A Verdadeira Paixão
Ao ler esta brilhante alegoria de João Miguel Tavares no DN, recordei claramente por que há muito não voto. (Por falar nisso, tenho de ir ver se encontro o meu cartão de eleitor...)
(...)
Numa triste inversão dos papéis históricos, de seguida apareceram dois Pôncios Pilatos (Jerónimo de Sousa e Carvalho da Silva) a lavar as mãos em relação ao que tinha acontecido. Um argumentou não ter visto o que se passou e o outro aconselhou-nos a compreender o desespero dos judeus - perdão, dos trabalhadores - que decidiram apaziguar o seu sofrimento amassando o senhor que abandonou a antiga religião. A partir daí, iniciou-se uma velha discussão teológica: o Partido Socialista criticou o Partido Comunista por querer demonstrar que Vital é mortal, e o Partido Comunista acusou o PS de andar há muitos anos a afastar-se do caminho da verdade.
O mais estranho nisto tudo é que até há pouco eles eram irmãos na fé. E não precisamos de recuar aos tempos de Abraão: basta-nos recuar até ao dia anterior à cena de pancadaria, quando PS e PCP, juntamente com PSD, PP e BE, tinham exibido uma admirável tolerância religiosa em matéria de financiamento partidário. Qual Jesus nas margens do lago Tiberíades, os cinco partidos procederam ao milagre da multiplicação do dinheiro vivo, com as contribuições de pilim caído do céu a crescerem mais de 50 vezes, perante o olhar espantado da multidão. As más-línguas gritaram que se tratava de uma heresia. Os partidos defenderam que os seus corações eram puros. Tal milagre, pregaram, não tinha como objectivo encher os bolsos das campanhas em ano de triplas eleições - claro que não! -, mas sim limpar os pecados do PCP, que tinha uma legião de demónios a infestar as contas da Festa do Avante. Alguém duvida de tão boas intenções? Só os apóstatas duvidam.
É certo que os corações mais duros não param de se interrogar. Como se explica que depois de tanto amor o mesmo PS que generosamente auxiliara o PCP o estivesse a chibatar? Como se entende que escassas 24 horas passadas soldados comunistas desatassem a vergastar o filho pródigo socialista? É não perceber nada de teologia: há sempre confusões quando Cristo desce à Terra. Mas lá no Céu, como se sabe, Deus há só um - e Ele vela carinhosamente pelo bem-estar financeiro de todas as religiões.
O mais estranho nisto tudo é que até há pouco eles eram irmãos na fé. E não precisamos de recuar aos tempos de Abraão: basta-nos recuar até ao dia anterior à cena de pancadaria, quando PS e PCP, juntamente com PSD, PP e BE, tinham exibido uma admirável tolerância religiosa em matéria de financiamento partidário. Qual Jesus nas margens do lago Tiberíades, os cinco partidos procederam ao milagre da multiplicação do dinheiro vivo, com as contribuições de pilim caído do céu a crescerem mais de 50 vezes, perante o olhar espantado da multidão. As más-línguas gritaram que se tratava de uma heresia. Os partidos defenderam que os seus corações eram puros. Tal milagre, pregaram, não tinha como objectivo encher os bolsos das campanhas em ano de triplas eleições - claro que não! -, mas sim limpar os pecados do PCP, que tinha uma legião de demónios a infestar as contas da Festa do Avante. Alguém duvida de tão boas intenções? Só os apóstatas duvidam.
É certo que os corações mais duros não param de se interrogar. Como se explica que depois de tanto amor o mesmo PS que generosamente auxiliara o PCP o estivesse a chibatar? Como se entende que escassas 24 horas passadas soldados comunistas desatassem a vergastar o filho pródigo socialista? É não perceber nada de teologia: há sempre confusões quando Cristo desce à Terra. Mas lá no Céu, como se sabe, Deus há só um - e Ele vela carinhosamente pelo bem-estar financeiro de todas as religiões.
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