domingo, 11 de fevereiro de 2007

As faltas...

Absentismo

Autor: Diáfana



Antes de mais, gostaria de informar que sou a favor de actividades de substituição, insisto na palavra “actividades”, aquando da falta de um docente numa turma. O artigo que hoje faz a 1ª página do JN tem, a meu ver, dois desméritos: reitera a ideia sobre os altos índices de falta de assiduidade dos docentes que supostamente se verificava e, bem pior do que isso, elege as ditas aulas(?!) de substituição como panaceia das medidas “patchwork” do Ministério da Educação.

Estes dois aspectos em nada contribuem, quer para a recuperação da dignidade dos docentes, quer para a resolução do tal combate ao absentismo e subsequente melhoria do processo ensino-aprendizagem dos alunos.
Vamos a exemplos concretos. Um docente de Físico-Química tem 150 aulas previstas para o ano lectivo. Por razões que não me interessam, o referido docente apresenta falta de assiduidade de forma justificada, à luz do enquadramento legal e, no final do ano, o total de aulas leccionadas pelo professor foi de 120 aulas, as restantes 30 foram colmatadas por “aulas” de substituição. Na teoria, os alunos tiveram 150 aulas de Físico-química ( os sumários são numerados e mesmo que seja um docente de Inglês a ocupar os alunos, por exemplo, com a discussão em torno da importância da Revolução Industrial, ou do papel de W.Churchill na 2ª guerra mundial, ou ainda sobre assuntos/actividades sobre Cidadania, a numeração como aula de Físico-Química segue a ordem.) mas efectivamente, e na prática, o programa da disciplina não foi dado na totalidade. Impossível. As ditas substituições vieram encobrir com o seu manto diáfano o falacioso absentismo mas a falha de aprendizagem/conhecimentos a Física-Química permanece. Dentro do que está previsto, os pais quererão saber por que razão o programa da dita disciplina não foi cumprido. Lógico. E como a classe docente tem ( aspecto talvez desconhecido por muita gente) de justificar, e bem, em acta as razões do não cumprimento de programas/panificações, adivinhem o resto…Talvez o Ministério da Educação distribua uns boletins a preencher, futuramente, com cruzinhas.
Segundo exemplo, no ensino secundário: os “API” – apoio pedagógico individualizado – visa apoiar alunos ao abrigo do 309 ( comprovadamente com deficiências físicas ou psíquicas) e ainda alunos vindos recentemente de países estrangeiros( mormente no que diz respeito à disciplina de Português)- são disponibilizados pelas Escolas, desde que estas tenham, e costumam ter, condições para os dar. Como esclarece a própria designação, trata-se dum apoio adaptado ao aluno, onde se trabalha ombro a ombro, no aqui e agora. Estes apoios têm lugar, isto é, encaixam-se, nos momentos em que a turma a que pertence o aluno a apoiar está sem aulas, ou seja, furo de horário. O docente de Português falta num dia e como é difícil fazê-lo substituir por outro da mesma disciplina, envia-se um professor de qualquer outra disciplina para dar a tal substituição! E enumera-se a dita aula, e o aluno, “voilá”, teve “aula” e a ausência do titular da disciplina foi liminarmente erradicada. Mas a turma estava em furo de horário… mas o aluno precisava de apoio a Português, logo, que ganha este aluno? Nada. Perdeu a possibilidade de conviver com os colegas da turma que se encontrava em furo de horário, perdeu o seu tempo a falar de nadas que nada tinham a ver com as suas dúvidas a uma determinada disciplina….perdeu, talvez, a inocência( falamos de alunos com mais de 15 anos e eles não são parvos!) ao acreditar que o M.E o queria ajudar, sentiu ( e tenho provas disso) que o M.E. não respeita a sua individualidade, o seu estatuto, percebeu que o M.E. o quer atulhar com fardos de palha e aditivos….mas se é em nome do combate “eficaz” ao absentismo, ideia aplaudida pela nossa sociedade de experts, omnipresentes, quer no talho ao lado, quer por entre a charcutaria das grandes superfícies, quer por uma larga maioria dos jornalistas da nossa praça, respeite-se, pois, esta política e continue-se a ovacionar e a tecer loas que é na quantidade que está a qualidade.
Da dignidade profissional dos docentes, estamos mais que esclarecidos, mas roubá-la aos nossos jovens “acarneirando-os”… até quando?
E eu que até sou favorável às “aulas” de substituição, noutros moldes, claro, fará se o não fosse..

Saudações domingueiras

Diáfana


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