Insatisfação
A nível pessoal, a maioria dos docentes diz-se satisfeita com o seu desempenho profissional e tem uma boa auto-imagem do seu trabalho, mas quase 44 por cento não escolheriam ser professores, se hoje pudessem voltar atrás.
Para esta ideia parece contribuir o facto de quase dois terços dos professores sentirem que o seu trabalho não é reconhecido e de mais de 92 por cento estarem preocupados com o futuro profissional.
A escola não se apresenta, no entanto, como um problema para a maioria dos educadores, que dizem estar satisfeitos com o ambiente interno, com os órgãos de gestão e com a atenção que os estabelecimentos de ensino disponibilizam às crianças e jovens com necessidades educativas especiais.
Maior preocupação trazem os alunos, que mais de 60 por cento dos professores inquiridos consideram manifestar pouco interesse nas aprendizagens.
Para a ANP, que encomendou este inquérito, os índices de descontentamento no sector são preocupantes, havendo o risco de se assistir a "uma deserção dos profissionais e a uma falta de alunos a querer seguir a profissão, como já está a acontecer em vários países da Europa".
"O mal-estar que hoje se sente tem muito a ver com as afirmações dos governantes e com uma exposição social negativa. Com estes elementos, a ministra deve parar um pouco para pensar e reequacionar a opinião que tem dos professores", afirmou o presidente da ANP, João Grancho, em conferência de imprensa em Lisboa.
Realizado entre 24 de Fevereiro e 10 de Maio, o inquérito decorreu antes de ser apresentada a proposta da tutela de alteração ao Estatuto da Carreira Docente (ECD), que prevê, entre outras coisas, a participação dos pais na avaliação dos professores e a imposição de quotas na progressão na carreira, aspectos que estão actualmente a gerar grande polémica entre a classe.
Até essa data, uma das medidas do Ministério da Educação que merecia maior oposição dos professores era, segundo este estudo, as alterações introduzidas este ano no concurso nacional, que determinaram a existência de colocações plurianuais obrigatórias.
Quase 47 por cento dos docentes inquiridos disseram discordar da política seguida pelo ministério no que diz respeito ao concurso e a maioria prefere o sistema de colocações anuais, apesar de quase 90 por cento reconhecer que o modelo anterior causava instabilidade profissional.
O Ministério da Educação não é, porém, o único a merecer uma nota negativa por parte dos docentes que participaram neste estudo. A actuação dos sindicatos é também alvo de críticas para mais de 55 por cento dos inquiridos.
Mais de dois terços defendem mesmo a criação de uma Ordem dos Professores, uma entidade que consideram poder garantir melhores condições de trabalho, assegurar mais eficazmente os direitos e deveres da classe e, sobretudo, dar mais prestígio à profissão.
Cerca de 77 por cento entendem, no entanto, que a Ordem deve coexistir com os sindicatos, ficando estes responsáveis pela defesa das questões salariais e com o papel de interlocutor junto do Governo.
O inquérito conduzido pelo Centro de Estudos e Desenvolvimento Regional do Instituto Politécnico de Castelo Branco tem uma margem de erro de 1,72 por cento.
2 comentários:
Se a economia não estivesse tão deprimida e o desemprego nos níveis a que chegou, até aqueles que adoram ser professores e o são a ponto de a profissão integrar a própria identidade, até esses, começariam a partir. E começarão, que o desânimo e o desespero podem muito.
claro que vão partir!
Aliás, dentro de 6 anos já teremos défice de profes, acreditem....
Alguns até partirão para Inglaterra que é o que está a dar, pois já levam estapolítica de destruição do ensino público há alguns anos...
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