quinta-feira, 19 de março de 2009

Nova forma de ensinar

Recebi por mail.... desconheço o autor.


Naquele tempo, Jesus subiu ao monte seguido pela multidão e, sentadosobre uma grande pedra, deixou que os seus discípulos e seguidores seaproximassem. Depois, tomando a palavra, ensinou-os dizendo:
Em verdade vos digo, bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles...
Pedro interrompeu:
- Temos que aprender isso de cor?
André disse:
- Temos que copiá-lo para o caderno?
Tiago perguntou:
- Vamos ter teste sobre isso?
Filipe lamentou-se:
- Não trouxe o papiro-diário.
Bartolomeu quis saber:
- Temos de tirar apontamentos?
João levantou a mão:
- Posso ir à casa de banho?
Judas exclamou:
- Para que é que serve isto tudo?
Tomé inquietou-se:
- Há fórmulas? vamos resolver problemas?
Tadeu reclamou:
- Mas porque é que não nos dás a sebenta e... pronto!?
Mateus queixou-se:
- Eu não entendi nada... ninguém entendeu nada!
Um dos fariseus presentes, que nunca tinha estado diante de uma multidão nem ensinado nada, tomou a palavra e dirigiu-se a Ele, dizendo:
- Onde está a tua planificação? Qual é a nomenclatura do teu plano de aula nesta intervenção didáctica mediatizada? E a avaliação diagnóstica? E a avaliação institucional? Quais são as tuas expectativas de sucesso? Tens para a abordagem da área em forma globalizada, de modo a acesso à significação dos contextos, tendo em conta a bipolaridade da transmissão?Quais são as tuas estratégias conducentes à recuperação dos conhecimentos prévios? Respondem estes aos interesses e necessidades do grupo de modo a assegurar a significatividade do processo de ensino-aprendizagem? Incluíste actividades integradoras com fundamento epistemológico produtivo? E os espaços alternativos das problemáticas curriculares gerais? Propiciaste espaços de encontro para a coordenação de acções transversais e longitudinais que fomentem os vínculos operativos e cooperativos das áreas concomitantes? Quais são os conteúdos conceptuais, processuais e atitudinais que respondem aos fundamentos lógico, praxeológico e metodológico constituídos pelos núcleos generativos disciplinares, transdisciplinares, interdisciplinares e metadisciplinares?Caifás, o pior de todos, disse a Jesus:
- Quero ver as avaliações do primeiro, segundo e terceiro períodos e reservo-me o direito de, no final, aumentar as notas dos teus discípulos, para que ao Rei não lhe falhem as previsões de um ensino de qualidade e não se lhe estraguem as estatísticas do sucesso. Serás notificado em devido tempo pela via mais adequada. E vê lá se reprovas alguém! Lembra-te que ainda não és titular e não há quadros de nomeação definitiva.
... E Jesus pediu a reforma antecipada aos trinta e três anos

quinta-feira, 12 de março de 2009

Parabéns à GALP

No ano passado, para ir ver os meus pais (o que faço uma vez por mês), cheguei a gastar (um depósito de gasolina) 74€. Para ir trabalhar, encho o depósito de 10 em 10 dias. Enquanto isso, ouvia nas notícias a queda do preço do petróleo. Parabéns a mim também pelo meu contributo.

Honestidade... Vai desaparecendo


quarta-feira, 11 de março de 2009

Ainda a "educação"

por Manuel António Pina no JN

O conflito aberto do actual ME não só com os professores mas também com a língua portuguesa não é apenas sintoma da incultura e do "porreirismo pá", terreno propício à arrogância e à pesporrência, por ali dominantes. É sintoma de algo mais grave, e estrutural, pois dir-se-ia previsível que, num ministério da "educação" cujas políticas perderam de vista quaisquer objectivos de "instrução", substituídos por aquilo que, em eduquês padrão, é designado por formulações obtusas como "aprender a aprender" ou "desenvolvimento de competências", sejam inteiramente irrelevantes práticas ou pessoas instruídas.
Mesmo que, por hipótese, fosse possível organizar (sob os auspícios, sei lá, das Novas Oportunidades) uma Conferência de Paz entre a responsável da DREN ou o secretário de Estado Valter Lemos (aquele das propostas "colocadas 'de' cima da mesa") e a Gramática, ou entre o "Magalhães" e a Ortografia, o problema central manter-se-ia. No actual estado de coisas, o cínico ditado segundo o qual "quem não sabe fazer ensina", deve, mais apropriadamente, ser substituído por "quem não sabe ensinar 'educa'".

VOCÊ TEM PROVAS DO QUE ESTÁ PARA AÍ A DIZER?

por João Miguel Tavares no DN

A minha caixa de correio electrónico teve uma semana atarefada. Há oito dias eu defendi aqui que José Sócrates carecia de moral para andar a pregar a decência na política portuguesa, e, de caminho, apelidava a sua licenciatura de "manhosa" e os seus projectos na Guarda de "duvidosos". Muitos leitores indignaram-se com tais adjectivos e contrapuseram invariavelmente o mesmo argumento: onde estão as minhas "provas das supostas acusações"?
Vale a pena discutir este argumento, que de certa forma é uma extensão daquele que Sócrates utilizou na abertura do congresso: se o povo me elegeu e a justiça não me acusou, quem são os jornalistas para andarem a engendrar "campanhas negras"? Ora, há aqui uma perigosa confusão entre aquilo que é o plano da justiça, aquilo que são responsabilidades políticas e aquilo que é o papel dos jornais. Levado ao extremo, este raciocínio impediria que se criticasse publicamente quem quer que fosse, a não ser que houvesse uma condenação prévia dos tribunais (única instância capaz de avaliar a veracidade de tais provas). Caros leitores indignados: vocês não iam querer viver nesse mundo.
Os jornais têm de ser credíveis, verdadeiros, justos e equilibrados, mas não têm de apresentar provas, como se fossem uma extensão do Ministério Público. Eu não tenho dentro de mim um inspector da PJ para saber se Sócrates aldrabou a sua licenciatura, os projectos da Guarda ou a escritura do apartamento Heron Castilho. Basta-me ter lido as notícias que foram publicadas e as justificações do primeiro-ministro. O "manhoso" e o "duvidoso" nascem daí - da diferença, que me parece insanável, entre o que foi publicado e o que foi justificado. A comunicação social é um contrapeso do sistema democrático, que pressupõe respostas às questões que levanta. Ora, sobre qualquer um desses casos, só o gabinete do primeiro-ministro e, quando muito, a sua mãezinha podem considerar as respostas dadas como sendo satisfatórias. Porque não são.
O meu ponto é este: de uma coisa, José Sócrates é culpado até à ponta dos cabelos - da forma como nos tem querido convencer de que tudo isto é uma maquinação para o derrubar. Essa estratégia substituiu sempre a necessidade de dar explicações, e no entanto, todas aquelas suspeitas, da licenciatura ao Freeport, são inteiramente legítimas. Daí ser inadmissível que Sócrates negue essa legitimidade, por mera estratégia pessoal. É a futebolização da política: a culpa é sempre do árbitro, há sempre uma cabala por trás de tudo o que acontece. Ter o primeiro-ministro de Portugal a defender diariamente esta tese é uma punhalada na nossa democracia. Quem não vê isto, não vê coisa nenhuma.

CONTRA ESTA 'ESTABILIDADE'

por Baptista-BastosEscritor e jornalista no DN

Nas últimas semanas temos ouvido e lido uma palavra que, de repetida, se torna numa fastidiosa obstinação: "estabilidade." Há uma falsa serenidade, uma ilusória mansuetude no bojo desta palavra solitária. Lembrou-me, com as distâncias que a sensatez recomenda, a famosa "paz dos cemitérios", de António Sérgio. A sua utilização sempre me sugeriu, por associação de ideias, algumas frases intranscendentes que, rigorosamente, a explicam e justificam: "tenha paciência", "coma e cale-se", "quietinho no seu cantinho."
Talvez esta modesta reflexão pareça, aos olhos dos meus leitores, arbitrária e até delirante. Não o é. Vejam vocês: o que se nos pede e, subtilmente, se nos propõe é o voto no partido que, segundo os seus trompetistas, garante a calmaria social, a tranquilidade nos espíritos, o sossego nas reclamações. Tem-se visto. Batucam esta tecla com intimidante teimosia. O próprio dr. Cavaco introduziu, no seu habitual e insípido discurso, a palavra obsessivamente repisada, acaso presumindo que ela detém uma irredutível integridade.
Há um tédio recíproco entre o partido que nos pede o voto na "estabilidade" e nós, amolgados pelo triste horror do dia-a-dia, e desalentados com a nossa própria imprevidência, que, um pouco levianamente, lhe deu, há quatro anos, a maioria absoluta. Por outro lado, no conclave de Espinho foi demonstrado que existe um fervor militante espantoso, o qual permitiu, à maneira de Kim Jong-il, um unanimismo jubiloso e compacto a apoiar o líder.
A "estabilidade" não resolve problema algum, num "país embebedado pela classe política", como disse, anteontem, na SIC, o prof. Medina Carreira. A "estabilidade", contida na tal maioria absoluta, é a escora de um edifício moralmente doente, socialmente inepto, politicamente vazio, desinteressado do bem comum. Esta maioria absoluta em que sobrevivemos dramaticamente pode servir de lição às nossas decisões próximas e futuras. A "estabilidade" é redutora: inibe o debate, impõe as regras de um jogo de antemão falsificado, e apenas consente quem obedece ao suserano.
O apelo à "estabilidade" pressupõe, praticamente, o confinamento das vozes dissentes. Cujas reivindicações só encontram limitado eco no Parlamento e numa que outra das televisões. E o espectro da "desestabilização" serve para atemorizar aqueles que pensam não haver alternativa. A verdade é que podemos proceder à alteração deste rotativismo, de tão exangues exemplos no século XIX. Portugal é governável sem maiorias absolutas. Os políticos têm, somente, de atender ao espírito de missão. O que me parece arredio dos cálculos desta gente.