sexta-feira, 2 de junho de 2006

Outras formas de luta

Para além de todas as greves convocadas, que farei (embora a actuação dos dirigentes sindicais me tenha demasiadas vezes desiludido), a melhor de todas as formas de luta é efectivamente a demissão de quem está obrigado a cumprir o estipulado pela tutela: executivos, coordenadores, delegados...
Esta petição é outra delas...
A análise deste texto presente no blog da Teresa é esclarecedor.

Cromos TSF - José Pedro Gomes
Porque não pensar como este comentador das notícias do Público que diz:
Será que a educação de um país deve depender da cor politica do governo? Não seria melhor ter um organismo permanente, com pessoas capazes e especializadas a planear as reformas realmente necessárias no sistema de ensino em Portugal? Quando é que se vai levar a educação a sério em Portugal? As vezes parece-me que a educação em Portugal se resume a uma guerra entre ministério e professores.

Opiniões

http://edutica.blogspot.com/2006/05/post-aberto-ministra-da-educao.html

http://dn.sapo.pt/2006/06/02/opiniao/educacao_insistir_modelo_futuro.html



Adenda:
De outròÓlhar ouvir isto :)


Sobre os alunos, elemento tão importante nesta coisa das escolas:
http://blogdosindocentes.blogspot.com/2006/06/os-alunos-2.html

quinta-feira, 1 de junho de 2006

Parabéns

Colegas demissionários do Conselho Executivo da Escola Inês de Castro

Muitos parabéns pela V. coragem, determinação, honestidade... Se fôssemos todos assim, ninguém nos insultava desta maneira.

Muito obrigado e espero que outros a exercer cargos sigam o V. magnífico e honroso exemplo.


http://jn.sapo.pt/2006/06/01/ultimas/Professores_demitem_se_ap_s_dec.html

A visitar


http://contratado.blogspot.com/

A questão dos pais é menor, perante os atentados à nossa classe neste estatuto... mas gostei :)


quarta-feira, 31 de maio de 2006

Orientações 2006/2007

Aos docentes, independentemente do seu grupo de recrutamento, poderá ser atribuída a leccionação de qualquer disciplina, de qualquer ciclo, para a qual o docente tenha habilitação adequada. (mas o que é adequada?)
Os docentes sem componente lectiva, independentemente do seu ciclo de ensino, devem ser afectos, de acordo com as necessidades do Agrupamento/Escola, à:
- Dinamização de actividades de prolongamento do horário no 1º ciclo.
O QUÊ? SERÁ POSSÍVEL? Então agora mesmo sem qualquer preparação, formação ou vocação somos pau para todo o serviço???????? Qualquer dia temos de limpar a escola, dispensar o pessoal da secretaria e tratarmos de tudo isso também! Mas será que mais uma vez todos nos vamos calar e aceitar estas incongruências? O enfermeiro vai fazer diagnósticos e o médico vai pôr o soro e dar injecções? Agora somos animadores sociais?

terça-feira, 30 de maio de 2006

Revolta

http://www.agenciafinanceira.iol.pt/noticia.php?id=689314&div_id=1731
A ministra da Educação traçou ontem um quadro arrasador da falta de orientação das escolas e dos professores para os resultados dos seus alunos.
Turnos da manhã reservados a turmas dos melhores alunos e filhos dos funcionários da escola, preocupação quase exclusiva para o cumprimento «burocrático-administrativo» das leis e distribuição das melhores turmas aos melhores professores são alguns dos exemplos apontados por Maria de Lurdes Rodrigues para dizer que a escola tem-se preocupado em dar aulas, mas não com o sucesso educativo dos alunos, noticia o «Diário de Notícias».
Este retrato foi desenhado pela ministra na abertura de uma série de seminários, promovidos pelo Conselho Nacional de Educação, no Fórum da Maia, numa plateia com professores. Apesar do rosto desagradado de muitos face ao discurso de Maria de Lurdes Rodrigues, as manifestações públicas foram escassas.
Isabel Cruz, professora da Trofa, foi, perante os jornalistas, a voz do protesto que os colegas silenciaram: «Estou perfeitamente revoltada. A senhora ministra tem que respeitar os principais agentes da educação. Fez um retrato da escola no qual não me revejo». A docente assinalou a «gravidade» do que disse a ministra e acusou-a também de «ignorar e não escutar» os professores.

Comentários à notícia

Tenho vergonha da Senhora Lurdes
Por: Carlos Pinto
[ 2006-05-30 19:53 ]
Como ex-professor e tendo tido, durante vários anos, cargo de chefia do Ministério da Educação, peço desculpa à Senhora Ministra, enquanto pessoa, por a tratar como a tratei no título. Na verdade é em pagamento pela falta de respeito que demonstra para com a classe docente. A Senhora Ministra, dando a força que está a dar à indisciplina dos alunos e à ignorância dos pais, está a desautorizar os professores. Espero que não venha a acontecer como em Inglaterra que os bons professores começaram a abandonar o ensino público, tendo mais tarde as autoridades de recorrer aos professores aposentados para se tentar impôr a ordem. Tenho vergonha dos governantes que tenho, nomeadamente da Senhora Ministra da Educação.


Simples comentario
Por: Joao Marinho
[ 2006-05-30 17:44 ]
Exma Sra MinistraApesar de nao ser professor, mas na qualidade de pai e Portugues surpreende-me os comentarios da senhora e entao nao pude resistir a deixar um pequeno e simples comentario.Como emigrante a residir em Londres fico surpreso com a hipotese que me parece muito provavel de a senhora nunca ter visitado escolas fora de Portugal como por exemplo aqui em Londres(caso nao saiba, fica na Inglaterra um pais situado num grupo de ilhas a norte de Penbinsula Iberica), desempenho no meu dia-a-dia de trabalho funcoes que me levam a visitar bastantes escolas que vao desde as primarias as universidades e em todas encontro inumeras salas de aulas com elevado numeros de computadores, laboratorios equipados de excelente material, cozinhas, enfim todo um conjunto de solucoes que permitem aos alunos ter uma boa formacao desde o inicio da sua vida escolar, sera que a senhora dispoe de tudo isso nas suas escolas? sera que teram de ser os professores mal pagos a adquirir tais equipamentos? pelos vistos e o que pretende ao chamar as pessoas de incompetentes.Fico tambem surpreendido com o facto de colocar a hipotese de serem os pais a avaliar os professores, realmente a ideia nao e ma de todo mas se ao mesmo tempo estes poderem tambem avaliar os ministros, talvez por cada professor com nota negativa por parte dos encarregados de educacao existam 10 ou mais ministros(sera que ja pensou nessa hipotese?)E de facto de lamentar que o nosso pequeno pais seja governado por pessoas assim, mas talvez seja a justificacao para cada vbez mais se encontrarem Portuguese por toda a parte do mundo e nao ha um unico que diga que o faz por gosto mas sim porque o nosso pais esta de rastos.

A culpa é sempre do treinador!
Por: Fernando
[ 2006-05-30 14:41 ]
muitos imigrantes existem em portugal. Uns da europa de leste, outros de áfrica... falou-se muito de uma turma, julgo que em braga, com alunos de 23 nacionalidades diferentes...ainda assim, verifica-se que os alunos da europa de leste, apesar das condicionantes da língua, aprendem mais que os portugueses ou os imigrantes de outros locais. com os mesmos professores...Nas recentes jornadas da lingua portuguesa, incrivelmente, uma das 6 finalistas era estrangeira, de um país de leste... a competir com os melhores portugueses!Serão mais inteligentes? Têm professores próprios? Ou um professor passa a ser bom quando ensina alunos destes, poruqe aparece o aproveitamento?Obviamente, existem bons e maus professores. Obviamente existem bons e maus alunos. Obviamente existem bons e maus políticos (os bons desapareceram faz algum tempo). Acima de tudo, existem bons e maus pais.Instaurou-se uma necessidade de quotas de aproveitamento (ridículo) porque os meninos têm que passar o ano. Como se viu por outros artigos, até nas universidades, quem mais copia é quem tem melhores notas. Os pais descartam-se completamente da educação porque chegam a casa depois de 4 horas diárias nas filas do IC 19 e querem é ver a telenovela que no dia seguinte é dia de trabalho, dia de mercado (sábado) ou dia de praia (domingo). Não há tempo para os filhos... mas eles têm que passar o ano para poderem ter um canudo e não fazer nenhum no futuro... e se isso não acontece, se o puto não chega lá, pois claro... a culpa é do professor...Como no futebol, se a equipa joga mal, a culpa é do treinador, independentemente da qualidade dos jogadores e da sua motivação.Pretende-se dar a estes pais a responsabilidade de avaliar os professores. Se eu fosse professor, só dava boas notas... assim certamente era bom... mesmo que fabricasse ignorantes com boas notas!Felizmente não sou professor... E recusar-me-ei a julgar algum professor sem primeiro julgar os alunos e os seus pais. A educação dá-se em casa. na escola ministram-se conhecimentos.

Viva o passado
Por: Aluno
[ 2006-05-30 13:40 ]
Viva Salazar e a sua politica de ensino

O insucesso educativo.
Por: Maria
[ 2006-05-30 13:10 ]
É verdade, as escolas não estão preparadas para o sucesso educativo dos alunos. Mas, as escolas e os professores não são os principais responsáveis pelo insucesso educativo. São sim as famílias, que não acompanham os seus filhos, quer nos trabalhos de casa, quer na assiduidade, quer na disciplina. Felizmente, no meu tempo de aluna não era assim. Convém não ter memória curta e saber que após o 25 de Abril de 1974 a uma "vaga" de professores apenas com o 7º. ano, sem mais qualificações, lhes lhes foi permitido o direito de ensinar. Será que não foi aqui que todo o insucesso educativo começou?! Culpa de quem? Só pode ser de quem vem governando este país deste essa altura. Não sejamos hipócritas, analisemos todas as variáveis que influem no sucesso educativo, e deixemos de culpabilizar quem não nem tem culpa de nada.
Mas hoje no debate o sr jorge não conseguiu justificar decentemente nada.
A opinião pública há-de perceber...

segunda-feira, 29 de maio de 2006

O que é ser professor?

Artigo 36º
Conteúdo funcional
1- A carreira docente reflecte a diferenciação profissional inerente ao exercício das funções de cada uma das categorias a que se refere o nº1 do artigo 4º, devendo ser exercida com plena responsabilidade profissional e autonomia técnica e científica, assente numa lógica de participação activa na comunidade escolar, na comunidade local e com outros parceiros educativos.

2 - O docente desenvolve a sua actividade profissional de acordo com as orientações de política educativa e no quadro da formação integral do aluno, cabendo-lhe genericamente: gosto particularmente deste «genericamente»
a) Identificar saberes e competências-chave dos programas curriculares de forma a desenvolver situações didácticas em articulação permanente entre conteúdos, objectivos e situações de aprendizagem, adequadas à diversidade dos alunos; (mínimo de 25 por turma - será que chegam 25 planos de aula por dia?)
b) Gerir os conteúdos programáticos, criando situações de aprendizagem que favoreçam a apropriação activa, criativa e autónoma dos saberes da disciplina ou da área disciplinar, de forma integrada com o desenvolvimento de competências transversais; (as tais de que falava António Nóvoa - para além de ensinar o que está no programa, há que lhes «ensinar» tudo o resto)
c) Trabalhar em equipa com professores e outros profissionais, envolvidos nos mesmos processos de aprendizagem;
d) Desenvolver, como prática da sua acção formativa, a utilização correcta da língua portuguesa nas suas vertentes oral e escrita;
e) Assegurar as actividades educativas de apoio e enriquecimento curricular dos alunos, cooperando na detecção e acompanhamento de dificuldades de aprendizagem;
f) Assegurar e desenvolver actividades educativas de apoio aos alunos, colaborando na detecção e acompanhamento de crianças e jovens com necessidades educativas especiais;
g) Utilizar adequadamente recursos educativos variados, nomeadamente as
tecnologias de informação e conhecimento, no contexto do ensino e das
aprendizagens; (sem elas já ninguém sabe ensinar nem aprender)
h) Utilizar a avaliação como elemento regulador e promotor da qualidade do ensino, das aprendizagens e do seu próprio desenvolvimento profissional;
i) Participar na construção, realização e avaliação do projecto educativo e
curricular de escola;
j) Participar nas actividades de administração e gestão da escola, nomeadamente no planeamento e gestão de recursos;
l) Participar em actividades institucionais, designadamente em serviços de exames e outras reuniões de avaliação;
m) Colaborar com as famílias e encarregados de educação no processo educativo, em projectos de orientação escolar e profissional; (temos agora de saber aplicar os testes de orientação que cabiam aos psicólogos?)
n) Promover projectos de inovação e partilha de boas práticas, com outras escolas, instituições e parceiros sociais;
o) Fomentar a qualidade do ensino e das aprendizagens, promovendo a sua
permanente actualização científica e pedagógica apoiado na reflexão e na
investigação; (tempo para reflexão? tempo para investigação?)
p) Fomentar o desenvolvimento da autonomia dos alunos, respeitando as suas diferenças culturais e pessoais, valorizando os diferentes saberes e culturas e combatendo processos de exclusão e discriminação;
q) Demonstrar capacidade relacional e de comunicação, assim como equilíbrio emocional nas mais variadas circunstâncias; (há que ter capacidade para engolir todos os insultos com cara serena e sorriso subserviente)
r) Desenvolver estratégias pedagógicas diferenciadas, promovendo aprendizagens significativas no âmbito dos objectivos curriculares de ciclo e de ano;
s) Assumir a sua actividade profissional, com sentido ético, cívico e formativo;
t) Desenvolver competências pessoais, sociais e profissionais para conceber
respostas inovadoras às novas necessidades da sociedade do conhecimento;
u) Promover o seu próprio desenvolvimento profissional, criando situações de autoformação diversificadas, nomeadamente em equipa com outros
profissionais, na resolução de problemas emergentes de educativas situações; (isto deve ter sido copiado do inglês...)
v) Avaliar as suas práticas, conhecimentos científicos e pedagógicos e gerir o seu próprio plano de formação.

Proposta de Adenda:
x) Engraxar convenientemente quem interessa engraxar.
y) Dar boas notas a todos os alunos, independentemente do seu «saber».
z) Usar o tempo disponível depois disto tudo, para comer e dormir, dispensando, claro, acompanhamento à auto-suficiente família (estou a aplicar a regra da alínea u) e o descanso.

Progressão condicionada

Artigo 25º
Estrutura
1- Os quadros de pessoal docente dos estabelecimentos de educação e ensino abrangidos pelo presente diploma fixam dotações globais para a carreira docente de modo a conferir maior flexibilidade à gestão dos recursos humanos da docência disponíveis, sem prejuízo do disposto no número seguinte.
2- O número de lugares de professor titular a prover por concurso de acesso a esta categoria não pode exceder, por escola, um terço do número de professores do respectivo quadro.
Natureza e estrutura da carreira docente
2 - A carreira docente desenvolve-se pelas categorias hierarquizadas de professor e professor titular, às quais correspondem funções diferenciadas pela sua natureza, âmbito, grau de responsabilidade e nível remuneratório.
3 - Cada categoria é integrada por escalões a que correspondem índices remuneratórios diferenciados.
Sistema de classificação
3 – Por despacho conjunto do Ministro da Educação e do membro do Governo responsável pela Administração Pública são fixadas as percentagens máximas de atribuição das classificações de Muito Bom e Excelente, por escola ou agrupamento de escolas.
Artigo 39º
Acesso
1 -O recrutamento para a categoria de professor titular faz-se mediante concurso de provas públicas de avaliação e discussão curricular aberto para o preenchimento de vaga existente no quadro e destinada à categoria e grupo de recrutamento respectivo.
2 - Podem candidatar-se ao concurso de acesso à categoria de professor titular os professores que detenham, pelo menos, dezoito anos de exercício de funções na categoria com avaliação de desempenho igual ou superior a Bom.
5 - O concurso a que se refere o nº1 consiste na apreciação e discussão pública do currículo profissional do candidato e de um relatório elaborado para o efeito, incidindo sobre o trabalho desenvolvido pelo docente, perante um júri de âmbito regional que integrará professores da disciplina ou área disciplinar da categoria a prover, cuja última classificação tenha a menção de Excelente, e ainda docentes dos estabelecimentos de ensino superior da área geográfica respectiva.
6 - O número de lugares a prover nos termos do nº1 não pode ultrapassar a dotação anualmente fixada por despacho do Ministro da Educação.
7 - As normas reguladoras do concurso de acesso são definidas por portaria do Ministro da Educação.
Isto interessa-me particularmente... Com 18 anos de serviço, já sei que vou passar muuuuiiiitos anos aqui estacionada. Vagas? Tá bem, tá.
Mas mais engraçado: quando houver vaga vou ter de «competir» com colegas e amigos, alguns deles como se família fossem... Bonito!

domingo, 28 de maio de 2006

Novo Estatuto

Opiniões
Transcrevo esta:

2 – Na avaliação efectuada pela direcção executiva são ponderados, em função de dados estatísticos disponíveis, os seguintes indicadores de classificação:
a) ...
b) Resultados escolares dos alunos;
c) Taxas de abandono escolar;

O José Sousa vai ter que me deixar avaliar todos os seus outros serviços: hospitais, finanças, transportes... e se eu souber que alguém morre no hospital... coitados dos médicos que nunca mais progredirão.
Este ano comecei com 40 alunos no 12º... agora já só tenho 22, pois, por não terem média suficiente (10º, 11º e 12º), anularam para poderem ir a exame. No ano que vem, já sei: nota mínima 10. Afinal, só estarei a contribuir para o seu sucesso... (não percebo porque me irrito)
Muito bem.
(Mas se calhar com 10 reprovam no exame e isso é mau para mim... humm... vou ter que subir uns cinco valores a cada um para não correr riscos.)
Já me sinto melhor agora.
A nossa atenção e preocupação está a centrar-se na questão da participação dos pais, mas há muitos outros factores preocupantes... Ver e/ou acrescentar em Aragem

sábado, 27 de maio de 2006

Provas de aferição de 6º


- Então, filha, como correu a prova?
- Bem! Não fiz três perguntas.
- Não fizeste três?!? E isso é «correr bem»?
Encolhendo os ombros:
- Então, aquilo não conta pra nada! Que é que interessa?
- Mas não fizeste porquê? Não sabias?
- Sei lá... Tinha que fazer muitas contas e aquilo não conta para nada!

...

Não sabia? Sabia.
E os resultados o que vão indicar? Que não sabia, que a prof não ensinou? Claro.
Foi assim? Não.

Para rir

Será possível?

Há alguns anos atrás, quando dei pela primeira vez aulas aqui onde estou, os pais de uma aluna de 9º ano com 2 a quase todas as disciplinas tocaram-me à campainha. Como não sabia quem era nem qual o assunto, abri. A minha casa estava realmente um pouco despida pois estava em início de vida. Para eu dar 3 à sua filha que «afinal, coitadita, só queria ser professora» ele (pai) «enchia-me a casa toda» e com um gesto largo apontou para as paredes vazias...

sexta-feira, 26 de maio de 2006

Praias


Com o calor que aqui esteve hoje já só penso nisto. E a «minha» tá limpinha... (e os últimos testes ali estão a olhar, sarcasticamente, para mim).

domingo, 21 de maio de 2006

Gestão

Todos os dias, a formiga chegava cedinho à oficina e desatava a trabalhar. Produzia e era feliz.
O gerente, o leão, estranhou que a formiga trabalhasse sem supervisão.
Se ela produzia tanto sem supervisão, melhor seria supervisionada? E contratou uma barata, que tinha muita experiência como supervisora e fazia belíssimos relatórios.
A primeira preocupação da barata foi a de estabelecer um horário para entrada e saída da formiga.
De seguida, a barata precisou de uma secretária para a ajudar a preparar os relatórios e contratou uma aranha que, além do mais, organizava os arquivos e controlava as ligações telefónicas.
O leão ficou encantado com os relatórios da barata e pediu também gráficos com índices de produção e análise de tendências, que eram mostrados em reuniões específicas para o efeito.
Foi então que a barata comprou um computador e uma impressora laser e admitiu a mosca para gerir o departamento de informática.
A formiga de produtiva e feliz, passou a lamentar-se com todo aquele universo de papéis e reuniões que lhe consumiam o tempo!
O leão concluiu que era o momento de criar a função de gestor para a área onde a formiga operária trabalhava.
O cargo foi dado a uma cigarra, cuja primeira medida foi comprar uma carpete e uma cadeira ortopédica para o seu gabinete.
A nova gestora, a cigarra, precisou ainda de computador e de uma assistente (que trouxe do seu anterior emprego) para a ajudar na preparação de um plano estratégico de optimização do trabalho e no controlo do orçamento para a área onde trabalhava a formiga, que já não cantarolava mais e a cada dia se mostrava mais enfadada.
Foi nessa altura que a cigarra, convenceu o gerente, o leão, da necessidade de fazer um estudo climático do ambiente. Ao considerar as disponibilidades, o leão deu-se conta de que a Unidade em que a formiga trabalhava já não rendia como antes; e contratou a coruja, uma prestigiada consultora, muito famosa, para que fizesse um diagnóstico e sugerisse soluções.
A coruja permaneceu três meses nos escritórios e fez um extenso relatório, em vários volumes que concluía : "Há muita gente nesta empresa".

Quem o leão começou por despedir?
A formiga, claro, porque "andava muito desmotivada e aborrecida".
recebi por email

quinta-feira, 18 de maio de 2006

Parabéns

Parabéns IC :)

Pessoa disse: «Ah, nesta terra também, também/ O mal não cessa, não dura o bem.»
Eu não concordo... Melhores dias virão...

:) ....... :( ?




quarta-feira, 17 de maio de 2006

Negócios?

Português 1 x 2


de Vasco Graça Moura no DN de hoje

Recebi na semana passada um ofício assinado pelos ministros da Educação, da Cultura e dos Assuntos Parlamentares convidando-me para integrar a Comissão de Honra do Plano Nacional de Leitura (PNL). Aceitei o convite muito penhorado, tanto mais que se prevê a possibilidade de a referida comissão aconselhar na execução do plano e participar em acções e iniciativas que venham a ser lançadas no seu âmbito.
O PNL "concretiza-se num conjunto de medidas destinadas a promover o desenvolvimento de competências nos domínios da leitura e da escrita, bem como o alargamento e aprofundamento dos hábitos de leitura, designadamente entre a população escolar". Da leitura da síntese do relatório que me foi facultada resulta a impressão de que o PNL articula bem as medidas e os objectivos que se propõe.
Na carta que dirigi à ministra da Educação tive, no entanto, ocasião de fazer dois reparos genéricos. O primeiro tem a ver com a reformulação dos programas escolares de Língua Portuguesa: o PNL não poderá ser levado a bom termo enquanto não se fizer essa reformulação, reabilitando devidamente o papel da Literatura no ensino da língua. Sobre este ponto, muito se tem escrito, pelo que não vale a pena desenvolvê-lo aqui. O segundo reparo manifestava a minha apreensão pela anunciada adopção do sistema de testes de escolha múltipla (multiple choice) nos exames de Português. Artigos de Maria do Carmo Vieira e de Eduardo Prado Coelho já falaram disto, que, diga-se desde já, se afigura absolutamente contraproducente quanto aos objectivos visados pelo PNL. Leio agora, no suplemento Educação do JL, de 10 a 23 de Maio, uma entrevista de Paulo Feytor Pinto (PFP), presidente da Associação de Professores de Português (APP), que me deixa ainda mais preocupado.
PFP procura justificar o novo sistema pela distinção entre "avaliação da leitura" e "avaliação da escrita", por, diz ele, "o facto de se avaliar a leitura através da escrita faz com que por vezes não saibamos se os erros ou incorrecções se devem à dificuldade de compreender ou à dificuldade de produzir um texto". E considera que as perguntas "que são assim são para um tipo de avaliação específica que é a avaliação da leitura", embora também possa haver "perguntas relacionadas com a avaliação da leitura que não sejam de resposta fechada".
A justificação não colhe. Ao nível escolar daquilo que é de exigir-lhe, pois não é de esperar que se exprima como Demóstenes, se um aluno tem dificuldade na escrita é porque não aprendeu bem.… Se não teve aproveitamento e não é capaz de produzir um texto, o teste de resposta múltipla só vai dissimular esse problema e contribuir para um resultado injusto. Isto para não falar na situação escandalosa de o aluno ter 25% de hipóteses de acertar logo à partida (em quatro quadradinhos para pôr a cruzinha, um deles há-de corresponder à resposta certa). Além disso, a pergunta, a que terá de responder com a tal cruzinha, não lhe dá qualquer possibilidade de desenvolver uma leitura diferente da insinuada na própria questão. O sistema cerceia a manifestação da personalidade do estudante e da sua capacidade interpretativa. O examinador não avalia assim nada de relevante.
Há também uma clara e chocante depreciação do papel da memória na aprendizagem: diz PFP que até agora só são utilizados como textos de referência os dados na aula, "o que faz com que não estejamos na realidade a avaliar a competência de leitura. Avalia-se se [os alunos] conseguiram memorizar o que foi dito na sala de aula sobre os textos". Então não é também para isso que eles têm aulas? Isto é verdadeiramente bizarro numa altura em que se valoriza cada vez mais o papel da memória na aprendizagem… Sem recurso à memória é que não há nem capacidade de leitura, nem capacidade de escrita.
Se o novo sistema se aplica à interpretação dos conteúdos dos textos, ele só irá reforçar a lei do menor esforço, a pretexto de dispensar os alunos de se exprimirem correctamente, de se lembrarem seja do que for e de mostrarem o que sabem. Se se aplica apenas à gramática, não faz qualquer sentido a distinção entre avaliação da leitura e avaliação da escrita e cria um perigoso precedente que virá a alastrar inevitavelmente às outras áreas da disciplina.
Continuam os equívocos pedagógicos numa área tão sensível. Não sei que luminárias os engendram. Mas sei que não se pode aceitar que os exames de Português obedeçam ao princípio do Totobola.

sexta-feira, 21 de abril de 2006

...

Imersa -e quanto prazer isso me dá- na preparação de Memorial do Convento, (que abismal diferença faz da imersão em terminologia) não tenho tempo para o blog. Também não tenho sentido motivação para desabafar. Estou, como sempre acontece quando me canso, apática. Vejo passar à minha frente os diversos disparates da política e cinjo-me à minha vida caseirinha de preparar aulas, tomar conta das minhas 'mais que tudo' e vendo o choque tecnológico a electrocutar as cotas na Assembleia da República. Deixo aqui, no entanto, esta nota para todos os que visito regularmente, que me proporcionam sempre mais um tempinho de reflexão, para ver se não caio na apatia total.

domingo, 2 de abril de 2006

Bom senso

Um sinal de bom senso:

No final do ano passado (em Agosto) vi afixado no placard de informações da minha escola um ofício-circular que determinava que se as minhas filhas (maiores de 10 anos) adoecessem, iriam sozinhas ao médico e ficariam sozinhas em casa, pois essas faltas, que eu daria para as acompanhar, descontavam para tudo e mais alguma coisa.
Na altura ficámos atónitos e conversas inflamadas sobre a 'loucura' do governo circularam pela sala de professores. Mas o mais caricato foi que na presença de todas as 'inovações' que se apresentaram nessa altura, todos nos calámos. Todos aceitámos e eu, que costumo sempre criticar por escrito, nada fiz, pois contra a loucura e surdez considerei que nada podia fazer. Mas esta 'determinação' mantinha-se pairando como sombra sinistra sobre a minha cabeça...

Agora estou aliviada. Alguém, pelos vistos, deve ter alertado para a incongruência de tal lei, que se vê agora anulada.

sábado, 1 de abril de 2006

Pérolas

:)
«Há buracos na camada Diozoni!»

Horas e Horas


Aqui está um quadro com 3 casos específicos analisados no final do ano lectivo passado que servem de exemplificação para se determinar as horas que um prof cumpre na sua componente não lectiva nas 36 semanas em que decorre o ano lectivo e das quais, quem não conhece, não reconhece e não contempla. Os docentes aqui representados são casos reais...



De fora ficam as horas gastas em:
. reuniões de avaliação;
. lançamento de termos;
. matrículas;
. formação de turmas;
. serviço de exames;
. correcção de exames;
. elaboração de horários;
. planificação do ano lectivo;
. plano anual de actividades;
. Projecto Educativo.

Convido-vos a marcarem as horas que, este ano, estão a «gastar» semanalmente nesta profissão... (se arranjarem tempo).

quinta-feira, 30 de março de 2006

Exercícios

Ministério da Educação propõe exercícios em vez de provas-modelo
Alunos queixam-se de não conhecer modelo dos exames do secundário

Os alunos que estão a terminar o 12.º ano queixam-se que o Ministério da Educação não disponibilizou provas-modelo como referência do que poderão ser os exames nacionais que os esperam, em Junho. A tutela responde que, desde Maio passado, estão disponíveis, na Internet, exemplos de "itens" da matéria, a partir da qual os jovens podem estudar. O Gabinete de Avaliação Educacional (Gave), responsável pelos exames, declara que não tenciona publicar mais nada.

Para terminar o ensino secundário é necessário realizar exames nacionais, que também contam para o acesso ao ensino superior. Este ano, os alunos do 12.º ano têm disciplinas com novos programas, diferentes dos do ano anterior.

Na página da Internet do Gave, www.gave.pt, não há provas-modelo para estas novas cadeiras, como as que existem para o antigo secundário. Em vez de provas, há listas com exemplos de exercícios.

Catarina e os colegas da secundária Rainha D. Leonor, em Lisboa, consideram que estão a ser "alvo de uma injustiça" e que podem ser prejudicados em relação aos estudantes que vão fazer exames segundo as disciplinas do antigo ensino secundário. Esses alunos têm provas-modelo, por isso, podem treinar, ter uma ideia do que pode ser perguntado nos exames, argumenta Catarina. "Estamos a ser cobaias porque estamos a estudar por programas novos que nunca foram experimentados e vamos fazer exames que não sabemos como serão", queixa-se a estudante do 12.º ano.

Resolver exercícios propostos

A decisão do Gave foi a de dar uma "informação diferente", ou seja, em vez das provas-modelo, é fornecida informação com "itens que são exemplificativos do que pode ser o exame", explica a presidente do gabinete, Glória Ramalho. "Os alunos podem tentar resolver aqueles exercícios e os professores, à custa dos exemplos que lá estão, podem fazer exercícios variados", sugere.
(he he he...)

Alguns professores do ensino secundário, ouvidos pelo PÚBLICO, queixam-se de não ser possível saber quais serão as questões de escolha múltipla e as de resposta aberta. Além disso, também não se sabe quanto valerá cada pergunta.

A partir das provas-modelo, publicadas nos anos anteriores, os docentes tinham uma noção do que poderia ser perguntado e quanto valia, argumentam. Glória Ramalho responde que, no exame, a relevância de cada matéria será "proporcional à importância que o programa lhe dá".
(Preciso de explicações...)

"As pessoas dão demasiado ênfase à prova-modelo e procuram uma tranquilidade que não é proporcional àquela que esta lhes pode dar, já que não se sabe que perguntas vão ser feitas este ano", analisa Glória Ramalho.

Caso do Português

No que diz respeito à disciplina de Português, os professores estão preocupados porque o novo programa prevê uso de nova terminologia - por exemplo, as palavras formadas por justaposição ou aglutinação passam a chamar-se "compostos morfosintáticos".
(Se fosse só isto...)

Glória Ramalho garante que o Gave terá "todo o cuidado em acautelar distúrbios por causa desta inovação". Esta tem sido a resposta dada pelo Gave aos e-mails e faxes que chegam de escolas e de professores de Português com a mesma dúvida, revela a presidente do Gave.

Na página de Internet do Gabinete de Avaliação Educacional estão disponíveis todas as provas que já se fizeram, desde 1997. No que diz respeito aos novos programas, foram publicadas, em Janeiro e Maio de 2005, informações com tipos de exercícios para cada disciplina.
Um professor, para fazer uma prova ( e está referenciado na lei, no ponto 5.6.2. do Despacho Normativo nº 11/2003) elabora obrigatoriamente uma matriz, pois só assim se pode saber (ele e os alunos), consoante as cotações, o peso a atribuir a cada uma das áreas do respectivo programa e assim saber a importância a atribuir a cada uma dessas áreas.
Esse peso não está definido nos programas.
O que o Gabinete de Avaliação do Ministério está a dizer aos professores é que ninguém tem de fazer matrizes e que nem professores nem alunos têm de saber sequer qual a estrutura das provas, dos exames, dos testes.
Tudo às escuras. Vamos em frente. Se cairmos, levantamo-nos logo a seguir. É bom para o crescimento. Este Ministério está a ajudar-nos a todos a crescer.
Fico feliz por todos nós.

segunda-feira, 13 de março de 2006

Finlândia

http://www.jornaltorrejano.pt/jt/opiniao.htm#opiniao7


Artigo publicado no jornal "O Torrejano" de 10 de Março.
No passado foram construídas escolas em Portugal com armários para skis?

quinta-feira, 9 de março de 2006

Diálogos II

IC disse...
"Como será possível que a responsabilidade passe apenas pela escola e não sejam pedidas ou exigidas contrapartidas aos alunos?" Pois será possível pela fraude, pelo medo incutido aos professores de chumbarem alunos mesmo que dos planos de recuperação não cumpram sequer fazer os TPCs... (Chegou hoje à minha escola, embora ainda não o tenha lido, um ofício (ou qualquer coisa parecida) a elucidar que alunos com plano de recuperação só em caso excepcional (julgo que o ofício diz "em último caso")poderão reprovar. (Pelos vistos, os do nono também deverão ir todos a exame mesmo que não trabalhem um milímetro, para depois poderem apontar as culpas dos resultados aos professores)

f... disse...
Lindo!!!Se os que não têm plano de recuperação não podem reprovar porque não foi feito plano de recuperação e por isso, mesmo que desapareçam no 3º período, não lhes podem ser atribuídas notas negativas, ou baixar as que têm ... se os que têm plano de recuperação mesmo que não se esforcem, mesmo que não façam nada, tiverem que ser aprovados, este ano ninguém reprova, a não ser que isso aconteça nos exames!!!Porque não vamos todos para casa?! Pelos vistos não estamos lá a fazer nada ... nem nós, nem eles! O sucesso está garantido ... as estatísticas estão todas acima do nível de água! Não interessa que saibam ou aprendam, não interessa que ensinemos! Apenas interessam que os resultados digam SUCESSO, mesmo que não exista!

Prof24 disse...
Isto é tudo uma palhaçada. Rousseau dizia que o homem é naturalmente bom; a sociedade é que o corrompe (por acaso esta história está mal contada, mas fico-me por aqui). Aplicado a certas tendências ideológicas da Educação nos últimos anos, o aluno é sempre visto como VÍTIMA de insucesso; nunca como AGENTE do seu próprio insucesso. Não nego a existência de factores condicionantes do melhor ou pior aproveitamento de cada um, mas BOLAS, chegamos ao ponto em que se o aluno reprova é porque O PROFESSOR não o soube guiar. Isto é ridículo e faz-me um profundo nojo.
Anónimo disse...
Colegas
Como somos os únicos responsáveis pelo insucesso dos alunos está na hora de denunciar a demagogia educativo do governo. Temos de denunciar o lastimável sistema de avaliação dos alunos no ensino básico: não é necessário trabalho, nem empenho, nem ter material de trabalho porque os professores são obrigados a passar todos os alunos. Quando os alunos reprovarem nos exames só existirá um culpado. Não, não é o aluno! Nem o choque tecnológico!
Brevemente
Seremos um pântano educativo. Mas não devemos esquecer que a educação das elites está garantida e não é na escola pública. Façam o favor de denunciar a "passagem" sem sucesso dos alunos. E aproveitem para o fazer com as associações de pais.
Mas será possível??? Os deuses devem estar loucos!!! (ou é o nosso Ministério?)

Diálogos

PCosta - Começando pelo texto da Alzira, continuo a dizer que lhe reconheço, para além da qualidade do português, argumentos poderosos na defesa do ensino da literatura, da exigência, da qualidade, do rigor, aspectos que no entender dela, e de tantos nossos colegas, andam um pouco afastados do ensino.
Este ´abaixamento da fasquia`, como todos sabemos, deve-se à massificação do ensino (eu prefiro chamar-lhe democratização), pois houve a entrada obrigatória para o sistema educativo de todas as pessoas com idade escolar, fossem elas amarelas, azuis, deficientes, disléxicas, coxas, do campo, gordas... e isso parece que atrapalha. Acredites, ou não, a sociedade no geral, no seu conjunto e em termos de médio e longo prazo, beneficia mais com um sistema destes, do que com um sistema em que os principais valores sejam a rigidez, a selecção, ... as tais qualidades utilizadas demagógicamente: rigor, exigência, qualidade, etc. Bem, mas o que me interessa mais no meio disto tudo é que não vejo outra forma, fosse eu iluminado, para defender a nossa dama: a literatura, sem que com isso, não sejamos corporativistas. Dito de forma ainda mais simples, há que lutar contra a Arte, contra a Educação Física, contra a Matemática, contra, contra, contra, porque o espaço é curto, as horas são poucas...

(...)
Soledade Santos – (...) alguns dos colegas com quem experimento maior afinidade são justamente da Matemática. Que afinal também é uma linguagem. E o desenvolvimento da competência (esta palavra faz-me ranger os dentes) de leitura não é exclusivo do Português. Costumo dizer aos meus alunos que a vida é um texto. E seguramente a Literatura ajuda a decifrá-lo. Mas como andamos todos a brincar às escolas do Paraíso e a tapar o sol com a peneira... Desabafemos, se isso nos desoprime um pouco. E agora sou eu quem diz: coragem! (...)

No texto da Alzira Seixo não estava em causa a proeminência de uma disciplina face às outras, não se tratava de guerrinhas corporativistas entre grupos disciplinares. (...) E tb na Educação Física se lê/aprende a ler. Estava em causa, sim, uma dada concepção de escola (a que pastoreia crianças, os Bons Selvagens - alguém nas ESE(s) e no Min-Edu está a precisar de ler o "Senhor das Moscas"- e, no que concerne à disciplina de Português, os novos programas, centrados na (obcecados pela?) perspectiva comunicacional e (vou ranger os dentes outra vez) transaccional, encarando a literatura como "componente decorativa e obsoleta". Segunda coisa: tens razão quando referes a massificação do ensino e os problemas que isso trouxe à escola. Mas a solução não é entreter crianças, inventando simulacros de sucesso. É respeitá-las, porque elas merecem todo o nosso respeito, é "puxá-las para cima", e não descer ao nível mais raso; é não ter medo de ser politicamente incorrecto e assumir, de uma vez por todas, que a escola dita "inclusiva" é na verdade profundamente injusta, exclusiva e selectiva (a selecção fá-la-á a vida, mais tarde, e da forma mais cruel). Isto porque enfiar crianças "amarelas, azuis, deficientes, disléxicas, coxas, do campo, gordas" nas mesmas (e cada vez maiores) turmas, e fingir que é possível, nessas condições, um ensino diferenciado e uma leccionação eficaz, é condená-las, à partida, ao insucesso. É enganá-las. Tem de haver outro caminho: começar por admitir a diferença; e permitir a cada aluno chegar tão longe quanto puder, em lugar de nivelar todos pelo mais baixo denominador comum. Pastorear crianças e jovens, promover uma cultura da impunidade e da mediocridade, infantilizá-los, mantê-los na ignorância e depois largá-los, impreparados, num mundo cada vez mais hostil, parece-me criminoso. Dói-me, revolta-me! Muito mais que as provocações e humilhações da Sra Ministra. E é isto que eu penso.


Eu acrescentaria: que a escola está massificada (e muito bem) é claro. O que «antigamente» se fazia na escola não serve para hoje - porque os alunos são outros, a educação que (não) trazem também. Mas o que hoje se faz, definitivamente, também não serve. É preciso arranjar alternativas. Se os pais não educam, se a escola é onde eles têm de passar a maior parte dos seus dias, então é necessário dotá-la de instrumentos eficazes e não inundá-la de leis avulsas de quem parece nada perceber do que está a fazer... (planos de recuperação para alunos que respondem como este?)
É preciso TEMPO para tudo. Os horários sobrecarregados de componente curricular em sala de aula são claramente exagerados.... (falo do que vejo cá em casa – para se manterem numa fasquia de classificações elevada, as minhas filhas não têm quase tempo de apenas vegetar).

Mas há os que não precisam de Estudo Acompanhado, porque têm quem os acompanhe em casa. Há os a quem a Formação Cívica é dada em casa. Então porque perdem essas horas em «actividades» na escola?
Porque não atribuir a cada turma 2 directores/tutores, um de cada área (letras, ciências), com, por exemplo, metade do seu horário lectivo para atender às solicitações que a mesma peça. Se o que falta às crianças é acompanhamento, orientação, educação, então que se dê aos DTs espaço para «falar» com eles, para os orientar (tarefa de substituição de pais sem tempo ou sem formação). Em vez de estarem com 25 (na confusão), estariam apenas os que necessitassem, os que os pais solicitassem, e, fundamental, com tempo para atender individualmente a cada um. Como se organizaria? Caberia às estruturas pedagógicas pensá-lo (sala destinada à recepção de alunos problemáticos, sala(s) de estudo....) Os outros, que não precisam de acompanhamento e se «estragam» com as confusões a que se vão gradualmente habituando, esses poderiam frequentar os clubes ou as outras actividades organizadas na escola.
Não custaria muito ao erário público e possibilitaria aos DTs realmente «ouvirem» e «educarem» os seus alunos... Que se deixe as aulas, para instrução, que tão necessária é.

Informação



Quando é muita, confunde?
Programas extensos... Confundem?

segunda-feira, 6 de março de 2006

sábado, 4 de março de 2006

sexta-feira, 3 de março de 2006

Forum Ensino Secundário

É um espaço para apresentação de dúvidas... do Grupo de Avaliação e Acompanhamento da Implementação da Reforma do Ensino Secundário.

quinta-feira, 2 de março de 2006

É triste...

Leia-se aqui , não para onde vai, mas onde já está a educação...
A 'minha' escola é pacata, numa vila do interior e o que aqui é relatado também na minha já acontece.
A educação começa em casa. Enquanto se desculpabilizarem as 'criancinhas' e os 'paizinhos' (porque estão muito cansados do trabalho e/ou não têm tempo/disponibilidade para os educar (aturar?)), enquanto se entregar à escola toda a responsabilidade de os 'educar' para além de os 'instruir' sem lhe dar os meios para o fazer...... NADA FEITO. (ponto final, parágrafo)

domingo, 19 de fevereiro de 2006

Papás Multibanco

Transcrição de um texto que me foi enviado por Amélia Pais:

Partia vidros, fabricava bombas artesanais, falsificava as notas. Bernardo procurava sempre situações limite. Possuía tudo o que podia ser comprado com dinheiro. Não tinha a atenção dos pais, empresários que estavam ocupados a ganhar dinheiro. O filho cresceu no meio de criadas. Aos 15 anos, a escola deixou de ter paciência para o aturar.
"É um tipo de miúdo que, se não for agarrado a tempo pode entrar na marginalidade, no consumo de drogas. Porque isso representa entrar num caminho onde não há limites", explica a psicóloga Andreia Moniz.
O Bernardo foi um dos seus doentes mais difíceis. Motivo de uma educação centrada no bem-estar físico. A atenção, o carinho e a partilha de experiências em família foi substituída por bens de consumo. É o pior exemplo dos efeitos dos "papás multibanco", uma definição de Victor Cerqueira, formado em Ciências de Educação. É professor e o que vê?
"Vejo alunos com telefones de última geração. Roupas de marca. Os pais demitem-se da sua função, que é definir regras, impor limites, exercer a autoridade. É mais difícil dizer 'não' do que 'sim'". Tende-se a substituir isso pelo multibanco, muitas vezes com sacrifício", explica. O termo surgiu depois de dizer que solução para os problemas de um jovem seria abrirem uma conta e darem-lhe um cartão multibanco. Um aluno não percebeu a ironia e disse: "Isso mesmo!"
"Os pais de hoje têm tão pouco tempo para os filhos que estes deixam de ser uma prioridade. Têm sentimentos de culpa e acabam por compensar com as coisas materiais. Como se assim pudessem substituir os afectos", acrescenta Andreia Moniz, responsável pelo gabinete de psicologia Psicodam e onde Victor Cerqueira prepara outros profissionais para lidarem com estas situações.
Mudanças
Hoje, as pessoas têm menos tempo, sobretudo os que vivem em Portugal, diz a socióloga da família Maria das Dores Guerreiro. "Somos o país em que se consome mais tempo fora de casa, tanto no trabalho como nos transportes. Temos a semana de 40 horas, o que já não acontece em muitos países da UE, e há sectores com cargas horárias muito díspares. Temos a maior taxa de actividade das mulheres a tempo inteiro. Ambos os membros do casal trabalham e investem no bem-estar da família. Para dar aos filhos o que não tiveram."
A sociedade evoluiu muito, "mas passou-se do 8 para 80, a todos o níveis. Passou-se de uma disciplina rígida para a ausência de disciplina", acrescenta Victor Cerqueira. O bem material surge para compensar a ausência, o abandono. Há também quem superproteja a criança, resolvendo-lhe os obstáculos e comprando-lhe tudo. Mas, alertam os técnicos, quando a situação se torna um problema é porque existem outros pontos críticos. A terapia começa com o filho e acaba na família.
E até a ida ao psicólogo começa por ser uma forma de "comprar" a resolução de um problema. "Os pais do Bernardo pagaram para alguém lidar com o filho. Disse-lhes que eles é que tinham de tomar uma decisão", conta Andreia Moniz. O rapaz chumbou e os pais mandaram-no para um colégio interno em Espanha nas férias. Foi castigado. Ouviu muitos nãos. Demorou três anos para perceber que viver em sociedade implica regras e que nem tudo pode ser comprado. Aprendeu a lidar com limites e a frustração de não ter tudo.
A partir da adolescência, a terapia tem que ser feita quase exclusivamente com o doente. «Chamamos a atenção dos pais para o que não devem fazer, mas trabalha-se a maturidade do jovem. Explica-se que tudo o que faça tem implicações na sua vida. No final, já era o Bernardo que dizia aos pais o que estavam a fazer de errado com a irmã mais nova." Isto para que o jovem não chegue à idade adulta com um comportamento de criança. E, como a birra já não consegue um emprego, uma promoção, acaba por sentir-se frustrado.
Pedro, sete anos, desafiava tudo e todos. Só obedecia com tareia. "Parece que gosta de apanhar", dizia a mãe, com quem vivia desde os dois anos. Os pais eram divorciados. A irmã, mais velha era bem diferente. Ao Pedro faltou a autoridade paternal, uma característica comum a crianças com este tipo de comportamento. O que também acontece quando o progenitor passa pouco tempo em casa. Os pais tinham dificuldades financeiras para lhe darem tudo o que queria. Foi uma professor que aconselhou a ida ao psicólogo. O Pedro entrou no consultório sem cumprimentar, embirrou que não ficava com a psicóloga, depois que não brincava com os objectos próprios da terapia. Andreia Moniz explicou-lhe que a consulta tinha 30 minutos e ou aproveitava para brincar ou continuava aos gritos. Houve também um trabalho com a família. São os pais que têm de arranjar alternativas de comportamento. Estar com eles. Dizer "não" quando é preciso, explicando-lhes porquê. O Pedro era outro ao fim de ano e meio.
O pediatra Mário Cordeiro diz que estes exemplos não fazem a regra. "A parentalidade é vivida hoje de uma maneira como nunca foi em gerações anteriores. Talvez por isso, os pais se sentem angustiados quando sentem que não são tão bons como desejariam", defende.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

Desenrascanço

Afinal, 'saudade' não é a única palavra a não ter tradução em outras línguas. Esta, o desenrascanço' vem definida na Wikipedia como sendo an ability to solve a problem without the adequate tools or proper technique to do so, and by use of sometimes imaginative resourcefulness when facing new situations. Achieved when resulting in a hypothetical good-enough solution. When that good solution escapes us we get a failure (enrascanço — entanglement). Most Portuguese people strongly believe it to be one of their most valued virtues and a living part of their culture. Obviously, they are aware that this subjective feature is not an exclusive of theirs...

A este propósito veja-se o calendário de exames publicitado pelo Ministério que se 'esqueceu' de actualizar o nome da disciplina de Português B. Afinal era só mesmo retirarem-lhe o 'B'. Mas, o 'copy' / 'paste' é mais rápido - é o desenrascanço.
Adenda: Afinal, não erraram.... Errei eu, por falta de informação. Mas desculpo-me... não consigo manter-me informada de tudo. Veio essa informação num ofício-circular, do qual não tive conhecimento.
O nome da disciplina mantém-se Português B.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

Perdidos

Um dia, aqui num desabafo sobre a indisciplina, referi o facto de desconhecer como os alunos se ‘perdem’. Basta olhar um bocadinho à volta e encontram-se exemplos:


Há uns dias atrás, ao chegar à noite à escola para iniciar as aulas, deparo-me com uma conversa entre uma colega de História, com 30 anos de serviço, que conversava acaloradamente com um dos meus (bons) alunos do secundário recorrente, homem feito de trinta e tal anos. Assunto: a colega queixava-se de um aluno de 7º, que no teste se tinha limitado a escrever frases sem nexo, depois de ela ter dado uma ficha formativa idêntica ao mesmo e, supostamente, os alunos a terem estudado à sua frente. O aluno em causa era filho da companheira deste meu aluno. Daí o seu desabafo. Se inicialmente o tom era de apenas inquirição, para ver se alguma coisa se passava com o miúdo, a seguir passou a ser já de zanga, por lhe parecer que todo o teste dele e do colega do lado eram puro e simples ‘gozo’. Ora, o que imediatamente argumentou o ‘padrasto’ (o meu aluno da noite) era que o garoto tinha tudo o que queria da mãe e do pai ausente. Disse que o rapazito no 1º período teve 7 negativas e o pai deu-lhe, no Natal, o computador que ambicionava. Devido ao divórcio dos pais, desde sempre havia a ‘compensação’ sistemática do menino, que conseguia tudo o que queria, apesar de nada fazer para o ganhar. Queixava-se ainda de não ter voto na matéria, dizendo também ele ter uma filha que nunca teve quaisquer problemas. O que ali via de completamente errado era uma criança a crescer com tudo, sem responsabilização e, pior, sempre desculpabilizado.


Não há ‘afecto’ de professor que funcione num caso destes. Não há medidas de recuperação, planos, papéis, nada que funcione. A escola, os professores, as matérias, para este tipo de alunos não têm qualquer significado. Porque tudo é fácil. E as próprias aulas são uma brincadeira. A noção de ‘trabalho’ e ‘esforço’ são conceitos totalmente desconhecidos. E o garoto está numa fase crucial de aprendizagem e consolidação da personalidade. Mas, neste caso específico, ou a mãe começa a ter noção de que o seu filho é uma criança perfeitamente normal e que há comportamentos que são social e moralmente incorrectos e, por isso, reprováveis, a quem tem de ‘exigir’ para poder ‘dar’, ou ele fará parte daqueles que se perdem completamente e ‘vagueiam’ pelas escolas sem delas tirarem qualquer proveito.

Já tive alunos assim. E em dois casos que ‘abandonaram’ a escola, para voltarem depois... e parecerem outras pessoas, completamente transformadas. Porque passaram pela experiência de ‘trabalhar’. Aprenderam a noção de ‘esforço’, à sua custa. No regresso, um, completamente indisciplinado antes, era um exemplo de bom comportamento para os demais. O outro, de quem eu dizia (e quanto me arrependo) que devia ter algum atraso, passou a ser um aluno de 4. Nem num caso, nem noutro, houve interferência dos professores, psicólogos ou pais. Foi um processo individual de crescimento, de contacto com a realidade, que não é efectivamente um ‘mar de rosas’.
Também ‘estudar’ não é um mar de rosas. Nada é na vida. Só passa a ser quando adquirimos noção do valor que tem ultrapassar o que ‘custa’ para termos a merecida ‘recompensa’ depois. (Parece-me que cada vez se ‘cresce’ mais devagar e mais tarde.)

Será que no caso apresentado acima, há alguma coisa que um professor possa fazer se não houver a consciencialização da mãe? E se a mãe não perceber nunca que o que está a fazer é errado?

Por isso digo, repito e volto a dizer: para além dos professores primários que dão as bases em termos de conhecimentos e as regras que ensinam o que é ‘estar’ numa sala de aula, há uma grande, enorme e decisiva responsabilidade dos pais. O professor, nestes casos, nada pode fazer, porque o aluno não ‘ouve’ nada do que se lhe diga, nem ‘vê’ nada do que se lhe apresente. Está ‘a leste do paraíso’.
Cada vez mais e por experiência pessoal de vida, por um lado, e profissional, por outro, me convenço disso.

Mas também há os ‘casos’ em que ninguém consegue fazer nada...
Relato outro episódio: conversas intermináveis com um aluno (de 11º ano) e respectivo pai, porque se descobriu que andava a fumar 'erva’. Cheguei-lhe bem ao coração, porque lhe falei ‘do coração’. E convenci-me que era capaz de o orientar... Só que, no momento em que me ouvia e se abria, tudo o que ‘prometia’ era efectivamente verdade. Mas.... a ‘vontade’ era tão pouca, que dez minutos depois, se calhar já nem se lembrava do que tinha conversado (efeitos nos consumidores habituais). Acabou por abandonar a escola (miúdo espertíssimo, com pais presentes e conscientes) e foi por muito maus caminhos. Nada sei dele, hoje.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2006

Lutar contra o TEMPO - resposta

Vale sempre a pena lutar (não é uma palavra que me agrade particularmente) por aquilo que achamos ser justo.

Por determinação do Conselho Pedagógico passei de 9 horas de trabalho individual para 11 (eu e todos os professores de disciplinas com programas novos, sujeitos a exame). Tive ainda a redução de secundário (+ 2 horas), por apenas ter uma turma de recorrente nocturno de 3º ciclo e tudo o resto ser de secundário. Embora gaste muito mais do que isto (chego muitas vezes às 50 da Finlândia) sinto a justiça em acção...
De fora ficaram muitos outros casos...

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006

Manias...

A IC lançou-me o desafio...

Cada bloguista participante tem de enumerar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que o diferenciem do comum dos mortais. E, além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do "recrutamento". Ademais, cada participante deve reproduzir este "regulamento" no seu blogue.


5 das minhas manias...


Mania de não deitar nunca antes das 4 da manhã... (só nas férias o faço... quando tenho de levar as piquenas à praia). É quando me sinto mais produtiva, quando trabalho, e mais descansada, quando vegeto em frente à tv ou analiso os meus dias....


Mania de não deitar nada fora... (já estou melhor: consegui esvaziar gavetas de bilhetes de cinema com 30 anos, contas antigas, convites para festas da adolescência, enfim... retalhos do passado que não queria perder. Mas custou...)

Mania de pôr tintas numa tela e procurar-lhes uma ordem... (só nas férias, ou melhor, nas férias e nas interrupções das actividades lectivas... quando as 'piquenas' não estão comigo e tenho espaço para sujar à vontade...)

Mania de exigir honestidade a todos... E detesto detectar meias verdades... Preferia não as ( inevitavelmente) perceber nos olhares, nos gestos, nas atitudes... Talvez por isso deteste política e boas ‘falsas’ maneiras.


Mania de estar sozinha e em casa (talvez explique a 1ª), sempre acompanhada da porcaria dos queridos cigarros (já tentei duas vezes divorciar-me deles, mas são, até hoje, mais fortes do que eu). Mas ainda hei-de conseguir, só não sei é quando...
Como é 'exigido', lanço o desafio aos que aqui leio sempre que cá venho:
Soledade Santos - Nocturno com gatos
Amélia Pais - Ao longe os barcos de flores
João Paulo Silva - Diário de um professor
Karadas - O Cantinho da Educação

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006

É fun_tástico

Os alunos que frequentarem estas vias de ensino (Cursos Tecnológicos) mas que optarem depois por continuar a estudar no superior acabam por ter a vida facilitada em termos de acesso. Com esta alteração da lei, já aprovada em Conselho de Ministros, passam a fazer apenas um ou dois exames nacionais (os que forem exigidos como prova de ingresso no curso ao qual se candidatam), e não três obrigatórios como se previa no diploma aprovado em 2004 e que produziria efeitos no 12.º em 2006/2007.
Além disso, a classificação que os alunos das vias profissionalizantes obtiverem nas provas de ingresso deixa de entrar no cálculo da nota final do secundário.
Quanto aos estudantes das formações científico-humanísticas (antigos cursos gerais) terão de continuar a fazer quatro exames nacionais; cada um conta 30 por cento para a nota final da disciplina.
A entrada no ensino superior através de vias alternativas como o ensino recorrente - supostamente destinado a dar uma segunda oportunidade de conclusão de estudos a adultos e que, até há pouco tempo, não estava sujeito a exames nacionais - chegou a ser utilizada por milhares de jovens para ingressar na universidade de forma mais fácil. Entre 1998 e 2002, o número de candidatos oriundos do recorrente disparou de 1800 para 18.500.
JUSTIFICAÇÃO
A tutela explica a alteração com a necessidade de ser assegurada a "unidade e coerência de tratamento entre os diferentes tipos de formação profissionalmente qualificantes". Se os alunos dos cursos profissionais (também orientados para a integração no mercado de trabalho) já estavam dispensados de fazer os exames nacionais para concluir o secundário, não há nenhuma razão para os dos tecnológicos serem sujeitos a regras diferentes, explica António Ramos André, adjunto da ministra da Educação.
,OU SEJA,
1. A «unidade e coerência de tratamento» visa tornar tudo mais fácil para todos, em vez de exigir mais a todos....
2. Os cursos «científicos/humanísticos» serão extintos por falta de alunos.

domingo, 29 de janeiro de 2006

Nova terminologia MXVI

Mais uma descoberta caricata, nestes sábados de estudo e preparação da nova terminologia:

Nos exemplos de exercícios apresentados pelo Ministério, surge a questão:
O antecedente do pronome relativo «cuja» (l. 12) é «primeiro centro cultural radicado na província».
Mas....
...na nova terminologia, 'cujo (a,s)' deixou de ser pronome relativo e passou a ser quantificador.

Será que quem prepara os exames está ainda tão mal preparado quanto eu?

E prova modelo? Será que surge ainda este ano?

terça-feira, 17 de janeiro de 2006

Exemplos a seguir...

Graças à IC, descobri isto. Em Ontário, no 1º ciclo, as turmas têm agora tamanhos ainda mais reduzidos...


"The government’s class size reduction plan is definitely working. My class size was reduced last year and as a result I was able to spend more time helping students who were struggling or had special needs. They would not have been able to make the progress they did in a larger class," said Maria Fatigati...

MAS...
That means more than 381,000 primary students are in smaller classes this year compared to about 137,000 two years ago. This is the result of $126 million in additional funding this year, on top of $90 million last year, which helped school boards hire 1,100 teachers to reduce class sizes in 1,300 elementary schools.
Pois é... Quem quer melhor educação, tem de gastar mais dinheiro...

sexta-feira, 13 de janeiro de 2006

Contradições?

AR chumba proposta para reduzir número de alunos por turma

O Parlamento chumbou esta quinta-feira o projecto-lei apresentado pelo Bloco de Esquerda (BE) que propunha a redução do número de alunos por turma no ensino básico e secundário.


O diploma, reprovado com os votos contra do PS, PSD e CDS/PP, previa o estabelecimento de um número máximo de 18 alunos no primeiro ciclo do ensino básico, em vez dos 25 actualmente previstos.
No caso do 2º e 3º ciclos do básico e no ensino secundário, o projecto defendia que as turmas tivessem no máximo 20 alunos e não 28 como acontece agora.

Para o BE, a medida era «do mais elementar bom-senso» para melhorar a qualidade da educação em Portugal, contribuindo para uma maior proximidade do professor e uma abordagem mais adaptada à realidade sociocultural de cada aluno, mas só contou com os votos favoráveis dos proponentes e do PCP.

«Turmas muito grandes impedem que o ensino seja individualizado e dificultam o desenvolvimento de projectos pedagógicos inovadores, além de transformar em o quotidiano num inferno por potenciarem problemas de indisciplina», sustentou quarta-feira à agência Lusa João Teixeira Lopes, deputado do BE.

O partido estava convicto de que o projecto-lei, discutido quarta-feira em reunião plenária, seria aprovado hoje, uma vez que o PS já o tinha votado favoravelmente quando o Bloco o apresentou à Assembleia da República no Governo de Durão Barroso.

Na altura, toda a oposição votou a favor, mas o diploma foi reprovado com os votos contra do PSD e do CDS/PP, que alegaram que o Executivo estava a preparar legislação sobre a matéria, o que não chegou a acontecer.
..............................................................
É engraçado como os partidos políticos mudam as suas posições... mas só não muda quem é burro. Pelo menos, ...................... burros não são.
Afinal, como diz Ludwig Borne, nada é tão duradouro como a mudança.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2006

O «nosso» Manual

Este «livrinho» tem a nova legislação toda compilada.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2006

Número de alunos por turma

Fosse o PP, o PS, o PSD, a CDU ou quem quer que fosse... É das mais básicas iniciativas para melhorar o desempenho dos alunos e facilitar o trabalho individualizado dos professores com eles.
Um tio meu, numa conversa que tivemos há uns tempos, dizia-me que «no tempo dele» eram trinta e muitos na sala.... pois... «naquele tempo» havia a noção do que é a «disciplina» e as «regras de comportamento»...
Já não estamos «naquele tempo».

segunda-feira, 9 de janeiro de 2006

Lutar contra o TEMPO

Em desespero de causa, finalmente desisto. Não posso cumprir o que não é possível ser cumprido. Primeiro estou eu, depois a escola. Sem um «eu» equilibrado também não havia um «eu na escola». A IC abriu-me os olhos...
Exmª Srª Presidente do Conselho Executivo
Com conhecimento ao Delegado de Grupo


Assunto: Impossibilidade de cumprir as orientações de gestão do programa de Português de 12º ano e o que diz respeito à Circular nº. 14/2005 da DGIDC.


Eu, professora do quadro de nomeação definitiva do oitavo grupo A, actualmente a leccionar o novo programa de Português de décimo segundo ano, venho por este meio informar, que, dadas as alterações definidas para o trabalho a nível de estabelecimento determinarem que apenas tenho 9 horas de trabalho individual nas semanas em que não tenho reuniões, e 7 nas semanas em que as tenho, terei de alterar a planificação e a avaliação instituída no início do ano lectivo.
Assim informo:
1. Uma vez que é absolutamente indispensável a devida preparação de aulas e materiais, sem a qual não seria possível acompanhar os alunos na apreensão dos conteúdos da disciplina e considerando que só a nova Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário me tem ocupado cerca de dez horas de trabalho não remunerado todos os fins de semana, usando a semana para preparar o desenrolar das aulas, decidi o seguinte:
a) o item «portefólio», que prevê a correcção de trabalhos escritos, produzidos pelos alunos, com o objectivo de treinar a produção escrita, embora crucial para um melhor desempenho a este nível, terá de ser excluído, uma vez que este trabalho comporta uma média de 200 minutos de trabalho por semana, ou seja, mais de 3 horas semanais (dependendo da especificidade de cada tipo de texto entre 5 a 15 minutos de correcção - 1 trabalho de 15 em 15 dias x 40 alunos). Daí que a avaliação, que previa uma percentagem de 15% para este item, venha também a ser alterada.
b) a nova terminologia, à semelhança do que se passa noutras escolas, não será toda trabalhada. Os alunos farão os exercícios como surgem no manual, ou seja, de acordo com uma mistura entre a «velha» e a nova e, sempre que o tempo mo permitir, actualizarei o que está errado (porque não consentâneo com a nova terminologia) no manual. De fora ficará o que este não contém.
2. Devo acrescentar que nunca me escusei a qualquer tipo de trabalho e que tenho dedicado muito mais do que as 35 horas instituídas ao estudo e à preparação de materiais que melhor se adeqúem aos alunos e à correcção de trabalhos seus, para que possam analisar os erros e assim melhor os corrigirem. Também o desenvolvimento do projecto, Português na Net, que ocorre há vários anos, surge agora materializado no horário em forma de projecto, embora a escola não me tenha ainda facultado os instrumentos para aí o trabalhar. Daí que o continue a fazer em casa e use essas horas para preparação de aulas e materiais. Por me sentir avassalada por trabalho e por considerar que acima da profissão e do brio profissional, que sempre me norteou, está a minha saúde mental, sem a qual nem o mínimo poderei render, decidi o que aqui informo, mau grado o constrangimento do dever não cumprido.

domingo, 8 de janeiro de 2006

A educação que não temos...

...e a investigação que não usamos


por Ana Maria Morais


Muito se tem falado do estado actual da educação, aos vários níveis. Concentremo-nos na actual reforma para o ensino básico, que deixa à escola a selecção e a sequência dos conhecimentos, partindo do pressuposto de que, estabelecidas determinadas capacidades e determinados aspectos gerais de conhecimento, os professores terão a liberdade e a competência para estruturar todo o processo de aprendizagem.
Esta liberdade concedida a nível central, pelo Ministério da Educação, pode conduzir a aprendizagens de diferentes níveis, dependendo do contexto social da escola. A investigação, já realizada em Portugal, tem mostrado como o professor é, em geral, influenciado pelo contexto social da escola onde ensina, baixando o nível de exigência conceptual nas escolas cujos alunos provêm de meios desfavorecidos. Temos, assim, dois tipos de educação, uma educação de primeira e uma educação de segunda, que divide crianças e adolescentes em alunos de primeira e alunos de segunda.
Esta não é uma situação nova, mas é agora firmemente legitimada pelo Ministério da Educação, através da gestão flexível do currículo. Defendida por muitos professores de Educação (as Ciências da Educação), em nome da adaptação do ensino a contextos e alunos diferenciados, e tendo subjacente perspectivas multiculturalistas e pós-modernistas, a educação que existe presentemente nas nossas escolas apresenta um nível desesperadamente baixo. Tão baixo que não serve ninguém, nem os alunos desfavorecidos nem os alunos favorecidos, nem os que deixam a escola no final da escolaridade obrigatória nem os que seguem para níveis superiores de educação.
Têm sido muitos os que vêm culpabilizando as Ciências da Educação pelo actual estado de coisas. Não seria justo deixar para as Ciências da Educação todo o ónus da colossal falha da educação actual. Muito deve ser imputável a factores de decisão política. Mas também são muitos os professores e investigadores que têm vindo a ser responsáveis pela educação que temos. Uns por intervenção directa, como construtores de novas reformas e formadores de professores. Outros por omissão, porque se limitam ao papel de preparar os seus próprios alunos, futuros professores, e de desenvolver investigação que não ultrapassa o nível académico, não se envolvendo num processo de intervenção ao macro nível.
É necessário dizer aos decisores de política educativa e aos cidadãos em geral que há outras formas de organizar a educação. Que há investigação que suporta essas outras formas. Que é urgente aumentar o nível de exigência conceptual. Que não é uma inevitabilidade que o nível de educação baixe perante a inacção colectiva.
Em oposição à habitual dicotomia entre uma pedagogia progressista e uma pedagogia tradicional, há outras pedagogias, as pedagogias mistas, caracterizadas por relações de poder e de controlo entre o professor e o aluno e entre o Ministério da Educação e o professor, que variam consoante os múltiplos aspectos dos processos de ensino e de aprendizagem. Essas pedagogias mistas têm mostrado, através de investigação já desenvolvida, terem o potencial para alterar o actual estado da educação. Não é verdade que a origem sócio-económica e cultural baixa de muitos alunos seja uma causa inevitável de insucesso. Uma prática pedagógica eficiente pode promover a literacia de todos os alunos. Mas ela não é nem uma prática tradicional nem uma prática progressista. Contudo, nas condições actuais, não há práticas pedagógicas que possam produzir resultados positivos, e não, de certo, as práticas pedagógicas mistas de que falamos. São tempos e espaços que só podem conduzir a um nível baixo (agora cada vez mais baixo) de literacia.
Irão estes resultados ser ignorados? Será que é mesmo inevitável que se mantenha uma fronteira aparentemente intransponível entre investigação em educação e prática de educação? Será que os meios financeiros despendidos em investigação são necessariamente meios perdidos?
Não é possível melhorar a aprendizagem dos alunos sem a existência de um mecanismo regulador consistente e eficiente. Este mecanismo regulador vai muito para além das tão defendidas (embora meritórias) auto-avaliações das escolas e da avaliação dos alunos feita directamente pelos professores. É urgente uma avaliação externa, e os exames são uma necessidade absoluta (poderemos inventar outro tipo de mecanismo regulador?). Mas, e este é um aspecto da máxima importância, exames que não se limitem à tradicional avaliação centrada em níveis baixos de literacia mas que avaliem conhecimentos e capacidades de elevado nível cognitivo. Tais exames iriam levar os professores e as escolas a modificar o nível de aprendizagem que promovem. Os exames têm um papel regulador da prática dos professores pois que afinal... é preciso preparar os alunos para os exames. Também aqui podemos encontrar investigação que suporta esta afirmação.
Temos a clara consciência dos múltiplos problemas que os exames podem acarretar, problemas que, contudo, têm vindo a ser sobrevalorizados em duas vertentes, a emocional e a contingente da situação de exame. Numa cultura de sobreprotecção de crianças e adolescentes, todo o esforço, exigência e rigor têm sido desprezados, desprezando-se assim uma preparação necessária à vida activa dos futuros cidadãos.
Evidentemente que há muitas capacidades, como a cooperação e a capacidade de argumentação, que nunca poderão ser avaliadas através de exames. Estas são importantes capacidades que os alunos devem e podem desenvolver, através das pedagogias mistas, de que falámos. Para elas é necessário inventar outros tipos de avaliação. Importante é notar que embora sejam, por si só, capacidades cruciais para a formação integral dos alunos, elas contribuem também para a aprendizagem de conhecimentos e para o desenvolvimento de outras capacidades, essas sim passíveis de serem avaliadas através de exames.
Esta educação que temos, não é educação. Falemos antes da educação que não temos... e da investigação que não usamos.



Ana Maria Morais, Professora catedrática de Educação, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

sábado, 7 de janeiro de 2006

Lero Lero

Não é preciso saber português... Basta actualizar o brasileiro do Lero Lero.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2006

Mim ser bom pessoa

Agora limito-me a transcrições...

por Vasco Graça Moura

As línguas, tal como as nacionalidades, as identidades, os seres humanos, as artes e muitas coisas mais, nunca foram entidades comandadas por uma racionalidade estrita ou por uma lógica sem falhas. Entre nós, já Camilo Castelo Branco ironizava, há bem mais de um século, a propósito, salvo erro, do jovem Joaquim de Vasconcelos, que, regressado da Alemanha, propunha que se dissesse "estejai", em vez de "estai".
Vem isto a propósito do livro A Língua Portuguesa em Mudança, organizado por Maria Helena Mira Mateus e Fernanda Bacelar do Nascimento (Caminho, 2005). É uma útil investigação sobre a maneira como a língua falada e escrita na comunicação social pode condicionar certas tendências do português que falamos.
Maria Helena Mira Mateus (MHMM), por quem tenho grande consideração e estima pessoais, assina uma densa introdução, A mudança da língua no tempo e no espaço, cujas últimas páginas, todavia, me deixam muito apreensivo. Aí, depois de postular a necessidade de uma norma-padrão, «como referência da produção linguística e como garante da aceitabilidade de um certo comportamento no contexto sociocultural em que estamos inseridos», da qual «a escola é especial depositária» e que tem «justificações sociopolíticas e culturais, de carácter pedagógico e comunicativo», MHMM não encontra solução para as dificuldades de definição dessa norma-padrão, de modo a ser possível circunscrever o que é "correcto" e o que é "incorrecto".
E passa a imputar a «uma alta percentagem de subjectividade» a condenação de certas construções ou formas lexicais. É esse o primeiro passo de neutralização da própria norma-padrão cuja necessidade e cuja defesa julguei entrever algumas linhas antes. Imputar à subjectividade o que decorre de um conjunto de factores independentes da lógica, tem como efeito desvalorizar, precisamente, a norma-padrão.
Mas o meu alarme vai mais longe quando MHMM considera como «alternâncias possíveis», por ocorrerem «com frequência» e se justificarem «linguisticamente» formulações como «a maioria dos estudantes passaram no exame», ou «o prédio que o Paulo vive é moderno», ou ainda «o autor que eu mais gosto é Aquilino».
Na mesma linha, são em seguida formuladas algumas interrogações, para as quais a rejeição de uma auctoritas que possa decidir sobre a correcção à luz da norma-padrão acaba, em última análise, por abrir a porta às mais bizarras permissividades. Por exemplo, "hádem", quanto a "hão-de", "pensar de que" por "pensar que", "houveram muitos acidentes", por "houve muitos acidentes"...
E a autora pergunta-se «como saber o que se pode aceitar e o que se deve reprovar?». Compreende-se a angústia da linguista ante uma questão a que a sua ciência não dá resposta. Mas isso não deveria levá-la, nem a admitir aberrações da nossa língua, como as exemplificadas, nem a invocar mutações socioculturais lá, onde a única explicação é o falhanço calamitoso da escola.
Sem ser linguista, penso que o grande problema está em haver um sector da Linguística que parece preocupar-se apenas com aspectos de eficácia comunicacional e mais nenhuns. Será a língua, como instrumento de conhecimento e apreensão do mundo, irisado de uma multiplicidade de valores afectivos, estéticos, sedimentados pela memória e pela história, pelo uso transgeracional, pelos autores, algo de que se considera poder fazer tábua rasa?

Aplicando justificações muito próximas das que leio em MHMM, eu posso afirmar que está bem (salvo seja!) uma frase como "mim ser bom pessoa".
Em primeiro lugar, porque o destinatário da mensagem perceberá perfeitamente o que eu quero dizer, logo o nível estritamente comunicacional está alcançado.
Em segundo lugar, porque posso considerar que a formulação se limita a ser elíptica quanto a um enunciado de correcção indiscutível (no que a) mim (respeita, considero) ser bom (enquanto) pessoa.
Como não será de admirar que a comunicação social um dia destes desate a brindar-nos com pérolas destas, é evidente que não se pode aceitar, ao contrário de MHMM, que «a norma portuguesa dotada de maior vitalidade e capacidade de fazer adeptos é a que transmitem os jornais, a rádio e a televisão». Norma???
Bem sei que MHMM diz que não podemos aceitar este conceito sem critério, mas a verdade é que tal critério se dilui na nebulosidade com que é tratada a norma e assim entramos num círculo terrivelmente vicioso e, o que é pior, num ciclo grotescamente viciado...

quarta-feira, 4 de janeiro de 2006

Um ano negro para a Educação

De regresso (vírgula) graças ao iluminado colega João que me deu novo alento (vírgula) aqui transcrevo mais um texto:

de Santana Castilho

Remexo na memória recente e não me recordo de um ano tão negro para a Educação como o que agora findou. O que é mau, porque os restantes com que comparo este tão-pouco são famosos.
O que seria relevante está parado, melhor dizendo, nunca mexeu. Nada vai além de uma medíocre gestão corrente e de uma overdose bruta de alterações, bem diferentes dos desejáveis desenvolvimento e progresso. Esse é, aliás, o elo identificador de uma sucessão de ministros da Educação que não têm estado à altura das circunstâncias mas que, julgando-se divinamente iluminados, decretam mudanças em catadupa, para que tudo fique... pior.
Esta minha visão de conjunto pode ser fundamentada pelo somatório dos erros que a informa e que patenteiam a ausência de estratégia, as frequentes incoerências, a falta de clarividência política e até de simples senso comum. Aqui ficam alguns exemplos, em jeito de balanço, relativos à equipa actualmente em funções:

1. A colocação dos professores a tempo e horas granjeou os primeiros elogios imerecidos à actual ministra. Imerecidos por duas razões: porque foi, como é evidente, resultado da acção correctiva de quem a antecedeu e porque é um processo administrativo trivial que só uma visão terceiro-mundista pode alcandorar a feito relevante. O tema foi retomado com uma proposta de substituição dos concursos anuais por plurianuais, imposta sem tempo de discussão nem ponderação de consequências. A adequação dos quadros às necessidades e a consequente estabilização dos corpos docentes continuará por fazer. Persistiu-se na centralização administrativa e no primado da burocracia. O primeiro factor da falta de qualidade do sistema continuará intocável, no essencial, com o cortejo de injustiças e de dramas a que estamos habituados.

2. Seguiu-se o prolongamento do tempo de abertura das escolas do ensino básico e medidas de enquadramento de alunos em situação de falta de professores às aulas previstas. Embora desgarradas e avulsas, eram iniciativas, em espírito, inatacáveis. Mas a forma foi desastrada e materializou o primeiro erro político de grande dimensão. Esta equipa não entendeu que nada se institui de moca em riste. As mudanças só valem a pena quando forem mais que mudanças normativas, quando gerarem melhorias e quando conquistarem quem tem que as executar. A ideia de que os despachos mudam os comportamentos é uma ideia arrogante de quem não sabe como se gerem pessoas. Acusaram-se professores competentes e esforçados, porque alguns o não são. Atropelaram-se disposições legais. Generalizou-se o que não era generalizável. Semeou-se revolta e desmotivação. Desmembraram-se organizações e estruturas que funcionavam. E agora voltou-se ao que se quis alterar levianamente, com custos para o Estado, que antes não existiam.

3. Não chegava o que sobrou para os professores do vilipêndio colado aos funcionários públicos e já a ministra reforçava a dose com a pouco ética manipulação das estatísticas relativas às faltas dos docentes. Divulgadas maliciosamente no dia da greve nacional, para ajudar à exploração demagógica do desconforto que qualquer greve provoca nos utentes habituais dos serviços. Para o mesmo alforge foram as faltas dadas ao abrigo do Estatuto do Trabalhador-Estudante, as motivadas por doença e as relativas à maternidade, numa população onde cerca de 80 por cento são mulheres. Tudo em nome do fomento da raiva de um país contra os seus professores. Será sensato que assim se proceda?

4. A intervenção no livro escolar prenuncia o escaqueirar do sector. A confirmar-se a censura prévia anunciada, a menorização dos professores que deixarão de ser considerados no processo de adopção, a imposição administrativa dos preços e o prolongamento para seis anos do período de vigência, teremos regredido várias décadas.

5. Reabriu-se a guerra dos exames. Aboliram-se hoje, readmitiram-se amanhã. Português porque sim, Filosofia porque não. Qual o critério? Com que ponderação se anunciam as políticas? Com que coerência as engolem?

6. Será pedir demasiado aos responsáveis do Ministério da Educação que não confundam o carácter laico do Estado português com jacobinismo primário? Valeu a pena ferir sensibilidades que merecem respeito com a imprudência de mandar retirar os crucifixos por burocrática circular?

7. Para quê tanta gente bem intencionada andou há tanto a trabalhar no domínio da educação sexual dos jovens e adolescentes? Podemos deixar passar sem protesto que de repente tudo se ignore e se anuncie a salvação como se nada existisse? Daniel Sampaio é respeitável e competente? E os outros ? São transparentes? Que ministério é este que assim despreza recursos e ignora os pais e as famílias?

É impossível ter esperança com esta gente. Feito o diagnóstico está feito o prognóstico. 2006 será como 2005. Resta resistir.

Professor do ensino superior