domingo, 19 de fevereiro de 2006

Papás Multibanco

Transcrição de um texto que me foi enviado por Amélia Pais:

Partia vidros, fabricava bombas artesanais, falsificava as notas. Bernardo procurava sempre situações limite. Possuía tudo o que podia ser comprado com dinheiro. Não tinha a atenção dos pais, empresários que estavam ocupados a ganhar dinheiro. O filho cresceu no meio de criadas. Aos 15 anos, a escola deixou de ter paciência para o aturar.
"É um tipo de miúdo que, se não for agarrado a tempo pode entrar na marginalidade, no consumo de drogas. Porque isso representa entrar num caminho onde não há limites", explica a psicóloga Andreia Moniz.
O Bernardo foi um dos seus doentes mais difíceis. Motivo de uma educação centrada no bem-estar físico. A atenção, o carinho e a partilha de experiências em família foi substituída por bens de consumo. É o pior exemplo dos efeitos dos "papás multibanco", uma definição de Victor Cerqueira, formado em Ciências de Educação. É professor e o que vê?
"Vejo alunos com telefones de última geração. Roupas de marca. Os pais demitem-se da sua função, que é definir regras, impor limites, exercer a autoridade. É mais difícil dizer 'não' do que 'sim'". Tende-se a substituir isso pelo multibanco, muitas vezes com sacrifício", explica. O termo surgiu depois de dizer que solução para os problemas de um jovem seria abrirem uma conta e darem-lhe um cartão multibanco. Um aluno não percebeu a ironia e disse: "Isso mesmo!"
"Os pais de hoje têm tão pouco tempo para os filhos que estes deixam de ser uma prioridade. Têm sentimentos de culpa e acabam por compensar com as coisas materiais. Como se assim pudessem substituir os afectos", acrescenta Andreia Moniz, responsável pelo gabinete de psicologia Psicodam e onde Victor Cerqueira prepara outros profissionais para lidarem com estas situações.
Mudanças
Hoje, as pessoas têm menos tempo, sobretudo os que vivem em Portugal, diz a socióloga da família Maria das Dores Guerreiro. "Somos o país em que se consome mais tempo fora de casa, tanto no trabalho como nos transportes. Temos a semana de 40 horas, o que já não acontece em muitos países da UE, e há sectores com cargas horárias muito díspares. Temos a maior taxa de actividade das mulheres a tempo inteiro. Ambos os membros do casal trabalham e investem no bem-estar da família. Para dar aos filhos o que não tiveram."
A sociedade evoluiu muito, "mas passou-se do 8 para 80, a todos o níveis. Passou-se de uma disciplina rígida para a ausência de disciplina", acrescenta Victor Cerqueira. O bem material surge para compensar a ausência, o abandono. Há também quem superproteja a criança, resolvendo-lhe os obstáculos e comprando-lhe tudo. Mas, alertam os técnicos, quando a situação se torna um problema é porque existem outros pontos críticos. A terapia começa com o filho e acaba na família.
E até a ida ao psicólogo começa por ser uma forma de "comprar" a resolução de um problema. "Os pais do Bernardo pagaram para alguém lidar com o filho. Disse-lhes que eles é que tinham de tomar uma decisão", conta Andreia Moniz. O rapaz chumbou e os pais mandaram-no para um colégio interno em Espanha nas férias. Foi castigado. Ouviu muitos nãos. Demorou três anos para perceber que viver em sociedade implica regras e que nem tudo pode ser comprado. Aprendeu a lidar com limites e a frustração de não ter tudo.
A partir da adolescência, a terapia tem que ser feita quase exclusivamente com o doente. «Chamamos a atenção dos pais para o que não devem fazer, mas trabalha-se a maturidade do jovem. Explica-se que tudo o que faça tem implicações na sua vida. No final, já era o Bernardo que dizia aos pais o que estavam a fazer de errado com a irmã mais nova." Isto para que o jovem não chegue à idade adulta com um comportamento de criança. E, como a birra já não consegue um emprego, uma promoção, acaba por sentir-se frustrado.
Pedro, sete anos, desafiava tudo e todos. Só obedecia com tareia. "Parece que gosta de apanhar", dizia a mãe, com quem vivia desde os dois anos. Os pais eram divorciados. A irmã, mais velha era bem diferente. Ao Pedro faltou a autoridade paternal, uma característica comum a crianças com este tipo de comportamento. O que também acontece quando o progenitor passa pouco tempo em casa. Os pais tinham dificuldades financeiras para lhe darem tudo o que queria. Foi uma professor que aconselhou a ida ao psicólogo. O Pedro entrou no consultório sem cumprimentar, embirrou que não ficava com a psicóloga, depois que não brincava com os objectos próprios da terapia. Andreia Moniz explicou-lhe que a consulta tinha 30 minutos e ou aproveitava para brincar ou continuava aos gritos. Houve também um trabalho com a família. São os pais que têm de arranjar alternativas de comportamento. Estar com eles. Dizer "não" quando é preciso, explicando-lhes porquê. O Pedro era outro ao fim de ano e meio.
O pediatra Mário Cordeiro diz que estes exemplos não fazem a regra. "A parentalidade é vivida hoje de uma maneira como nunca foi em gerações anteriores. Talvez por isso, os pais se sentem angustiados quando sentem que não são tão bons como desejariam", defende.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

Desenrascanço

Afinal, 'saudade' não é a única palavra a não ter tradução em outras línguas. Esta, o desenrascanço' vem definida na Wikipedia como sendo an ability to solve a problem without the adequate tools or proper technique to do so, and by use of sometimes imaginative resourcefulness when facing new situations. Achieved when resulting in a hypothetical good-enough solution. When that good solution escapes us we get a failure (enrascanço — entanglement). Most Portuguese people strongly believe it to be one of their most valued virtues and a living part of their culture. Obviously, they are aware that this subjective feature is not an exclusive of theirs...

A este propósito veja-se o calendário de exames publicitado pelo Ministério que se 'esqueceu' de actualizar o nome da disciplina de Português B. Afinal era só mesmo retirarem-lhe o 'B'. Mas, o 'copy' / 'paste' é mais rápido - é o desenrascanço.
Adenda: Afinal, não erraram.... Errei eu, por falta de informação. Mas desculpo-me... não consigo manter-me informada de tudo. Veio essa informação num ofício-circular, do qual não tive conhecimento.
O nome da disciplina mantém-se Português B.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

Perdidos

Um dia, aqui num desabafo sobre a indisciplina, referi o facto de desconhecer como os alunos se ‘perdem’. Basta olhar um bocadinho à volta e encontram-se exemplos:


Há uns dias atrás, ao chegar à noite à escola para iniciar as aulas, deparo-me com uma conversa entre uma colega de História, com 30 anos de serviço, que conversava acaloradamente com um dos meus (bons) alunos do secundário recorrente, homem feito de trinta e tal anos. Assunto: a colega queixava-se de um aluno de 7º, que no teste se tinha limitado a escrever frases sem nexo, depois de ela ter dado uma ficha formativa idêntica ao mesmo e, supostamente, os alunos a terem estudado à sua frente. O aluno em causa era filho da companheira deste meu aluno. Daí o seu desabafo. Se inicialmente o tom era de apenas inquirição, para ver se alguma coisa se passava com o miúdo, a seguir passou a ser já de zanga, por lhe parecer que todo o teste dele e do colega do lado eram puro e simples ‘gozo’. Ora, o que imediatamente argumentou o ‘padrasto’ (o meu aluno da noite) era que o garoto tinha tudo o que queria da mãe e do pai ausente. Disse que o rapazito no 1º período teve 7 negativas e o pai deu-lhe, no Natal, o computador que ambicionava. Devido ao divórcio dos pais, desde sempre havia a ‘compensação’ sistemática do menino, que conseguia tudo o que queria, apesar de nada fazer para o ganhar. Queixava-se ainda de não ter voto na matéria, dizendo também ele ter uma filha que nunca teve quaisquer problemas. O que ali via de completamente errado era uma criança a crescer com tudo, sem responsabilização e, pior, sempre desculpabilizado.


Não há ‘afecto’ de professor que funcione num caso destes. Não há medidas de recuperação, planos, papéis, nada que funcione. A escola, os professores, as matérias, para este tipo de alunos não têm qualquer significado. Porque tudo é fácil. E as próprias aulas são uma brincadeira. A noção de ‘trabalho’ e ‘esforço’ são conceitos totalmente desconhecidos. E o garoto está numa fase crucial de aprendizagem e consolidação da personalidade. Mas, neste caso específico, ou a mãe começa a ter noção de que o seu filho é uma criança perfeitamente normal e que há comportamentos que são social e moralmente incorrectos e, por isso, reprováveis, a quem tem de ‘exigir’ para poder ‘dar’, ou ele fará parte daqueles que se perdem completamente e ‘vagueiam’ pelas escolas sem delas tirarem qualquer proveito.

Já tive alunos assim. E em dois casos que ‘abandonaram’ a escola, para voltarem depois... e parecerem outras pessoas, completamente transformadas. Porque passaram pela experiência de ‘trabalhar’. Aprenderam a noção de ‘esforço’, à sua custa. No regresso, um, completamente indisciplinado antes, era um exemplo de bom comportamento para os demais. O outro, de quem eu dizia (e quanto me arrependo) que devia ter algum atraso, passou a ser um aluno de 4. Nem num caso, nem noutro, houve interferência dos professores, psicólogos ou pais. Foi um processo individual de crescimento, de contacto com a realidade, que não é efectivamente um ‘mar de rosas’.
Também ‘estudar’ não é um mar de rosas. Nada é na vida. Só passa a ser quando adquirimos noção do valor que tem ultrapassar o que ‘custa’ para termos a merecida ‘recompensa’ depois. (Parece-me que cada vez se ‘cresce’ mais devagar e mais tarde.)

Será que no caso apresentado acima, há alguma coisa que um professor possa fazer se não houver a consciencialização da mãe? E se a mãe não perceber nunca que o que está a fazer é errado?

Por isso digo, repito e volto a dizer: para além dos professores primários que dão as bases em termos de conhecimentos e as regras que ensinam o que é ‘estar’ numa sala de aula, há uma grande, enorme e decisiva responsabilidade dos pais. O professor, nestes casos, nada pode fazer, porque o aluno não ‘ouve’ nada do que se lhe diga, nem ‘vê’ nada do que se lhe apresente. Está ‘a leste do paraíso’.
Cada vez mais e por experiência pessoal de vida, por um lado, e profissional, por outro, me convenço disso.

Mas também há os ‘casos’ em que ninguém consegue fazer nada...
Relato outro episódio: conversas intermináveis com um aluno (de 11º ano) e respectivo pai, porque se descobriu que andava a fumar 'erva’. Cheguei-lhe bem ao coração, porque lhe falei ‘do coração’. E convenci-me que era capaz de o orientar... Só que, no momento em que me ouvia e se abria, tudo o que ‘prometia’ era efectivamente verdade. Mas.... a ‘vontade’ era tão pouca, que dez minutos depois, se calhar já nem se lembrava do que tinha conversado (efeitos nos consumidores habituais). Acabou por abandonar a escola (miúdo espertíssimo, com pais presentes e conscientes) e foi por muito maus caminhos. Nada sei dele, hoje.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2006

Lutar contra o TEMPO - resposta

Vale sempre a pena lutar (não é uma palavra que me agrade particularmente) por aquilo que achamos ser justo.

Por determinação do Conselho Pedagógico passei de 9 horas de trabalho individual para 11 (eu e todos os professores de disciplinas com programas novos, sujeitos a exame). Tive ainda a redução de secundário (+ 2 horas), por apenas ter uma turma de recorrente nocturno de 3º ciclo e tudo o resto ser de secundário. Embora gaste muito mais do que isto (chego muitas vezes às 50 da Finlândia) sinto a justiça em acção...
De fora ficaram muitos outros casos...

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006

Manias...

A IC lançou-me o desafio...

Cada bloguista participante tem de enumerar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que o diferenciem do comum dos mortais. E, além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do "recrutamento". Ademais, cada participante deve reproduzir este "regulamento" no seu blogue.


5 das minhas manias...


Mania de não deitar nunca antes das 4 da manhã... (só nas férias o faço... quando tenho de levar as piquenas à praia). É quando me sinto mais produtiva, quando trabalho, e mais descansada, quando vegeto em frente à tv ou analiso os meus dias....


Mania de não deitar nada fora... (já estou melhor: consegui esvaziar gavetas de bilhetes de cinema com 30 anos, contas antigas, convites para festas da adolescência, enfim... retalhos do passado que não queria perder. Mas custou...)

Mania de pôr tintas numa tela e procurar-lhes uma ordem... (só nas férias, ou melhor, nas férias e nas interrupções das actividades lectivas... quando as 'piquenas' não estão comigo e tenho espaço para sujar à vontade...)

Mania de exigir honestidade a todos... E detesto detectar meias verdades... Preferia não as ( inevitavelmente) perceber nos olhares, nos gestos, nas atitudes... Talvez por isso deteste política e boas ‘falsas’ maneiras.


Mania de estar sozinha e em casa (talvez explique a 1ª), sempre acompanhada da porcaria dos queridos cigarros (já tentei duas vezes divorciar-me deles, mas são, até hoje, mais fortes do que eu). Mas ainda hei-de conseguir, só não sei é quando...
Como é 'exigido', lanço o desafio aos que aqui leio sempre que cá venho:
Soledade Santos - Nocturno com gatos
Amélia Pais - Ao longe os barcos de flores
João Paulo Silva - Diário de um professor
Karadas - O Cantinho da Educação

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006

É fun_tástico

Os alunos que frequentarem estas vias de ensino (Cursos Tecnológicos) mas que optarem depois por continuar a estudar no superior acabam por ter a vida facilitada em termos de acesso. Com esta alteração da lei, já aprovada em Conselho de Ministros, passam a fazer apenas um ou dois exames nacionais (os que forem exigidos como prova de ingresso no curso ao qual se candidatam), e não três obrigatórios como se previa no diploma aprovado em 2004 e que produziria efeitos no 12.º em 2006/2007.
Além disso, a classificação que os alunos das vias profissionalizantes obtiverem nas provas de ingresso deixa de entrar no cálculo da nota final do secundário.
Quanto aos estudantes das formações científico-humanísticas (antigos cursos gerais) terão de continuar a fazer quatro exames nacionais; cada um conta 30 por cento para a nota final da disciplina.
A entrada no ensino superior através de vias alternativas como o ensino recorrente - supostamente destinado a dar uma segunda oportunidade de conclusão de estudos a adultos e que, até há pouco tempo, não estava sujeito a exames nacionais - chegou a ser utilizada por milhares de jovens para ingressar na universidade de forma mais fácil. Entre 1998 e 2002, o número de candidatos oriundos do recorrente disparou de 1800 para 18.500.
JUSTIFICAÇÃO
A tutela explica a alteração com a necessidade de ser assegurada a "unidade e coerência de tratamento entre os diferentes tipos de formação profissionalmente qualificantes". Se os alunos dos cursos profissionais (também orientados para a integração no mercado de trabalho) já estavam dispensados de fazer os exames nacionais para concluir o secundário, não há nenhuma razão para os dos tecnológicos serem sujeitos a regras diferentes, explica António Ramos André, adjunto da ministra da Educação.
,OU SEJA,
1. A «unidade e coerência de tratamento» visa tornar tudo mais fácil para todos, em vez de exigir mais a todos....
2. Os cursos «científicos/humanísticos» serão extintos por falta de alunos.

domingo, 29 de janeiro de 2006

Nova terminologia MXVI

Mais uma descoberta caricata, nestes sábados de estudo e preparação da nova terminologia:

Nos exemplos de exercícios apresentados pelo Ministério, surge a questão:
O antecedente do pronome relativo «cuja» (l. 12) é «primeiro centro cultural radicado na província».
Mas....
...na nova terminologia, 'cujo (a,s)' deixou de ser pronome relativo e passou a ser quantificador.

Será que quem prepara os exames está ainda tão mal preparado quanto eu?

E prova modelo? Será que surge ainda este ano?

terça-feira, 17 de janeiro de 2006

Exemplos a seguir...

Graças à IC, descobri isto. Em Ontário, no 1º ciclo, as turmas têm agora tamanhos ainda mais reduzidos...


"The government’s class size reduction plan is definitely working. My class size was reduced last year and as a result I was able to spend more time helping students who were struggling or had special needs. They would not have been able to make the progress they did in a larger class," said Maria Fatigati...

MAS...
That means more than 381,000 primary students are in smaller classes this year compared to about 137,000 two years ago. This is the result of $126 million in additional funding this year, on top of $90 million last year, which helped school boards hire 1,100 teachers to reduce class sizes in 1,300 elementary schools.
Pois é... Quem quer melhor educação, tem de gastar mais dinheiro...

sexta-feira, 13 de janeiro de 2006

Contradições?

AR chumba proposta para reduzir número de alunos por turma

O Parlamento chumbou esta quinta-feira o projecto-lei apresentado pelo Bloco de Esquerda (BE) que propunha a redução do número de alunos por turma no ensino básico e secundário.


O diploma, reprovado com os votos contra do PS, PSD e CDS/PP, previa o estabelecimento de um número máximo de 18 alunos no primeiro ciclo do ensino básico, em vez dos 25 actualmente previstos.
No caso do 2º e 3º ciclos do básico e no ensino secundário, o projecto defendia que as turmas tivessem no máximo 20 alunos e não 28 como acontece agora.

Para o BE, a medida era «do mais elementar bom-senso» para melhorar a qualidade da educação em Portugal, contribuindo para uma maior proximidade do professor e uma abordagem mais adaptada à realidade sociocultural de cada aluno, mas só contou com os votos favoráveis dos proponentes e do PCP.

«Turmas muito grandes impedem que o ensino seja individualizado e dificultam o desenvolvimento de projectos pedagógicos inovadores, além de transformar em o quotidiano num inferno por potenciarem problemas de indisciplina», sustentou quarta-feira à agência Lusa João Teixeira Lopes, deputado do BE.

O partido estava convicto de que o projecto-lei, discutido quarta-feira em reunião plenária, seria aprovado hoje, uma vez que o PS já o tinha votado favoravelmente quando o Bloco o apresentou à Assembleia da República no Governo de Durão Barroso.

Na altura, toda a oposição votou a favor, mas o diploma foi reprovado com os votos contra do PSD e do CDS/PP, que alegaram que o Executivo estava a preparar legislação sobre a matéria, o que não chegou a acontecer.
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É engraçado como os partidos políticos mudam as suas posições... mas só não muda quem é burro. Pelo menos, ...................... burros não são.
Afinal, como diz Ludwig Borne, nada é tão duradouro como a mudança.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2006

O «nosso» Manual

Este «livrinho» tem a nova legislação toda compilada.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2006

Número de alunos por turma

Fosse o PP, o PS, o PSD, a CDU ou quem quer que fosse... É das mais básicas iniciativas para melhorar o desempenho dos alunos e facilitar o trabalho individualizado dos professores com eles.
Um tio meu, numa conversa que tivemos há uns tempos, dizia-me que «no tempo dele» eram trinta e muitos na sala.... pois... «naquele tempo» havia a noção do que é a «disciplina» e as «regras de comportamento»...
Já não estamos «naquele tempo».

segunda-feira, 9 de janeiro de 2006

Lutar contra o TEMPO

Em desespero de causa, finalmente desisto. Não posso cumprir o que não é possível ser cumprido. Primeiro estou eu, depois a escola. Sem um «eu» equilibrado também não havia um «eu na escola». A IC abriu-me os olhos...
Exmª Srª Presidente do Conselho Executivo
Com conhecimento ao Delegado de Grupo


Assunto: Impossibilidade de cumprir as orientações de gestão do programa de Português de 12º ano e o que diz respeito à Circular nº. 14/2005 da DGIDC.


Eu, professora do quadro de nomeação definitiva do oitavo grupo A, actualmente a leccionar o novo programa de Português de décimo segundo ano, venho por este meio informar, que, dadas as alterações definidas para o trabalho a nível de estabelecimento determinarem que apenas tenho 9 horas de trabalho individual nas semanas em que não tenho reuniões, e 7 nas semanas em que as tenho, terei de alterar a planificação e a avaliação instituída no início do ano lectivo.
Assim informo:
1. Uma vez que é absolutamente indispensável a devida preparação de aulas e materiais, sem a qual não seria possível acompanhar os alunos na apreensão dos conteúdos da disciplina e considerando que só a nova Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário me tem ocupado cerca de dez horas de trabalho não remunerado todos os fins de semana, usando a semana para preparar o desenrolar das aulas, decidi o seguinte:
a) o item «portefólio», que prevê a correcção de trabalhos escritos, produzidos pelos alunos, com o objectivo de treinar a produção escrita, embora crucial para um melhor desempenho a este nível, terá de ser excluído, uma vez que este trabalho comporta uma média de 200 minutos de trabalho por semana, ou seja, mais de 3 horas semanais (dependendo da especificidade de cada tipo de texto entre 5 a 15 minutos de correcção - 1 trabalho de 15 em 15 dias x 40 alunos). Daí que a avaliação, que previa uma percentagem de 15% para este item, venha também a ser alterada.
b) a nova terminologia, à semelhança do que se passa noutras escolas, não será toda trabalhada. Os alunos farão os exercícios como surgem no manual, ou seja, de acordo com uma mistura entre a «velha» e a nova e, sempre que o tempo mo permitir, actualizarei o que está errado (porque não consentâneo com a nova terminologia) no manual. De fora ficará o que este não contém.
2. Devo acrescentar que nunca me escusei a qualquer tipo de trabalho e que tenho dedicado muito mais do que as 35 horas instituídas ao estudo e à preparação de materiais que melhor se adeqúem aos alunos e à correcção de trabalhos seus, para que possam analisar os erros e assim melhor os corrigirem. Também o desenvolvimento do projecto, Português na Net, que ocorre há vários anos, surge agora materializado no horário em forma de projecto, embora a escola não me tenha ainda facultado os instrumentos para aí o trabalhar. Daí que o continue a fazer em casa e use essas horas para preparação de aulas e materiais. Por me sentir avassalada por trabalho e por considerar que acima da profissão e do brio profissional, que sempre me norteou, está a minha saúde mental, sem a qual nem o mínimo poderei render, decidi o que aqui informo, mau grado o constrangimento do dever não cumprido.

domingo, 8 de janeiro de 2006

A educação que não temos...

...e a investigação que não usamos


por Ana Maria Morais


Muito se tem falado do estado actual da educação, aos vários níveis. Concentremo-nos na actual reforma para o ensino básico, que deixa à escola a selecção e a sequência dos conhecimentos, partindo do pressuposto de que, estabelecidas determinadas capacidades e determinados aspectos gerais de conhecimento, os professores terão a liberdade e a competência para estruturar todo o processo de aprendizagem.
Esta liberdade concedida a nível central, pelo Ministério da Educação, pode conduzir a aprendizagens de diferentes níveis, dependendo do contexto social da escola. A investigação, já realizada em Portugal, tem mostrado como o professor é, em geral, influenciado pelo contexto social da escola onde ensina, baixando o nível de exigência conceptual nas escolas cujos alunos provêm de meios desfavorecidos. Temos, assim, dois tipos de educação, uma educação de primeira e uma educação de segunda, que divide crianças e adolescentes em alunos de primeira e alunos de segunda.
Esta não é uma situação nova, mas é agora firmemente legitimada pelo Ministério da Educação, através da gestão flexível do currículo. Defendida por muitos professores de Educação (as Ciências da Educação), em nome da adaptação do ensino a contextos e alunos diferenciados, e tendo subjacente perspectivas multiculturalistas e pós-modernistas, a educação que existe presentemente nas nossas escolas apresenta um nível desesperadamente baixo. Tão baixo que não serve ninguém, nem os alunos desfavorecidos nem os alunos favorecidos, nem os que deixam a escola no final da escolaridade obrigatória nem os que seguem para níveis superiores de educação.
Têm sido muitos os que vêm culpabilizando as Ciências da Educação pelo actual estado de coisas. Não seria justo deixar para as Ciências da Educação todo o ónus da colossal falha da educação actual. Muito deve ser imputável a factores de decisão política. Mas também são muitos os professores e investigadores que têm vindo a ser responsáveis pela educação que temos. Uns por intervenção directa, como construtores de novas reformas e formadores de professores. Outros por omissão, porque se limitam ao papel de preparar os seus próprios alunos, futuros professores, e de desenvolver investigação que não ultrapassa o nível académico, não se envolvendo num processo de intervenção ao macro nível.
É necessário dizer aos decisores de política educativa e aos cidadãos em geral que há outras formas de organizar a educação. Que há investigação que suporta essas outras formas. Que é urgente aumentar o nível de exigência conceptual. Que não é uma inevitabilidade que o nível de educação baixe perante a inacção colectiva.
Em oposição à habitual dicotomia entre uma pedagogia progressista e uma pedagogia tradicional, há outras pedagogias, as pedagogias mistas, caracterizadas por relações de poder e de controlo entre o professor e o aluno e entre o Ministério da Educação e o professor, que variam consoante os múltiplos aspectos dos processos de ensino e de aprendizagem. Essas pedagogias mistas têm mostrado, através de investigação já desenvolvida, terem o potencial para alterar o actual estado da educação. Não é verdade que a origem sócio-económica e cultural baixa de muitos alunos seja uma causa inevitável de insucesso. Uma prática pedagógica eficiente pode promover a literacia de todos os alunos. Mas ela não é nem uma prática tradicional nem uma prática progressista. Contudo, nas condições actuais, não há práticas pedagógicas que possam produzir resultados positivos, e não, de certo, as práticas pedagógicas mistas de que falamos. São tempos e espaços que só podem conduzir a um nível baixo (agora cada vez mais baixo) de literacia.
Irão estes resultados ser ignorados? Será que é mesmo inevitável que se mantenha uma fronteira aparentemente intransponível entre investigação em educação e prática de educação? Será que os meios financeiros despendidos em investigação são necessariamente meios perdidos?
Não é possível melhorar a aprendizagem dos alunos sem a existência de um mecanismo regulador consistente e eficiente. Este mecanismo regulador vai muito para além das tão defendidas (embora meritórias) auto-avaliações das escolas e da avaliação dos alunos feita directamente pelos professores. É urgente uma avaliação externa, e os exames são uma necessidade absoluta (poderemos inventar outro tipo de mecanismo regulador?). Mas, e este é um aspecto da máxima importância, exames que não se limitem à tradicional avaliação centrada em níveis baixos de literacia mas que avaliem conhecimentos e capacidades de elevado nível cognitivo. Tais exames iriam levar os professores e as escolas a modificar o nível de aprendizagem que promovem. Os exames têm um papel regulador da prática dos professores pois que afinal... é preciso preparar os alunos para os exames. Também aqui podemos encontrar investigação que suporta esta afirmação.
Temos a clara consciência dos múltiplos problemas que os exames podem acarretar, problemas que, contudo, têm vindo a ser sobrevalorizados em duas vertentes, a emocional e a contingente da situação de exame. Numa cultura de sobreprotecção de crianças e adolescentes, todo o esforço, exigência e rigor têm sido desprezados, desprezando-se assim uma preparação necessária à vida activa dos futuros cidadãos.
Evidentemente que há muitas capacidades, como a cooperação e a capacidade de argumentação, que nunca poderão ser avaliadas através de exames. Estas são importantes capacidades que os alunos devem e podem desenvolver, através das pedagogias mistas, de que falámos. Para elas é necessário inventar outros tipos de avaliação. Importante é notar que embora sejam, por si só, capacidades cruciais para a formação integral dos alunos, elas contribuem também para a aprendizagem de conhecimentos e para o desenvolvimento de outras capacidades, essas sim passíveis de serem avaliadas através de exames.
Esta educação que temos, não é educação. Falemos antes da educação que não temos... e da investigação que não usamos.



Ana Maria Morais, Professora catedrática de Educação, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

sábado, 7 de janeiro de 2006

Lero Lero

Não é preciso saber português... Basta actualizar o brasileiro do Lero Lero.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2006

Mim ser bom pessoa

Agora limito-me a transcrições...

por Vasco Graça Moura

As línguas, tal como as nacionalidades, as identidades, os seres humanos, as artes e muitas coisas mais, nunca foram entidades comandadas por uma racionalidade estrita ou por uma lógica sem falhas. Entre nós, já Camilo Castelo Branco ironizava, há bem mais de um século, a propósito, salvo erro, do jovem Joaquim de Vasconcelos, que, regressado da Alemanha, propunha que se dissesse "estejai", em vez de "estai".
Vem isto a propósito do livro A Língua Portuguesa em Mudança, organizado por Maria Helena Mira Mateus e Fernanda Bacelar do Nascimento (Caminho, 2005). É uma útil investigação sobre a maneira como a língua falada e escrita na comunicação social pode condicionar certas tendências do português que falamos.
Maria Helena Mira Mateus (MHMM), por quem tenho grande consideração e estima pessoais, assina uma densa introdução, A mudança da língua no tempo e no espaço, cujas últimas páginas, todavia, me deixam muito apreensivo. Aí, depois de postular a necessidade de uma norma-padrão, «como referência da produção linguística e como garante da aceitabilidade de um certo comportamento no contexto sociocultural em que estamos inseridos», da qual «a escola é especial depositária» e que tem «justificações sociopolíticas e culturais, de carácter pedagógico e comunicativo», MHMM não encontra solução para as dificuldades de definição dessa norma-padrão, de modo a ser possível circunscrever o que é "correcto" e o que é "incorrecto".
E passa a imputar a «uma alta percentagem de subjectividade» a condenação de certas construções ou formas lexicais. É esse o primeiro passo de neutralização da própria norma-padrão cuja necessidade e cuja defesa julguei entrever algumas linhas antes. Imputar à subjectividade o que decorre de um conjunto de factores independentes da lógica, tem como efeito desvalorizar, precisamente, a norma-padrão.
Mas o meu alarme vai mais longe quando MHMM considera como «alternâncias possíveis», por ocorrerem «com frequência» e se justificarem «linguisticamente» formulações como «a maioria dos estudantes passaram no exame», ou «o prédio que o Paulo vive é moderno», ou ainda «o autor que eu mais gosto é Aquilino».
Na mesma linha, são em seguida formuladas algumas interrogações, para as quais a rejeição de uma auctoritas que possa decidir sobre a correcção à luz da norma-padrão acaba, em última análise, por abrir a porta às mais bizarras permissividades. Por exemplo, "hádem", quanto a "hão-de", "pensar de que" por "pensar que", "houveram muitos acidentes", por "houve muitos acidentes"...
E a autora pergunta-se «como saber o que se pode aceitar e o que se deve reprovar?». Compreende-se a angústia da linguista ante uma questão a que a sua ciência não dá resposta. Mas isso não deveria levá-la, nem a admitir aberrações da nossa língua, como as exemplificadas, nem a invocar mutações socioculturais lá, onde a única explicação é o falhanço calamitoso da escola.
Sem ser linguista, penso que o grande problema está em haver um sector da Linguística que parece preocupar-se apenas com aspectos de eficácia comunicacional e mais nenhuns. Será a língua, como instrumento de conhecimento e apreensão do mundo, irisado de uma multiplicidade de valores afectivos, estéticos, sedimentados pela memória e pela história, pelo uso transgeracional, pelos autores, algo de que se considera poder fazer tábua rasa?

Aplicando justificações muito próximas das que leio em MHMM, eu posso afirmar que está bem (salvo seja!) uma frase como "mim ser bom pessoa".
Em primeiro lugar, porque o destinatário da mensagem perceberá perfeitamente o que eu quero dizer, logo o nível estritamente comunicacional está alcançado.
Em segundo lugar, porque posso considerar que a formulação se limita a ser elíptica quanto a um enunciado de correcção indiscutível (no que a) mim (respeita, considero) ser bom (enquanto) pessoa.
Como não será de admirar que a comunicação social um dia destes desate a brindar-nos com pérolas destas, é evidente que não se pode aceitar, ao contrário de MHMM, que «a norma portuguesa dotada de maior vitalidade e capacidade de fazer adeptos é a que transmitem os jornais, a rádio e a televisão». Norma???
Bem sei que MHMM diz que não podemos aceitar este conceito sem critério, mas a verdade é que tal critério se dilui na nebulosidade com que é tratada a norma e assim entramos num círculo terrivelmente vicioso e, o que é pior, num ciclo grotescamente viciado...

quarta-feira, 4 de janeiro de 2006

Um ano negro para a Educação

De regresso (vírgula) graças ao iluminado colega João que me deu novo alento (vírgula) aqui transcrevo mais um texto:

de Santana Castilho

Remexo na memória recente e não me recordo de um ano tão negro para a Educação como o que agora findou. O que é mau, porque os restantes com que comparo este tão-pouco são famosos.
O que seria relevante está parado, melhor dizendo, nunca mexeu. Nada vai além de uma medíocre gestão corrente e de uma overdose bruta de alterações, bem diferentes dos desejáveis desenvolvimento e progresso. Esse é, aliás, o elo identificador de uma sucessão de ministros da Educação que não têm estado à altura das circunstâncias mas que, julgando-se divinamente iluminados, decretam mudanças em catadupa, para que tudo fique... pior.
Esta minha visão de conjunto pode ser fundamentada pelo somatório dos erros que a informa e que patenteiam a ausência de estratégia, as frequentes incoerências, a falta de clarividência política e até de simples senso comum. Aqui ficam alguns exemplos, em jeito de balanço, relativos à equipa actualmente em funções:

1. A colocação dos professores a tempo e horas granjeou os primeiros elogios imerecidos à actual ministra. Imerecidos por duas razões: porque foi, como é evidente, resultado da acção correctiva de quem a antecedeu e porque é um processo administrativo trivial que só uma visão terceiro-mundista pode alcandorar a feito relevante. O tema foi retomado com uma proposta de substituição dos concursos anuais por plurianuais, imposta sem tempo de discussão nem ponderação de consequências. A adequação dos quadros às necessidades e a consequente estabilização dos corpos docentes continuará por fazer. Persistiu-se na centralização administrativa e no primado da burocracia. O primeiro factor da falta de qualidade do sistema continuará intocável, no essencial, com o cortejo de injustiças e de dramas a que estamos habituados.

2. Seguiu-se o prolongamento do tempo de abertura das escolas do ensino básico e medidas de enquadramento de alunos em situação de falta de professores às aulas previstas. Embora desgarradas e avulsas, eram iniciativas, em espírito, inatacáveis. Mas a forma foi desastrada e materializou o primeiro erro político de grande dimensão. Esta equipa não entendeu que nada se institui de moca em riste. As mudanças só valem a pena quando forem mais que mudanças normativas, quando gerarem melhorias e quando conquistarem quem tem que as executar. A ideia de que os despachos mudam os comportamentos é uma ideia arrogante de quem não sabe como se gerem pessoas. Acusaram-se professores competentes e esforçados, porque alguns o não são. Atropelaram-se disposições legais. Generalizou-se o que não era generalizável. Semeou-se revolta e desmotivação. Desmembraram-se organizações e estruturas que funcionavam. E agora voltou-se ao que se quis alterar levianamente, com custos para o Estado, que antes não existiam.

3. Não chegava o que sobrou para os professores do vilipêndio colado aos funcionários públicos e já a ministra reforçava a dose com a pouco ética manipulação das estatísticas relativas às faltas dos docentes. Divulgadas maliciosamente no dia da greve nacional, para ajudar à exploração demagógica do desconforto que qualquer greve provoca nos utentes habituais dos serviços. Para o mesmo alforge foram as faltas dadas ao abrigo do Estatuto do Trabalhador-Estudante, as motivadas por doença e as relativas à maternidade, numa população onde cerca de 80 por cento são mulheres. Tudo em nome do fomento da raiva de um país contra os seus professores. Será sensato que assim se proceda?

4. A intervenção no livro escolar prenuncia o escaqueirar do sector. A confirmar-se a censura prévia anunciada, a menorização dos professores que deixarão de ser considerados no processo de adopção, a imposição administrativa dos preços e o prolongamento para seis anos do período de vigência, teremos regredido várias décadas.

5. Reabriu-se a guerra dos exames. Aboliram-se hoje, readmitiram-se amanhã. Português porque sim, Filosofia porque não. Qual o critério? Com que ponderação se anunciam as políticas? Com que coerência as engolem?

6. Será pedir demasiado aos responsáveis do Ministério da Educação que não confundam o carácter laico do Estado português com jacobinismo primário? Valeu a pena ferir sensibilidades que merecem respeito com a imprudência de mandar retirar os crucifixos por burocrática circular?

7. Para quê tanta gente bem intencionada andou há tanto a trabalhar no domínio da educação sexual dos jovens e adolescentes? Podemos deixar passar sem protesto que de repente tudo se ignore e se anuncie a salvação como se nada existisse? Daniel Sampaio é respeitável e competente? E os outros ? São transparentes? Que ministério é este que assim despreza recursos e ignora os pais e as famílias?

É impossível ter esperança com esta gente. Feito o diagnóstico está feito o prognóstico. 2006 será como 2005. Resta resistir.

Professor do ensino superior

sábado, 24 de dezembro de 2005

quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

A TLEBS no sapatinho



Por Vasco Graça Moura


Tenho sido contactado por alguns professores a propósito da TLEBS.
A TLEBS é a Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário, adoptada pela Portaria n.º 1488/2004, de 24 de Dezembro, que só deveria entrar em vigor após três anos de duração da experiência pedagógica. Mas, em Março deste ano, o Ministério da Educação enviou às escolas uma circular determinando que a TLEBS constitua uma referência no tocante às práticas lectivas, à concepção de manuais e aos documentos produzidos em matéria de ensino e divulgação da Língua Portuguesa.
A TLEBS baseia-se numa linguagem técnica de acesso difícil e em conceitos que não fazem parte da gramática tradicional e são desconhecidos da maioria dos professores. Assenta em critérios sintácticos que se sobrepõem aos critérios semânticos em termos radicalmente novos.
Três exemplos:
Deixa de se falar em "orações" para se falar em "frases". Basta lembrarmo-nos de que toda a gente tem interiorizado que a frase pode ser formada por uma ou mais orações para se ver a confusão que tal inovação pode causar.
Os complementos circunstanciais passam a chamar-se "modificadores" (preposicionais, adverbiais, frásicos), o que afasta logo a compreensibilidade imediata que tinham designações tradicionais como as ligadas ao tempo, modo e lugar.
A conjunção é definida como "palavra invariável, pertencente a uma classe fechada de palavras que não desempenha função sintáctica na frase a que pertence e que, no caso de introduzir um grupo nominal, obriga a que esse grupo nominal apresente caso nominativo". Compare-se com a definição de Celso Cunha e Lindley-Cintra "Conjunções são os vocábulos gramaticais que servem para relacionar duas orações ou dois termos semelhantes da mesma oração."
Não há nenhuma gramática portuguesa que assente na TLEBS. Não há nenhum professor do básico ou do secundário que a conheça bem. Haverá pouquíssimos materiais didácticos que a utilizem. Numa altura em que se pretende evitar o acréscimo de despesas das famílias com os livros escolares, está-se a ver onde é que isto pode levar!
Segundo a portaria, a divulgação da TLEBS devia "ser complementada com a concretização de medidas e acções adequadas, de apoio e reforço da sua utilização, nomeadamente ao nível da formação de professores e da publicação de documentos, teóricos e práticos, que a informem, científica e pedagogicamente".
Mas dizem-me que nenhuma estratégia de informação e de apoio documental foi concretizada, excepto a disponibilização de uma base de dados em CD- ROM com informação indiferenciada para ser aplicada no básico e no secundário.
Chegam-me também comentários deste género:
1. O facto de, praticamente, todas as definições terem na base o critério sintáctico em detrimento do critério semântico usado na corrente tradicional, bem como o de a reclassificação de diversas classes de palavras ter sido feita com base nos mesmos critérios, tem pesadas consequências, a nível pedagógico, dificultando a compreensão, a interiorização e o reconhecimento dessas mesmas classes.
2. A base de dados enviada às escolas é um mero instrumento teórico, distante dos fenómenos concretos do funcionamento da linguagem e das realidades vividas no dia-a-dia do ensino, dificilmente estruturável em comportamentos didácticos e em materiais pedagógicos renovados e concretos.
3. A TLEBS introduz uma mudança radical nos conceitos utilizados no ensino, está a ser de difícil aceitação e utilização pelos professores e é de prever que a confusão gerada seja enorme e os resultados no ensino do português ainda mais negativos. Até certa altura, os alunos aprenderam de acordo com o modelo gramatical; depois, serão confrontados com outro modelo.
4. Segundo a circular do Ministério, "a TLEBS assume a abertura como um dos seus princípios de constituição, o que significa que deixa em aberto a possibilidade de futuras alterações consistentes, cabendo à DGIDC promover a sua revisão e a necessária actualização periódica". Não só se desactualiza assim tudo o que existe já disponível para o ensino da língua, como a revisão e actualização periódica acarretam mais uma perigosa garantia de instabilidade…
Não sou professor, mas os professores que me contactaram merecem-me toda a credibilidade. Se as coisas são assim, ter-se-á a ministra da Educação apercebido da catástrofe? Terá visto bem a prenda que o Pai Natal pôs no sapatinho da língua portuguesa?

domingo, 18 de dezembro de 2005

O atestado médico

Recebi por mail:
por José Ricardo Costa

Imagine o meu caro que é professor, que é dia de exame do 12º ano e vai ter de fazer uma vigilância. Continue a imaginar. O despertador avariou durante a noite. Ou fica preso no elevador. Ou o seu filho, já à porta do infantário, vomitou o quente, pastoso, húmido e fétido pequeno-almoço em cima da sua imaculada camisa. Teve, portanto, de faltar à vigilância. Tem falta. Ora esta coisa de um professor ficar com faltas injustificadas é complicada, por isso convém justificá-la. A questão agora é: como justificá-la? Passemos então à parte divertida. A única justificação para o facto de ficar preso no elevador, do despertador avariar ou de não poder ir para uma sala do exame com a camisa vomitada, ababalhada e malcheirosa, é um atestado médico. Qualquer pessoa com um pouco de bom senso percebe que quem precisa aqui do atestado médico será o despertador ou o elevador. Mas não. Só uma doença poderá justificar sua ausência na sala do exame. Vai ao médico. E, a partir deste momento, a situação deixa de ser divertida para passar a ser hilariante. Chega-se ao médico com o ar mais saudável deste mundo. Enfim, com o sorriso de Jorge Gabriel misturado com o ar rosado do Gabriel Alves e a felicidade do padre Melícias. A partir deste momento mágico, gera-se um fenómeno que só pode ser explicado através de noções básicas da psicopatologia da vida quotidiana. Os mesmos que explicam uma hipnose colectiva em Felgueiras, o holocausto nazi ou o sucesso da TVI. O professor sabe que não está doente. O médico sabe que ele não está doente. O presidente do executivo sabe que ele não está doente. O director regional sabe que ele não está doente. O Ministério da Educação sabe que ele não está doente. O próprio legislador, que manda a um professor que fica preso no elevador apresentar um atestado médico, também sabe que o professor não está doente. Ora, num país em que isto acontece, para além do despertador que não toca, do elevador parado e da camisa vomitada, é o próprio país que está doente. Um país assim, onde a mentira é legislada, só pode mesmo ser um país doente. Vamos lá ver, a mentira em si não é patológica. Até pode ser racional, útil e eficaz em certas ocasiões. O que já será patológico é o desejo que temos de sermos enganados ou a capacidade para fingirmos que a mentira é verdade. Lá nesse aspecto somos um bom exemplo do que dizia Goebbels: uma mentira várias vezes repetida transforma-se numa verdade. Já Aristóteles percebia uma coisa muito engraçada: quando vamos ao teatro, vamos com o desejo e uma predisposição para sermos enganados. Mas isso é normal. Sabemos bem, depois de termos chorado baba e ranho a ver o "ET", que este é um boneco e que temos de poupar a baba e o ranho para outras ocasiões. O problema é que em Portugal a ficção se confunde com a realidade. Portugal é ele próprio uma produção fictícia, provavelmente mesmo desde D.Afonso Henriques, que Deus me perdoe. A começar pela política. Os nossos políticos são descaradamente mentirosos. Só que ninguém leva a mal porque já estamos habituados. Aliás, em Portugal é-se penalizado por falar verdade, mesmo que seja por boas razões, o que significa que em Portugal não há boas razões para falar verdade. Se eu, num ambiente formal, disser a uma pessoa que tem uma nódoa na camisa, ela irá levar a mal. Fica ofendida se eu digo isso é para a ajudar, para que possa disfarçar a nódoa e não fazer má figura. Mas ela fica zangada comigo só porque eu vi a nódoa, sabe que eu sei que tem a nódoa e porque assumi perante ela que sei que tem a nódoa e que sei que ela sabe que eu sei. Nós, portugueses, adoramos viver enganados, iludidos e achamos normal que assim seja. Por exemplo, lemos revistas sociais e ficamos derretidos (não falo do cérebro, mas de um plano emocional) ao vermos casais felicíssimos e com vidas de sonho. Pronto, sabemos que aquilo é tudo mentira, que muitos deles divorciam-se ao fim de três meses e que outros vivem um alcoolismo disfarçado. Mas adoramos fingir que aquilo é tudo verdade. Somos pobres, mas vivemos como os alemães e os franceses. Somos ignorantes e culturalmente miseráveis, mas somos doutores e engenheiros. Fazemos malabarismos e contorcionismos financeiros, mas vamos passar férias a Fortaleza. Fazemos estádios caríssimos para dois ou três jogos em 15 dias, temos auto-estradas modernas e europeias, mas para ver passar, a seu lado, entulho, lixo, mato por limpar, eucaliptos, floresta queimada, barracões com chapas de zinco, casas horríveis e fábricas desactivadas. Portugal mente compulsivamente. Mente perante si próprio e mente perante o mundo.Claro que não é um professor que falta à vigilância de um exame por ficar preso no elevador que precisa de um atestado médico. É Portugal que precisa, antes que comece a vomitar sobre si próprio.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

APP - Exames

??????
... mas eu não estou perplexa com o Governo...

quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

terça-feira, 13 de dezembro de 2005

Exames :)

Oral da cadeira de Anatomia do curso de medicina
Prof: Descreva o fígado.
Aluno: Os fígados...
Prof: Os fígados??!! Quantos são?
Aluno: Dois. Direito e esquerdo!

Oral da cadeira de psicologia do curso de medicina
- Onde se localiza o centro de inteligência...? (área do córtex cerebral)
- Nos Estados Unidos da América.


Curso de Segurança Social, numa universidade privada lisboeta.
- Diga-me lá porque é que a taxa de natalidade é menor nos países desenvolvidos.
- Porque se trabalha mais do que nos países subdesenvolvidos.
- Ai sim?
- E tem-se menos tempo.
- Menos tempo para quê?
- (o aluno, hesitante e já embaraçado) Menos tempo para fazer amor.

Oral na Faculdade de Medicina de Coimbra
- Minha senhora, diga-me, por favor, qual é o órgão do corpo humano que dilata até sete vezes o seu tamanho normal.
A aluna retorce-se, transpira, cora indecentemente. Decide mesmo recusar-se a responder à pergunta.

Na oral imediatamente seguinte, o professor resolve insistir na pergunta.
- Minha senhora, qual é o órgão do corpo humano que dilata até sete vezes o seu tamanho normal?
- (a aluna, respondendo prontamente) É a íris, senhor professor.
- (O examinador, com um sorriso largo) Por favor, diga à sua colega que vai ter muitas desilusões ao longo da vida.


Exame numa universidade privada, em Lisboa
- Dê-me um exemplo de um mito religioso.
- Um mito religioso? Sancho Pança.
(estupefacto, o professor pede ao aluno para este escrever o que acabou de dizer. O aluno escreve no papel: "S. Xupanssa").



Prova oral da cadeira de Direito Constitucional, numa Universidade privada de Lisboa.
- O que aconteceu no 25 de Abril foi o início do regime autoritário salazarista. Mas quem subiu ao poder foi o presidente do então PSD, Álvaro Cunhal, que viria a falecer em circunstâncias misteriosas no acidente de Camarate.
- Quais são as batalhas mais importantes da história portuguesa?
- Antes de mais, senhor doutor, a batalha de Alves Barrota.


Num instituto superior da capital, 1º ano de Relações Internacionais.A cadeira é Ciência Política. O professor é um distinto deputado à Assembleia da República. A aluna, com rara convicção, explica ao examinador tudo o que se passou no 25 de Abril de 1974:
"A revolução de 74 significou a queda de um regime militar dominado pelo almirante Américo Tomás e pelo marechal Marcelo Caetano, que governava o país depois de deposto o último rei de Portugal, Oliveira Salazar. O 25 de Abril foi uma guerra entre dois marechais: o marechal Spínola e o marechal Caetano".
Outra versão, ainda mais criativa, desta vez numa Universidade privada de Lisboa, no 3ºano de Relações Internacionais.
- Descreva-me brevemente o que foi o 25 de Abril de 1974.
- Foi um golpe levado a cabo pelos militares, liderados por Salazar, contra Marcelino Caetano.
- (o professor, já disposto a divertir-se) E como enquadra o processo de descolonização nesse contexto?
- Bem, a guerra em África acabou quando Sá Carneiro, que, entretanto subiu ao poder, assinou a paz com os líderes negros moderados. Foi por causa disso que ele e esses líderes morreram todos em Camarate.
- Já agora, pode dizer-me quem era o presidente da República Portuguesa antes de 1974?
- Samora Machel.
Uma professora de Direito Constitucional numa universidade privada do Porto questiona o aluno sobre a Constituição de 1933. Esta consagra a impossibilidade de os descendentes da casa de Bragança se candidatarem à presidência da República.
- "Diga-me lá porque é que D. Duarte, segundo a Constituição portuguesa de 1933, não poderia candidatar-se à presidência da república?".
- "Porque ele é actualmente o presidente português".
Noutra resposta à mesma pergunta, que esta professora recebeu:
- "Porque vivemos num sistema monárquico".
Numa outra prova oral de Direito Constitucional:
- Quem substitui o presidente Jorge Sampaio em caso de impossibilidade temporária deste?
- A mulher dele, a Maria José Ritta.
Uma universidade privada em Lisboa, 1997.
A correcção manda que se diga que "as leis são emanadas pela Assembleia da República".
Discorrendo sobre o processo legislativo, um aluno responde que "as leis vêm em manadas da Assembleia da República".
1º e 2º ano do curso de Relações Internacionais, numa universidade privada de Lisboa. 1988/1996.
Algumas preciosidades.
- Quem é o actual presidente dos Estados Unidos?
- O Perez Troika.-
Paris é a capital de que país?
- Bruxelas.
- Quando foi a Revolução Liberal em Portugal?
- Em 1640.
- Diga-me, por favor, o que é a Nato.
- É a Organização do Tratado do Atlântico Norte.
- E a OTAN?
- (o examinado, depois de pensar demoradamente) Bem, aí a doutrina divide-se.
- Então diga-me lá qual era o nome próprio de Hitler?
- Heil.
- Minha senhora, em que época histórica situa Adolfo Hitler?
- No século XVIII, senhor professor.
- Tem a certeza?
- Não! Desculpe. No século XVII.
- Quem foi o grande impulsionador do nazismo?
- (o aluno, rápido e incisivo) O Fura João Hitler.
- O "Fura".
- Sim. É a designação hierárquica de Hitler.
Numa outra oral. Cadeira de História das Ideias Políticas e Sociais.
- Qual é a obra de fundo de Adolfo Hitler?
- É a Bíblia alemã.
- Pode dizer-me o que é um genocídio?
- É a morte dos genes.
- Como?
- É a morte dos genes e dos fetos.
Cadeira de Direito Internacional Público, uma universidade privada do Porto.
O professor, desesperado com a vacuidade das respostas de certo aluno em orais da especialidade, resolve tentar ajudar, recorrendo à geografia. Questionado sobre a localização da Escandinávia, o aluno responde que fica algures na Ásia. O examinador, rendido, brinca agora.
- Podemos então passar a chamar-lhe Escandinásia.
- Se calhar, senhor doutor.
- Não sabe que a Escandinávia fica na Europa?
- Pois é, tem razão!
- E fica a Norte ou a Sul?
- A sul.
- E sabe apontar-me alguma característica dos escandinavos?
- (o aluno, depois de longa pausa) Bem, eu acho que eles não são pretos.

domingo, 11 de dezembro de 2005

TLEBS - Que confusão!

Veja-se a enorme confusão que grassa da nova terminologia:


a explicação feita no ciberdúvidas sobre a nova terminologia para a sintaxe em,
http://ciberduvidas.sapo.pt/php/resposta.php?id=15859, explica desta forma os modificadores e complementos de nome (de grupos nominais) dizendo:


1.Complementos do nome:
1.1 Complemento preposicional do nome – (Composto por uma preposição e por um nome) há nomes que regem preposição (alguns sempre, outros em determinados contextos). Sempre que o contexto o exige, a sua presença é obrigatória, sendo, a meu ver, esta obrigatoriedade que justifica a designação de complemento.
Ex.: A necessidade de reflexão impõe uma pausa nos trabalhos.
1.2 Complemento frásico do nome – Composto por uma preposição seguida de um verbo. Ex.: A necessidade de refle(c)tir impõe uma pausa nos trabalhos.




2. Modificadores do nome:
2.1 Restritivos – podem ser adje(c)tivos ou nomes, ou ainda grupos preposicionais.
(6) O rapaz, decidido, avançou sem hesitar.
(7) A viagem de Lisboa ao Porto é cansativa (creio que se assemelha ao complemento determinativo)
2.2 Adje(c)tivais – (Creio que aqui se insere o atributo) – As flores vermelhas ficam bem nesse vaso.
2.3 Apositivos (como no aposto) – O João, rapaz corajoso, avançou sem hesitar.

Da análise que fiz, do que integra o famoso cd, temos algo bem diferente:


1· complementos do nome:
Todos os complementos do nome são opcionais, embora a informação veiculada por determinados nomes obrigue a ir ao contexto se não forem «completados».
1.1 . complemento preposicional frásico:
A necessidade de estudar é imperiosa (preposição + frase)
1.2 . complemento preposicional:
A irmã da Teresa desenvolveu um projecto (preposição + grupo nominal/nome)
1.3 . complemento adjectival: A proposta interessante enriqueceu a aula (grupo adjectival/adjectivo)

2. modificadores do nome:

2.1 modificadores restritivos (restringem o nome)
2.1.1 adjectivais:

· Os professores competentes são rigorosos ( grupo adjectival/adjectivo)
2.1.2 preposicionais:
· Os alunos com todo o material estudam melhor (grupo preposicional)
2.1.3 frásicos:

· Os alunos que estudam diariamente obtém bons resultados ( frase relativa restritiva)

2.2 modificadores apositivos (não restringem o nome)
2.2.1 adjectivais:

· Os professores, competentes, são rigorosos (grupo adjectival/adjectivo)
2.2.2 preposicionais:

· Os alunos, com todo o material, estudam melhor (grupo preposicional)
2.2.3 frásicos:
· Os alunos, que estudam diariamente, obtêm bons resultados ( frase relativa explicativa)

2.2.4 nominais:
· A escola, espaço de aprendizagem, deve ser preservada (grupo nominal/nome)
Obs: Os modificadores apositivos surgem obrigatoriamente entre vírgulas.


Temos então que alguns de nós continuam a falar de aposto, atributo, complemento determinativo e de orações relativas; outros falarão do que viram na explicação do ciberdúvidas; outros falarão do que efectivamente está na nova TLEBS (modificadores e complementos dos mais variados tipos)...... ENFIM.
Talvez seja melhor mesmo acabar com o Exame, para não se detectar a confusão que vai nesta área...

sábado, 10 de dezembro de 2005

Vem aí o Natal...


Aquilo que de verdadeiramente significativo podemos dar a alguém é o que nunca demos a outra pessoa, porque nasceu e se inventou por obra do afecto.
Fernando Namora

quinta-feira, 8 de dezembro de 2005

Ainda a TLEBS

Diz a nova circular:
1.2. Ensino Secundário:
- em 2005/2006, será levada a efeito a avaliação da situação no terreno. Uma vez os termos relativos ao funcionamento da língua constantes do novo programa de Português, homologado em 2002, são os constantes da TLEBS, apenas faz sentido falar em experiência pedagógica enquanto parte do processo de monitorização e de acompanhamento da implementação do novo programa de Português. Desta avaliação e da formação de professores, prevista também para este nível de ensino, surgirão documentos de reflexão, a publicar, para apoiar as práticas dos docentes;
- em 2006/2007 será publicado o relatório final com as conclusões do acompanhamento no terreno. Serão tidas em conta as contribuições dos docentes para a clarificação e enriquecimento da base de dados, distribuída às escolas sob a forma de CD-ROM.

Posso já adiantar que o meu grupo de trabalho, constituído por 8 professores de Português, concluiu o seguinte, na acção de formação sobre o novo programa para o 12º ano, quanto à avaliação da implementação do mesmo, no 10º e 11º:


(...)
Quanto à preparação científica, ao nível dos conteúdos literários não houve problemas, embora se tenha verificado redução e falta de sequência temática. Porém, o mesmo não aconteceu ao nível dos conteúdos de funcionamento da língua devido ao aparecimento da nova terminologia linguística.
(...)
III - RECURSOS UTILIZADOS
Quanto aos manuais, constatou-se que, na sua grande maioria, não contemplam os conteúdos linguísticos de acordo com o programa. Quando os apresentam, nem sempre o fazem em consonância com a nova terminologia. Este aspecto leva a uma certa confusão na leccionação desses conteúdos.
(...)

Fico à espera das conclusões do «relatório final».

quarta-feira, 7 de dezembro de 2005

Terminologia III

Na extraordinariamente esclarecedora Circular nº. 14/2005 lê-se:
__
2. Perante as questões recorrentemente (somos todos pouco dotados de massa cinzenta) levantadas pelas escolas, esclarece-se que:
2.1. A Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário (TLEBS) não se sobrepõe aos textos programáticos em vigor, mas actualiza-os. Tal significa que os professores deverão considerar, da TLEBS, apenas os termos correspondentes aos ciclos de ensino leccionados, definidos pelos programas em vigor e pelo Currículo Nacional;
2.2. O peso dado ao trabalho do Funcionamento da Língua (ou Conhecimento Explícito da Língua) é o definido pelos programas em vigor para os vários ciclos de ensino, não pretendendo a TLEBS, nem os documentos legais que a adoptam, alterar as orientações programáticas neste sentido;
2.3. A base de dados distribuída pelas escolas e disponível para consulta e instalação a partir da página de Internet da DGIDC é um documento de apoio aos docentes, sem carácter explicativo, que deverá ser objecto de reflexão e de estudo antes de integrar as práticas lectivas. Como tal, não se destina a alunos;
2.4. No que se refere aos exames nacionais no Ensino Básico, e de acordo com informação do GAVE, no final do corrente ano lectivo não estarão reunidas as condições de aplicação da TLEBS nos exames nacionais de Língua Portuguesa do 9.º ano, uma vez que a sua experimentação apenas se concretizará numa amostra de escolas seleccionadas;
2.5. No caso do exame do 12.º ano, o documento de referência para a realização do respectivo exame nacional é o programa da disciplina de Português, homologado em 2002. Assim, será tida em consideração a terminologia dele constante, considerando, portanto, os aspectos comuns à TLEBS publicada na Portaria n.º 1488/2004.
__
Vamos lá a ver se entendi! Embora a TLEBS deva ser objecto de reflexão e estudo antes de integrar as práticas lectivas, os alunos de 12º já têm de a saber para o exame.... (??????????)
Ficamos todos esclarecidos.
Ou não?

Quinto Império «é morto»

Vibra, clarim, cuja voz diz
Que outrora ergueste o grito real
Por D. João, Mestre de Aviz,
E Portugal!

Vibra, grita aquele hausto fundo
Com que impeliste, como um remo,
Em El-Rei D. João Segundo
O Império extremo!

Vibra, sem lei ou com lei,
Como aclamaste outrora em vão
O morto que hoje é vivo —
El-Rei D. Sebastião!

Vibra chamando, e aqui convoca
O inteiro exército fadado
Cuja extensão os pólos toca
Do mundo dado!

Aquele exército que é feito
Do quanto em Portugal é o mundo
E enche este mundo vasto e estreito
De ser profundo.

Para a obra que há que prometer
Ao nosso esforço alado em si,
Convoco todos sem saber
(É a Hora!) aqui!

Os que, soldados da alta glória,
Deram batalhas com um nome,
E de cuja alma a voz da história
Tem sede e fome.

E os que, pequenos e mesquinhos,
No ver e crer da externa sorte,
Convoco todos sem saber
Com vida e morte.

Sim, estes, os plebeus do Império;
Heróis sem ter para quem o ser,
Chama-os aqui, ó som etéreo
Que vibra a arder!

E, se o futuro é já presente
Na visão de quem sabe ver,
Convoca aqui eternamente
Os que hão de ser!

Todos, todos! A hora passa,
O génio colhe-a quando vai.
Vibra! Forma outra e a mesma raça
Da que se esvai.

A todos, todos, feitos num
Que é Portugal, sem lei nem fim,
Convoca, e, erguendo-os um a um,
Vibra, clarim!
(...)

Fernando Pessoa

terça-feira, 6 de dezembro de 2005

APP

http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1241159

Não é problemático? Claro que não. Todos vivemos bem sem exames. Não teremos o trabalho de os corrigir e não sofreremos a pressão de preparar os alunos.


«Os resultados não indicam isso (que as provas promovem a qualidade das aprendizagens). Evidenciam os problemas, mas não contribuem para os resolver e as médias até baixaram entre 1999 e 2004», disse Feytor Pinto .
Terei lido bem??? É melhor esconder os problemas???
As médias baixaram? ........... Por que será?
Desisto.

Exames

Sou suspeita para falar da abolição do Exame de Português de 12º ano, exactamente por ser professora da disciplina.
Sempre concordei com a existência de exames. Funcionam como niveladores do sistema, permitindo uma avaliação do mesmo através de um enunciado e critérios nacionais.
O argumento do «coitadinhos» dos alunos não serve ninguém. Quanto menos se exige, menos se faz. É a universalíssima lei do menor esforço. É natural e humano. Quanto mais se pede a alguém, seja do que for, mais essa pessoa dá. Quanto menos se pede, menos se dá. Funciona na mesma medida para professores. Se não há um exame pela frente, não há necessidade de cumprir o programa. Nem há necessidade de ser exigente e rigoroso na avaliação. E pode voltar livremente a inflação de notas, para «ajudar» os alunos a subir médias.

Abolir qualquer disciplina dos exames Nacionais é fazer crer aos alunos da sua pouca importância. E realmente o que interessa a nossa língua? Nadinha. Mais vale começarem com a língua inglesa no 1º ano e institui-la como língua oficial de Portugal.
Enquanto estes senhores estiverem a governar, desisto.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2005

Imperdível

Ver o cartoon: resume brilhantemente o amor dos profs relativamente às pseudo-aulas de substituição, ou seja, às novas dignificantes funções docentes de guarda e custódia.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2005

Carta aberta


Mais uma transcrição: «Carta Aberta à Exm.ª Sr.ª Ministra da Educação Professora Doutora Maria de Lurdes Rodrigues» de Ana Cristina Marques da Costa.
Sou professora de Educação Física do Ensino Básico (2.º ciclo) há 25 anos. Tive conhecimento, este ano lectivo, que ainda o vou ser mais 19, se a saúde e a motivação mo permitirem. Sou docente do quadro de nomeação definitiva da Escola EB 2,3 José Cardoso Pires, na Amadora. Pelo décimo quarto ano acumulo esta função com tarefas docentes no Ensino Superior Universitário - Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (ULHT).Os meus 25 anos já foram interrompidos por: dois anos de equiparação a bolseira para a realização de um mestrado em Ciências da Educação; dois anos de destacamento no Ministério da Educação a acompanhar a reforma, constituindo, em colaboração com um colega, a Direcção de Serviços de Formação de Professores do departamento a que pertencia; dois anos de destacamento na ULHT como regente de uma disciplina, a orientar estágio e a coordenar um ano da licenciatura que lecciono.Sr.ª Ministra, nenhuma destas três tarefas que acima referi se pode comparar em termos de desgaste intelectual e psicológico à tarefa que desempenho como professora do Ensino Básico. A exigência é semelhante, o desgaste e a energia dispendida não se podem comparar.Sr.ª Ministra, é mais difícil ser professora na escola do que na Universidade, em especial nos tempos que correm, em que, felizmente, estão no Ensino Básico (mas infelizmente não o concluem) quase todos os nossos cidadãos que legalmente o devem frequentar. Os números da frequência de alunos no nosso Ensino Secundário (12.º ano) no contexto mundial são vergonhosos - estamos na cauda (in Correio da Educação, ASA, n.º 63 de 17 Outubro 2005).Sr.ª Ministra, resolvi escrever-lhe esta carta porque, sendo uma das professoras que gosta de ensinar, pela primeira vez na minha vida profissional (na sequência das medidas vertiginosas que tem vindo a enviar para as Escolas) me questionei se terei escolhido a via certa: ser professora.É isto, Sr.ª Ministra: é apenas porque gosto das crianças, gosto da escola e me esforço por acreditar que ela pode melhorar que lhe resolvi escrever.A Escola estava doente, é verdade. Agora sinto-a moribunda.As medidas que tem enviado para os estabelecimentos de ensino são exclusivamente economicistas. Reforçam a ideia de espelho unidireccional do sistema, em que as instâncias superiores do ME espreitam cá para baixo, mas cá de baixo nada se vê para cima. Os professores merecem respeito, muito em especial aqueles que verdadeiramente o são, e a comunicação estabelecida entre os diferentes níveis do Ministério da Educação não tem sido, nem de longe nem de perto, a mais eficaz. A este propósito aconselho a leitura da crónica "A Dignidade e o Respeito"” do Professor Joaquim de Azevedo no Correio da Educação da ASA de 17 de Outubro de 2005. Sim, acredito que havia muitas situações que deveriam ser repostas pelo abuso que se fez, entre outros aspectos, na leitura e análise do Estatuto da Carreira Docente, concretamente no que às reduções da componente lectiva dizia respeito. Sou a primeira a admitir que muito na nossa Escola tem de mudar.Mas e o resto, Sr.ª Ministra?Aponte-me medidas inovadoras, tomadas no seu mandato, que contribuam para a melhoria da eficácia do ensino, para a redução dos níveis de iliteracia da língua portuguesa e da iliteracia científica que apresentamos a nível mundial… Onde estão?Onde estão estratégias de controlo e de verificação da nova concepção pedagógica inerente à reforma do Sistema Educativo: projectos curriculares de turma, desenvolvimento de competências (e não exclusivamente uma escola da memória e da avaliação quase exclusiva de conhecimentos), diferenciação de ensino, transversalidade da Língua Portuguesa…?Onde estão medidas de garantia de uma escola inclusiva? Será que o exemplo da situação actual francesa não nos fazem reflectir no que à Escola diz respeito?Onde estão os mecanismos para avaliar estas importantes inovações fantasma?Sr.ª Ministra, sobre estes assuntos por cumprir há testemunhos valiosissímos que interessa estudar de pessoas que, para nosso azar, já não estão connosco (Professores Paulo Abrantes, Rui Grácio e outros), mas que certamente não estariam contentes com o que se vive.Mais, Sr.ª Ministra, as medidas que têm sido tomadas estão, na minha opinião, a atrasar este processo que teria obrigatoriamente de avançar recorrendo a outras medidas.Mas falemos de outros aspectos. Saiba o que está a acontecer, Sr.ª Ministra: apesar do aumento de carga de permanência na escola, há projectos importantíssimos a cair, professores que faziam sistematicamente experiências no âmbito de disciplinas de Ciências Físico-Naturais que estão a deixar de o fazer (por falta de tempo para as preparar) e os poucos docentes que na escola se envolviam em projectos que ultrapassavam a sua docência e contribuíam para o crescimento e melhoria da escola estão a perder energia e começam a excusar-se de os fazer.A escola parece cada vez mais um jogo da apanhada onde ninguém sabe onde é o coito. (Luís Bom).Saiba, Sr.ª Ministra, que as famosas substituições não têm, na minha opinião, qualquer validade pedagógica. Justifico esta afirmação com os seguintes argumentos:- os alunos estão cada vez mais sobrecarregados em termos de carga horária;- os problemas de insegurança são grandes (em especial nas zonas urbanas e nos subúrbios) pelo que, à grande parte das crianças e jovens, não é dada a liberdade de poder caminhar em paz para as suas casas;- os fins-de-semana são, infelizmente para muitos, solitários e na companhia da televisão e de computadores;- a escola é quase toda sentada e as aulas de substituição também são sentadas;- assim sendo, os tempos de encontro e troca são escassos, restando a poucos alunos essa oportunidade. Ter um período de tempo desocupado permite o encontro entre os jovens, experiências importantíssimas de sociabilização, de jogo, de actividade física e de tratamento de temas que não são tratados junto da família, de professores ou da maioria dos adultos.Saiba a Escola ter uma oferta consistente e válida de actividades de complemento curricular (clubes diversos e um bom projecto de Desporto Escolar…), apoios pedagógicos, Bibliotecas abertas com a presença obrigatória e permanente de um Auxiliar de Acção Educativa e de um docente, Serviços de Psicologia e Orientação Profissional, Tutorias, Animadores e tudo o resto que ajude a escola a ser escola.Sr.ª Ministra, acredite que as aulas de substituição servem pouco a escola e os alunos. Servem apenas para grande desgaste da maioria dos professores que se confronta, desnecessariamente em muitas situações, com grupos desmotivados de cerca de 25 alunos que poderá nunca voltar a encontrar. Este encontro é certamente bem diferente daqueles que o Professor Daniel Sampaio realiza pontual e informalmente há cerca de trinta anos com milhares de jovens desconhecidos em aulas, garagens, pátios de escola, anfiteatros municipais e até igrejas in crónica da revista Xis, Jornal Público).Tenha o Ministério da Educação vontade e disponibilidade política para garantir estas medidas. Para as fiscalizar, a par da avaliação e controlo que já há muito deveria ter sido feito através de um enquadramento legal, da qualidade miserável dos bares das escolas que estão a contribuir para a destruição da saúde das nossa crianças e jovens e para um acréscimo impressionante dos gastos em saúde resultantes das doenças associadas à obesidade (não tão longínquo como à partida pode parecer).As comparações que têm vindo a público na comunicação social são enganadoras, no mínimo viciadas. A Educação Comparada é uma das Ciências da Educação importantes, é verdade. Deve no entanto ser utilizada de forma criteriosa, não recorrendo apenas a variáveis úteis em determinados momentos. Não basta apenas pensar em percentagens de gasto da educação relativamente ao nosso pobre produto interno bruto ou a qualquer outro aspecto descontextualizado. Vamos comparar todas as variáveis.Outro assunto que seriamente me preocupa é um resultante da entrevista que a Sr.ª Ministra deu ao Jornal Público, a 20 de Outubro deste ano. Reportando-se às verbas do PIDDAC e a propósito da melhoria da rede escolar, a Sr.ª Ministra refere Encontrei um PIDDAC que, se não lhe mexesse, tinha todo o dinheiro comprometido nos próximos cinco ou seis anos só para pagar pavilhões gimnodesportivos, mesmo estando a rede escolar num estado que exige intervenção urgente. A minha intervenção foi inverter as prioridades, passá-las dos pavilhões para o espaço da escola.Que estranhas estas prioridades. Fala como se a a saúde das crianças portuguesas não fosse uma prioridade! Esquece-se de que a Organização Mundial de Saúde classifica a obesidade como o flagelo do século XXI e de que é na disciplina de Educação Física que se desenvolve a saúde e se promove um estilo de vida activo. Fala do espaço das escolas como se as instalações cobertas e dignas para a disciplina de Educação Física e para as práticas de Desporto Escolar dele não fizessem parte.Mas e os estádios? Especialmente os esquecidos por cuja construção governos tanto lutaram. Será que daí não estão a resultar individamentos para o nosso Portugal dos Pequenitos? Terá sido isso uma prioridade, Sr.ª Ministra?Esta preocupação agrava-se quando leio o artigo "Professores temem mais privatizações” (in Correio da Manhã, 9 de Novembro de 2005) no qual um adjunto da Sr.ª Ministra refere, a propósito do 1.º ciclo, que: a modalidade de instrução física e motora não assegura um bom desenvolvimento desportivo da criança e desvenda medidas que irá anunciar, que podem incluir a saída da Educação Física do currículo do 1.º ciclo do Ensino Básico. Será necessário esclarecer queo que está em causa não é a instrução física, mas sim a área curricular de “Expressão e Educação Físico-Motora” incluída legalmente no currículo deste ciclo de escolaridade.Tal como a finalidade da Língua Portuguesa, que no actual currículo acompanha a EF do 1.º ao 12.º ano (resultante da reforma iniciada em 1986 e generalizada em 1996), não é formar poetas ou advogados, mas sim desempenhar com correcção as funções da Língua Portuguesa, isto é comunicar, a Educação Física, Sr.ª Ministra, no 1.º ciclo (ou em qualquer outro ciclo de escolaridade) nunca servirá para formar desportistas. Serve para educar as crianças no domínio das actividades físicas, para as tornar mais aptas e saudáveis, para lhes incutir o gosto pela actividade física e para contribuir para a promoção de estilos de vida activos.Parece-me moral e pedagogicamente correcto dar cumprimento à iniciativa do governo da Sr.ª Ministra de iniciar o Inglês no arranque da escolaridade obrigatória.Privatizá-la parece-me moralmente incorrecto. O correcto seria recorrer-se à lista ordenada de professores de Inglês, actualmente não colocados, com formação para iniciar esta língua estrangeira junto das crianças.Privatizar a Educação Física, Sr.ª Ministra? Os nossos colegas do 1.º ciclo têm, no seu currículo de formação inicial, formação para leccionar esta área. As carências que possam sentir devem ser supridas com apoio de especialistas, tal como está contemplado no ponto 1 a) da lei 46/86, Lei de Bases do Sistema Educativo no 1.º ciclo, o ensino é globalizante, da responsabilidade de um professor único, que pode ser coadjuvaado em áreas especializadas.Considero-me uma pessoa com formação nas questões que à Educação e à Escola dizem respeito. Ensino-as na Universidade e é, também, por esta razão que me sinto na obrigação de viver a escola com a regularidade com que o tenho feito.É que vários ensinam o que não conhecem, muitos opinam sem ter vivido e outros legislam sobre o que lhes é exterior.Na minha opinião qualquer Ministra/o da Educação deveria ter ensinado numa escola do Ensino Básico ou Secundário pelo menos dois anos consecutivos, nos últimos cinco anos antes do seu mandato, (especialmente em escolas de zonas de risco), caso contrário têm da escola uma visão ténue, desfocada, pouco nítida. Também cada Ministro deveria rodear-se, isto é, constituir a sua equipa com professores que gostem de o ser e que queiram uma escola tratada e não uma escola doente e em lista de espera.Muito mais haveria que dizer.O que está a acontecer compromete o futuro das crianças e dos jovens. De Portugal.Sr.ª Ministra, veja lá isto porque a minha vida é a escola.A nossa vida é a escola.

Descontentamento

Transcrevo aqui o texto:«Porquê o descontentamento dos Professores?» de Isabel Cruz.
Atravessamos sem dúvida um dos momentos de maior contestação por parte dos profissionais da Educação. A opinião pública está conquistada! É voz corrente que os professores não querem trabalhar. Esta é sem dúvida uma falsa questão. Não há sociedade que se desenvolva de costas viradas para os principais interlocutores da formação dos seus jovens - os professores. Já lá vai o tempo em que os professores eram valorizados pela sociedade. Assistimos hoje a um forte movimento de contestação que mais não é que um conflito de papéis. Há uma crise de imagem do professor. É assim fundamental que se defina qual o papel do professor no contexto social dos dias de hoje. No passado recente o professor era alguém que detinha o saber e o saber fazer e esta mais valia permitia-lhe, dentro da sua especialidade do saber, desenvolver competências nos alunos, ajudando-os a aprender a aprender. Não estamos a falar de professores generalistas, mas especialistas num determinado ramo do saber. E assim temos os professores das várias disciplinas curriculares, tal como está previsto no concurso de professores - cada um só pode candidatar-se a leccionar a disciplina para a qual possui uma formação académica específica. Foi assim no passado e é no presente. O que mudou afinal? Qual a razão de tanta contestação por parte dos docentes? É importante que se saiba que ao professor, além de se lhe pedir que seja um especialista da disciplina que lecciona e ensine essa disciplina hoje pede-se-lhe que seja um "entertainer", um animador social. Pede-se ao professor que, tal como acontece nos jardins de infância, se ocupe e guarde os jovens quando estes não têm uma aula. Não importa o que ele faz, como faz, se resulta ou não resulta! O importante é que passe para a opinião pública que os jovens não têm furos nas escolas. Estão sempre ocupados. Bem ou mal, mas estão ocupados. Não importa que essa ocupação resulte num boicote sucessivo às aulas curriculares, pois os alunos ficam revoltados por estarem a ser "guardados" por um professor que não é o seu professor e como não são "estúpidos" também sabem que o objectivo é a ocupação pela ocupação sem qualquer resultado no seu sucesso educativo. Antes pelo contrário, tira-se a possibilidade de os alunos livremente aproveitarem os tempos que estão sem aulas para, de forma autónoma, se dirigirem à biblioteca, fazerem as suas pesquisas, irem à sala de informática passar um texto a computador, etc. É um atentado à inteligência de professores e alunos. Mas, enfim, o importante é conquistar votos! Manter uma imagem positiva nas sondagens de opinião pública. Mas efectivamente o que temos vindo a assistir é a uma sobreposição da lógica política à lógica pedagógica. Basta ver um novo despacho normativo do Ministério da Educação sobre a avaliação dos alunos, que vem permitir que as escolas decidam passar de ano qualquer repetente com maus resultados. Podem fazê-lo se considerarem que se esgotaram todos os mecanismos de recuperação. É o sucesso pelo sucesso, uma verdadeira forma de escamotear o insucesso. Promover as estatísticas do sucesso. Não é de estranhar. Efectivamente, a Srª Ministra da Educação deve ser excelente em matéria de Gestão mas quanto à Educação, peço-lhe desculpa Senhora Ministra, seria fundamental a Sr.ª passar pelos bancos das escolas e conhecer a realidade! Gostaria de a ver entreter alunos indisciplinados a quem a escola nada diz, que frequentemente boicotam o trabalho dos seus professores, para ficarem serenos durante 90 minutos a praticarem actividades lúdicas com um professor que não é o seu, que não conhecem e que não sabem se o voltarão a ver na sua sala de aula! É que a lei da reguada felizmente já não existe nas escolas. Resta apenas a palavra pedagogia, que é uma arma que nem sempre resulta! Como pode resultar, quando os próprios pais dos alunos indisciplinados chegam à escola e pedem ao professor que os ajude pois não sabem mais o que fazer, pois os filhos não lhes obedecem? Se não obedecem aos pais, como vão obedecer aos professores? Estamos perante uma grave crise de valores e certamente o caminho não é prolongar a estadia dos alunos na escola. Há que preparar a casa, que construir respostas para as verdadeiras apetências e motivações dos alunos de hoje e depois, sim, venham os alunos que certamente será um prazer partilhar com eles algo que lhes diga alguma coisa. Como já é costume no nosso país, começa-se a construção da casa pelo telhado, mas quanto aos alicerces…Seria de facto fantástico termos os nossos alunos todo o dia na escola, não "presos", mas voluntariamente. Com actividades motivadoras que lhes permitissem de forma aprazível desenvolver as suas competências ao mesmo tempo que criassem uma vontade acrescida de permanecer na escola, para além das aulas curriculares, desenvolverem projectos partilhados com os seus professores. Mas não se fazem omoletas sem ovos! Efectivamente o investimento financeiro na educação nunca foi tão escasso. Não fora a agilidade dos conselhos executivos, muitas escolas estariam na ruptura. Não vivemos mais a geração do caderno e do livro escolar. Os nossos jovens pertencem a uma geração diferente. A escola tem muitos concorrentes. É fundamental que ela evolua e se aproxime dos interesses dos alunos. Qualquer pai sabe que o seu filho em casa passa horas em frente ao computador, à televisão. A Playstation é uma verdadeira apetência. Como tornar a escola competitiva? Certamente não é servir mais doses de "sopa amarga" que os alunos odeiam ingerir. É preciso munir as escolas de recursos e equipamentos que permitam atrair os alunos. Onde está o tão anunciado choque tecnológico? Sim, porque é nas escolas que se começa a caminhar para a investigação, para a experimentação. Onde estão os laboratórios equipados que permitam o aprender ciência através da experimentação? Todos sabemos que não estão! Não existem. Palavras, leva-as o vento, mas quem está no terreno tem de sobreviver com todas as lacunas do passado e do presente. Só que os nossos jovens não vivem no passado, vivem numa geração nova em que a teoria só tem sentido se for experienciada. De um modo geral, as escolas não evoluíram. Tirando uma ou duas salas de informática que apenas podem servir num determinado momento um grupo turma, nada mais de novo temos. Não vale a pena escamotear a verdade. A escola não se adequou à nova realidade. Os docentes não têm condições para o exercício de um serviço de qualidade. E agora digam-me: são os professores que não querem trabalhar? Não. Os professores não se negam a trabalhar. Trabalharam no passado e fazem-no no presente. Nunca foi preciso uma ministra determinar nada para muitos professores darem aulas extras aos seus alunos para os prepararem para os exames, nunca foi preciso legislarem para os professores prestarem atenção e darem apoio aos alunos com mais dificuldades de aprendizagem, nunca foi preciso uma ministra ordenar para que na escola se desenvolvessem projectos válidos! Nós profissionais da educação sempre soubemos dar respostas aos grandes desafios, nunca precisámos de alguém que pusesse em causa o nosso profissionalismo. Penso que nós, professores, devemos dar as mãos e tentar colmatar tanta incongruência, dando mais uma vez uma resposta positiva, mostrando que, apesar do grave erro da Ministra ao legislar as actividades lúdicas de substituição, terminar com a "palhaçada" que vamos vendo nas escolas e dar uma lição, apesar das contingências, de reinventar uma forma de estarmos com os nossos alunos, criando projectos subsidiados, porque não, através do mecenato local, e com as nossas práticas mostrarmos à ministra que mais importante que legislar é escutar, auscultar opiniões, partilhar, palavra que não consta no dicionário do actual governo. Certamente se fossemos ouvidos teríamos prestado uma vez mais um sério contributo para a resolução de muitos destes problemas. Nós temos consciência de que nem tudo está bem. É fundamental a mudança. Há que pensar como resolver o problema do insucesso e do abandono precoce da escola. Estamos todos de acordo. Aliás nós próprios fomos os primeiros a diagnosticar estas lacunas. Fizemos o diagnóstico mas não participámos na procura da “cura”. Não se entende porquê. Tanto mais que muitos dos projectos já estão em prática mas faltam apoios, subsídios e principalmente estruturas físicas. Temos que tomar consciência que nós, os professores, somos parte da solução e não o problema. O problema já todos conhecemos. É assim fundamental defendermos a nossa auto-imagem, num momento em que estamos a ser usados como "bodes expiatórios" de políticas educativas de insucesso.