sábado, 10 de junho de 2006

Insatisfação

Três em cada quatro docentes insatisfeitos com o Ministério da Educação
09.06.2006 - 17h40 Lusa



Três em cada quatro docentes estão insatisfeitos com as políticas do Ministério da Educação e cerca de 90 por cento sentem-se pouco apoiados pela tutela, de acordo com as conclusões de um inquérito apresentado hoje pela Associação Nacional de Professores (ANP).

Segundo esta pesquisa, elaborada pelo Instituto Politécnico de Castelo Branco com base numa amostra de 3252 professores de todo o país e de todos os níveis de ensino - num universo de 148 mil docentes - 74,9 por cento dos inquiridos consideram que as medidas introduzidas pela tutela não são as mais adequadas.

A nível pessoal, a maioria dos docentes diz-se satisfeita com o seu desempenho profissional e tem uma boa auto-imagem do seu trabalho, mas quase 44 por cento não escolheriam ser professores, se hoje pudessem voltar atrás.

Para esta ideia parece contribuir o facto de quase dois terços dos professores sentirem que o seu trabalho não é reconhecido e de mais de 92 por cento estarem preocupados com o futuro profissional.

A escola não se apresenta, no entanto, como um problema para a maioria dos educadores, que dizem estar satisfeitos com o ambiente interno, com os órgãos de gestão e com a atenção que os estabelecimentos de ensino disponibilizam às crianças e jovens com necessidades educativas especiais.

Maior preocupação trazem os alunos, que mais de 60 por cento dos professores inquiridos consideram manifestar pouco interesse nas aprendizagens.

Para a ANP, que encomendou este inquérito, os índices de descontentamento no sector são preocupantes, havendo o risco de se assistir a "uma deserção dos profissionais e a uma falta de alunos a querer seguir a profissão, como já está a acontecer em vários países da Europa".

"O mal-estar que hoje se sente tem muito a ver com as afirmações dos governantes e com uma exposição social negativa. Com estes elementos, a ministra deve parar um pouco para pensar e reequacionar a opinião que tem dos professores", afirmou o presidente da ANP, João Grancho, em conferência de imprensa em Lisboa.

Realizado entre 24 de Fevereiro e 10 de Maio, o inquérito decorreu antes de ser apresentada a proposta da tutela de alteração ao Estatuto da Carreira Docente (ECD), que prevê, entre outras coisas, a participação dos pais na avaliação dos professores e a imposição de quotas na progressão na carreira, aspectos que estão actualmente a gerar grande polémica entre a classe.

Até essa data, uma das medidas do Ministério da Educação que merecia maior oposição dos professores era, segundo este estudo, as alterações introduzidas este ano no concurso nacional, que determinaram a existência de colocações plurianuais obrigatórias.

Quase 47 por cento dos docentes inquiridos disseram discordar da política seguida pelo ministério no que diz respeito ao concurso e a maioria prefere o sistema de colocações anuais, apesar de quase 90 por cento reconhecer que o modelo anterior causava instabilidade profissional.

O Ministério da Educação não é, porém, o único a merecer uma nota negativa por parte dos docentes que participaram neste estudo. A actuação dos sindicatos é também alvo de críticas para mais de 55 por cento dos inquiridos.

Mais de dois terços defendem mesmo a criação de uma Ordem dos Professores, uma entidade que consideram poder garantir melhores condições de trabalho, assegurar mais eficazmente os direitos e deveres da classe e, sobretudo, dar mais prestígio à profissão.

Cerca de 77 por cento entendem, no entanto, que a Ordem deve coexistir com os sindicatos, ficando estes responsáveis pela defesa das questões salariais e com o papel de interlocutor junto do Governo.

O inquérito conduzido pelo Centro de Estudos e Desenvolvimento Regional do Instituto Politécnico de Castelo Branco tem uma margem de erro de 1,72 por cento.

2 comentários:

soledade disse...

Se a economia não estivesse tão deprimida e o desemprego nos níveis a que chegou, até aqueles que adoram ser professores e o são a ponto de a profissão integrar a própria identidade, até esses, começariam a partir. E começarão, que o desânimo e o desespero podem muito.

zoltrix disse...

claro que vão partir!
Aliás, dentro de 6 anos já teremos défice de profes, acreditem....
Alguns até partirão para Inglaterra que é o que está a dar, pois já levam estapolítica de destruição do ensino público há alguns anos...