deu melhores presentes (o titular) e apresentam a sua avaliação a cada um dos avaliados. Ninguém concorda? Paciência.
Novo ano! Vamos lá a começar tudo outra vez!
Que bela e unida família esta!
Parece que o tal que estava a avaliar acabou por ter um AVC pois o que diziam dele começou a mexer-lhe com o sistema nervoso. O avô, esse, preferiu ir para um lar por já não aguentar tanta hipocrisia.
Já não há reuniões de família.

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