quinta-feira, 31 de maio de 2007

Irritação

Estou zangada.

Em processo de mudança de Executivo a decorrer na minha escola, acho piada aos argumentos.
Quem muito ladra, nunca morde. Falam, criticam, mas alternativas ninguém apresenta. Com uma reduzida amostra de candidatos elegíveis, acontece aparecer alguém que «quer». E é tão importante querer... nada se faz quando se está «por estar». E, se alguém quer, há que lhe dar as condições para «reinar». Porque mais ninguém quis. Eu, sendo «elegível», não quero. Mas, como não quero, apoio quem quer. Os outros, não apoiam nada, mas criticam tudo.

Faz-me pensar na greve. Todos falam mal do Governo. Todos criticam tudo. Ninguém vê o mínimo de coerência. Mas quantos fizeram greve? (e não me conotem com partidos!.... fiz greve e sou «tradicionalmente» inclinada para a direita, porque sei que somos todos muito iguais, mas todos MUITO diferentes.... Quero lá saber de partidos!)

Não me chateiem. Sejam coerentes.

Adenda:
Mas por falar de partidos... Por que razão a UGT não aderiu à greve? Que outras estratégias de luta estão a desenvolver? Serei eu que estou completamente enganada e a ver tudo mal? Este governo está lúcido?

Agora, sinto-me cada vez mais a tombar para a esquerda... Será porque uma extrema direita está no governo?

terça-feira, 29 de maio de 2007

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Prémio Nacional de Melhor Professor


Há realmente ainda quem seja absoluta e completamente coerente.
Quando se ouvem os sindicatos a aconselhar todos a concorrer, «senão....», há pessoas como a
Teresa Marques, do Tempo de Teia. Porque basta ler o ECD para se perceber o «serviço» dos titulares. E nada daquilo tem a ver com alunos. Mas fica-se «parado» no bolso. Pois é. Só mesmo os mais corajosos podem ser coerentes. Provavelmente, se pudesse concorrer, apesar de em nada me rever nas funções dos ditos cujos, a parte que entra no bolso talvez me levasse a baixar a cabeça e, servilmente, acabasse por preencher a inscrição.
Mas a Teresa pode concorrer e, diante do problema que para ela não é apenas virtual, diz:



Ah, e aproxima-se o concurso para professor titular... a prova de fogo à minha obstinação pela coerência e pelo direito a optar pelo percurso que entendo ser o mais ajustado às minhas características profissionais (tenho queda para soldado, o que é que querem?). Pagarei, sei, por esse direito à escolha, que, portanto, direito não é. Serei penalizada daqui para a frente, marcando passo na coisa financeira, na coisa da carreira, mas pronto. Alma serena.

Ah, e agora hei-de andar congelada até 2009... eu, que em teoria deveria ter passado para o 9º, processo concluído, apenas por uma semana a expectativa gorada de mais um aconchego mensal no salário. Duplamente penalizada agora que optarei por, mais uma vez, me autocongelar no 5º da nova carreira... aguardando o descongelamento um dia, sabe-se lá quando, que me permitirá receber o tal vencimento a que tenho direito (teria) correspondente ao escalão real em que devia estar colocada.

Ao ouvir a notícia de manhã... ocorreu-me este pensamento perverso... que tal congelar um pouco a minha actividade no que respeita aos extras que ofereço ao sistema, por conta do tempo da componente individual que deixei de ter mas que insisto em roubar à vida para que o desempenho se mantenha nos níveis de exigência que são os meus padrões?
O que me faz dar, dar, dar, dar, quando a recompensa recebida é ver desaparecer aquilo a que tenho direito? Quando me tratam assim tirando, tirando, tirando?

Apreciando o estado de anormal cansaço em que me encontro neste final de ano lectivo, vou fazer um balanço sério nestas férias e verificar realmente como poderei fazer para ser a melhor professora para aqueles que precisam de mim, não me esgotando em ofertas ao sistema que o não merece. Não é amargura, ou desalento, não. É clareza de espírito. É constatação de que se continuar a este ritmo, os alunos acabarão por sofrer as consequências das minhas limitações físicas. Isso, dê lá por onde der, nunca deixarei acontecer. Sacrificarei o que tiver de ser sacrificado, nunca a minha total disponibilidade e o meu completo envolvimento com os pequenitos colocados a meu cargo.

Mais atrás diz também:
Ah, é verdade, falava eu da greve um destes dias e ouvi, algures entre a brincadeira e alguma apreensão: olhe que se fizer pode ser despedida! Despedida? Sim. Não sabe que têm de dar o seu nome lá para cima? Para que acha que é? Fica na lista negra...

Antes na lista negra... que na lista inócua e branca.

Eu também vou para a famosa «listinha»...

Feche-se! :-)

Da caixa de comentários do 4R - Quarta República

Pinho Cardão said...

Pois eu, durante algum tempo, e há muitos anos, ainda julguei que o Ministério da Educação era reformável, no sentido de se poder renovar.
Falando a sério, há muito que não penso assim . Pelo que a solução é mesmo fechar, e não digo isto com ironia. É fechar mesmo, acabar, terminar!...
E pôr na rua sem justa causa todos aqueles que advogam os novos métodos de leitura global, que constituem exercícios de adivinhação e não levam ninguém a saber ler, todos os que desaconselham a tabuada, todos os que se opõem aos exames para efeitos de classificação dos alunos, e desde o 3º ano, todos os que dizem que o primeiro ano é para a criança se aclimatar à escola, todos os que confundem o aprender com uma actividade lúdica, pois aprender custa sempre e não diverte, todos os que apenas querem fazer bacharéis, com umas luzes tecnocráticas e sem qualquer espírito crítico, todos os que recomendam o TLEBS e dizem que é uma conquista científica, todos os que inventaram os exames que não são para avaliar alunos, todos os que desaconselham os trabalhos de casa, todos os que favorecem a linguística em relação à literatura, todos os que desprezam os exercícios de memória...eu sei lá!...Este simples apanhado, ao correr da pena, dá ideia do completa loucura que grassa pelo ministério e a que os ministros não conseguem pôr cobro, antes são arrastados pela onda. Feche-se, pois, que o ministério da educação é o maior deseducador nacional.
Feche-se e crie-se outro, a milhas, com um vigésimo do pessoal, completamente diferente!...

domingo, 20 de maio de 2007

Delicioso :-)

Mail da Amélia

Sinfonia Inacabada de Franz Schubert


Um administrador, adepto de primeira hora da doutrina neoliberal, ganhou um convite para assistir a um concerto da Sinfonia Inacabada de Franz Schubert. Como estivesse impossibilitado de comparecer, deu o convite ao seu gerente de Organização, Sistemas e Métodos.

Na manhã seguinte, o administrador perguntou-lhe se tinha gostado do concerto. Ao invés de comentários sobre o que ouvira e vira recebeu o seguinte relatório:

Circular Interna nº 13/03

De: Gerência de Organização, Sistemas e Métodos
Para: Directoria

Ref: Sinfonia Inacabada

1-Por um período considerável de tempo, os músicos com oboé não tinham nada para fazer. O seu número deveria ser reduzido e o seu trabalho redistribuído pelos restantes membros da orquestra, evitando-se assim estes picos de inactividade;

2-Todos os violinos da primeira secção, doze ao todo, tocavam notas idênticas. Isso parece ser uma duplicação desnecessária de esforços e o número de violinos nessa secção deveria ser drasticamente reduzido.
Se fosse necessário um volume de som alto, isso poderia ser obtido através do uso de um amplificador;

3- Muito esforço foi despendido ao tocarem semitons. Isto parece ser um preciosismo desnecessário e seria recomendável que as notas fossem executadas no tom mais próximo. Se isso fosse feito, poder-se-iam utilizar estagiários em vez de profissionais;

4-Não há utilidade prática em repetir com os metais a mesma passagem já tocada pelas cordas. Se toda esta redundância fosse eliminada, o concerto poderia ser reduzido de duas horas para apenas vinte minutos;

5-Enfim, resumindo as observações dos pontos anteriores, podemos concluir que, se Schubert tivesse dado um pouco de atenção a estes pontos, talvez tivesse tido tempo para acabar a sua Sinfonia Inacabada.

Sonho dos Outros

Estive a ouvir isto ao vivo pelas mãos do Laginha e do Sassetti





Neste momentos, depois desta simplicidade perfeita, quero lá saber da complexidade imperfeita de tudo o resto...

Esta música lembra-me a suavidade das palavras da Soledade e leva-me para outras paisagens...

sábado, 19 de maio de 2007

Anedotário

Professor de Inglês suspenso de funções por ter comentado licenciatura de Sócrates
19.05.2007 - 10h09 Mariana Oliveira

Um professor de Inglês, que trabalhava há quase 20 anos na Direcção Regional de Educação do Norte (DREN), foi suspenso de funções por ter feito um comentário – que a directora regional, Margarida Moreira, apelida de insulto – à licenciatura do primeiro-ministro, José Sócrates.

A directora regional não precisa as circunstâncias do comentário, dizendo apenas que se tratou de um "insulto feito no interior da DREN, durante o horário de trabalho". Perante aquilo que considera uma situação "extremamente grave e inaceitável", Margarida Moreira instaurou um processo disciplinar ao professor Fernando Charrua e decretou a sua suspensão. "Os funcionários públicos, que prestam serviços públicos, têm de estar acima de muitas coisas. O sr. primeiro-ministro é o primeiro-ministro de Portugal", disse a directora regional, que evitou pormenores por o processo se encontrar em segredo disciplinar. Numa carta enviada a diversas escolas, Fernando Charrua agradece "a compreensão, simpatia e amizade" dos profissionais com quem lidou ao longo de 19 anos de serviço na DREN (interrompidos apenas por um mandato de deputado do PSD na Assembleia da República).

No texto, conta também o seu afastamento. "Transcreve-se um comentário jocoso feito por mim, dentro de um gabinete a um "colega" e retirado do anedotário nacional do caso Sócrates/Independente, pinta-se, maldosamente de insulto, leva-se à directora regional de Educação do Norte, bloqueia-se devidamente o computador pessoal do serviço e, em fogo vivo, e a seco, surge o resultado: "Suspendo-o preventivamente, instauro-lhe processo disciplinar, participo ao Ministério Público"", escreve.

A directora confirma o despacho, mas insiste no insulto. "Uma coisa é um comentário ou uma anedota outra coisa é um insulto", sustenta Margarida Moreira. Sobre a adequação da suspensão, a directora regional diz que se justificou por "poder haver perturbação do funcionamento do serviço". "Não tomei a decisão de ânimo leve, foi ponderada", sublinha. E garante: "O inquérito será justo, não aceitarei pressões de ninguém. Se o professor estiver inocente e tiver que ser ressarcido, será."


Neste momento, Fernando Charrua já não está suspenso. Depois da interposição de uma providência cautelar para anular a suspensão preventiva e antes da decisão do tribunal, o ministério decidiu pôr fim à sua requisição na DREN. Como o professor, que trabalhava actualmente nos recursos humanos, já não se encontrava na instituição, a suspensão foi interrompida. O professor voltou assim à Escola Secundária Carolina Michäelis, no Porto. O PÚBLICO tentou ontem contactá-lo, sem sucesso.

No entanto, na carta, o professor faz os seus comentários sobre a situação. "Se a moda pega, instigada que está a delação, poderemos ter, a breve trecho, uns milhares de docentes presos políticos e outros tantos de boca calada e de consciência aprisionada, a tentar ensinar aos nossos alunos os valores da democracia, da tolerância, do pluralismo, dos direitos, liberdade e garantias e de outras coisas que, de tão remotas, já nem sabemos o real significado, perante a prática que nos rodeia."

sexta-feira, 18 de maio de 2007

De Sttau Monteiro

Redacções da Guidinha
O ensino superior comprido e o ensino superior curto

Ora vejam lá se não se está mesmo a ver que esta gente é doida sim ora vejam lá que digo isto porque agora como não tinham mais nada a fazer criaram o Ensino Superior Curto ora com as faltas as greves as férias os sarilhos e mais isto e mais isto o ensino superior já estava tão curto que se lhe tirassem um bocado deixava de se ver mas eles a essas coisas não ligam como não ligam à lógica sim porque das duas uma ou o ensino superior é comprido em demasia e então deve ser encurtado porque é estúpido manter os meninos a estudar mais tempo do que o necessário ou tem exactamente o tamanho necessário e não pode ser encurtado e nesse caso o tal ensino novo é o que quiserem menos curto o que ele não é com certeza é superior de qualquer forma o que isso prova é a riqueza bestial deste país que tem uma universidade velha uma universidade nova e que agora passa a ter também uma universidade curta o meu Pai diz que a universidade curta foi criada para dizer com o cabaz das compras com os ordenados e que estão cada vez mais curtas por causa da inflação de qualquer forma isto vai dar uma confusão danada porque nós já tínhamos os doutores por extenso os drs. sem ser por extenso e agora vamos ficar com os drs. curtos porque mais dia menos dia os drs. curtos reivindicam o direito de ter o mesmo tratamento dos drs. compridos e vão para a rua berrar que a diferença é uma discriminação que não se admite numa democracia não sei se o regime vai mudar todo ou se fica tudo na mesma cá por mim apresento uma sugestão como as aulas da Universidade Comprida duram 50 minutos proponho que as aulas das Universidades Curtas durem 10 minutos como os professores da Universidade Comprida são normais proponho que se cortem as pernas dos professores da Universidade Curta para eles ficarem mais curtos como os alunos da Universidade Comprida estudam por livros normais proponho que a direcção da Reader's Digest seja incumbida de resumir os textos para o ensino curto onde os alunos da Universidade Comprida por exemplo estudam que o valor de pi (passe a ortografia mas a minha máquina não tem o símbolo) é 14,16 etc. os alunos da Universidade Curta devem estudar que total de pi vale 10,15 aos cursos de humanidades da Universidade Curta também se deve facilitar a vida aos licenciados curtos da seguinte forma onde os da Universidade Comprida dizem D. Pedro V os da Universidade Curta devem dizer D. Pedro II é certo que isso pode dar uma certa confusão mas é igualmente certo que os desgraçados não têm tempo para estudar mais porque se começarem a estudar acaba-se-lhes o curso antes de chegarem ao fim do estudo no meio disto tudo o que eu digo é que inventaram esta Universidade Curta por o Cardia da Educação ser tão pequenino se ele fosse mais comprido nada disso acontecia agora lá como é que ele vai se amanhar com tanta Universidade é que ninguém sabe porque se está mesmo a ver que ele nem com a Comprida se safa quanto mais com a comprida e com a curta e como nestas coisa de demagogia não há rei nem roque eu cá por mim proponho que se acabe mesmo com as universidades e que se introduza na Constituição uma regra dizendo Cada português é doutor por direito próprio se seguissem este meu plano acabavam os complexos punha-se termo aos privilégios e poupava-se muita lata nos canudos que na Universidade Curta passam a ter o tamanho das pasta de pomada para lavar os dentes uma coisa que vai ter é piada é arranjar nome para as coisas da Universidade Curta os lentes por exemplo passam a ser o quê nessa universidade? vidrinhos sem graduação? e os doutores honnoris causa? será que vão passar a chamar nessa universidade doutores honnoris causita? ou doutores honnoris curta? e quem vai ser o director? o Marcelo Curto? bem sei que este último problema não é grave porque não faltam por aí curtos de toda a espécie para leccionar e as cátedras? passarão a chamar-se bancos de cozinha? enfim se isto tudo tem uma moral essa moral é que ter um ministro da educação que dá pela cintura da gente acaba por se reflectir no tamanho dos cursos e dito isto aqui vão as notícias da Graça como é natural a Graça vai bem e recebem a notícia da Universidade Curta com grande entusiasmo para dizer a verdade e para que se possam avaliar esse entusiasmo informo que já se organizou uma comissão incumbida de propor ao dr. Mário Soares que instale a Reitoria da Universidade Curta aqui no bairro é certo que não temos edifícios apropriados mas numa rua cujo nome não revelamos há um vão de escada desocupado e como a Universidade é curta talvez lá caiba a ministra da educação pode lá entrar sem bater com a cabeça no vão da porta disso estamos certos deve ser a única portuguesa que consegue isso mas antes conseguir isso que não conseguir nada

In O Jornal, 12 Agosto 1977.

O que está a bold foi feminizado...

sábado, 5 de maio de 2007

Demolidor

Artigo de João Peres

(...)O segundo reparo respeita à não aplicação da suspensão da TLEBS ao Ensino Secundário, já referida na comunicação social.

(...)

O primeiro caso reporta-se à autoria dos programas do Básico em vigor, aprovados em 1991. Não faço a mínima ideia de quem foram os “especialistas de reconhecido mérito” que produziram um trabalho tão caótico relativamente à gramática, mas, como pelos frutos se vê a árvore, estiveram decerto longe de constituir a melhor selecção possível. O segundo caso respeita aos já referidos programas do Secundário, em vigor desde 2003, os quais têm seis autores, três que julgo serem docentes do Secundário e três universitários, dos quais apenas um doutorado (em 2000); a presença dos primeiros é inquestionável (assim tenham sido os mais indicados para a função); quanto aos três universitários, fica-se atónito, não só perante a modéstia dos currículos, mas também pelo facto de dois deles trabalharem na área do ensino de português como língua não materna (sobre o terceiro, nem consigo obter informação, para além da aparente ligação a uma universidade privada)

(...)

Parece-me, pois, indiscutível que há casos em que o Ministério não se preocupa com a transparência das suas escolhas de colaboradores junto das universidades e outros em que ou não procura o tal “reconhecido mérito” ou, se procura, pouco acerta.

(...)

Acredito que as dificuldades específicas do trabalho linguístico a que acabo de aludir podem ser ultrapassadas pelo trabalho colectivo, pela discussão e confrontação de perspectivas e teorias, ou seja, entregando, efectivamente o trabalho à “comunidade científica”.
Curiosamente, a Senhora Ministra parece estar convencida de que isso já aconteceu, pois afirmou que “a revisão da gramática (...) foi devolvida à comunidade científica, que tem de se entender sobre o assunto” (cf. ib.). Tem de ser devolvida, claro, mas ainda não dei por que o tivesse sido (e já consultei alguns muito bons linguistas, insuspeitos de serem meus apoiantes incondicionais nesta luta) e acho que a Senhora Ministra ou está mal informada ou está iludida. Se se pensa que tal devolução consiste em entregar a revisão a um linguista e a um especialista de Estudos Literários, nos termos conhecidos, ou se está a tornear a questão ou existem planos secretos de alargamento da discussão que a mesma comunidade científica ainda desconhece. Se, por outro lado, se imagina que a referida devolução passa por uma Conferência generalista, em que em simultâneo se tratam questões de gramática e de cânone literário, de multilinguismo e de identidade do professor de português, então quando acabarem tais interessantes trocas de ideias, cujo relato certamente não deixará de ser de grande proveito para quem se interessa pelo ensino do Português genericamente entendido, avisem a comunidade científica que tem a gramática por seu objecto para que o trabalho que está em causa com a TLEBS tenha finalmente início.

(...)
Generalizando para além do problema que motiva este escrito, entendo que o ME deveria ter com o Ensino Superior uma relação transparente sobre prestação de serviços, em particular os respeitantes a programas e questões afins.

(...)

Se tiver vida e saúde, tenho planos de produção bibliográfica para os próximos dez anos (não, não incluem rendosas gramáticas didácticas), com uma equipa de qualidade que não procura nem as luzes da ribalta, nem poder nem quaisquer benesses.

terça-feira, 1 de maio de 2007

Inquisição

http://quartarepublica.blogspot.com/2007/04/de-novo-mtodos-da-inquisio.html

Adenda 1:
http://jn.sapo.pt/2007/04/30/opiniao/dos_beneficios_denuncia.html

(...) De que tem mais medo, padre Bartolomeu Lourenço, do que poderá vir a acontecer, ou do que está acontecendo, Que queres dizer, Que já o Santo Ofício acaso se está aproximando como se aproximou de minha mãe, conheço bem os sinais, é como uma aura que envolve aqueles que se tornaram suspeitos aos olhos dos inquisidores, ainda não sabem do que vão ser acusados e já parecem culpados (...)

Memorial do Convento - Saramago


Adenda 2:

O inimitável Baptista-Bastos no DN

Adenda 3:

No Paulo Guinote a mesma área temática...



.

Eu, me, mim, migo

A propósito da notícia no DN e dos respectivos comentários em vários blogues, reparei que nunca aqui reflecti sobre os «meus» alunos. E nem é por isso que por aqui ando. O que aqui me trouxe inicialmente foi a TLEBS e a estupidez da sua estouvada implementação. Depois fui ficando e postando ao sabor das raivas que vou sentindo por quem nos desgoverna.

Que me apetece dizer das turmas deste ano? Dois 12ºs e um CEF equivalente a um 10º com estágio no final do ano. Da noite nem falo de tão pacífico que é lidar com adultos – embora os haja que algum trabalho dão, há pois há, os poucos que tentam salvar-se a copiar para terem menos trabalho que os outros.

Uma das turmas de 12º (a minha DT) é recheada de alunos interessados, aplicados, participativos. Esperam-nos já à porta da sala (...não têm inveja?). Não me lembro de uma turma assim. Disse-o hoje aos pais na reunião. E disse-lhes também (e sorri ao ver os sorrisos) que provavelmente a culpa era dos pais. Se nos rimos um bocado de alguma coisa e é necessário voltar ao trabalho, que o tempo é curto, imediatamente põem os pés no chão e voltam à labuta. Já a outra turma é mais descontraída com uma aluna excelente e vários bons alunos, mas com conversas cruzadas nas aulas que com elas nada têm a ver e a quem se tem de chamar a atenção várias vezes antes de se conseguir «obrigá-los» a voltar à terra. Mas são todos simpáticos, bem-educados, tranquilos e cooperantes. Em suma, não dão qualquer tipo de problemas. Vão ser provavelmente bons trabalhadores para onde quer que se virem.

Depois.....(ai jesus!)....... vem o CEF. Há duas semanas que os não vejo devido aos feriados. E que bem me sabe não ter aulas com eles! Não têm o mínimo sentido de esforço. Trabalho!? Qué isso? Pa que serve? Nicles batatóides. Não são má gente, mas eu não sei lidar com eles. Um fala sempre como se o interlocutor estivesse a 100 metros de distância. Quando o advirto dos modos como se comporta pede desculpa e 2 segundos depois vira-se para um qualquer colega e faz uma qualquer pergunta disparatada. No início do ano tratei-os como trato os de 12º - como adultos. Só que estes não o são, nem lá perto chegam, embora tenham a mesma idade, fora duas ou três excepções. Depois de duas aulas a tentar a bem controlá-los, explodi e fiz renascer o Hitler (salvo seja!) que há em mim – ditadura e da dura.
–Quem der um pio vai imediatamente para a rua!
–Quem não fizer o trabalho que indiquei vai para a rua!
É que as faltas podem impedi-los de ir para estágio. Remédio santo! Mas já não me lembrava de «funcionar» assim. E como me custa! Com regime militar começaram a melhorar. Mas eu sorria ou dizia uma qualquer piada para espairecer e aligeirar o ambiente e a agitação imediatamente rebentava qual vulcão adormecido. E depois era impossível voltar a puxá-los à terra sem ser à bruta. Só entendem a lei do machado. Não vão lá com conversa. Ainda tive uns discursozitos ao coração daqueles que usava para os mais miúdos, mas o ar deles é «que quela tá práli a dizere!?» Desisti de os tratar como trato os outros. Entro séria e ali estou feita generala a guardar os prisioneiros. Acabam por fazer os exercícios todos, mas sem o cérebro. Acho piada a um, enorme, daquelas vozes que quando se ouvem ecoam, que não sabe sussurrar. É um miúdo esperto (como outros que lá estão) e depois de eu lhes explicar o funcionamento das relativas numa aula, e de terem feito exercícios, ele diz-me que não entendeu ainda muito bem. Volto a explicar e o ar dele iluminou-se (tem uma cara castiça) e de braços enormes esticados no ar, como é seu costume, exclamou com o formato de felicidade à americana: Yes! Já percebi! (-Precisas de pôr os braçps no ar- pergunto. Oh stôra, tou contente, pá! Pá, não! Desculpe, stôra!) A seguir fez, radiante, os exercícios todos bem à primeira. Na aula seguinte, ficha igual à dada na aula anterior. Resultado? 5,2 (de 0 a 20). Ou seja, entrou-lhe naquele dia, mas uma semana depois faz parte do passado. Quando, sorrindo, lhe perguntei se se lembrava da exclamação da aula anterior, respondeu: -Tem razão,stôra. Devia ter olhado pra isto. Tem razão! Pois tenho. E adianta-me de alguma coisa? Oh, stôra, desculpe lá!
Pois é. Irão para estágio agora, no final do ano. Raramente escrevem mais de uma linha sem erros. Não são burros, mas não têm qualquer noção do que é trabalhar. É a minha primeira experiência (desagradável, sem dúvida) com estes cursos. Pode ser que as próximas sejam melhores. E os meus colegas não se queixam deles. Há outros muito piores, dizem. Piores!? Eu sei,... eu sei que estou destreinada dos mais novos, quer seja em idade física ou mental. Já tinha deposto as armas há muito tempo.


Daí que aplauda PELA PRIMEIRA VEZ uma medida da senhora ministra – as alterações efectuadas ao Estatuto do Aluno que permitem PELO MENOS ter o poder de os ameaçar com a falta por estar a perturbar uma aula e as implicações que daí poderão advir - o tal exame no final do ano. Porque é impossível dar aulas a quem as não quer ter sem ter algum tipo de chantagem que possa ser feita, que não existia. Porque se com alguns a conversa ao coração chega, há os a quem só outro alguém, que não eu, poderá orientar. Eu não tenho paciência nem vocação para entreter quem não quer aprender. O que gosto é de ensinar. Educar, educo as minhas filhas. O que eu gosto é que eles aprendam. Entretê-los? Nã!