sábado, 29 de novembro de 2008

Uma proposta de avaliação

Se olharmos, nós que estamos por dentro do sistema, para as nossas escolas, quais são os «maus» professores?
São os que não preparam os alunos, os que efectivamente não «ensinam» aquilo que supostamente se lhes propôs que ensinassem, que «passam o tempo» com os seus alunos sem lhes «exigirem» nada. É esta a minha visão.
Da experiência que tenho como mãe, só tive razão de queixa de três colegas: uma que era «muita fixe» (eram estas as palavras com que a minha filha e as colegas a qualificavam) que «conversava» com eles, mas que não «ensinava» nada e cujos testes (poucos) que fazia, corrigia na própria aula com a ajuda dos alunos; outra, coitada, um pouco surda e um pouco desregulada pois exigia o que não tinha «dado» e em que um dos testes era a preto e branco com perguntas que exigiam uma análise das cores dos mapas... essa era quase uma anedota e penso que já «desistiu» do ensino; finalmente, um colega que sabia tão pouco, que não podia, claro, «ensinar», escudando-se nas boas notas dadas.

Claro que depois há os excelentes professores (que elas tão bem distinguem) que «ensinam» e «exigem» e com um relacionamento com eles de respeito intrínseco, mas com um à-vontade que os faz ter prazer redobrado nas aulas. Depois, os que «ensinam» e «exigem», mas cujo relacionamento é de manifesta distância – são menos bons que os outros? Não. Apenas têm uma postura diferente, que está relacionada com a personalidade e cuja única consequência é tirar algum daquele prazer das aulas. Mas aprendem na mesma. Há também todos aqueles, os «normais», que vão «ensinando», mas «exigindo» ligeiramente menos do que deviam.
São muito poucos os «maus» professores. Mesmo muito poucos. São os que não «ensinam» porque não sabem e os que não o fazem porque não lhes «apetece». E porque é que podem continuar a sê-lo? Porque não «prestam contas» a ninguém.

Há uma forma de simultaneamente se avaliar as escolas (e os seus professores) e de obrigar estes últimos a «ensinar». Sem criar exames a todas as disciplinas, todos os anos, com a carga burocrática e logística que implicam, há uma forma de aferir as aprendizagens – com testes dos conteúdos anuais programáticos para todas as disciplinas «teóricas», espécies de provas globais, (elaboradas pela tutela ou, melhor ainda, por um organismo independente especializado) durante o terceiro período, realizadas como se realizam os «exames intermédios» - à mesma hora para todas as turmas. A correcção destas provas, cujo peso seria exactamente o mesmo que o de um qualquer teste, ficaria a cargo do grupo de professores do nível/disciplina e não do professor. Esses resultados seriam posteriormente entregues a esse organismo que «reuniria» e divulgaria os dados (exactamente como se faz com os exames).
Quais as vantagens deste sistema?

  • permitiria aferir dos conhecimentos apreendidos pelos alunos nesse ano lectivo;
  • permitiria aos professores perceber dos desvios dos seus alunos relativamente à norma induzindo-lhes a «responsabilidade» de cumprir o programa e preparar os alunos;
  • permitiria às escolas analisar, detectar e, essencialmente, corrigir os problemas encontrados. Esta «correcção» seria não só dos professores que não ensinaram, mas também dos alunos que não «aprenderam». Permitiria com um razoável grau de fiabilidade detectar os alunos/professores que precisam de ser apoiados no ano lectivo seguinte.

Este tipo de «avaliação» não implica qualquer esforço acrescido, uma vez que este pseudo-exame apenas substitui um dos testes do professor. Obriga, por outro lado, todos os professores de um grupo à análise dos resultados obtidos pelos alunos.

Se eu fosse ministra era isto que implementava.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Reflexões

A conselho do Paulo Guinote - a não perder - Clube de Imprensa (RTP2)




A FARSA

Alguém me consegue explicar em que é que «esta» avaliação difere da da Madeira?
Bom automático/administrativo para todos. (Só se avalia a componente «funcional». A componente científico-pedagógica desaparece, evapora-se.)
Onde está então a diferença da de Alberto João Jardim?
Coerência, precisa-se.

A magia da intemporalidade da poesia

QUANTOS SEREMOS?
.
Não sei quantos seremos, mas que importa?!
Um só que fosse, e já valia a pena.
Aqui, no mundo, alguém que se condena
A não ser conivente
Na farsa do presente
Posta em cena!
.
Não podemos mudar a hora da chegada,
Nem talvez a mais certa,
A da partida.
Mas podemos fazer a descoberta
Do que presta
E não presta
Nesta vida.
.
E o que não presta é isto, esta mentira
Quotidiana.
Esta comédia desumana
E triste,
Que cobre de soturna maldição
A própria indignação
Que lhe resiste.
.
Miguel Torga

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

A SIMPLIFICAÇÃO ou A FARSA?

Texto de Pedro Nuno Teixeira Santos:
Afinal o que se pretende não é avaliar os professores mas, muito mais importante, passar para a opinião pública a imagem que se “está a avaliar os professores”. Parece a mesma coisa, mas apenas à superfície…A sobreposição das aparências ao conteúdo, do marketing ao rigor!
Deste modo, tal como com os exames nacionais e tantas outras políticas educativas, optou-se pelo facilitismo: optou-se por um modelo de concurso para titular, cheio de contradições e injustiças, baseado sobretudo em factores, não de mérito científico/pedagógico, mas na ocupação de cargos administrativos.E que opinião é que Maria do Céu Roldão, uma das criadoras deste processo de avaliação docente, tem da forma como esses cargos eram ocupados: “rotação por lotaria“!
De facto, se este concurso para titulares permitiu seleccionar os melhores professores deste país foi por mero acaso…ou lotaria!
Mas Maria do Céu Roldão vai mais longe no seu lirismo, ao tentar explicar que o importante era mesmo fazer um primeiro concurso, ou seja, dividir a classe entre avaliadores e em avaliados. E que, consumada esta divisão e iniciado este processo de avaliação, seria possível identificar os melhores que, se supõe, chegariam um dia, eles próprios, a titulares e avaliadores.
Concluindo, e em bom português, o processo de avaliação começou da pior maneira possível, através de uma pré-selecção de professores avaliadores por mera sorte mas, este sistema “perfeito”, uma vez em funcionamento seria capaz de se auto-regular-se e promover a excelência e a identificação dos melhores professores.
Para enredo de filme de ficção científica até seria interessante mas, tendo em conta que falamos de políticas educativas que se exigem rigorosas, este processo ultrapassa os limites da falta de dignidade.
É isto, e só isto, esta farsa burlesca e hipócrita, que o senhor Secretário de Estado Adjunto da Educação, Jorge Pedreira, e toda a restante equipa ministerial, quer vender ao país como uma avaliação “rigorosa, credível e que permita a diferenciação entre professores…”.
É preciso explicar este problema de base ao país e porque não podemos anuir à coacção e à chantagem para aceitarmos a simplificação de um modelo que não podemos aceitar, não pela burocracia que encerra, mas pela hipocrisia política sobre o qual foi construído. O problema real tem a ver com o facto de todo este processo assentar os alicerces numa farsa: o concurso para professores titulares.
Mas, a propósito deste “simplex” com que o governo esvazia e ridiculariza a avaliação que ele próprio criou, convém reter o ponto cinco, em que se torna voluntária a avaliação da componente científico-pedagógica.
Resumindo: uma pessoa pode ser uma “nódoa” como professor mas, se preencher a papelada toda e se prescindir da avaliação pelo coordenador, arrisca-se a ser avaliado com…Bom!!!!Isto é, num golpe de teatro palaciano, o ministério deixa cair a obrigatoriedade daquela que, na minha modesta opinião, era a única coisa que fazia sentido no seu modelo de avaliação, ou seja, a avaliação de um professor em contexto de aula.
Mais uma vez, o ministério sublinha que o importante é passar, para a opinião pública, a mensagem que se está a avaliar os professores e não criar um efectivo processo de avaliação que pudesse ser rigoroso, credível e que permitisse a diferenciação, pela qualidade, entre professores.
Chegados a este ponto, é bem claro que o governo vai estar disposto a tudo apenas “para não perder a face” através de um recuo na praça pública.
Estou convencido que continuarão a tentar “comprar” a nossa dignidade, simplificando ainda mais este modelo até nada dele restar.
Poderá haver ainda algum professor, algum colega nosso, que acredite que será este sistema de avaliação que permitirá premiar os melhores?
Poderá haver ainda algum português que acredite que o governo está de boa-fé neste processo, ou seja, que está genuinamente interessado em melhorar o sistema de ensino e não apenas em montar uma farsa? Não será de perguntar porque é que, se este sistema de avaliação é tão rigoroso, existe a necessidade de tantos reajustamentos e simplificações?
Resta a resposta à colega Inês de Castro que, no mesmo “Prós e Contras”, apelou a um recuo dos sindicatos. Eu não sei se os sindicatos irão recuar, nem me interessa.
Interessa-me antes saber que, após o próprio ministério ter confessado a sua farsa em directo, não restarão aos professores dignos, sérios, honestos e corajosos, qualquer dúvida de que não são eles que têm que recuar. Do seu lado está a razão de quem se fartou de “engolir sapos” e quer salvar o que resta por salvar no ensino público português.
Anseia-se agora, de forma patética, que, após mil e uma simplificações, se endireite algo que nasceu torto?! Estaremos dispostos a vender a nossa dignidade a troco de um “simplex”?
Eu não! (...)A cada reunião com a Direcção-Regional ou com os Secretários de Estado; a cada nova simplificação; a cada novo e-mail da DGRHE, cresce a certeza da nossa razão.
Todo este processo em que se tenta manter vivo algo que há muito é um “cadáver” começa a cheirar mal…Como disse alguém no “Prós e Contras”, alguém que não é professor mas sim o representante da confederação de associações de pais, “não se pode suspender algo que está parado“!
Pode ser lido na íntegra aqui.

26 de Novembro

Aqui, em Castelo Branco, fomos muitos, mesmo muitos, que decidimos aguentar o frio.
Queria filmar todos os colegas a passar, para se poder ter uma ideia da quantidade de professores que ali estiveram. Mas o diabo da máquina ficou sem bateria logo no princípio... (É sempre assim!)

Já se percebeu que a C.S. se desinteressou de nós. A RTP, que viu a manifestação dos alunos de manhã, fez que não viu. A SIC esteve lá, agora. Vou espreitar amanhã: pode ser que tenha visto alguma coisa... Mas é provável que não.

Engraçado foi o facto de estar um grupo de alunos a apoiar-nos, com a faixa que eu vi na gravação da minha filha (da manifestação deles) - «Alunos solidários com professores».

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Curioso!

Então não é que hoje houve uma importante manifestação de alunos aqui e a RTP esteve lá. Curioso que muitos alunos se manifestaram de forma civilizada, sem ovos, sem correntes nas escolas. Curioso que na RTP apenas surgiu a reportagem dos alunos no Porto - poucos alunos, claro.
Aqui, não. Foram muitos. E tinham um cartaz curioso - «solidários com professores». (As minhas filhas estão. Sabem bem o que vêem em casa. Mas nem sabiam dos cartazes...)
Curioso!

Hoje à noite sou eu que vou apanhar frio. Muitos colegas meus não vão por causa dele. Mas não faz mal: esfrego as mãos, bato os pés e, quando chegar a casa, aqueço-me à lareira.

Sobre Maria do Céu

A uma pergunta sobre livros de parceria entre Ramiro Marques e Maria do Céu Roldão a resposta dada a uma questão onde se lhe pedia uma opinião sobre a mesma, o colega disse:


Ah! Digo eu.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Intervenientes no debate

Dos intervenientes presentes, gostei particularmente de Maria do Céu não sei das quantas, que, do alto da sua sabedoria, ditou as suas sentenças e ponderou, esclarecendo-nos, as suas certezas. Até sabe como vai a opinião pública - terá consultado o taxista que a transportou até ao estúdio.



























Do ramo das Ciências da Educação, conhecerá com certeza o Project Follow Through e as suas conclusões:
Se um dia tiver tempo e vontade, o mestrado vou tirá-lo a Boston - parece que nos dá certezas inabaláveis e nos faz ascender a um nível superior onde mais ninguém consegue chegar.
Outra interveniente chamou-me a atenção, pois que me alertou para o facto de a minha técnica ameaçadora de agressão física para convencer os mais reticentes poder não ser um bom caminho. Realmente, com metro e meio, dificilmente conseguirei convencer alguém assim. Repensarei a minha atitude. Obrigada, colega.
Houve um outro pormenor caricato: quando o colega de Filosofia falou das TIC, o secretário de estado (perdoem-me as minúsculas, mas dava-me muito trabalho carregar no shift) bamboleou a cabeça com ar irónico e sarcástico, como quem diz «Que tristeza! Então ainda não percebeste que sem TIC o mundo não existe?». Mas a «moderadora» indignou-se com o facto. Alguém reparou na reacção do secretário de estado? Alguém viu o «engolir em seco» e apagar do sorriso desdenhoso? Estou ansiosa por apanhar essas imagens. Depois pô-las-ei aqui.



























sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Resultados PISA

Uma extensa análise racional aqui de que destaco este excerto:

Toda a investigação existente, incluindo o PISA e outros documentos da OCDE concordam com o facto de que os elementos que mais influenciam os resultados escolares dos alunos são os níveis educacionais das respectivas famílias assim como os seus hábitos culturais. Sabemos que, a este nível, a situação portuguesa é, por razões históricas e sociais, bastante má e, seguramente, muito pior do que da generalidade dos demais países da OCDE.
Acontece que os próprios estudos da OCDE fazem uma projecção estatística para corrigir os resultados tendo em conta os indicadores de contexto atrás referidos. O que se verifica no caso português é o seguinte:
Fazendo a correcção dos resultados obtidos no PISA com a simulação de níveis educativos e culturais das respectivas famílias idênticos aos da média da OCDE verifica-se que aqueles resultados passam a situar-se bastante acima da média da OCDE. Ou seja (tendo apenas em conta os estudos da OCDE) se os contextos familiares fossem melhores, os alunos portugueses, com a Escola portuguesa a funcionar nos actuais moldes, teriam muito bons resultados.
Dito de outra forma, os dados que os detractores da Escola portuguesa mais utilizam, se estudados correctamente comprovam, afinal, que a Escola portuguesa é bastante melhor do que a de muitos outros países e consegue bastante bons resultados que só não se consubstanciam em melhores índices de avaliação porque os "backgrounds" familiares "puxam muito para baixo".
O recente relatório, também da OCDE (insuspeita de quaisquer simpatias progressistas), sobre a desigualdade também confirma este facto. De acordo com esse relatório, Portugal é o pior país quanto a desigualdade social (indíce de Gini).
(...)
Então porque é que prevalece o discurso da escola má até ao ponto de se ter criado um quase senso-comum de que o Ensino em Portugal é terrível ? Um senso-comum que é muito difícil esclarecer...


Já em Novembro de 2006 eu tinha descoberto na net este estudo que faz a análise dos resultados dos alunos considerando o nível educacional dos pais (Portugal tem a cor verde):


Os dados revelam que, se controlarmos esse efeito, os alunos portugueses demonstraram um desempenho notável nos testes de Pisa: em 28 países, Portugal aparece em quinto lugar, a seguir à Holanda, Bélgica, Austrália e Coreia do Sul. Isto significa que, no que toca aos restantes 45%, Portugal apresenta já um desempenho bem acima da média. Ou seja, à luz deste exercício, muita criatividade será necessária para conseguir ir mais longe.

Porque é que ninguém fala destes dados? Porque não interessa a quem quer fazer disparatadas reformas economicistas.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Ainda tentei...

... mas o mail judite.sousa@rtp.pt não funciona.
Gostei da impaciência da senhora ministra.

Exm.ª Judite de Sousa,

Sou professora há 20 anos, deixei de ser sindicalizada há 1 mês e CONTINUO após esta «simplificação» frontalmente contra este modelo perverso de avaliação, pelas razões que a seguir enuncio:
.os «avaliadores» não têm legitimidade para o serem pois que se parte do estipulado no Estatuto da Carreira Docente, da divisão artificial em Titulares e Professores;
.continua a «pesar-se» a parte burocrática do trabalho docente com 50% e a parte REALMENTE essencial da nossa profissão, o trabalho com as alunos, apenas com os mesmos 50%;
.promove a competição, (através das cotas ou da solicitação necessária de aulas assistidas) quando deveria promover e estimular a entreajuda;
.A avaliação da parte burocrática é subjectiva e está nas mãos do futuro «Director»;
.A Senhora Ministra não tem já nenhum crédito, pelas mentiras, pela desprestigiante forma como se refere aos professores, pela insensatez e prepotência;
Veja-se só o despacho relativamente às faltas dos alunos que pretende sobrepôr-se a um Decreto-Lei e cujo enunciado acusa as escolas de má interpretação, quando se verifica claramente que o que legislaram era profundamente incorrecto

Os melhores cumprimentos

Gostei especialmente da definição de MLR de uma reunião que corre bem: o interlocutor diz uma coisa, ela diz outra e acaba-se a reunião.

Este é um belíssimo exemplo de todas as reuniões em que «negociou» com os sindicatos. Expôs as suas «deliberações», eles ouviram e acabaram-se as reuniões. É a nova definição de «negociação».

É engraçado que continua ao fim de 4 anos a falar de Conselho «Directivo» em vez de «Executivo» (o tal que suspendeu a avaliação).

Objectivos para «produto» humano: excelente comparação aqui.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Cheira-me a esturro...

Ora bem: sondagens a PCE + aplicações na DGRHE = novo despacho com avaliação simplificada online.
Será?

No blogue do costume, vê-se este comentário.
«O meu suposto avaliador é ele próprio um carneiro. Teve o descaramento de dizer a um colega que não aprovaria a moção de suspensão porque a sua educação não lhe permitia “ir contra a ordem pré-estabelecida”!!!»
Acho este argumento fantástico. Cumprir a lei. Os soldados alemães também a cumpriram. Exemplarmente. Sem questionar.
Muito bem.

Nervoso miudinho

Álvaro Almeida Santos, Presidente do Conselho de Escolas, mexe-me com os nervos. Quando o ouço falar, torço-me toda, como acontece quando vejo ginastas a fazer acrobacias ou quando vejo, naqueles programas de apanhados, quedas aparatosas.

Mexe-me com os nervos. Ontem, num programa da SIC Notícias ou RTPN, lá estava ele a contorcer-se, gaguejando a cada palavra. Não o conheço e não o julgo, exactamente por isso. Só digo que me Mexe Com os Nervos.
Pelos vistos não é só a mim.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Aplicação informática

Recebi este mail:
Exmo(a) Sr(a). Professor.

Com o objectivo de apoiar as escolas na implementação do processo de Avaliação do Desempenho dos docentes, a Direcção-Geral dos Recursos Humanos da Educação disponibiliza a presente aplicação informática a qual irá sendo preenchida à medida que os agrupamentos e escolas não agrupadas vão estruturando o processo.

Nesta fase está já disponível a possibilidade de cada docente apresentar os seus objectivos. Uma vez submetidos e tendo em conta o calendário definido em cada Agrupamento/escola, o avaliador do órgão de administração e gestão acede aos mesmos para efeito de validação.

A aplicação está disponível no seguinte endereço: https://concurso.dgrhe.min.edu.pt/DefinicaoObjectivos2008.
Qualquer dúvida de funcionamento deverá ser colocada ao órgão de gestão, o qual terá apoio através do seguinte endereço:
https://concurso.dgrhe.min-edu.pt/PerguntaResposta2

DGRHE
Será alguém capaz de explicar à DGRHE que os OI são sigilosos, negociáveis apenas com o PCE?

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Conselho de Escolas???

Será que sim? Depois de um período que parecia mais uma CONFAP, afinal parece que são homens e mulheres.

Só consigo dizer uma coisa: NOJO!

17 Novembro 2008 - 10h22
Regime de faltas
Pais satisfeitos com explicação
A Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap) mostrou-se esta segunda-feira satisfeita com o despacho da ministra da Educação sobre o regime de faltas dos alunos. Todavia, lamentou a “falta de capacidade” de algumas escolas para interpretar o Estatuto do Aluno nesta matéria.
A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, assinou ontem um despacho, que entra hoje em vigor, a clarificar “de uma vez por todas” o regime de faltas e a desobrigar os alunos com faltas justificadas à realização de uma prova suplementar.
O secretário de Estado da Educação, Valter Lemos, sublinhou já que o despacho obriga ainda as escolas, cujo regulamento interno não seja explícito sobre o regime de faltas do Estatuto do Aluno, a adaptá-lo às novas normas, para que os alunos não sejam obrigados a realizar qualquer prova suplementar.
De acordo com o presidente da Confap, Albino Almeida, algumas escolas não estão a ser capazes, no quadro de autonomia, de regulamentar a nova lei. “Infelizmente algumas escolas não tiveram capacidade de fazer uma interpretação daquilo que são faltas justificas por doença ou por outras actividades, como alunos que estejam a praticar desporto em representação do País”, realçou.
Albino Almeida afirma lamenta que haja escolas que necessitem das “muletas ou das indicações da tutela para fazerem algo que naturalmente se percebia que estava mal feito e que deviam ter feito no quadro da sua autonomia, envolvendo os estudantes”.

http://www.correiodamanha.pt/noticia.aspx?contentid=70A03F9D-6246-48C3-AC49-B84E27986194&channelid=00000021-0000-0000-0000-000000000021

E íamos contra a lei? É isso?

Adenda:

Já a CNIPE não é subserviente...

Bruno Nogueira :)

Ouvi-o na TSF. Não sei se estas exactas palavras, mas este sentido:

Nunca, mas nunca, se avalie um professor de Sociologia, sem lhe fazer uma autópsia antes.

Taditos!... Só com ovos lêem o que escrevem!

Afinal não eram os Regulamentos Internos e os burros (essa cambada) dos professores que «interpretaram» mal a Lei. Afinal é preciso um Despacho para «clarificar» as «discrepâncias»

«Valter Lemos referiu que o despacho surge na sequência de várias «discrepâncias» relativamente às faltas justificadas por doença, que obrigariam os alunos à realização de um exame suplementar e mesmo à sua reprovação. »

Discrepâncias? Não se lhe poderá chamar incompetência, desorientação, pressa, alucinação?

Se eu lhe atirar ovos, será que vai ver as «discrepâncias» existentes na avaliação de professores?
O tal despachito - até vem ao Domingo. Bravo!

Considerando que a adaptação dos regulamentos internos das escolas ao disposto no Estatuto do Aluno nem sempre respeitou o espírito da Lei, (é, o «espírito» da lei era muito obscuro) permitindo dúvidas nos alunos e nos pais acerca das consequências das faltas justificadas designadamente por doença ou outros motivos similares (repare-se que quem «tinha» dúvidas eram os alunos e os pais. Os professores não tinham, porque a lei é clara. Este despacho vem é alterá-la. E lá vamos nós mudar os Regulamentos Internos MAIS uma vez. Vá lá que agora é por algo que até faz mais sentido... embora um despacho não revogue... mas, enfim, já se sabe como é este mi(ni)stério a legislar)
Considerando que o regime de faltas estabelecido no Estatuto visa sobretudo criar condições para que os alunos recuperem eventuais défices de aprendizagem decorrentes das ausências à escola nos casos justificados (Continua a demência: recupera-se «eventuais défices» de um aluno com uma prova)
Tendo em vista clarificar os termos de aplicação do disposto no Estatuto do Aluno, determino o seguinte:
1 – Das faltas justificadas, designadamente por doença, não pode decorrer a aplicação de qualquer medida disciplinar correctiva ou sancionatória.
2 – A prova de recuperação a aplicar na sequência de faltas justificadas tem como objectivo exclusivamente diagnosticar as necessidades de apoio tendo em vista a recuperação de eventual défice das aprendizagens.
3 – Assim sendo, a prova de recuperação não pode ter a natureza de um exame, devendo ter um formato e um procedimento simplificado, podendo ter a forma escrita ou oral, prática ou de entrevista.
4 – A prova referida é da exclusiva responsabilidade do professor titular de turma, no primeiro ciclo, ou do professor que lecciona a disciplina em causa, nos restantes ciclos e níveis de ensino.
5 – Da prova de recuperação realizada
na sequência das três semanas de faltas justificadas (quais 3 semanas? - está-se a falar de quê? E não é que se voltou a esquecer de um acrescentozito? É que isto das 3 semanas é só para o 1º Ciclo!!! Vá lá! Façam lá outro despachozito a esclarecer este ou emendem-no antes da publicação, porque é preciso clarificar que não é só para o 1º Ciclo! Ai, que até me dói ver por quem estou a ser governada. E já lá vão 3 anos disto!) não pode decorrer a retenção, exclusão ou qualquer outra penalização para o aluno, apenas medidas de apoio ao estudo e à recuperação das aprendizagens, sem prejuízo da restante avaliação.
6 – As escolas devem adaptar de imediato os seus regulamentos internos ao disposto no presente despacho, competindo às Direcções Regionais de Educação a verificação deste procedimento.
7 – O presente despacho produz efeitos a partir do dia seguinte à data da sua assinatura.
Lisboa, 16 de Novembro de 2008

domingo, 16 de novembro de 2008

15 de Novembro

Imagens da RTP
Muito mais de 7 mil...
E eu, como todos os que não foram, estive também lá.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Mentiras...perdão... Inverdades

Um secretário de estado da educação referiu (e um a quem chamam pai da nação, que recebe um subsídio estatal para existir confirmou), que o estatuto do aluno não penaliza os alunos que faltam por doença. Diz ele que a culpa é das escolas... Sim, se elas não cumprirem a LEI.


VEJA-SE QUEM MENTE lendo-se, então, por via das dúvidas, a LEI:








É que o objectivo claro desta lei era (e é) não excluir automaticamente os alunos que excedem o número de faltas injustificadas, possibilitando-lhes a oportunidade de realizarem uma prova, sendo assim aprovados. Ou seja, um aluno pode nunca reprovar sem pôr os pés na escola, fazendo «provas de recuperação». Em termos estatísticos também é vantajoso, pois os alunos que não aparecem na escola, não entram nas estatísticas de abandono, pois podem sempre voltar e fazer a dita «prova».

Adenda:

Não esqueçamos que só este ano os Regulamentos Internos aplicaram esta LEI. Não foi o ano passado, porque foi publicado já com o ano lectivo a correr e não se podiam mudar as regras dos RI a meio do ano. Só agora os alunos conheceram as novas regras.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Indignação

No meu Agrupamento foi hoje aprovada uma moção em que os professores suspendem todos os procedimentos relativos a ESTA avaliação.

Senti-me de novo em Lisboa. Com receios iniciais dos medos, pude verificar da união e determinação em PARAR esta avaliação.
Porque... (e transcrevo as palavras de um comentário no blogue do Paulo Guinote)
Maria da Glória Costa Diz: Novembro 13, 2008 at 9:48 pm
Eu, decididamente, só tinha previsto voltar a Lisboa no dia 15, depois do 8 de Março, mas pensei e voltei a 8 de Novembro. Vou e levo comigo os meus filhos, levo comigo a bandeira nacional, vou em silêncio, em luto, vou porque quero viver em democracia, vou sem querer saber o que opinam os treinadores de bancada , os iluminados, os sindicatos…Tenho 23 anos de serviço, já aprendi e ainda tenho muito a aprender com a vida, que não está fácil… tenho quatro filhos em idade escolar que frequentam o ensino público, e vou para que eles saibam que a mãe defende a escola deles que é a escola de todos. Não sou egoísta e por não pensar só em mim vou até às últimas consequências e aqui afirmo, como já afirmei noutros lugares apropriados, que é agora ou nunca e sou a favor de uma greve marcada a partir de 25 de Novembro por tempo indeterminado e, se necessário for, às pps avaliações. Não sou herdeira. A única e melhor herança que os meus pais me deixaram foram os valores que me deram e a licenciatura em ensino que conclui há 23 anos atrás. Tb não tenho marido… nem sou uma sustentada.
Deixem de ser egoístas, deixem de olhar apenas para o vosso umbigo.
Do minho para Lisboa vou pela 3ª vez num ano. Nunca tal me tinha acontecido… aliás a Lisboa contam-se pelos dedos da mão as vezes que lá fui. Ah… e não me venham com a treta que devia ir aos plenários, às vigílias, a encontros nos pp distrito…porque estive presente em todos os que chegaram ao meu conhecimento. Não queiram com isto interpretar que me sinto desesperada…. SINTO-ME INDIGNADA!!

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

É tão verdade o que diz este comentário no blogue do Paulo Guinote. Para mim teve ainda outra componente: a TLEBS. Esta até me levou a criar este blogue (de seu nome canseiras), porque estava farta de gritar em silêncio.
Reb Diz: Novembro 13, 2008 at 12:32 am
Até agora engolíamos tudo: começou com as aulas de 90 minutos em todas as disciplinas desde o 5º ano. Trouxeram indisciplina mas lá nos adaptámos. Não melhoraram em nada os resultados escolares, mas como ninguém faz balanços..já com este governo, começaram as aulas de substituição. Todos sabemos que não servem para nada a não ser para privar os miudos de uma hora de recreio de vez em qdo, o que só lhes podia fazer bem ( não andam a ficar obesos?). Refilámos mas engolimos…Veio o ECD. Ainda andávamos distraídos. Até concorremos a titulares ( uns ficaram outros não)Só agora, qdo se tornou irrespirável, levantámos a voz e unimo-la à de todos, porque NÃO AGUENTAMOS MAIS ESTA PALHAÇADA!É por isso que nos tornámos diferentes, deixámos de ser uma classe passiva. Nada mais temos a perder!Será que este governos e até mesmo os sindicatos já se aperceberam disso?

Bom jornalismo (para vender)

Como se mente bem: Governo adia avaliação. Este é o título. A notícia? É só ler... nada a ver.

Insinuações inevitáveis II

Hoje, na minha escola também fecharam os portões a cadeado. Ao contrário da das minhas filhas onde a PSP avançou à força sobre eles, a GNR aguentou impávida (como eu por certo não aguentaria) as agressões de alguns alunos. Algum professor teve alguma interferência? É claro que não. Ficaram no portão até poderem entrar.
A ministra aguentou com ovos e tomates. Falou-se em 300 alunos e alguns professores (eu vi 2). De quem é a culpa? Dos professores, obviamente. Esses canalhas! Têm mesmo de ser avaliados! O JN volta a brindar-nos com a sua isenção: Cerca de três centenas de manifestantes, entre alunos e professores- lê-se no início. Basta ver as imagens para se descortinar imediatamente os professores todos disfarçados de alunos.
(Nunca atiraria ovos ou tomates a quem quer que fosse, nem instigaria ninguém a fazê-lo. Por respeito ao outro. Mas que sorri quando o soube, o confesso. É muito tempo a aguentar insultos, a ouvir mentiras públicas sem contraditório e sem ter poder de resposta, é muita raiva acumulada por sentir a injustiça e não ter forma de me insurgir - ainda falta muito para as eleições!)

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Espelhos da realidade

O pesadelo burocrático e a desobediência à lei
por Aires Almeida

“O facto de os cidadãos estarem em geral dispostos a recorrer à desobediência civil justificada é um elemento de estabilidade numa sociedade bem ordenada, ou seja, quase justa”
John Rawls, Uma Teoria da Justiça


http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1349637&idCanal=2316
Tenho 48 anos e sou professor do ensino secundário há quase 26. Sou professor titular de Filosofia, não estou sindicalizado, não me recordo de ter faltado ao trabalho, mesmo em dias de greve, e não costumo participar em manifestações – nem sequer participei nas duas últimas grandes manifestações de professores, se bem que tenha pena de não o ter podido fazer. Nunca me passou pela cabeça ter outra actividade profissional, mesmo ganhando mais do que os 1850 euros que, após todos estes anos, recebo no final do mês.
Sei que para ensinar bem os meus alunos tenho de continuar a estudar, a ler e a aprender. Como costuma dizer um amigo meu, Desidério Murcho, para se ensinar bem até à letra C é preciso dominar as matérias até pelo menos à letra M: é preciso um grande à vontade e um bom domínio do que se ensina para se antecipar dificuldades dos alunos, para se responder a dúvidas inesperadas, para se encontrar o exemplo certeiro, para indicar as leituras adequadas, etc. Isto exige uma grande preparação e uma actualização permanente do professor, além de um ambiente de trabalho tranquilo e estimulante. Até porque são as deficiências científicas que originam, na maior parte da vezes, as situações pedagogicamente mais desagradáveis.
Infelizmente, os escassos estímulos que ainda poderiam existir nesse sentido parecem pertencer ao passado. As escolas transformaram-se, de há dois anos para cá, numa balbúrdia constante e num verdadeiro pesadelo burocrático em que ninguém parece entender-se. E, com muita tristeza minha, vejo os livros de filosofia que todas as semanas encomendo na Amazon ou outras livrarias acumular-se sem quase ter tempo para os folhear. Preparar aulas decentemente é algo que também deixei de fazer, caso contrário nem sequer vida familiar poderia ter. Não fosse o caso de os alunos estudarem por um manual que conheço de cor – porque sou um dos seus autores – e as aulas seriam um completo improviso. Comparar o que se tem passado nas escolas nos últimos dois anos com a barafunda gerada com o atraso da colocação de professores no tempo do ministro David Justino é como comparar um episódio infeliz com a própria infelicidade. E o ministro David Justino caiu por causa disso.
Creio poder dizer, sem qualquer exagero nem arrogância, que conheço melhor do que a senhora ministra o que se passa nas escolas, pois há 25 anos que passo a maior parte da minha vida nelas. Ora, nunca, mas mesmo nunca, houve tanta confusão e um ambiente tão pouco adequado ao ensino e à aprendizagem como o que se verifica actualmente.
Perguntar-se-á: o que ando então a fazer o tempo todo para deixar de preparar as minhas aulas como deve ser? A resposta poderia ser dada até pelo meu filho, apesar de ainda ser criança: além das aulas, passo os dias em reuniões intermináveis para entender o sentido do terrorismo legislativo com que se tolhem e intimidam os professores. Na verdade são muito mais as horas que tenho gasto a reunir por causa da avaliação do que com aulas. E o pior ainda nem sequer chegou. Como avaliador de oito colegas, terei de inventar mais 36 horas para assistir a aulas suas, além das reuniões preparatórias que tenho de fazer com cada um deles e dos quilos de papelada para preencher. De resto, na minha escola os professores irão passar o ano a assistir às aulas uns dos outros, pois somos 165 professores, o que dá cerca de 500 aulas assistidas por ano. Além disso, terei de preparar tudo para o meu avaliador – um colega de Economia que não tem culpa de nada e que fará certamente o seu melhor – poder assistir às minhas aulas de Filosofia.
Que o novo modelo de avaliação é inútil e ineficaz já o provou definitivamente, sem o querer, a senhora ministra. Diz ela repetidamente que esta avaliação é absolutamente necessária para a qualidade do ensino e para a melhoria dos resultados. Porém, anunciou com grande pompa ao país que os resultados melhoraram no último ano, o que acabou por ser reforçado com a divulgação dos resultados dos exames nacionais. Só que esta apregoada melhoria da qualidade e dos resultados verificou-se ainda antes de o modelo de avaliação produzir qualquer efeito. Logo, fica provado que a avaliação não é uma condição necessária para a melhoria da qualidade e dos resultados. O que leva então a ministra a dizer que a avaliação é absolutamente necessária?
Os responsáveis pelo actual ministério da educação parecem, talvez inconscientemente, querer pôr em prática o cenário tenebroso descrito por George Orwell em “Mil Novecentos e Oitenta e Quatro”, em que a catadupa de despachos, decretos regulamentares, documentos orientadores, ordens de serviço, instruções superiores, recomendações, etc., frequentemente incoerentes – vale a pena dizer que acumulo em casa mais de mil fotocópias sobre avaliação, que me foram entregues na escola –, são a tradução quase literal do “Big Brother is watching you” da 5 de Outubro. A obsessão do ministério por controlar tudo e todos até ao mais pequeno detalhe está bem patente no modelo de fichas de avaliação que impõe às escolas e aos professores (parece que a ideia é a de que, entre tanta coisa pedagogicamente inane, sempre há-de haver uns quantos aspectos em que o avaliado vai falhar, de modo a não atrapalhar as escassas cotas disponíveis para progressão na carreira). E o mais irónico é que, quando se encontram incoerências e impasses nas instruções oriundas do ministério, a ministra deixa o problema para as próprias escolas com o argumento de que lhes quer dar autonomia na construção dos seus instrumentos de avaliação. Não é, pois, surpreendente que os professores se sintam desorientados, cansados, chantageados e até insultados. Isso acaba naturalmente por se reflectir na sua prática lectiva e os alunos notam bem a diferença quando o professor dá as aulas cansado.
Mas o pior de tudo é que o modelo de avaliação fabricado na 5 de Outubro não vai permitir distinguir os bons dos maus professores, ao contrário do que a senhora ministra alega. Talvez seja até pior do que a completa ausência de avaliação, premiando arbitrariamente alguns dos maus e castigando cegamente muitos dos bons. Se assim não fosse, que razões teriam os bons professores que desfilaram na manifestação de sábado para lá estarem? Ou será que os mais de cem mil são todos maus ou simplesmente estúpidos? Os professores sentem-se compreensivelmente ameaçados porque o modelo, além de burocrático, como convém ao Big Brother, obedece a uma espécie de pensamento único pedagógico: há um dogma pedagógico subjacente a que todos têm de aderir, tal como se emanasse do Ministério da Verdade orwelliano. Esse dogma é o da pedagogia do eduquês: são os resultados a qualquer preço, é a inovação a martelo, são as “estratégias de ensino-aprendizagem” como se o professor fosse o aprendiz (também o é, mas noutro sentido). Enfim, é a avaliação do portfólio e dossiê do professor para ver se ele tem o seu caderno diário em ordem, infantilizando uma actividade em que, pelo contrário, se exige autonomia e auto-confiança.
De resto, não é preciso muita atenção para ser confrontado com essa novilíngua do eduquês que, de há muitos anos para cá, tem caracterizado o Ministério da Verdade. Só que agora passou a ter uma força imparável, pois vai ser a destreza no uso dessa novilíngua a determinar se o professor é dos bons ou dos maus. Esta é, sem dúvida, a avaliação do pior eduquês em todo o seu esplendor. É um enorme passo para a asfixia intelectual dos professores e para a sua menoridade profissional. E é a negação da desejável diversidade pedagógica, transformando os professores em meros instrumentos de uma cadeia de produção em série e impedindo os alunos de se enriquecer no contacto com diferentes estilos e metodologias.
Mas o que realmente importa no desempenho do professor é, respeitando os alunos e os seus direitos, ensinar-lhes e ajudá-los a aprender o que é suposto aprenderem, recorrendo às concepções pedagógicas que muito bem se entender. É relativamente fácil apurar se o professor soube realmente ensinar e se os alunos conseguiram realmente aprender, independentemente da metodologia usada e das concepções pedagógicas em jogo, desde que os seus alunos realizem no final do percurso exames bem concebidos. E se se ponderarem os resultados dos exames comparando-os com a média de cada disciplina nas respectivas escolas, estamos muito próximos de um sistema de avaliação muito mais justo, simples, eficaz e dignificante para todos. Claro que para isso era preciso haver mais exames, além de melhores programas e de mais formação de professores, coisas que não parecem interessar minimamente a senhora ministra.
Assim, tudo indica que quando a senhora ministra afirma totalitariamente que ou se aplica o seu modelo ou não há outro, só pode estar a fazer chantagem, o termo que utiliza para descrever o comportamento dos sindicatos junto dos professores, como se os professores fossem idiotas. A verdade é que neste momento já não são os sindicatos a comandar os professores, mas os professores a empurrar os sindicatos, de tal modo que os próprios sindicatos já não estão em condições de cumprir o acordo assinado há meses com o ministério. De nada serve, portanto, ao primeiro-ministro apontar o dedo ao incumprimento dos sindicatos. Se estes tivessem representado devidamente os professores, nunca teriam de voltar agora atrás com a palavra. Por isso, não vale a pena recorrer a fantasias e negar uma realidade muito crua: a insistência do governo no actual modelo está a degradar como nunca o sistema educativo nacional e a pôr em causa o normal funcionamento das escolas. E esta ministra ficará seguramente na história como a maior desgraça que se abateu nos últimos tempos sobre a educação em Portugal. Isso só ainda não é mais notório porque os efeitos das políticas educativas só se tornam evidentes passados vários anos. Por isso é arrepiante ver a senhora ministra insistir – contra tudo e contra todos os que, em Portugal, já alguma vez revelaram interesse pelas questões da educação – numa teimosia própria de mentes obstinadas e dogmáticas. E é também por isso um imperativo de justiça desobedecer a esta lei arbitrária e injusta, sobre uma questão de tão grande importância. Chama-se a isto desobediência civil e foi isso que fizeram em diferentes circunstâncias Gandi, Luther King, Bertrand Russell e muitas das referências cívicas e culturais do nosso mundo. É ilegítimo não cumprir a lei, diz a senhora ministra sem se aperceber que está a ser redundante. Pois é, é ilegítimo não obedecer à senhora ministra, pois foi ela que fez a lei. Mas terá mesmo de ser.
*Professor titular de Filosofia da Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes, de Portimão »

Avaliação dos professores na Europa

Informação de Levels of Autonomy and Responsibilities of Teachers in Europe, página 62 e 65 da Eurydice


A Finlândia, apresentada como exemplo no «ranking» do PISA, não tem avaliação de professores.




Não precisa. Confiam nos professores e, fundamental, os alunos não ouvem os políticos e os pais dizer mal deles...

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Manifesto da Teresa

Flagrante, dorido e honesto testemunho do desalento ...

Claro, clarinho

Com a clarividência do costume: aqui, Paulo Guinote continua, com a lucidez que o caracteriza, a ler a realidade.

15 de Novembro

Até as mentiras descaradas que enganam quem não sabe o pedem.
A 15 de Novembro há mais.

domingo, 9 de novembro de 2008

O «meu» 8 de Novembro



























Quando se informam

os homens tornam-se cidadãos.
José Manuel Fernandes, director editorial do Público, era um defensor da ministra. Agora, vê mais longe.

Euronews

perceberam. Só cá ainda há ignorantões.

Manipulação e Rábula da família avaliada

Ao ver-se esta reportagem, a manipulação é evidente.

O senhor que aparece inicialmente não está a desfilar. Apenas assiste de lado.
O primeiro colega, ao referir-se que o que está contra é a .............. avaliação, pecou por defeito. Porque assim deu azo a parecer não querer ser avaliado.
As palavras da segunda colega são claramente manipuladas pelo editor que a põe a dar razão à ministra (com minúscula).
Os outros, decididamente escolhidos a dedo, dizem que melhor pensada e tratada «esta» avaliação poderia ser aplicada.




Primeiro irritei-me com a reportagem. Fechei o computador e rangi os dentes para a tv.
Depois pus-me a pensar como se explica a alguém porque é que esta avaliação é profundamente desestabilizadora e inaplicável.


Um dos «conselhos» dos discursos que ouvi, foi que explicássemos aos pais o que está mal. Mas como fazê-lo? Eu recuso-me, por princípio a falar de problemas profissionais quer com alunos quer com pais. Falo abundantemente, sim, com família e amigos.

Um dos meus irmãos, da área de informática, disse-me há pouco tempo que o «Magalhães» era MUITO BOM e MAIS IMPORTANTE que era um projecto português.
Rapidamente lhe fiz chegar este mail:
É um projecto português?

Na Indonésia o «Magalhães» é conhecido pelo nome de «Anoa», na Índia é o Mileap-X series, na Itália é o Jumpc e o no Brasil é conhecido por Mobo Kids. O Governo do Vietname percebeu o sucesso da oferta e já o colocou nas escolas a preço reduzido. Uma ideia agora adoptada por José Sócrates.

Tá bem tá. Vê aqui: http://diario.iol.pt/tecnologia/intel-magalhaes-tecnologia-socrates/977084-4069.html
Ou aqui: http://www.youtube.com/user/olidatajumpc


Penso que ficou claro que não é OBVIAMENTE um projecto português.



Voltando atrás, como então «explicar» aos pais?


As escolas acabam por ser famílias. Muito do corpo docente está a trabalhar em conjunto há anos. Mas mesmo os recém-chegados rapidamente são adoptados.
Então que tal imaginar uma família - avós, seus filhos, filhas e respectivos cônjuges e os filhos destes.
Início dos trabalhos
Reunião geral familiar:
Passo 1 . agora estabeleçam metas a atingir enquanto família (valor x mínimo dos presentes de Natal, telefonar x vezes aos pais/avós); ................................................
Passo 2.estabeleçam indicadores de medida: decidam entre vocês, como queiram, o que vai ser importante
  • pode ser quem dá melhores presentes de Natal. Pergunta alguém: melhores como? Como se avalia o que é um presente melhor? É o mais caro? Não, isso não - diz outro. É o que quem o recebe gosta mais. E como se «mede» o «que se gosta mais»? Como se poderá ser objectivo? Entre o carro último modelo que o pai deu ou o livro fantástico que a mãe deu que me inspirou a... e que me apetece agora reler, como se mede? Decidam.
  • pode ser quem telefona mais vezes a dar notícias, quem faz mais festinhas, enfim - escolham, decidam-se);
Passo 3. Quem vai avaliar? Pode ser o que no ano passado gastou mais dinheiro em presentes de Natal (é um critério qualquer - isso não interessa nada! Ah, mas eu gostava de ser o avaliador e não sabia que era esse o critério. Se soubesse tinha dado melhores presentes! Mas não deste. Tá lá agora mas é caladinho!) e.... o avô. O avô avalia a participação na vida familiar. O outro a interacção.
Passo 4. A seguir toca a definir objectivos:
Os meus presentes de Natal a crianças com menos de 5 anos serão de valor x;... Mais de cinco anos de valor y;
Empenhar-me-ei em telefonar 2 vezes por dia aos meus pais, para dar conta das actividades em que me integrei.....
Todos querem ter boa avaliação, ou seja, começam as primeiras rivalidades: Mostra lá o que escreveste aí! O que te propões fazer? Não tens nada a ver com isso. Fazes os teus que eu faço os meus!
Passo 5. O avô recebe os objectivos individuais, lê e verifica se estão conforme o que lhe parece bem, embora não saiba muito bem o que quer que cada um faça.
Passo 6. O avaliador (o tal que no Natal passado deu os presentes mais caros) visita três vezes pré-acordadas a casa de cada um dos avaliados e verifica como eles se portam. Leva uma fichinha e aponta com cruzinhas se todos se tratam com respeito, se a casa está arrumadinha com as camas feitas, verifica o pó nas estantes... enfim, vê tudo o que está lá e aponta nas fichinhas. É claro, que nesse dia está tudo um «brinquinho»!
Nesses dias, inevitavelmente, terá de faltar ao trabalho, mas que se há-de fazer?! Tem de avaliar a família....
Passo 7. No final do ano acontece o preenchimento de ficha de auto-avaliação, onde cada um colocará as «evidências» do seu contributo familiar (não esquecer de apontar sistematicamente todos os passos dados, diariamente, no sentido de cumprir os objectivos apresentados e poder «prová-los». Poder-se-à, inclusivamente pedir factura detalhada da conta do telefone, para provar os telefonemas.)
Passo 8. O avô recebe e lê a ficha de auto-avaliação de cada um e compara com os objectivos fixados no início do ano. E depois avalia:
Ora, a filha só lhe fez 3 festas na cabeça. Mas propôs-se dar 2. Excedeu as expectativas. Muito Bom ou Excelente?
O neto do meio do seu mais velho propôs-se fazer 365 festas. No dia em que foi internado de urgência, não fez a respectiva festa. Insuficiente.
Mas o netinho é tão querido e a filha é tão fria.... Bem. Se tem de avaliar, tem de avaliar. (O pequenito com 3 anos é que está tramado. Não fixou objectivos.) A nora.... O filho.... o neto mais novo da filha do meio.... a sobrinha... a namorada do filho... o neto... São 26 a contar com o mais novito... Quem é que falta?...
O avaliador vê as suas fichinhas e têm todos mais ou menos a mesma avaliação. Bem, na casa da prima, é verdade que encontrou algum pó na maçaneta do armário da despensa... Enfim, terá de a penalizar, até porque se não penalizar alguém será ele o penalizado. Tem de diferenciar os elementos da família!
Passo 9. Reúnem avô e o que deu melhores presentes (o titular) e apresentam a sua avaliação a cada um dos avaliados. Ninguém concorda? Paciência.
Novo ano! Vamos lá a começar tudo outra vez!
Que bela e unida família esta!
Parece que o tal que estava a avaliar acabou por ter um AVC pois o que diziam dele começou a mexer-lhe com o sistema nervoso. O avô, esse, preferiu ir para um lar por já não aguentar tanta hipocrisia.
Já não há reuniões de família.

Ai, os meus pés!

A 15 há mais, para quem está mais próximo...

sábado, 8 de novembro de 2008

Que alívio!

Tardou a falar, mas falou bem.



Até já respiro melhor...

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Insinuações inevitáveis

Eram inevitáveis as insinuações, que neste artigo de um jornal regional se podem ler, de que os alunos foram instigados por professores. Ainda são atribuídas culpas aos pais...

E que dizer da objectividade da notícia? Se calhar não é notícia. Talvez mais um artigo de opinião... É, deve ser.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Agitação

Recebo há pouco um «Kolmi» da minha pequena mais nova. Ligo-lhe.

- Mamã, nem te passa! A polícia bateu-nos. Foram uma data de ambulâncias para o Hospital... nada de grave...

Ligo para a mais velha que faz parte da Associação de Estudantes.

- A polícia carregou sobre nós! Mas temos filmes e vamos enviar para a TVI...


Estive uns 5 minutos a rir... Não sei se de nervoso, se de tudo isto me parecer de um outro mundo que não este pacato e submisso que conheço.




Adenda: já puseram no YouTube


«Bateram» é forte. Usaram da força para os afastarem... Legítimo? Não sei, mas parece-me uma atitude perfeitamente escusada.


A minha mais velha ainda levou um murrito numa orelha. Nada de grave e servirá sempre como uma recordação de um dia «quente»:)

Tá tudo a funcionar - diz a Sr. Ministra

Esta transcrevo-a, pois adorei a postura e palavras da sua PCE e (com o peso inerente na opinião pública) é a 1.ª pública dos rankings:
Moção da Escola Secundária Infanta D. Maria a pedir a suspensão da avaliação de desempenho

Os Professores da Escola Secundária Infanta D. Maria, reunidos em 27 de Outubro de 2008, mostraram o seu veemente desagrado face ao actual modelo de Avaliação de Desempenho, introduzido pelo Decreto Regulamentar nº 2/2008, de 10 de Janeiro, pelos motivos a seguir enunciados:
1. A aplicação do modelo previsto no Decreto Regulamentar nº 2/2008 tem-se revelado inexequível, por ser inviável praticá-lo segundo critérios de rigor, imparcialidade e justiça, exigidos pelos Professores desta Escola.
2. O modelo de Avaliação do Pessoal Docente ora em vigor pauta-se pela subjectividade dos seus parâmetros e, portanto, será passível, a todo o tempo, de ser questionado, inclusive através do recurso aos tribunais.
3. O Decreto Regulamentar nº 2/2008 não tem em conta a complexidade da profissão docente que não é redutível a um modelo burocrático, cabendo em grelhas e fichas preformatadas numa perspectiva desmesuradamente, quantitativa e redutora da verdadeira avaliação de desempenho dos docentes
4. O modelo previsto no Decreto Regulamentar nº 2/2008, pela sua absurda complexidade, não é aceite pelos professores, não se traduzindo em qualquer mais-valia pessoal e/ou profissional.
5. O Decreto Regulamentar nº 2/2008 tem por objectivo melhorar a qualidade da escola pública. Este pressuposto não pode ser alcançado devido ao clima de insustentável instabilidade e mal estar resultante da implementação do concurso para Professor titular, concurso baseado em parâmetros arbitrários e por isso injusto.
6. O Decreto Regulamentar nº 2/2008 impõe quotas para as menções de “Excelente” e “Muito Bom”, e, com isso, desvirtua, logo à partida, qualquer perspectiva dos docentes de ver reconhecidos os seus efectivos méritos, conhecimentos, capacidades, competências e investimento na carreira.
7. Não é aceitável que se estabeleça qualquer paralelo entre a avaliação interna e a avaliação externa, quando sabemos que este critério apenas é aplicável às disciplinas que têm exame a nível nacional, havendo, por isso, uma violação evidente do princípio da igualdade consagrado no Artigo 13º da Constituição da Republica Portuguesa.
8. O Decreto Regulamentar nº 2/2008 implica um enorme acréscimo de trabalho burocrático para os docentes, sem benefício correspondente para ninguém, correndo-se o risco de ficar relegado para um plano secundário o processo de ensino aprendizagem, prevendo-se graves consequências nas novas gerações e, naturalmente, no futuro do país.
9. O Decreto Regulamentar nº 2/2008 condiciona a avaliação do professor ao progresso dos resultados escolares dos seus alunos. Os professores desta Escola consideram que mecanismos como a consideração directa do sucesso educativo dos alunos na avaliação dos docentes são incorrectos e injustos e estão em desacordo com as recomendações da Comissão Científica da Avaliação de Desempenho.
Pelo exposto, os professores desta Escola decidiram, por unanimidade, suspender a participação neste processo de Avaliação de Desempenho até que se proceda a uma revisão concertada do mesmo, que o torne exequível, justo, transparente, ou seja, capaz de contribuir realmente para o fim que supostamente persegue, uma Escola Pública de qualidade.
Coimbra, 27 de Outubro de 2008

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

8, pois então...

Lá vou eu de novo no meu carrinho passar o dia a Lisboa.